Jardim Cinema: Cameron Crowe - “Jerry Maguire”

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Cameron Crowe - “Jerry Maguire”


Cameron Crowe
“Jerry Maguire”
(EUA – 1996) – (138 min. / Cor)
Tom Cruise, Renée Zellweger, Cuba Gooding Jr.
Kelly Preston, Bonnie Hunt, Jay Mohr.

“Jerry Maguire” permanece como o melhor filme até hoje realizado por Cameron Crowe, esse menino-prodígio que se iniciou na escrita aos 15 anos escrevendo artigos para a “Rolling Stone”, partindo depois para a escrita de diversos argumentos para cinema. Fez o seu auto-retrato de forma discreta em “Quase Famosos” / “Almost Famous”. A sua obra de estreia foi o famoso “Singles”, um daqueles filmes retrato de uma geração que habita o mesmo prédio, com um Matt Dillon e uma Bridget Fonda em destaque, ao mesmo tempo que dava, como não podia deixar de ser, uma enorme importância à banda sonora.


Nesta comédia romântica intitulada “Jerry Maguire”, precisamente o nome do protagonista interpretado por Tom Cruise, vamos seguir a vida de um agente desportivo que um dia num quarto de hotel tem um rebate de consciência e decide escrever um “memo”, para depois o distribuir pelos colegas, aplaudido por todos pela sua atitude frontal em que se inscreve o lema de “devemos dar mais atenção aos nossos clientes e menos ao dinheiro que poderemos ganhar com eles”. De imediato os colegas nas suas costas sabem que a sua carreira está por um fio.


Agente de sucesso, Jerry Maguire (Tom Cruise) possui tudo aquilo que um homem deseja, incluindo aquela bela e selvagem mulher chamada Marcie (Kelly Preston), mas quando o dinheiro e a fama desaparecem será de imediato abandonado.


Despedido com um sorriso nos lábios por um colega, mandatado pela Administração, durante um almoço, Jerry irá tentar levar consigo os seus clientes, mas durante essa luta com a empresa apenas arrasta consigo o jogador de baseball Rod Tidwell (Cuba Gooding Jr – ganhou o Oscar para o melhor actor secundário), o menos desejado cliente, porque aquele homem só pensa em dinheiro, ficando célebre a frase “show me the money”. Numa tentativa desesperada de provocar uma cisão na empresa Jerry pergunta a todos os que leram o seu famoso “memo” quem irá com ele e apenas a empregada da contabilidade Dorothy Boyd (Renée Zellweger) decide seguir-lhe os passos.


Mais do que o “memo” dele é a paixão que a leva a segui-lo, para além do facto de ela ser divorciada e ter um filho pequeno. Estabelecendo-se uma relação de empregada/patrão que irá ultrapassar a fronteira da relação profissional, embora Jerry Maguire lute de início para não ultrapassar essa fronteira, ao mesmo tempo que começa a ser seduzido pela criança, um rapazinho “cool”. Já por outro lado a irmã de Dorothy, uma daquelas mulheres abandonadas que promove em sua casa reuniões femininas contra o “sexo forte”, olha com a maior desconfiança Jerry, percebendo de imediato como ele se encontra à beira do abismo e quando ele estabelece por fim uma relação com Dorothy,a irmã Laurel (Bonnie Hunt) tudo fará para mostrar à irmã como ela está errada na sua opção.


Entramos assim na comédia romântica dirigida de forma brilhante por Cameron Crowe, recorde-se que ele levou cinco anos a preparar o filme e desde os minutos iniciais que somos agarrados à cadeira, pela forma como ele nos introduz no mundo de Jerry Maguire e depois nos conta a sua relação atribulada com a família de Rod Tidwell, sendo a mulher deste, Marcee (Regina King), um dos maiores obstáculos a transpor para levar o jogador ao bom caminho, já que ele é conhecido pelo seu mau feitio. Com apenas um cliente Jerry dedica-lhe todo o tempo que possui, tentando mostrar-lhe que o dinheiro não é tudo na vida, ao mesmo tempo que Dorothy tudo faz para manter Jerry debaixo do seu tecto. A pouco e pouco vamo-nos apercebendo que Jerry Maguire não consegue manter a relação, arranjando mil e um pretextos para estar longe dela, ele deseja partir, mas a criança surge como um impedimento, até esse dia em que já nada se pode fazer.


De realçar a excelente interpretação de Tom Cruise na figura do agente desportivo, ao mesmo tempo que Renée Zellweger nos surge pela primeira vez num papel digno de nota, depois todos sabemos como ela se tornou célebre, engordando para Bridget Jones e emagrecendo depois, ficando um “palito”, para mais tarde “destruir” o belo rosto que possuía.


“Jerry Maguire” apresenta-se no interior da produção cinematográfica como uma comédia romântica fabulosa, tendo um argumento com uma moral para oferecer e um final feliz, como mandam as regras, embora nos ofereça nas suas entrelinhas o retrato do mundo selvagem em que vivemos, um sorriso pela frente e uma faca nas costas, retrato do quotidiano nas empresas e na vida, depois nem sempre os ideais triunfam e muito menos o sucesso amoroso, porém no caso de Jerry Maguire, ele aprendeu uma lição na vida, oferecida pelo irrequieto Tidwell, compreendendo como esse núcleo universal chamado família é o fruto da vida, por isso mesmo quando volta a entrar na casa de Dorothy é recebido friamente por aquele conjunto de mulheres abandonadas, que lhe dedicam sempre o maior desprezo do mundo, porque elas são (in) felizmente independentes e superiores a ele, mas Dorothy decide afastar-se do “rebanho” e perdoar a fuga de Jerry Maguire. E aqui as maiores feministas empedernidas não irão resistir a verter aquela lágrima ou, pelo menos, desejar no seu íntimo estar nos braços daquele homem. “Jerry Maguire” é como o vinho do porto, quanto mais se bebe/vê mais se gosta dele.

Rui Luís Lima

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