Como o Rio se tornou palco do primeiro desfile de Carolina Herrera fora de Nova York
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Por Alessandro Soler, Especial Para O Globo

Nesta quinta-feira, 1º de junho, quando a primeira modelo pisar na passarela montada no hotel Vila Santa Teresa, no Rio de Janeiro, uma das grifes do Olimpo da moda internacional estará selando dois marcos com seu Resort 2024. Será o primeiro desfile da Carolina Herrera fora de Nova York desde sua criação, em 1981. E uma aposta da marca na América Latina como região que ajudará o segmento de luxo a atravessar as águas tormentosas dos próximos meses, quando economistas prevem que uma recessão deverá golpear os mercados mais maduros. Filha da fundadora, Carolina Adriana Herrera, que herdeu o nome e a elegância da mãe, estará presente no grande evento e se diz uma apaixonada pelo Rio: “O lifestyle, os cheiros, a diversão, a música: se tenho que pensar num lugar na América Latina que não seja a Venezuela, onde nasceu minha mãe, penso no Rio”.

Sob a direção criativa do estadunidense Wes Gordon, desde 2019, a grife trará ao Brasil uma coleção que celebra seus códigos — padrões de poás, estampas florais e camisas de algodão de cortes variados — aliados “à paleta de cores do pôr do sol sobre a água no Rio”, como descreve o designer. Foi ele um dos artífices da escolha da cidade para o show. “Há um encanto e uma mística no Rio que são muito cativantes e energéticos. E os mercados brasileiro e latino-americano são muito importantes para nós”, diz.

Carolina Herrera e a filha, Carolina Adriana Herrera — Foto: Divulgação
Carolina Herrera e a filha, Carolina Adriana Herrera — Foto: Divulgação

Sem interferência nem participação de Sra. Hererra nas decisões estéticas ou estratégicas, Gordon é o manda-chuva do estilo da marca de roupas, enquanto Carolina Adriana lidera o segmento de perfumaria e beleza. A reverência dos dois à fundadora persiste em tudo o que fazem, mas há algo de simbólico na distância física que a herdeira mantém. Enquanto a mãe vive desde os anos 1970 em Nova York, a filha está assentada em Madri, há duas décadas. “Vivi toda a minha vida envolta nessa marca, com proximidade, conhecimento. Quando eu era criança, minha mãe era muito exigente com a roupa. Ainda é! Com a idade que eu tenho, ela me pergunta: ‘como você vai vestida?’; ‘é sério que você vai usar isto?’”, diverte-se a filha, aos 53 anos. “Mas a verdade é que eu visto o que quero, faço as coisas do meu jeito.”

A designer Carolina Herrera  — Foto: Divulgação
A designer Carolina Herrera — Foto: Divulgação

A festa de casamento de Carolina Adriana, em 2004, com um dos mais famosos toureiros espanhóis, Miguel Báez, conhecido como El Litri (de quem se separou em 2017), foi tema da imprensa de celebridades por meses. Assim como o vestido de noiva criado pela mãe, que se somou à longa lista de desenhos dela para famosas subirem ao altar, na vida real ou na ficção: a atriz Renée Zellweger, a personagem Bella (Kristen Stewart) no filme final da saga “Crepúsculo”, a socialite e influencer nova-iorquina Olivia Palermo, a diplomata Caroline Kennedy.

Caroline Kennedy — Foto: New York Daily News Archive
Caroline Kennedy — Foto: New York Daily News Archive

A mãe desta última, Jacqueline Kennedy Onassis, por anos amiga pessoal de Carolina Herrera, foi uma das primeiras ultracelebridades a usar suas criações. E, embora o tenha feito duas décadas depois do assassinato do marido ex-presidente, inaugurou o que hoje se conhece como uma dinastia de primeiras-damas americanas vestidas por CH, entre elas Laura Busch, Michelle Obama e Melania Trump.

Décadas antes de Jackie O., foi outro personagem bem diferente o responsável pelo primeiro grande empurrão de Carolina na direção do estrelato na moda. No final dos anos 1960, já separada do primeiro marido, com quem se casara aos 18 e tivera duas filhas, a então divulgadora da grife Emilio Pucci em Caracas se uniu a Reinaldo Herrera, membro de um aristocrático clã venezuelano e herdeiro de um título nobiliário espanhol, o de marquês de Torre Casa. Foi o salto definitivo para tornar-se jet-setter internacional.

Nascida Maria Carolina Josefina Pacanins Niño no seio de uma família mais que acomodada (o pai foi governador de Caracas nos anos 1950), a futura designer já frequentava desfiles de Balenciaga, reza a lenda, ainda adolescente. Mas foi só depois que Reinaldo Herrera assumiu um cargo diretivo na revista Vanity Fair em Nova York que ela ganhou de vez o mundo. Recém-chegada à vibrante metrópole americana, logo enturmou-se com a nata da sociedade local e com nomes menos prováveis para uma figura hoje tão associada ao luxo austero. A atriz Bianca Jagger, ex-mulher do rolling-stone Mick, foi sua “amiga de balada” nos tempos do Studio 54, assim como o artista plástico Andy Warhol, que chegou a estampá-la numa de suas famosas serigrafias.

Carolina Herrera e a top Iman — Foto: Stephen Lovekin
Carolina Herrera e a top Iman — Foto: Stephen Lovekin

O talento de Carolina para a criação, e o estímulo da amiga Diana Vreeland, colunista e editora de títulos como Harper’s Bazaar e Vogue, a levaram a se arriscar e lançar uma marca de roupas aos 42 anos, em 1981. O sucesso vertiginoso terminaria eclipsando o marido, que viveu reveses pessoais, como a perda do título de marquês em 1992. A distinção havia sido concedida ainda durante o governo do ditador espanhol Francisco Franco, em 1975. Nada que tenha abalado a relação do casal. “Não sinto ciúmes da minha mulher. Ela não teria vencido sem mim”, ele disse numa entrevista de 2019 ao El País, concedida na casa em que vive o casal em Nova York, superpovoada de móveis do século XVIII, desenhos do impressionista Camille Pissarro e um retrato do pai de Reinaldo pintado por Salvador Dalí.

Carolina Herrera e Valentino em 1990 — Foto: Ron Galella
Carolina Herrera e Valentino em 1990 — Foto: Ron Galella

A opulência condiz com a escala do sucesso conquistado por Carolina. Diferentes fontes na internet asseguram que sua fortuna pessoal supera os US$ 130 milhões, mas não há dados fiáveis sobre as cifras ligadas à marca. Uma reportagem de 2016 da Business of Fashion sustentou que as vendas anuais da CH alcançariam US$ 1,2 bilhão anual. Os números mais recentes não são revelados pelo conglomerado espanhol Puig, proprietário da grife — e de outras, como Nina Ricci e Paco Rabanne, além de participações acionárias na Jean Paul Gaultier e nos segmentos de perfumes de Christian Louboutin, Comme des Garçons, Adolfo Domínguez e Benetton.

Como fortuna atrai fortuna, foi um dos membros da família Puig quem deu a Carolina o primeiro estalo para criar a linha de perfumes, no final dos anos 1980 — hoje responsável por uma parte fundamental do faturamento da marca. Conta-se que Mariano Puig se encantou com uma essência de jasmim e cravo que ela estaria usando num evento. Não era um perfume como tal. “A história é real, e o perfume simplesmente era um óleo que minha mãe mesma havia criado num workshop da Bloomingdale’s (em Nova York). É um cheiro que remetia aos jardins dela na infância, e que eu também tenho na mente desde muito pequena, uma das minhas memórias olfativas mais antigas”, afirma Carolina Adriana. A essência se tornou a base de Carolina Herrera, a primeira colônia lançada pela estilista.

Carolina Adriana Herrera, filha de Carolina Herrera e diretora de perfumaria e beleza da grife — Foto: Divulgação
Carolina Adriana Herrera, filha de Carolina Herrera e diretora de perfumaria e beleza da grife — Foto: Divulgação

Muitos sucessos depois — entre eles o avassalador 212, que teve Gisele Bündchen como garota-propaganda —, a marca aproveitará o desfile do Rio para estrear a nova versão de Good Girl, o Good Girl Blush, numa festa exclusiva. “No Rio, Good Girl é o mais vendido, responde por 20% das vendas (de perfumes femininos no segmento luxo). Em toda a América Latina, nossos perfumes arrasam. Não sei se virá uma recessão, mas as vendas dos nossos perfumes estão crescendo sem parar”, sustenta Carolina Adriana. “E a escolha da cidade, mais uma vez, é natural.”

Numa cidade que, como escreveu Drummond, está escrita no mar, talvez tenham soado particularmente mal umas declarações sobre biquínis atribuídas a Carolina Herrera, a mãe, há alguns anos. Em texto assinado no tabloide britânico Daily Mail, uma repórter alegou ter ouvido diretamente da designer que “só as mulheres sem classe usam cabelo comprido depois dos 40” e que minissaia, biquíni e jeans devem ser peças presentes unicamente no guarda-roupa das mais jovens. A repercussão negativa foi mundial. Mas Carolina Adriana duvida que a mãe tenha mesmo dito isso. “As frases foram tiradas de contexto. São lenda urbana. Eu tive o cabelo comprido até os 50. Minha mãe usou biquíni até os 60, e temos fotos para provar”, diz a filha da lenda da moda de 84 anos, que assegura não ter medo de ataques na internet nem de cancelamentos derivados da expressão de suas opiniões: “Se alguém quiser cancelar algo que eu disser, go ahead (vá em frente), não me preocupa nada. E uma senhora como Carolina, com a idade e a trajetória que tem, acho que se preocupa menos ainda.”

Michelle Obama chegando a Havana, em 2016: vestido Carolina Herrera — Foto: GettyImages
Michelle Obama chegando a Havana, em 2016: vestido Carolina Herrera — Foto: GettyImages

De fato, a trajetória de Carolina Herrera parece evocar um sentido de liberdade — em suas criações, no seu estilo de vida — que transcendem qualquer declaração polêmica. E dão peso à tarefa de manter seu legado. “Não acho que o nome pese. Inclusive porque, como a gente brinca, a verdadeira Carolina Herrera sou eu, o sobrenome é do meu pai”, ri Carolina filha. “Penso nela como minha mãe, primeiramente. E acho muito natural assumir esse legado. Mas faço muitas coisas além de trabalhar na marca. Já dirigi documentários, tenho um espaço criativo com amigas, escrevo. Já quis ser médica, detetive da CIA... Sou uma especialista em empacotar coisas no mercado, acho que poderia trabalhar com isso! Posso fazer muitas coisas”. De fome, realmente, ela não morreria. “Sou uma mulher livre, e este é o maior luxo que pode haver: liberdade, sem amarras, para fazer o que diz o coração, e ter tempo suficiente para isso.”

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