A Unilab e as Novas Rotas do Atlântico Negro | Página 13

A Unilab e as Novas Rotas do Atlântico Negro

Por Fausto Antonio e Rosalina Semedo de Andrade Tavares (*)

 Epigrafia dos resultados e das possibilidades da Unilab

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Lei de criação 20 de julho de 2010. Início de funcionamento – 25 de maio de 2011, tem 26 cursos de graduação presencial, 4 cursos de graduação EaD, 10 Pós graduação Stricto Senso, 7 cursos de Pós-graduação Lato Sensu, 1 Doutorado, 9 Unidades acadêmicas (Institutos) e por volta de 3500 alunos ativos nos Campi do Ceará e Bahia. A Unilab já formou 5170, sendo 3.413 brasileiros e 1.747 internacionais dos países parceiros (Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), de acordo com os dados extraídos do site da Unilab.

 Unilab, CPLP, África , Diásporas e BRICS

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) é uma política projetada pelos movimentos sociais negros e promulgada pelo governo Lula. Ela se insere no rol de investimentos no sistema público universitário nacional, com impacto e indiscutível alcance internacional. A fundação espiritual da Unilab, para nos basearmos no complexo, milenar e sofisticado sistema cultural negro-africano e negro-brasileiro, se deu no ano de 2010 e, sua fundação material, em concordância com o mesmo sistema, no dia 25 de maio de 2011, no emblemático “Dia Internacional da África”. A Unilab, o mesmo raciocínio se aplica à Unila, não é apenas mais uma instituição de ensino, pesquisa e extensão. Ela carrega novos sentidos e significados curriculares e filosóficos para as políticas de interiorização e de internacionalização do país.

Unilab e Unila só podem funcionar na teia das relações entre Estados e no concerto dos países e interesses geopolíticos envergados historicamente, no caso da Unilab, pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), países africanos em geral, suas diásporas e Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) ampliados e os seus estratégicos e conjunturais interlocutores. A Unilab é o resultado das lutas empreendidas pelos movimentos sociais negros e reafirmada e, sobretudo e mais ainda, ampliada pelo advento das Leis 10.639/2003, 11.645/2008 e 12.711/2012. Por igual equivalência e importância, o projeto é, ao mesmo tempo, espaço e lugar efetivo para o projeto geopolítico do Estado brasileiro para o contexto da CPLP, países africanos, suas diásporas e BRICS.

Uma dimensão postulada pelo Estado brasileiro diz respeito à potencialização da tríade ensino, pesquisa e extensão, que assegura a materialização, no interior do Brasil, de estudos, pesquisas e experimentos de ponta, respeitando as similaridades e necessidades, por exemplo, dos demais países da CPLP. Colocamos em relevo as similaridades em cuja base estarão confiados os recursos econômicos, humanos e científicos capazes de gerar mudanças sociais substantivas nos países envolvidos pela sigla CPLP. A formação de quadros será, assim, acompanhada pelo retorno dos formados e, naquilo que a rigor define a política curricular e de Estado, o intercâmbio concretizará avanços nas áreas responsáveis pela geração de emprego, renda, moradia, ensino, cultura, transporte, saneamento e saúde e, por fim, crescimento da indústria e das soberanias nacionais.

A Unilab deve, como processo educativo e pela sua origem, responder aos anseios dos movimentos sociais negros nos quesitos curriculares e de comando, poder e visibilidade negro-africana. Por outro lado e como projeto do Estado brasileiro, o processo deve se ocupar, além e com as inovações epistemológicas enegrecidas e africanizadas, do avanço científico e tecnológico assentado nos dilemas dos biomas tropicais, do semiárido, das florestas equatoriais, dos recursos hídricos, energéticos, minerais e também daqueles provenientes do Atlântico e da poderosa sociodiversidade presente na composição da Unilab, que é espelhada pela CPLP e pelos BRICS.

Do ponto de vista do Estado brasileiro, a Unilab é parte da geopolítica vinculada aos BRICS na sua origem e hoje, de modo incisivo, na sua composição ampliada. Para os movimentos negros a Unilab é, como currículo, produto; fruto das lutas, e meio para produção de intervenção no interior do Brasil e no contexto geopolítico internacional da CPLP e, por extensão, dos BRICS. É útil considerarmos no plano geopolítico que, na socioespacialidade delimitadora da parelha África e diáspora, somos hoje mais fortes. Há, na composição ampliada dos BRICS, África do Sul, Etiópia e Egito. O quadro estratégico e conjuntural dos BRICS sugere uma leitura renovada da instituição; espécie de balanço, e uma projeção para o futuro, sem dúvida, apontando possibilidades e inovações na área específica de ensino, pesquisa , extensão e no cabedal alusivo à cooperação, integração e intercâmbio científico, tecnológico e de progresso social ampliado e compartilhado.

Depois de 13 anos de existência, a Unilab Ceará e Bahia emprega, na categoria de professores adjuntos concursados, aproximadamente 410 docentes, 360 técnicos administrativos e 4 mil estudantes oriundos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. A Universidade é, como produto de um histórico processo de luta, o ápice dessa intervenção encetada pelos movimentos socias negros, as Leis e o Estado brasileiro. De modo relativo, a Unilab é instrumento para arquitetar, concretizar e/ou sistematizar um modo de produção curricular antirracismo e revelador da socioespacialidade, no interior do Brasil, encruzilhada com o encontro ou reencontro com as pluriversalidades legadas pela África, suas diásporas e povos originários. Noutros termos, o modo de produção curricular, notadamente político e filosófico balizado pelo pêndulo negro-africano, põe em circulação dinâmica os lugares do interior do país; sede da Unilab em Redenção, Ceará, e São Francisco do Conde, Bahia, e, na mesma chave interventiva, os lugares dos países que compõem efetivamente o projeto de integração internacional.

A Nova Rota do Atlântico Negro e a Unilab

AUnilab foi instituída no estado do Ceará, na cidade de Redenção, em 25 de maio de 2011, Dia Internacional da África. As datas sugerem uma leitura conjunta da parelha dada pelos países africanos de língua oficial portuguesa e pelo Brasil. A dimensão geopolítica envolve, mediada pela escala nacional, países que foram e são intersectados pelo oceano Atlântico. A Unilab é, por tal razão histórica, artefato social, político, curricular e governamental, para refazer a rota atlântica. A nova rota do Atlântico Negro revê, num mesmo e articulado processo, a data alusiva ao “Dia da África” e o papel e destino da Unilab. As referências à África e à Unilab devem partir e considerar a centralidade, tal como ocorre com “as novas rotas da seda”, das Novas Rotas do Atlântico Negro.

Trata-se de uma formulação renovada e fixada pela coexistência política dos BRICS e por um ingresso soberano dos países da CPLP, da África e dos lugares das diásporas africanas. Estamos no campo da geopolítica global e como protagonistas, sobretudo. Numa síntese, nas Novas Rotas do Atlântico Negro os comandos políticos e espistêmicos serão dados e hegemonizados pelos países africanos e pelos lugares e países diaspóricos; o que inclui poderosamente a negro-indígena- América. Sendo assim, no global, no cômputo interno, a Unilab tem feito esforços neste sentido, isto é, de empiricizar as Novas Rotas do Atlântico Negro.

Ao atualizar as Novas Rotas do  Atlântico Negro e o projeto  da Unilab, defendemos, sem  prejuízo da  missão e  origem da instituição, a autonomia   do Campus dos Malês. Desse modo, com vista à governança vinculada ao lugar, teremos a Unidade Gestora com autonomia administrativa, financeira e acadêmica para possibilitar o funcionamento de forma digna e com sua expansão para novos cursos, institutos. A Comunidade unilabiana dos Malês, com as garantias efetivas de funcionamento (estrutura, infraestrutura, pessoal e recursos financeiros) terá oportunidade de avaliar e, no médio prazo, se for de entendimento dessa comunidade pode dar seguimento a um plano de autonomia que resulte na criação da Unilab Malês, sem prejuízo da missão para a qual a Universidade foi criada.

(*) Fausto Antonio e Rosalina Tavares são docentes da Unilab Bahia e Ceará, respectivamente.


Referências:

Corredores Bioceânicos e as Novas Rotas do Atlântico Negro pagina13.org.br

https://pagina13.org.br › corredores-bioceanicos-e-as-n…

Unilab, 2024. Disponível em:<https://unilab.edu.br/cursos-da-unilab-2/>. Acesso em 10/03/2024

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