FOTO EM MOVIMENTO: “A Sala dos Professores” - Ilker Çatak (Alemanha, 2023)

19.5.24

“A Sala dos Professores” - Ilker Çatak (Alemanha, 2023)

Sinopse:
Carla Nowak (Leonie Benesch) é uma professora recém chegada à escola em que trabalha atualmente. Assim que ela chega ao local, percebe que há alguns roubos acontecendo lá. Ela poderia aceitar essa situação, mas é exatamente isso que ela não quer fazer. Ela começa a investigar por conta própria e se depara com a falta de compreensão de seus colegas, pais e alunos. Além disso, a principal suspeita é a mãe de seu aluno Oskar (Leonard Stettnisch).
Comentário: Ilker Çatak (1984) é um cineasta alemão. Ele é filho de imigrantes turcos. Dentre sua produção estão filmes publicitários, curtas e longas-metragens. “A Sala dos Professores” é o primeiro filme que vejo dele.
Alissa Wilkinson do New York Times, escreveu que “Carla Nowak (Leonie Benesch), uma nova professora numa escola alemã, parece ter chegado à sua sala de aula do sexto ano munida de teorias e técnicas para ganhar a confiança e o respeito dos seus alunos. Mas ela está prestes a descobrir, como muitos professores já descobriram, que administrar uma sala de aula não é tão fácil quanto parece na TV.
De certa forma, ‘A Sala dos Professores’ de Ilker Catak (...) parece uma refutação direta ao excesso dos chamados filmes de professores mágicos, que abundam em todo o cinema. Nesse gênero (...), uma professora idealista encontra reticências e lutas, mas consegue chegar até seus alunos e fazer a diferença em suas vidas. Os professores fazem isso, é claro, mas se você apenas assistisse à representação da sala de aula feita por Hollywood, poderia pensar que o sucesso estimulante é inevitável. Mas as boas intenções da Sra. Nowak são frustradas a cada passo. (...) Seus alunos são um grupo típico, uma mistura de grandes empreendedores, benfeitores, preguiçosos e desleixados. Alguém na escola, no entanto, está roubando de outras pessoas e ninguém consegue identificar quem pode ser o autor do crime. A Sra. Nowak fica horrorizada quando outro professor pede aos representantes do conselho estudantil que delatem, ou pelo menos digam quem eles acham que pode estar fazendo isso, especialmente quando Ali (Can Rodenbostel) é quem eles acusam. Ele é filho de imigrantes turcos e, quando seus pais chegam para explicar aos administradores por que não foi ele, um racismo nada sutil invade a sala.
É aqui que fica claro que ‘A Sala dos Professores’, apesar do seu realismo, é mais forte no nível alegórico. A sala de aula moderna tem sido descrita por filósofos e teóricos como carcerária, uma instituição na qual as crianças são doutrinadas em sistemas disciplinares que governarão toda a sua vida: no local de trabalho, no sistema de justiça, na praça pública. É preciso chegar na hora certa, seguir regras e horários, atender a campainha, submeter-se às avaliações e repetir tudo amanhã. Esta escola - ou pelo menos por parte de Nowak - orgulha-se da sua justiça democrática, da sua liberdade de expressão e de imprensa, e da sua atitude de autogoverno. (...) Não é muito fácil manter uma sociedade em harmonia, e uma tentativa totalmente democrática de manter a paz em qualquer grupo resultará inevitavelmente num cabo de guerra entre princípios autoritários e até fascistas, por um lado, e um caos desenfreado, por outro. Çatak coloca essa luta em uma sala de aula, mas está claro que, como outros diretores europeus (incluindo Michael Haneke e os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne), ele está contando maliciosamente uma história sobre uma sociedade muito, muito maior do que a encontrada em um campus”.
O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
O que disse a crítica: Chris Barsanti do site Slant avaliou com o equivalente a 3,75 estrelas, ou seja, muito bom. Escreveu: “’A Sala dos Professores’ repousa em grande parte sobre os ombros de Benesch [a atriz que interpreta a professora Carla Nowak], que vibra com uma intensidade que chega perto do auto martírio. Mas apesar de apresentar Carla como mais bem-intencionada do que quase qualquer outro adulto, que em grande parte parece tão venal [que se deixa corromper], mesquinho e em pânico quanto os estudantes, este filme surpreendentemente cheio de suspense não a trata como uma heroína”.
Cortland Jacoby do site Punch Drunk Critics avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “Uma das maiores reclamações de professores, pais e alunos após o retorno à escola pós COVID é como tudo ficou mais difícil. Embora a COVID não desempenhe um papel neste filme, ele reflete ativamente a desconfiança natural que permeia as salas de aula em todo o mundo. Essa frustração se percebe à medida que as coisas ficam fora de controle na escola de Carla. Ela faz o possível para resolver o problema e defender seus alunos, mas não consegue ajudar quando outros adultos não seguem as regras. É uma versão em menor escala do nosso mundo moderno, o que torna ‘A Sala dos Professores’ igualmente fascinante e frustrante”.
O que eu achei: O filme tem uma abordagem bem atual e muito diferente das vistas anteriormente em filmes sobre professores, alunos e escolas. Em geral, o que se vê, são aquelas histórias com mensagens construtivas sobre a alegria de ser professor, a missão em levar conhecimento para uma classe difícil ou sobre professores abnegados que se dispõem a ensinar em lugares remotos e sem recursos... há uma penca desses na história do cinema. Aqui a coisa é bem diferente. A personagem principal até é uma professora novata, dedicada e muito bem intencionada, mas sua correção como pessoa faz com que ela não aceite que os pequenos roubos que estão acontecendo na escola onde ela trabalha fiquem sem uma investigação e uma resposta. Suas atitudes no intuito de resolver esse enigma, entretanto, a levam a se deparar com uma espécie de microcosmo da civilização atual, trazendo à tona o preconceito com o imigrante, a espionagem via câmeras que extrapola (ou não) os limites da privacidade, as falas que são retiradas de contexto para terem seu significado alterado e a administração da escola que não quer seu nome envolvido em escândalos. Não há boa intenção que supere todos esses obstáculos. É um filme verborrágico, tenso, angustiante e provocativo com um final abrupto que deixa no ar o paradoxo de que no mundo contemporâneo nenhuma boa ação fica impune.