10 lições de Warren Buffett e como o megainvestidor as aplica na prática | Investimento no Exterior | Valor Investe

Por Marília Almeida, Valor Investe — São Paulo


A conferência anual da Berkshire Hathaway, empresa de investimentos do lendário investidor Warren Buffett, aconteceu neste sábado, 4, e reuniu nada menos do que 30 mil acionistas, ávidos para ouvir os conselhos valiosos e a visão do mercado do megainvestidor, o 9º homem mais rico do mundo.

Do alto dos seus 93 anos, Buffett tem muitas lições para dar. E suas falas e respostas às questões de investidores ao longo do evento deram sinais de como ele aplica essas lições na prática.

Henrique Vasconcelos, analista da casa de análises Nord, relembrou essas lições em um relatório divulgado no dia do evento. Veja como elas se relacionam como a forma que Buffett vem conduzindo os seus investimentos. As falas de Buffett foram traduzidas da cobertura ao vivo do evento da CNBC:

Quanto mais tempo de investimento, melhor

Buffett possui um patrimônio atualmente avaliado em cerca de US$ 130 bilhões, segundo dados da Bloomberg. Ainda que esse montante tenha multiplicado majoritariamente após seus 65 anos (passou de US$ 3,8 bilhões aos 59 anos para US$ 17 bilhões aos 66 anos), desde cedo Buffett teve a disciplina de ir economizando o seu dinheiro. Aos 19 anos, ele tinha US$ 10 mil. Aos 30, acumulava US$ 1 milhão. E aos 43 havia obtido 43 milhões, segundo o site Medium.

O mais importante para conseguir aproveitar o efeito dos juros compostos é sempre investir com a visão de longo prazo, e não sair e entrar de um investimento ao sabor da onda do momento. "É necessário trabalhar o psicológico para ter esse horizonte de longo prazo enraizado na mente", diz Vasconcelos, da Nord.

Um exemplo é o investimento do megainvestidor na Apple. Buffett comprou pela primeira vez os papéis da fabricante do iPhone em 2016, há oito anos. No último trimestre, vendeu certa de 13% dessas aplicações, o que foi o bastante para que investidores, no evento de ontem, questionassem se o megainvestidor continua a acreditar na empresa, certamente preocupados com o desempenho recente da Apple, que vem "ficando para trás" no tema da inteligência artificial. Buffett não pestanejou e respondeu, com todas as letras:

"A atratividade da Apple não diminuiu desde que compramos ações pela primeira vez, em 2016. Quando olhamos para a Apple, American Express, Coca-Cola, as vemos como negócios. Não tentamos prever os mercados. O mercado não está lá para instruir, mas para servir você"

Depois, apontou que o motivo para a venda das ações era bem mais, digamos, "burocrático": como há a possibilidade de que a carga tributária das empresas aumente nos Estados Unidos, ele resolveu realizar algum lucro antes que isso aconteça.

Não se endivide para investir

Em uma de suas conferências, Buffett respondeu a uma pergunta sobre o que pensava sobre o uso de alavancagem financeira para realizar investimentos. Respondeu que Charlie Munger, seu sócio, dizia que há apenas três maneiras de uma pessoa esperta quebrar, e uma delas é investir um valor maior do que o que tem na conta.

Buffett disse, em conferências passadas, que a alavancagem é muito comum e, de fato, pode entregar benefícios grandiosos. Mas apenas caso o investidor esteja certo. Se estiver errado, com toda a certeza não será um prejuízo que será fácil de recuperar.

Não é à toa que a Berkshire tem um gordo caixa investido em títulos do Tesouro Americano. É com esse dinheiro que Buffett investe em oportunidades quando elas surgem. O caixa da Berkshire continuou a crescer no primeiro trimestre do ano e atingiu um recorde de US$ 189 bilhões em 31 de março, acima dos US$ 167,7 bilhões em 31 de dezembro de 2023. Ele respondeu por que acumula o montante no evento de ontem:

“Adoraríamos gastá-lo, mas não o gastaremos a menos que pensemos que eles estão fazendo algo que apresenta muito pouco risco e que pode nos render muito dinheiro”.

Alves, da Avenue, aponta que apesar de Buffett ter comentado que o mercado atualmente é bem diferente da bolha da internet dos anos 2000, o fato de a Berkshire Hathaway estar com um caixa alto deixa implícito que as ações do mercado estão com problemas de avaliações, o que impede novas compras.

O que não tem graça costuma ser um ótimo investimento

Inteligência artificial e criptomoedas são, certamente, temas excitantes. Mas Buffett sempre bateu na tecla de que se deve investir em empresas que se possa entender. E, do alto dos seus 93 anos, o bilionário teve a humildade de falar neste sábado, na frente de 30 mil investidores, que não tem conhecimento aprofundado sobre a inteligência artificial.

Para ele, não adianta você investir em um negócio que você não sabe como funciona economicamente ou os detalhes que vão fazer aquilo dar certo, explica Vasconcelos, no relatório. "O que o Buffett procura são negócios simples, compreensíveis e sem muita “emoção”. Empresas como a Coca-Cola, que vende bebidas para as pessoas no mundo inteiro, bancos, serviços de pagamentos e petroleiras".

Warren Buffett afirmou neste sábado que ele e Charlie Munger certamente perderam oportunidades de investimento ao longo dos anos, mas lamentaram apenas algumas.

“Perdemos muitas coisas e o que realmente lamentamos foi ter perdido algo que acabou sendo muito grande. Nunca nos preocupamos com algo que não entendíamos. Por que deveríamos ser capazes de prever o futuro de cada negócio, assim como não podemos prever quais serão os rendimentos de trigo no próximo ano?”

A Apple, que responde por quase metade dos investimentos de Buffett atualmente, poderia fugir desse conceito devido às suas inovações no mercado ao longo do tempo. Mas ela pode ser vista apenas como uma empresa que vende aparelhos eletrônicos, observa o analista da Nord.

No evento de ontem, Buffett disse que pode não entender tanto de tecnologia, mas entende de comportamento do consumidor, observa William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. "Ele comparou o valor de um carro ao de um iPhone. Um carro vale muito mais, obviamente. Mas, quando questionadas, as pessoas preferem perder eventualmente o seu segundo carro ao seu único iPhone".

Invista em empresas fáceis de administrar

A ideia do megainvestidor é investir em um negócio tão bom, que, mesmo com a gestão da empresa cometendo erros, a empresa continue de pé, diz Vasconcelos.

"Os erros vão ocorrer, em todas as companhias. Mas, caso o negócio seja sólido, provavelmente ele será capaz de sobreviver a esses erros".

Compre boas empresas

Quando Buffett começou a investir, seguia os conselhos de Benjamin Graham, seu professor e mentor: comprava apenas “pechinchas”, sem levar em consideração a qualidade do negócio.

Esses ensinamentos funcionaram muito bem por um tempo. Até que Buffett percebeu que não funcionaria mais, o que o levou a adotar uma estratégia que se concentra tanto no preço quanto na qualidade do negócio, lição aprendida com seu amigo e sócio falecido no final do ano passado, Charlie Munger, relembra Vasconcelos.

"Em resumo, a tese de Munger diz que uma boa empresa a um preço aceitável é muito superior a uma empresa ruim a um preço baixo".

Alves, da Avenue, observa que toda a trajetória da Berkshire Hathaway reflete essa tese, conhecida como investimentos de valor (value investing). "Esses negócios maduros são carregados no longo prazo e sua consistência acaba repercutindo em suas ações".

Na conferência desse ano, Buffett citou que a Coca-Cola e American Express são negócios que, em tese, nunca deveriam ser vendidos. Outro negócio importante para a Berkshire, a Geico, que foi essencial para o bom resultado do balanço do 1º trimestre em um momento de juros altos nos EUA, foi adquirido há anos na forma de um investimento privado e também tem essas características, diz o estrategista.

Investir exige controle emocional

O mercado tem seus altos e baixos ao longo do tempo, e lidar com isso é fundamental. Como o mercado passa por ciclos, toda estratégia de investimento terá períodos de desempenho ruim.

Se a estratégia é ter empresas de muito crescimento, em momentos de crise, é provável que terão desempenho pior do que a média do mercado. Um dos motivos é que costumam ter a necessidade de investir mais, e custos mais altos impedem que façam isso.

Já se a estratégia for ter empresas saudáveis, perenes e pagadoras de dividendos na carteira de investimentos, provavelmente elas ficarão para trás em momentos de euforia do mercado, explica Vasconcelos.

"Manter o foco e a disciplina na estratégia que você escolheu é fundamental. Caso você fique pulando de galho em galho, sempre buscando uma “nova” estratégia vencedora, provavelmente o mercado te deixará para trás em todas elas".

Use o sobe e desce do mercado a seu favor

Uma das maiores lições de Buffett é que a melhor coisa que pode acontecer para qualquer investidor que tem intenção de continuar comprando ações nos próximos anos é que os preços caiam, diz Vasconcelos.

"Pode doer ver sua carteira de investimentos caindo? Pode, e provavelmente vai. Mas se o seu objetivo é comprar ações pelos próximos 10 anos, você deveria ficar feliz em ver que os preços estão caindo".

Quem compete com o CDI anualmente, semestralmente ou trimestralmente é um gestor de fundo. Se o investidor não é um gestor de fundos, não deveria se preocupar com o sobe e desce do mercado no curto prazo, conclui o analista da Nord.

Invista em empresa que reinvestem o seu dinheiro

É fundamental que as empresas nos quais se investe sejam capazes de reinvestir seus lucros a taxas de retorno altas para continuar crescendo de forma saudável ao longo do tempo, diz Vasconcelos, citando um conselho do megainvestidor.

Empresas que não reinvestem seus lucros para dar continuidade ao seu crescimento provavelmente duram até o dia que alguém substituir ela e seus serviços por coisas melhores.

Não tenha medo de concentrar investimentos

A Berkshire Hathaway, com seus bilhões disponíveis, tem uma posição de mais de 40% na Apple. O conselho de Buffett é que a sua melhor ideia tenha um peso maior do que as ideias que você não tem a mesma confiança.

Outra concentração notória dos investimentos do megainvestidor é nos Estados Unidos, país onde nasceu, que considera seguro e no qual conhece mais de perto os negócios.

Na conferência de ontem, Buffett foi bastante questionado sobre o que achava de investimentos em países como China e Índia após anunciar investimentos em empresas japonesas.

É “improvável que assumamos grandes compromissos noutros países”.

Procure empresas que consigam repassar custos

Buffett falou diversas vezes como uma empresa de chocolate como presentes, a See’s Candies, mudou sua forma de enxergar os investimentos.

Os clientes compram os produtos da marca para dar chocolate de presente. Isso permitia que a empresa conseguisse repassar os custo de forma muito mais natural. Afinal, ninguém deixaria de levar um chocolate como um presente.

Isso pode ser aplicado a diversos negócios. Procurando por empresas, foque na capacidade dela de repassar custos por meio das receitas, aponta Vasconcelos, da Nord.

"Uma forma de monitorar isso é por meio das margens. Se a empresa estiver crescendo e perdendo margem, provavelmente não consegue repassar os preços, mas apenas ganhar escala. Se consegue crescer mantendo as margens, é um bom indício que consiga repassar seus custos para seus clientes".

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