Representatividade asiática em Hollywood vive era de ouro com 'Avatar', 'Xógum' e 'O problema dos 3 corpos' | Pop & Arte | G1

Por Cesar Soto, g1

"Avatar: O último mestre do ar", "Xógum: A gloriosa saga do Japão", "O simpatizante", "O problema dos 3 corpos" são quatro das maiores séries americanas de 2024. Elas são também bons exemplos da grande era de ouro da representatividade asiática que vive Hollywood.

Todas têm elencos formados em sua maioria por atores asiáticos, são protagonizadas e têm showrunners (produtores que criam, escrevem e comandam a obra) da mesma origem e são consideradas grandes apostas de seus respectivos estúdios (duas da Netflix, uma da Disney e outra da HBO).

E a explosão na representatividade deste grupo em Hollywood não fica limitada à TV ou plataformas de streaming. O grande vencedor do Oscar 2023, "Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo", conseguiu sete estatuetas com sua história sobre uma família de imigrantes chineses envolvida em uma aventura pelo multiverso.

O ator sul-coreano Paul Sun-Hyung Lee, de "Avatar", comemora a boa fase.

"Não é só a representação na frente das câmeras, mas atrás também. E há uma atenção aos detalhes e um desejo real por autenticidade, pela experiência de vida, e por fazer do jeito certo", diz ele em entrevista ao g1.

"Não é alguém de fora das culturas contando essas histórias, mas alguém de dentro, que quer desenvolver esses mundos da maneira apropriada. Isso é mais que uma modinha. É um movimento de verdade."

Arden Cho, Dallas Liu e Paul Sun-Hyung Lee em cena de 'Avatar: O último mestre do Ar' — Foto: Robert Falconer/Netflix

Se esses exemplos não são o bastante, um estudo do Norman Lear Center e da ONG Gold House divulgado em 2023 pode ajudar. Ao analisar cem dos principais filmes e séries em plataformas de vídeos, a pesquisa aponta um crescimento no número de papés importantes interpretados por asiáticos de 3% a 16% entre 2007 e 2022.

Mais do que isso, a análise também diz que esses personagens cada vez se encaixam menos em estereótipos como "o estrangeiro" ou "o herói trágico".

"É legal ver esses marcadores claros de progresso. Não dá para dizer que já chegamos lá, ainda há um caminho longo pela frente, mas esses são passos positivos", diz o sul-coreano Daniel Dae Kim, que interpreta o grande vilão de "Avatar".

"Tanto 'Xógum' quanto 'Avatar' tiveram adaptações anteriores. As duas versões atuais são reflexos direto dos tempos em que vivemos. Você pode ver as diferenças do começo ao fim em ambos os casos."

Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens sobre a força da Ásia na cultura pop. Com novo boom dos animes, empresas investem em dublagem e no combate à pirataria. Hollywood responde com mais representatividade asiática em filmes e séries.

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O nascimento de uma era

Não é difícil estabelecer um ponto de inflexão nesse movimento. Com um orçamento estimado em US$ 30 milhões, a comédia romântica "Podres de ricos" americana arrecadou US$ 230 milhões em bilheterias ao redor do mundo em 2018 – para provar que elencos majoritariamente asiáticos conseguem atrair o público.

Desde então, Hollywood passou a olhar para o grupo com outros olhos. Filmes como "Minari" (2020) e "O tigre branco" (2021) conseguiram sucesso com a crítica. Já outros, como "Para todos os garotos que amei", conquistaram o público.

"Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo" (2022), é claro, acertou os dois alvos.

Há outros fatores também, é claro. Com orçamentos cada vez mais inflados, os estúdios são cada vez mais dependentes da arrecadação "estrangeira" – como chamam as bilheterias de fora dos Estados Unidos e do Canadá.

Stephanie Hsu, Ke Huy Quan, Michelle Yeoh e James Hong em cena de 'Tudo em todo lugar ao mesmo tempo' — Foto: Divulgação

Para atrair mercados como a China, então, produtores abrem seus elencos para personagens que pareçam menos com o americano ou o europeu padrão.

Na via oposta, o sucesso de produções coreanas – como o do grande vencedor do Oscar 2020, "Parasita", ou de séries popularizadas em plataformas de alcance mundial – também ajuda a acelerar mudanças.

"Agora nem parece o ambiente de quando eu comecei, de forma alguma. Sabe, eu tenho um filho de 8 anos. Pela primeira vez, consigo vê-lo se vendo nas coisas às quais ele assiste", afirma o ator americano Ken Leung, também de "Avatar", filho de chineses.

"No Halloween, ele não precisa se fantasiar como um personagem interpretado por um cara branco. Ele pode ser um personagem interpretado por um asiático. Isso, para mim, é tudo."

Fim da competição

Entre as séries hollywoodianas dos últimos anos, a participação asiática se torna cada vez mais notável. Adaptação de um best-seller do britânico James Clavell, "Xógum" não tem apenas uma co-showrunner de família japonesa, Rachel Kondo, mas também alistou seu grande astro como um dos produtores executivos.

"Às vezes acontecem equívocos com a nossa cultura. Ou alguns públicos amam personagens japoneses estereotipados ou hábitos, coisas assim. Mas, no século 21, eu queria consertar tudo isso para a nossa geração", diz o ator Sanada Hiroyuki, que fez questão de participar dos esforços pela autenticidade da produção.

"Eu tentava corrigir nossa cultura em cada filme ou série de TV, mas sentia os limites para dizer algo como ator. Por isso que, dessa vez, eu tenho o título de produtor. Tem um significado muito grande para mim."

Sanada Hiroyuki e Anna Sawai em cena de 'Xógum' — Foto: Divulgação

Bem recebida pelo público e pela crítica, "Xógum" definitivamente é parte de um movimento. "Avatar" é a versão com atores do desenho da Nickelodeon com forte inspiração em culturas asiáticas e indígenas.

Em "O simpatizante", o celebrado cineasta sul-coreano Park Chan-Wook ("Oldboy") adapta o best-seller de mesmo nome do vietnamita americano Viet Thanh Nguyen.

Para realizar "O problema dos 3 corpos", baseado no sucesso literário do chinês Liu Cixin, a dupla de "Game of thrones", David Benioff e D. B. Weiss, não apenas convocou Alexander Woo ("True Blood") como co-showrunner, mas manteve grande parte do elenco asiático – mesmo depois de dar uma ambientação mais global para a história.

"Tem sido fantástico ver as pessoas recebendo oportunidades nessas séries. Esse elemento, a autenticidade de acertar ao permitir que os asiáticos sejam os protagonistas em suas próprias histórias em suas próprias culturas, é muito importante", fala o ator britânico Benedict Wong. Filho de imigrantes de Hong Kong, ele interpreta um dos personagens mais marcantes da ficção científica.

Para uma nova geração de atores, esse aumento em papéis interessantes também tem outro significado.

"Tenho tantos amigos que também são atores asiáticos e mestiços. Há esse sentimento de que eu não preciso ser tão competitiva com eles, de que todos nós podemos ter sucesso", afirma Lizzy Yu. Aos 21 anos, ela ainda está em seu terceiro papel, como a princesa Azula em "Avatar".

"Vocês podem ficar felizes uns pelos outros", diz Leung.

"Isso, finalmente podemos sentir que essa não é mais uma grande competição na qual só há um vencedor. É realmente maravilhoso."

Liam Cunningham e Benedict Wong em cena de 'O problema dos 3 corpos' — Foto: Ed Miller/Netflix

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