O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) começa esta quarta-feira, com um total de 19 espetáculos no Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Viana do Castelo, e um tema marcado por fantasmagorias.

A 47.ª edição do evento decorre até 26 de maio e passa por 14 palcos diferentes, com nove espetáculos internacionais e várias estreias nacionais em cartaz, num ano em que ao trauma e bravura que constavam do motivo temático de 2023 se juntou o lado espectral.

“Desde o início que tínhamos a ideia de fazer este binómio entre a edição de 2023 e a de 2024. Há o trauma da pandemia, da crise migratória, das guerras, e a bravura dos artistas, que põem o seu corpo e palavras de maneira a lerem melhor a realidade, mas também das mães que atravessam o Atlântico ou o Mediterrâneo. Macro e micro-histórias de bravura”, resumiu o diretor artístico do festival, Gonçalo Amorim, em entrevista à agência Lusa.

Incluir as fantasmagorias nesse binómio permite “acrescentar e densificar o tema, também muito direcionado para a forma como os artistas têm lidado com estas situações”.

Uma das novidades deste ano é o regresso ao Coliseu do Porto, no sábado, com uma criação do Teatro O Bando e da Companhia Olga Roriz, em parceria com a Banda Sinfónica Portuguesa, intitulada “Irmã Palestina — 1001 Noites”, que “procura as verdades que se escondem nas ficções e as ilusões que enevoam a realidade”.

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Na quinta e na sexta-feira, o FITEI recebe, no Grande Auditório do Teatro Municipal Rivoli, em estreia nacional, o espetáculo “Stabat Mater”, da brasileira Janaína Leite, que já fez parte da programação, virtual, da edição de 2021, ainda marcada pela pandemia de covid-19.

O Teatro Campo Alegre recebe também um dos espetáculos que marcam o arranque do evento, com “Luta Armada”, da companhia Hotel Europa, uma coprodução do festival olhando para este tipo de luta na segunda metade do século XX em Portugal.

O Teatro Nacional São João, por seu lado, recebe “uma espécie de regresso triunfal ‘post-mortem’ da atriz, poetisa, líder sindical e lenda Manuela Rey”, no espetáculo “Manuela Rey Is In Da House”, do Centro Dramático Galego, nas mesmas datas. “Sem Palavras”, da Companhia Brasileira de Teatro, chega ao Teatro Nacional São João a 24 e 25 de maio, e o Teatro do Frio apresenta “Trajetória”, no Porto, Matosinhos e Viana do Castelo.

De sexta-feira a domingo, Jorge Andrade, da Mala Voadora, apresenta, no espaço da companhia no Porto, “Cantar de Galo”, escrito por Robert Schenkkan, norte-americano galardoado com um Pulitzer, a história de um Galo de Barcelos que ganha vida e procura respostas perante o ditador Salazar, trazido à vida em ‘deepfake’, que o manteve um símbolo nacionalista durante 40 anos.

Nesse fim de semana, no Teatro Carlos Alberto, Ivo Alexandre regressa ao universo burlesco e cómico de Ionesco com “Amédée ou como Desembaraçar-se”. A 21 e 22 de maio, há “One Night at the Golden Bar”, de Alberto Cortez, no Rivoli, a mesma sala para “A Possibilidade da Ternura”, outra estreia nacional, em 23 de maio, da companhia chilena La Re-Sentida.

O Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos, recebe “Maria Isabel”, da chilena Ana Luz Ormazábal, e também “Dona Pura e os Camaradas de Abril”, um dos espetáculos relacionados com os 50 anos do 25 de Abril de 1974, pela Saaraci.

Já a peça “A Nossa Última Manhã Aqui”, de Manuel Tur, reflete sobre o colonialismo português, abrindo a discussão “complexa mas que é preciso ter” sobre este tema, um “nosso impensado”, como lhe chamou Eduardo Lourenço, que Gonçalo Amorim admite vir a ter preponderância na edição de 2025 do festival.

Paralelamente às peças, decorrerão, entre outras iniciativas, ações de formação com a participação dos artistas que passam pela cidade, bem como momentos performáticos, festas e encontros com programadores, além de mesas redondas e outros programas inseridos no FITEI Aberto e no FITEI Pro.