Gosta de cinema? Confira a resenha do filme "Noites de Circo"
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LUZ, CÂMERA, AÇÃO

Gosta de cinema? Confira a resenha do filme "Noites de Circo"

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", o professor e escritor Felipe Figueira fala sobre mais um filme do cineasta sueco Ingmar Bergman.

Publicado em 19/05/2024 às 14:30
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(Foto: Reprodução)

“Noites de Circo” é um filme do grande cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007), diretor de clássicos do cinema como “O Sétimo Selo”, “Morangos Silvestres” e “A Fonte da Donzela”. A carreira desse diretor é longa e prolífica, iniciando-se com “Crise”, de 1946, até “Saraband”, de 2003.

 A obra de Bergman me impactou tão profundamente a ponto de que possuo todos os filmes do diretor disponíveis em língua portuguesa, 42 ao todo, além de livros e documentários. Essa admiração me levou a escrever um livro, “Bergman & eu” (Penalux, 2024), em que transformo todos os seus filmes em poemas.

Mas, qual o roteiro de “Noites de Circo”? Como o nome sugere, trata-se de acompanhar a vida, na verdade, alguns momentos da vida de Albert Johansson (Åke Grönberg) e do seu circo, o “Circo Alberti”, bem como de alguns de seus artistas, em especial o palhaço Frost (Anders Ek). O início da película dá o tom ao filme, que é mil vezes mais trágico do que cômico. Frost, após sair de uma apresentação, é avisado de que a esposa, Alma (Gudrun Brost) foi nadar nua junto aos soldados suecos. A cena é de uma humilhação enorme para Frost.

 E como era a vida de Albert junto à sua esposa-amante Alma (Harriet Anderson)? Em duas palavras: infernal e miserável. Infernal, pois o adultério é um dos temas do filme e do casal, e miserável, pois o circo é representado como um lugar repleto de piolhos e doenças. Em uma das cenas, os funcionários de Albert reclamam que tiveram que vender os próprios trajes para poderem comer e que as crianças estavam com vermes e as carroças encontravam-se tomadas por pulgas. É diante desse cenário nojento e humilhante que Albert vai atrás de sua ex-esposa, Agda (Annika Tretow), e nesse encontro mais humilhações vêm à tona, a ponto de Agda dizer que jamais aceitaria Albert de volta, pois finalmente encontrou a paz e a liberdade.

 “Noites de Circo” não possui risadas, não tem apresentações divertidas ou criativas por parte dos artistas do Circo Alberti. Na verdade, o próprio circo parece um ocaso: do diretor, bêbado e depressivo, ao palhaço Frost, humilhado desde o início da obra. Albert, querendo recuperar a dignidade, busca roupas com o diretor do teatro da cidade em que se encontra e desse episódio mais humilhações aparecem. O diretor não poupa palavras duras para infernizar o proprietário do circo sendo que, a seu ver, o pior artista do teatro era melhor do que o melhor do circo. Apesar disso, empresta os trajes para que o circo possa ganhar algumas noites de fôlego (ou de humilhação).

 Entre as grandes obras de Bergman, como “Persona”, “Cenas de um Casamento” e “Fanny e Alexander”, além das outras já mencionadas, “Noites de Circo” pode ficar marginalizado, mas merece ser vista enquanto um poderoso drama que trabalha temas dolorosos e caros à humanidade, como o universo artístico, as relações conjugais e a miséria. Além disso, tem o poder de mexer com quem a vê, pois onde deveria habitar risos (circo), muitas dores existem. Bergman, conhecido por ser um “cineasta da alma”, não deixa de tocar nas feridas da civilização, algo que Sigmund Freud também tocou ao explorar, por exemplo, o “mal-estar na civilização”.


Onde assistir? Youtube. Tempo de duração: 1h33 minutos. Classificação indicativa: 14 anos.

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