O suspense psicológico da Netflix que Tarantino considera o mais tenso e sinistro do cinema nos últimos 5 anos Eric Zachanowich / Netflix

O suspense psicológico da Netflix que Tarantino considera o mais tenso e sinistro do cinema nos últimos 5 anos

Brad Anderson, ao longo de sua carreira, alcançou um lugar distinto entre os cineastas que realizam obras marcantes antes dos quarenta anos. No ano em que celebrou seu quadragésimo aniversário, em 2004, ele enriqueceu a indústria cinematográfica com “O Operário”, protagonizado por um impressionantemente magro Christian Bale, que interpreta um operário cuja insônia resulta em um acidente grave no local de trabalho.

Após uma década e meia, em 2019, Anderson não replicou o mesmo êxito, mas impressionou com sua abordagem singular no filme “Fratura”, desestabilizando as convenções do suspense tradicional com uma trama aparentemente desconexa, que desafia análises isoladas de seu começo e fim. Em um filme, o valor não reside somente nas cenas de abertura ou encerramento, e “Fratura” demonstra que a atenção deve ser dobrada desde o início para se compreender plenamente o desenlace.

De maneira relutante, Ray Monroe, interpretado por Sam Worthington, acompanha sua esposa Joanne, vivida por Lily Rabe, e sua filha Peri, de Lucy Capri, para um feriado de Ação de Graças na casa dos sogros. Uma parada num posto de gasolina para adquirir bebidas e pilhas para o brinquedo de Peri se transforma em um cenário de pesadelo. A loja não aceita cartão de crédito, obrigando Ray a limitar suas compras ao essencial. Um incidente com um refrigerante derramado e um susto provocado por um cachorro culmina na queda de Peri. Ray, em um esforço desesperado para ajudá-la, termina com ambos no hospital.

A situação de Peri oscila entre um simples braço quebrado e uma possível hemorragia interna. A complexidade burocrática do hospital, juntamente com a insensibilidade do pessoal, quase resulta em uma tragédia. Somente após uma longa espera Peri é levada para exames, enquanto Ray enfrenta uma espera angustiante.

Neste ponto, “Fratura” se transforma em um conto de desaparecimento quando Peri e Joanne somem sem explicação, evocando o estilo narrativo usado por Robert Eggers em “A Bruxa”. As dúvidas se acumulam sobre Ray, aumentadas pela frieza do atendimento hospitalar, e uma teoria ainda mais sinistra se revela: Ray teria sido drogado e liberado sem sua família. Ele inicia uma luta para convencer as autoridades de que o hospital oculta sua esposa e filha para fins nefastos.

O roteiro de Alan B. McElroy, inicialmente famoso por “Pânico na Floresta”, modela o filme como um tormento vívido para Ray. Os corredores do hospital parecem se alongar a cada cena, como se as paredes tivessem a habilidade de engolir uma pessoa. A narrativa é prejudicada pela recusa de Ray em aceitar uma realidade brutal, culminando em uma reviravolta dramática nos minutos finais. Apesar de alguns diálogos serem pouco inspirados, há momentos de respiração criativa que são cronometrados de forma exemplar. A trajetória de Joanne, entretanto, merecia maior desenvolvimento, destacando-se como um aspecto negligenciado que requer atenção especial, especialmente quando se considera o declínio da relação do casal.

A cena final de “Fratura”, um retrato de uma família tentando inutilmente recompor-se, se destaca como um dos mais poéticos do cinema recente. Embora não seja possível classificar este filme como uma das maiores realizações de Anderson, “Fratura” certamente cumpre o que promete, e possivelmente, entrega até mais.


Filme: Fratura
Direção: Brad Anderson
Ano: 2019
Gêneros: Thriller/Suspense
Nota: 8/10