Igreja. Hóstias para fins satânicos
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É nas cerimónias de grandes dimensões, como o 13 de maio,
que o desvio de hóstias é mais difícil de controlar pelos ministros da
comunhão. O seu uso para outros fins, além de crime, leva à excomunhão.
Durante a Jornada Mundial da Juventude, nas várias
celebrações eucarísticas, a distribuição da comunhão foi uma das principais
preocupações. Garantir que
quem comungasse, tomasse de facto a hóstia, foi uma recomendação
insistentemente enfatizada pelos organizadores nas várias formações dadas aos
sacerdotes e ministros da comunhão. O risco de se multiplicarem os casos em que
a hóstia é recebida na mão e utilizada para outros fins, que não o sacramento
da comunhão, era elevado. Tendo em conta as multidões que participaram nas
várias cerimónias – principalmente na missa de abertura e ‘na missa do envio’
celebrada no Parque Tejo onde estiveram cerca de um milhão e meio de pessoas.
As grandes cerimónias, onde se acotovelam multidões para
receberem a santa comunhão, são as ocasiões mais propícias para o desvio de
hóstias consagradas e na véspera do 13 de maio esta é mais uma. Os fins e os
objetivos para desviar hóstias são vários e todos eles são classificados como
profanação, tanto pelo direito canónico como pelo direito civil. Os fins podem
ser mais ‘inocentes’, como levar a comunhão a alguém que não se pode deslocar,
ou mesmo sinistrados, como a
utilização das hóstias em rituais satânicos ou venda. «A venda de
hóstias na internet, na chamada Deepweb, é um desses fins», afirmou ao
Nascer SOL uma fonte ligada à Igreja Católica. E os preços podem ser bastante
elevados.
Diz o artigo
251 do Código Penal: «Quem publicamente ofender outra pessoa ou dela
escarnecer em razão da sua crença ou função religiosa, por forma adequada a
perturbar a paz pública, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de
multa até 120 dias. Na mesma pena incorre quem profanar lugar ou objeto de
culto ou de veneração religiosa, por forma adequada a perturbar a paz pública».
Sendo esta uma ofensa que configura crime público, configurando esta uma
conduta ilícita que configura crime público. E o legislador esclarece: «A
profanação envolve condutas de claro desrespeito, danificação ou tratamento
ultrajante a locais, objetos e símbolos religiosos». Ora, a comunhão é um dos sacramentos mais
importantes e das coisas mais sagradas para os católicos.
Em Fátima, o ambiente é propício ao desvio de hóstias. São
vários os relatos de peregrinos que assistem a pessoas que recebem a comunhão
na mão e guardam a hóstia sem a consumir, sendo muito difícil para os ministros
e sacerdotes controlarem. No entanto, segundo o padre Ricardo Figueiredo, da
comunicação do Patriarcado de Lisboa, «a base são as regras litúrgicas que
recomendam que quem comunga, o deve fazer diante do ministro de quem recebeu a
comunhão. Sendo que o ministro que está a distribuir, tem de ter especial
cuidado em garantir que quem a recebeu, efetivamente, comungou». E acrescenta
que tudo isto «são as normas gerais que se aprendem na catequese, no seminário
e na formação dos ministros extraordinários da comunhão». Quem não cumpre este
preceito, porque consegue simular ou porque o ministro não foi suficientemente
diligente, e usa a sagrada comunhão para outros fins, profanando as hóstias, «fica automaticamente excomungado»,
explica o padre Ricardo. Este sacerdote explica o procedimento que segue em
Fátima: «Não dou comunhão a mãos, dou a comunhão a pessoas: tenho de ver a
pessoa a quem vou dar a comunhão». E aconselha que nunca são demais os avisos
para se reforçar esta diligência: «A comunhão é algo sagrado, nem que seja
preciso demorar mais tempo a distribuir a comunhão, é preciso ser muito
diligente». Conta ainda que
já teve de agarrar uma pessoa pelo braço para a ver comungar. E
muitos casos como este estão à vista de quem esteja mais atento nestas
cerimónias, acontecendo muitas
vezes que são os próprios participantes que controlam e impedem o desvio de
hóstias.
Questionados pelo Nascer do SOL sobre quais as
medidas e diligências tomadas pelo Santuário de Fátima para prevenir estes
casos, os responsáveis responderam que «o perigo de profanação da Eucaristia –
do Pão consagrado – é tão antigo quanto a própria Eucaristia». E acrescentam
que «hoje, são sobretudo os grupos que, na Igreja, se opõem à comunhão na mão
que levantam esta questão». A polémica sobre a forma como comungar é outro dos
temas que divide católicos. Uns porque consideram que que a comunhão só pode ser recebida diretamente na boca,
caso contrário podem ficar partículas da hóstia na mão – o que é considerado
por muitos um sacrilégio – e também porque assim se atenua a possibilidade de
desvio de hóstias. Outros porque consideram que as duas formas são válidas e
não relevam a importância dada às possíveis migalhas que podem sobrar na mão.
Sendo esta última a posição oficial da Igreja.
Quanto a medidas concretas para prevenir o desvio de
hóstias, o Santuário de Fátima faz saber que aposta na sensibilização dos
ministros da Comunhão «para a necessidade de serem cuidadosos e estarem
atentos, não por acreditarmos que há um perigo iminente, mas porque o respeito
pela Eucaristia a isso nos obriga, em Fátima como em qualquer outro lugar».
Na semana que antecede o 13 de maio, o Santuário espera nova
enchente. Até à passada quarta-feira, já estavam inscritos 135 grupos de
peregrinos. No entanto, são muitos os que não vão à Procissão das Velas
inseridos em grupos e há grupos que não se fazem anunciar. O que significa que
o número de pessoas que estará por estes dias na Cova da Iria é imprevisível.
Sendo que no ano passado contabilizaram-se mais de 200 mil pessoas no recinto
no 13 de maio.
Fonte: Sol, 12 de maio de 2024
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