Na tentativa de reduzir custos com a energia elétrica, especialmente após o reajuste da tarifa residencial de 9,52% em 2023, muitos consumidores têm recorrido aos painéis de energia solar. Com mais equipamentos instalados, não à toa, em abril, a geração própria de energia solar atingiu um recorde. E de olho nesse interesse, as linhas de financiamento para a instalação dos sistemas em casa, focando pessoas físicas, têm se popularizado.
Para quem fez a compra dos equipamentos ainda no ano passado, a busca pelo equipamento compensou, já que houve uma queda de 40% no preço do painel solar para o consumidor final. Segundo simulações do Portal Solar, em uma residência no Brasil que gasta uma média de R$ 500 na conta luz mensal, a instalação de energia solar no telhado ficaria em torno de R$ 15 mil e com um retorno do valor investido em cerca de 45 meses. Nas condições de preços praticadas em 2023, houve redução do tempo de retorno do investimento entre 10% e 20%.
Para pagar o projeto das centrais solares, há linhas de financiamento exclusivas em alguns bancos, como Santander, Caixa Econômica, Banco do Brasil (BB) e BV, por exemplo.
No BV, que oferta a solução a partir da plataforma Meu Financiamento Solar, a carteira de crédito para financiamento de painéis solares apresentou uma redução 2,9% na comparação do 4º trimestre de 2022 para 2023, mantendo-se perto da estabilidade, segundo a instituição. Além de financiar a instalação de painéis solares em residências e empresas, o banco oferece financiamento de painéis solares para condomínios e fazendas solares (quando se gera energia compartilhada para quem mora em áreas urbanas e não tem a possibilidade de fazer a instalação de placas solares no telhado).
“Nossa visão para o produto segue otimista dado o elevado potencial solar do Brasil e o baixo custo de produção de energia solar, quando comparado com outras fontes energéticas. Essa também é uma das razões para encerrarmos o ano de 2023 com um portfólio de 11 empresas investidas de diversos segmentos, entre eles, energia solar”, cita a instituição em seu relatório de resultados anual.
No BV, as taxas de financiamento giram em torno de 1,25% ao mês, dependendo da avaliação do crédito consumidor. A carência é de 120 dias, e o parcelamento pode chegar a 96 meses.
No Banco do Brasil, o valor mínimo para a contratação da linha BB Crédito Energia Renovável é de R$ 5 mil, e o máximo, R$ 100 mil. O prazo de pagamento é de 96 meses, e a carência é de 180 dias. As taxas de juros também variam de acordo com o perfil do cliente e o prazo do financiamento. No outro "bancão" público, a Caixa, a linha de crédito tem taxas mensais a partir de 1,69% e prazo de 60 meses para pagar, com carência é de seis meses.
A lista de instituições de olho na busca da pessoa física por crédito para instalar placas solares teve o ingresso do Itaú em 2022. O banco decidiu oferecer o produto devido à alta demanda de interessados, diz a instituição, e um ano após o lançamento, já oferecendo o produto para 100% da base de clientes, teve aumento de 43% na carteira de clientes que aderiram ao crédito.
“O banco vem construindo relações de parcerias com integradores e crescendo significativamente sua base de credenciados em todo território nacional para a oferta do produto. Acompanhamos há alguns anos um movimento da sociedade que está muito mais atenta às iniciativas ambientais e entendemos que, facilitando o crédito, podemos apoiar os nossos clientes nessa agenda, possibilitando uma economia expressiva, além de contribuir com o meio ambiente”, comenta Gustavo Andres, diretor de Produtos de Crédito do Itaú Unibanco.
A formalização do pedido de financiamento pode ser feita pelos canais digitais do banco. Atualmente a taxa é a partir de 1,55% ao mês, pouco menor do que os 1,85% cobrados quando a solução foi lançada em fase teste. Há a possibilidade de parcelamento em até 60 vezes e carência para início das parcelas de até 120 dias, a depender da análise de crédito e perfil de cliente.
“Os dados do setor indicam que quase 40% das vendas de placas solares efetuadas em 2023 foram financiadas. Então, é parte constante do nosso trabalho atender as necessidades dos clientes e do mercado, que segue em ascensão, assim como a busca pelo apoio financeiro para a compra e instalação”, pontua.
Esse percentual de vendas financiadas pode ser até maior, dependendo do estudo. Algumas consultorias do setor indicam que a média de vendas de kits financiados é de 48% frente ao total adquirido pelo consumidor final.
No Santander, que oferece a linha de crédito para as placas fotovoltácias a partir da plataforma Sim, a carência para o primeiro pagamento é de 120 dias, e o parcelamento é em até 96 vezes via boleto. As taxas são a partir de 1,30% ao mês e a instalação das placas acontece em até 90 dias. No primeiro trimestre de 2024, a busca por placas solares gerou um aumento de 65% nas simulações de financiamento de projetos fotovoltaicos na plataforma. A expectativa do banco é que esse número cresça ainda mais, seguindo a tendência do mercado que prevê um aquecimento de 15% no setor, explica Marcelo Aleixo, executivo à frente da Sim.
Frente a esse perfil de cliente que não tem todo o dinheiro para bancar a compra à vista, mas quer ter o produto, algumas instituições financeiras têm investido na oferta de consórcio para compra de placas solares e equipamentos para geração de energia fotovoltaica.
Recentemente, o Sicoob lançou um grupo de consórcio cujas cartas de crédito variam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. O valor do bem de referência no grupo é indexado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, o que traz maior previsibilidade no cálculo das parcelas, explica a instituição.
Vale lembrar, no entanto, que apesar de não exigir entrada, só as parcelas mensais e eventuais lances, em todo consórcio é preciso paciência e sorte, já que vários compradores se unem e pagam todos os meses as parcelas necessárias para comprar um bem de interesse comum. E todo mês, somente uma minoria dessas pessoas vai receber a carta de crédito para comprar aquele bem.
A ABSolar, entidade do setor, estima que o Brasil possui mais de 2,4 milhões de sistemas fotovoltaicos instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Desse total de sistemas instalados,1.926.305 são em residências, representando 78% do total. A partir destes equipamentos, a geração própria solar atingiu em abril um recorde, de 28 gigawatts. Contou para esse crescimento da potência geral a queda no preço do equipamento, o aumento da tarifa, como já falamos, e o aumento de consumo causado pela onda de calor trazida pelo fenômeno El Niño .
A potência acumulada de fonte solar abastece mais de mais de 3,5 milhões de unidades consumidoras. No ranking municipal, Florianópolis, Brasília e Cuiabá lideram entre as cidades com mais capacidade instalada.
A ABSolar, defende que a economia líquida na conta de luz de todos os brasileiros a partir da geração de energia solar será de mais de R$ 84,9 bilhões até 2031, já levando em consideração os custos e benefícios da microgeração e da minigeração distribuída, ou seja, a modalidade de produção com capacidade instalada máxima de, respectivamente, 75 quilowatts (kW) e 5 megawatts (MW), de acordo com o artigo a Lei nº 14.300, de 6 de janeiro de 2022, que estabeleceu o marco legal do segmento.