Como funcionaria o esquema da venda ilegal de bilhetes no FC Porto | Abola.pt
Como funcionaria o esquema da venda ilegal de bilhetes no FC Porto
Filha de Fernando Madureira está agora implicada no negócio ilícito (foto: IMAGO)

Como funcionaria o esquema da venda ilegal de bilhetes no FC Porto

NACIONAL12.05.202416:16

Filha de Fernando Madureira, com a ajuda de avós, terá continuado o negócio ilícito após a Operação Pretoriano

Na base das buscas que a PSP efetuou este domingo na Porto Comercial, Loja do Associado e domiciliárias, denominada operação 'Bilhete Dourado', está a investigação em que o FC Porto terá sido lesado em milhares de euros num esquema ilegal de venda de bilhetes que decorreria há vários anos. Após a Operação Pretoriano, terá, segundo o Ministério Público, sido a filha de Fernando Madureira o elemento da família que tem estado a vender bilhetes para ingressos de jogos dos dragões junto do Estádio do Dragão, perto da sede da claque Super Dragões, num processo em que terá recebido o apoio dos avós -- «facilitadores e recuo na guarda dos proventos da atividade delituosa» segundo o MP, pais de Sandra Madureira, também ela alvo de buscas, na manhã deste domingo.

Os sogros de Fernando Madureira também são suspeitos de auxiliar a família no branqueamento dos lucros da venda ilegal de bilhetes, que são cedidos pelo FC Porto. As autoridades viram o dinheiro ser retirado do local onde os bilhetes são vendidos por fases e com auxílio de outras pessoas.

Os Super Dragões enviariam os pedidos de bilhetes para a Porto Comercial e levantavam-nos depois através de funcionários e órgãos dirigentes do clube.

Os investigadores acreditam que o alegado conluio entre funcionários do clube - como Cátia Guedes (coordenadora da loja do associado) e Fernando Saúl (Oficial de Ligação aos Adeptos, que deixou de ser speaker do estádio após ter sido detido na Operação Pretoriano) - permitia que a família Madureira ficasse com o dinheiro dos bilhetes e não o devolvesse ao clube.

A vigilância que a PSP tem estado a fazer nos últimos meses apurou que, além dos bilhetes para a zona dos Super Dragões, também há outros com designações específicas para funcionários do clube que têm ido parar ao mercado negro.

A investigação refere ainda que todo este alegado esquema seria do conhecimento do clube, funcionando como uma espécie de moeda de troca pelo apoio que a claque dava à equipa. Os sinais exteriores de riqueza que alguns dos arguidos ostentavam - como a família Madureira - serviram de alerta para as autoridades.

As buscas deste domingo foram feitas às instalações do Dragão e em mais de uma dúzia de residências, pertencentes aos suspeitos de venda ilegal de bilhetes, resultando em mais de dez pessoas que foram constituídas arguidas e milhares de bilhetes foram apreendidos, bem como quantias monetárias ainda por apurar.

A Divisão de Investigação Criminal da PSP do Porto desencadeou uma grande operação nos concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos, denominada «Bilhete Dourado», relacionada com a Operação Pretoriano, que levou, em janeiro, à detenção do ex-líder dos Super Dragões, Fernando Madureira. As diligências deste domingo, que começaram às 7 horas, visaram o cumprimento de 14 mandados de busca domiciliária e quatro não domiciliária.

O protocolo estabelecido entre o FC Porto e os Super Dragões enquadra a relação entre a SAD e a claque, nomeadamente em parâmetros financeiros. E é precisamente os termos do documento, sob a égide da Autoridade de prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD). Muitos bilhetes sairiam do clube através da Porto Comercial, com a indicação que se destinava a atletas, convidados e casas do FC Porto que não existem. Eram depois entregues aos Super Dragões para serem transacionados. Através de um um grupo de WhatsApp intitulado 'SD Reserva' através do qual os elementos dos Super Dragões pediam os bilhetes que depois venderiam a preços muito mais altos. Algumas casas do FC Porto fictícias funcionavam só para terem bilhetes.

Terão sido efetuados relatórios das autoridades nos jogos com o Arsenal, da primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, com o V. Guimarães, da segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal, com o Benfica, o Vizela, o Famalicão e o Sporting, para o campeonato. As imagens recolhidas nessas operações de vigilância foram anexadas aos autos e aumentaram as suspeitas do MP de que Fernando Madureira e Sandra Madureira terão retirado ilícitos resultantes da venda de ingressos dos dragões. Além disso, levou também a que fossem identificados outros indivíduos suspeitos alegadamente envolvidos nessa prática.

O Ministério Público diz que este negócio prosseguiu depois da Operação Pretoriano.