A
MORTE DE UM SOLDADO
A
vida se contrai, e a morte � esperada,
como
na �poca do outono.
o
soldado tomba.
Ele
n�o se torna um personagem de tr�s dias,
impondo
sua separa��o,
clamando
por pompa.
A
morte � absoluta e sem recorda��o,
como
na �poca do outono,
quando
o vento p�ra,
quando
o vento p�ra e, l� no c�u,
as
nuvens seguem, no entanto,
o
caminho delas.
A
VIDA � MOVIMENTO
Em
Oklahoma
Bonnie
e Josie,
Vestidos
de chita,
Dan�avam
em volta de um tronco.
Gritavam
�Ohoyaho,
Ohoo�...
Celebrando
o himeneu
Da
carne e do ar.
O
IMPERADOR DO SORVETE
Chame
o enrolador de grandes charutos,
aquele
musculoso, e convide-o a bater
em
x�caras de cozinha coalhadas concupiscentes.
Que
se vistam as jovens ociosas
como
costumam se vestir, e os mo�os
tragam
flores em jornais do m�s passado.
Deixe
ser ser finale do aparente.
O
�nico imperador � o imperador do sorvete.
Apanhe
no arm�rio de pinho
sem
os tr�s puxadores de vidro o len�ol
no
qual ela bordou arabescos certa vez,
e
estenda-o de modo a lhe cobrir o rosto.
Se
os p�s ossudos aparecem, v�o
mostrar
o quanto ela est� fria e muda.
Que
a l�mpada seu pr�prio raio ajeite.
O
�nico imperador � o imperador do sorvete.
ACRESCENTA
ISTO � RET�RICA
Posa,
posa e posa.
Mas
na natureza apenas
Cresce.
As pedras posam
Ao
cair da noite, e os mendigos
Quando
dormem tamb�m
Posam
com seus trapos.
Bolas...
cai o luar de lavanda.
Os
pr�dios posam no c�u
E,
quando pintas, as nuvens,
Grisalhas,
peroladas, profundas,
Pftt...
No modo como falas
Arranjas,
a coisa posa, o que
Na
natureza apenas cresce.
Amanh�,
quando o sol,
Apesar
de tuas imagens,
Retornar
como sol, fogar�u,
Tuas
imagens n�o ter�o
Deixado
nem sombra
Do
que foram. As poses
Do
discurso, da pintura,
Da
m�sica � o corpo dela jaz
Exausto,
seu bra�o cai,
Seus
dedos tocam o ch�o.
Acima
dela, � esquerda,
Um
toque de branco, o obscuro,
A
lua sem forma,
Um
olho debruado numa cripta.
O
sentido cria a pose.
Nisso,
se move e fala.
Esta
� a figura, e n�o
Uma
met�fora esquiva.
Acrescenta
isto.
�
para acrescentar.
DA
POESIA MODERNA
O
poema da mente no ato de encontrar
O
que h� de bastar. N�o teve sempre
De
encontrar: a cena estava armada; repetia o que
Estava
no roteiro.
Ent�o o teatro foi mudado
Para
uma outra coisa. Seu passado um suvenir.
Tem
de estar vivo, aprender a fala do lugar.
Tem
de encarar os homens do tempo e encontrar
As
mulheres do tempo. Tem de pensar na guerra
E
tem de achar o que bastar�. Tem de
Construir
um novo palco. Tem de estar nesse palco
E,
como um ator insaci�vel, lentamente e
Com
medita��o, dizer as palavras que no ouvido,
No
delicad�ssimo ouvido da mente, repitam,
Exatamente,
aquilo que se quer ouvir, ao som
Do
qual uma audi�ncia invis�vel escuta,
N�o
a pe�a, mas a si mesma, expressa
Numa
emo��o como de duas pessoas, como de duas
Emo��es
tornando-se uma. O ator �
Um
metaf�sico no escuro, tangendo
Um
instrumento, tangendo uma corda tensa que d�
Sons
que assumem repentina corre��o, de todo
Contendo
a mente, abaixo da qual n�o poder� descer,
Al�m
da qual n�o tem vontade de subir.
Tem de
Ser
o encontrar de uma satisfa��o, e pode ser
Um
homem patinando ou uma mulher dan�ando, uma mulher
Penteando-se.
O poema do ato da mente.
NA
ESTRADA PARA CASA
Foi
quando eu disse:
�N�o
h� tal coisa como a verdade�,
Que
as uvas pareceram mais gordas.
A
raposa saltou de sua toca.
Voc�...
Voc� disse:
�H�
muitas verdades,
Mas
n�o s�o partes de uma verdade.�
Ent�o
a �rvore, � noite, come�ou a mudar,
Nuan�ando-se
entre verdes e azuis.
�ramos
duas figuras numa mata.
Dissemos
que est�vamos s�s.
Foi
quando eu disse:
�Palavras
n�o s�o formas de uma palavra �nica.
Na
soma das partes, h� apenas as partes.
O
mundo deve ser medido a olho�;
Foi
quando voc� disse:
�Os
�dolos viram muita pobreza,
Cobras
e ouro e piolhos,
Mas
n�o a verdade�;
Foi
nessa hora que o sil�ncio ficou mais amplo
E
mais longo, e a noite mais redonda,
A
fragr�ncia do outono mais c�lida,
Mais
�ntima e mais forte.
ESTUDO
DE DUAS PERAS
I
Opusculum
paedagogum.
Peras
n�o s�o violas,
nem
nus, nem garrafas.
Com
nada se parecem.
II
S�o
formas amarelas
compostas
de curvas,
protuberantes
na base.
T�m
nuan�as de vermelho.
III
N�o
s�o superf�cies planas
de
contornos curvil�neos:
S�o
arredondadas
e
afiladas
no topo.
IV
Em
seu modelado
h�
certos toques de azul.
Uma
folha dura, seca
pende
do pec�olo.
V
O
amarelo brilha.
Brilha
com v�rios amarelos:
lim�o,
laranja e verde
a
florescer na casca.
VI
As
sombras das peras
s�o
manchas na toalha verde.
As
peras n�o s�o vistas
como
bem quer o observador.
OS
VERMES DE HEAVEN�S GATE
Para
fora do t�mulo trazemos Badroulbadour,
Dentro
de nossas barrigas, n�s a sua carruagem.
Aqui
est� um olho. E aqui est�o, uma ap�s outra,
As
pestanas desse olho e a sua branca p�lpebra.
Eis
a bochecha sobre a qual essa p�lpebra desca�a;
E,
dedo ap�s dedo, aqui a m�o, -
O
g�nio dessa bochecha: e aqui est�o os l�bios,
O
pacote do corpo e os p�s.
...............................................................................
Para
fora do t�mulo trazemos Badroulbadour.
(Tradu��es
de Renato Suttana)
|