Biografia de Kazimir Malevich e o suprematismo

Kazimir Malevich foi um importante artista russo, fundador da escola artística e filosófica conhecida como Suprematismo. Suas ideias sobre formas e significados na arte acabariam por constituir os fundamentos teóricos da arte abstrata. Malevich trabalhou em uma variedade de estilos, mas seus trabalhos mais importantes e famosos se concentraram na exploração de formas geométricas puras (quadrados, triângulos e círculos) e suas relações entre si e dentro do espaço pictórico. Por causa de seus contatos no Ocidente, ele conseguiu transmitir suas ideias sobre pintura para seus colegas artistas na Europa e nos Estados Unidos, influenciando profundamente a evolução da arte moderna.

BIOGRAFIA 

Autorretrato c.1910

Kazimir Severinovich Malevich nasceu no dia 23 de fevereiro de 1879, perto de Kiev, na Ucrânia. Seu pai conseguiu emprego em uma fábrica de açúcar e na construção de ferrovias, onde o filho  também trabalhou no início da adolescência. Sem nenhum incentivo especial de sua família, Kazimir começou a desenhar por volta dos doze anos de idade.

Em 1895, começou a frequentar a Escola de Arte de Kiev. Estava firmemente fixado em sua carreira artística, assim passou a frequentar várias escolas de arte.

Em 1904, Malevich mudou-se para Moscou para frequentar a Escola de Arte Stroganov. Ele também teve aulas particulares de Ivan Rerberg, um afamado professor de arte. Nesse período, Malevich continuou seu treinamento na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou, onde artistas como Leonid Pasternak e Konstantin Korovin lhe ensinaram técnicas de pintura impressionistas e pós-impressionistas. Seus primeiros trabalhos foram amplamente executados sob a influência do Simbolismo e do Art Nouveau.

A partir de 1907, uma mudança para uma estética decididamente mais vanguardista ocorreu em seu trabalho, quando Kazimir conheceu artistas como Wassily Kandinsky, David Burliuk e Mikhail Larionov que em 1910, o convidou a participar de seu coletivo de exposições chamado Valete de Ouros. Ele também participou de alguns grupos artísticos que concentravam sua atenção nas filosofias da arte primitivista, cubista e futurista. Depois de romper com Larionov, Malevich assumiu um papel de liderança na associação dos artistas futuristas conhecida como União da Juventude (Soyuz Molodezhi) com sede em São Petersburgo.

De 1912 a 1913, Malevich passou a combinar os elementos essenciais do Cubismo Analítico e do Futurismo Italiano, resultando em uma desconstrução geométrica dinâmica das figuras no espaço.

Samovar. Kazimir Malevich. 1913

Em 1915, ele lançou as bases do suprematismo quando publicou seu manifesto, Do Cubismo ao Suprematismo, abandonando completamente os elementos figurativos em sua pintura e voltando-se para a pura abstração.

A partir de 1917, Malevich também foi professor nos Estúdios de arte gratuitos em Moscou, instruindo seus alunos a abandonar a estética burguesa da representação e se aventurar no mundo da abstração radical. Nesse mesmo ano, ele desenhou as decorações para uma performance de Dança, que marcou a celebração do primeiro aniversário da Revolução Comunista.

Em 1919, Malevich finalizou o manuscrito de seu novo livro,  Sobre novos sistemas na arte, no qual tentou aplicar os princípios teóricos do suprematismo à nova ordem estatal, incentivando a implantação da arte de vanguarda a serviço ao Estado e ao seu povo. No entanto, o artista deixou a capital para a cidade de Vitebsk no final desse mesmo ano, onde foi convidado a integrar o corpo docente da escola de arte local dirigida pelo ilustre Marc Chagall. 

Quando Chagall deixou Vitebsk para Paris, Malevich permaneceu como o líder influente dessa escola de Vitebsk. Lá ele organizou os alunos em um grupo sob o nome de UNOVIS, uma abreviatura, que poderia ser traduzida como Afirmadores da Nova Arte. Particularmente, o grupo era um coletivo onde nenhum indivíduo assinava um trabalho com o próprio nome, apenas com o nome do grupo. Não mais focado na pintura propriamente dita, esse grupo projetou cartazes propagandísticos, padrões têxteis, porcelanas, placas de sinalização e decoração de ruas, lembrando as atividades realizadas na Escola Bauhaus, na República Alemã de Weimar.

Malevich continuou a desenvolver suas ideias suprematistas em uma série de modelos arquitetônicos de cidades utópicas chamadas Architectona. Essas maquetes eram compostas por formas retangulares e cúbicas dispostas para realçar suas qualidades formais e potencial estético.

Na Rússia soviética, no entanto, um paradigma cultural diferente foi posto em movimento. O florescimento artístico da década de 1920 foi reduzido pelo advento da arte realista socialista patrocinada pelo Estado, que acabou suprimindo todos os outros estilos artísticos. Malevich e seu trabalho estavam condenados a cair na obscuridade em circunstâncias socioculturais tão beligerantes e conservadoras.

Em 1930, ele foi preso e questionado sobre suas ideologias políticas ao retornar de uma viagem ao Ocidente. Como medida de precaução, os amigos do artista queimaram alguns de seus escritos. Em 1932, uma grande exposição endossada pelo Estado comemorando o 15º aniversário da Revolução Bolchevique foi realizada em Moscou e Leningrado. Malevich foi incluído, só que agora suas pinturas eram acompanhadas de slogans pejorativos, rotulados como essencialmente “degenerados”.

Em seus últimos anos, o artista voltou a velhos motivos de cenas camponesas e de gênero, além de executar uma série de retratos de amigos e familiares, ele voltou a explorar os temas mais conservadores de seus trabalhos anteriores. De fato, Malevich foi forçado a abandonar seu estilo modernista sob pressão de Joseph Stalin na década de 1930.

Malevich faleceu em 1935 em Leningrado, por cancer. Foi enterrado em um caixão de sua própria autoria, com a imagem de um quadrado negro pintada em sua tampa.

Foi somente sob o governo de Mikhail Gorbachev em 1988, que suas obras foram apresentadas e mostradas ao público. Antes disso,  havia apenas algumas disponíveis para exibição na América que foram adquiridas por Alfred Barr, do Museu de Arte Moderna de Nova York, cerca de dezessete pinturas do artista durante o período da Alemanha nazista em 1935.

LEGADO

A influência de Malevich está evidente no trabalho de artistas posteriores na Europa e particularmente nos Estados Unidos, cujo trabalho consiste em formas totalmente abstratas que representam tecnologia, universalidade ou espiritualidade.  O primeiro diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, Alfred Barr, comprou uma grande coleção de suas obras. Por essas vias, Malevich abriu caminho para que muitas gerações de artistas abstratos posteriores – especialmente Ad Reinhardt e os minimalistas – se libertassem da dependência do mundo real.

GALERIA – ARTE COMENTARIA

A Colheita – Malevich explorou a figura humana através de um vocabulário pictórico que lembra a obra do cubista do artista francês Fernand Léger.

A Colheita. Kazimir Malevich. 1911

O Ceifeiro – Esta composição antecipa sua obra em direção à abstração pelo emprego de formas abreviadas e estilizadas. Malevich representa o corpo e a vestimenta do camponês em formas cônicas e cilíndricas adotadas pela escola cubista. A paleta plana e vibrante da pintura deriva do pós-impressionismo e dos modernistas posteriores, indicando a exposição de Malevich aos estilos artísticos dominantes de seu tempo.

O Ceiferio. Kazimir Malevich. 1912-13. Óleo sobre tela – Museu de Belas Artes, Nizhnij Novgorod, Rússia

Manhã na Vila depois da Tempestade de Neve –  Esta tela foi criada por Malevich quando suas pinturas ainda eram representativas e ele não havia elaborado claramente suas teorias do suprematismo. A arte russa geralmente pode se enquadrar em duas grandes categorias: a de um estilo artístico e técnica únicos e a que retrata a vida social do povo russo. Embora as pinturas de Malevich estejam frequentemente na primeira categoria, esta pintura tem alguns elementos de consciência social. Sua representação de camponeses russos, caminhando em meio a uma tempestade de neve, cinco anos antes da Revolução Russa, não pode ser mera coincidência.

Manhã na Vila depois da Tempestade de Neve. Kazimir Malevich. 1913

Avião voando – Malevich acreditava que era necessário um envolvimento emocional do espectador para apreciar a composição, que constituía um dos princípios-chave de sua teoria do suprematismo. As formas retangulares e cúbicas estão dispostas em uma composição arquitetônica sólida. Nessa famosa pintura, temos o amarelo que contrasta fortemente com o preto, enquanto as linhas vermelhas e azuis adicionam detalhes visuais dinâmicos à tela. A brancura do fundo permanece discreta, mas contrastante, e infundiu a interação de formas coloridas com sua energia.

Avião voando. Kazimir Malevich. 1914-15 . Óleo sobre Tela – Localização: MOMA, Nova Iorque

Macieiras em Flor – O que a artista tão persistentemente buscava, pregando as ideias do suprematismo, foge da leveza dessa pintura. Este trabalho o traz de volta aos velhos tempos, quando pintava quadros cheios de luz brilhante.

Macieiras em Flor. Kazimir Malevich. 1928-1929

Autorretrato – Nessa pintura Malevich se autorretrata como um artista renascentista, seriamente posado em vermelho e preto sobre um fundo neutro, seu gesto é reflexo do artista Albrecht Dürer em seu famoso autorretrato realizado em 1500. Aqui, a unidade da mente e da mão do artista, destacada no eixo central, tem um significado ligeiramente diferente: sua mão está aberta e disposta, mas suspensa, enquanto sua mente medita sobre o fechamento da liberdade artística sob o governo de Stalin . E, no entanto, o artista “assinou” a pintura com seu próprio quadrado preto no canto inferior direito. O objetivo suprematista do artista de alcançar um “senso feliz de não-objetividade libertadora” não se enquadrava no estilo realista social prescrito que estava sendo ditado na época.

Autorretrato. Kasimir Malevich. 1933 – Óleo sobre tela – Localização: Museu Russo, São Petersburgo, Rússia
“Acredito que a Arte está em tudo no que nos rodeia, basta um olhar sensível para apreciar e usufruir das diferentes manifestações artísticas. A Arte é a grande e bela ilustração da vida.”

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