Londres 2012: 'Casa' de Marta, Suécia é modelo de organização no futebol feminino

  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC Brasil em Londres
Tyresö FF, em foto de arquivo de outubro de 2011 (Einarspetz)

Crédito, Einarspetz

Legenda da foto, O Tyresö FF conta com duas jogadoras brasileiras

O futebol feminino estreia nesta quarta-feira na Olimpíada de Londres, de olho no país que tem uma das melhores ligas do mundo e que voltou a abrigar a brasileira Marta: a Suécia.

Os EUA ficaram com o ouro em Pequim-2008, e a prata foi conquistada pelo Brasil. Mas, no que diz repeito a campeonatos nacionais, a Suécia mostrou mais força: o clube Tyresö contratou Marta em fevereiro deste ano, depois que a brasileira ficou sem ter onde jogar tanto nos EUA, onde a liga de futebol feminino foi suspensa nesta temporada, como no Brasil, onde o Santos encerrou as atividades de seu time feminino.

A jogadora, condecorada cinco vezes consecutivas como melhor do ano pela Fifa, já havia jogado entre 2004 e 2008 no sueco Umea IK, de onde ajudou a popularizar o esporte na Suécia. De lá foi para os EUA e depois emprestada para o Santos. Ao regressar à Suécia, disse estar de volta "à sua segunda casa".

Além da popularidade de Marta, porém, o futebol feminino sueco é sustentado por uma estrutura maior, que envolve o fomento a categorias de base e fontes de financiamento aparentemente estáveis.

Segundo Staffan Stjernholm, porta-voz da Associação Sueca de Futebol, o país de 9 milhões de habitantes tem 80 mil futebolistas do sexo feminino, a partir de 15 anos, que jogam em mais de 3 mil clubes pelo país. A Suécia também tem seis seleções nacionais de base, diz ele, para jovens de 15, 16, 17, 18, 19 e 23 anos.

"Diversas garotas querem jogar, e não têm dificuldades em encontrar clubes", diz à BBC Brasil o jornalista esportivo Mats Brâstedt, do jornal Expressen.

Num país pequeno, e em que os clubes ficam concentrados no centro e no sul, o deslocamento das jogadoras também é mais fácil do que num país do tamanho do Brasil, diz Brâstedt.

"O futebol feminino é uma coisa muito grande aqui", afirma a brasileira Elaine, que joga com Marta no Tyresö - e que foi cortada da seleção brasileira por causa de uma lesão, nesta terça-feira.

Amistoso entre Suécia e Grã-Bretanha

Crédito, AFP

Legenda da foto, É grande a expectativa e a pressão por bons resultados da Suécia na Olimpíada, diz jornalista

"Daqui (da Suécia) eu não saio para me aventurar em outro país. A estrutura é coisa de outro mundo. Sempre indicamos jogadoras brasileiras, para encher a liga sueca, ainda que eu preferisse que fosse assim no Brasil."

Transmissão e financiamento

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Marta e Elaine são celebridades locais, já que as partidas do campeonato futebol feminino (com 12 equipes) são transmitidas semanalmente pela TV sueca.

Algumas partidas de futebol feminino chegaram a se tornar marcos televisivos: a final da Copa do Mundo de 2003, perdida para a Alemanha, foi assistida pela metade da população do país, diz o jornalista Brâstedt.

A exposição na TV não apenas ajuda a tornar o esporte mais popular, como também colabora para seu financiamento, segundo Stjernholm.

Ele explica que a liga de futebol é financiada pelos meios tradicionais - venda de direitos de transmissão e patrocínio privado. No caso das seleções nacionais, o financiamento é feito pela loteria estatal, pela venda de licenças e pela venda de direitos de transmissão de jogos como os da Copa do Mundo.

Essa última fonte é usada para sustentar projetos especiais, como os 24 instrutores que a Associação de Futebol Sueca usa para selecionar talentos em âmbito regional.

Com essa estrutura, o país sagrou-se neste ano campeão de futebol feminino da Uefa (liga europeia) na categoria sub-19. Essa seleção vencedora é considerada por Brâstedt um celeiro de novos talentos para a seleção feminina principal.

A liga do país também espera um fluxo de jogadoras vindas da liga americana, suspensa em 2012 por causa de empecilhos legais e financeiros.

Para Elaine, a liga americana se mostrou ser "algo momentâneo". "Não foi real. Agora acaba deixando várias meninas sem clube."

Marta durante treino da seleção brasileira em Cardiff

Crédito, AP

Legenda da foto, Marta (acima, em treino da seleção brasileira) voltou a jogar na Suécia

Na Suécia há oito anos, a volante diz que ganha o suficiente para sustentar seu apartamento na Suécia e ajudar sua mãe na Bahia. Mas concilia o futebol com um emprego administrativo em terras suecas, "porque vou fazer 30 anos e não basta jogar futebol".

Olimpíada

Marta é hoje a "jogadora mais famosa da Suécia", nas palavras de Brâstedt. Mas, sem poder contar com a brasileira em sua seleção nacional, na Olimpíada o país nórdico aposta nas estrelas Lotta Schelin (campeã da Uefa em 2011, pelo Lyon) e Caroline Seger (que joga com Marta no Tyresö).

Segundo Brâstedt, é grande a expectativa e a pressão para que, desta vez, a seleção sueca passe das quartas de finais e dispute o ouro em Londres. O Brasil também é tido como um dos favoritos ao título, ao lado de Japão e EUA.

O Brasil, que estreia na Olimpíada nesta quarta, contra a seleção de Camarões, divide o grupo E também com Grã-Bretanha e Nova Zelândia.

A Suécia divide o grupo F com Japão, Canadá e África do Sul.