Vingança & Castigo, filme de Jeymes Samuel, é uma sangrenta ópera de cavalos com um elenco carismático.
“Embora os eventos desta história sejam fictícios…” diz a chamada de abertura de Vingança & Castigo, “Estas. Pessoas. Existiam.” Esse tom brincalhão e insistente permeia todo o épico ocidental elaboradamente estilizado de Jeymes Samuel, que reúne uma série de figuras históricas negras do Velho Oeste em um conto de vingança violento que deve mais a Sergio Leone (diretor de cinema) do que a Frederick Jackson Turner (historiador).
O resultado disso tudo é alguma espécie de “fanfic” e lição de história: a primeira porque o filme é uma fantasia; o último porque essa figuras foram amplamente ignoradas pelos livros de história e pelos principais criadores de mitos ocidentais. Para seu crédito, no entanto, o filme opera principalmente como uma peça de gênero expansiva e divertida, além da estética de videoclipe e quase tudo mais em algo que parece excitante e novo, mesmo que muitas vezes falte coerência ou coesão.
Você pode sentir a impaciência fanática do diretor na cena de abertura, em que um homem misterioso chega na casa de um pregador e sua família, e a música aumenta imediatamente, como se já soubéssemos quem são essas pessoas e o que está prestes a acontecer. Isso deveria ser um problema, mas não é: os faroestes são tão reconhecíveis para nós que, de certa forma, sabemos quem são essas pessoas e o que está para acontecer. Nós nos preocupamos com esta família porque eles estão prestes a ser massacrados. Isso é o que acontece com as famílias que recebem visitantes misteriosos e silenciosos nos faroestes.
O único sobrevivente desse massacre inicial é uma criança, Nat Love, que cresce para se tornar um fora-da-lei que rouba ladrões de banco. Um menino apavorado no momento da morte de seus pais, ele é marcado por uma cruz esculpida em sua testa pelo assassino; quando conhecemos o adulto Nat (interpretado por Jonathan Majors), ele acabou de se vingar dos homens que cometeram aquele crime antigo. O único culpado remanescente é seu líder, Rufus Buck (Idris Elba), que supostamente está cumprindo uma sentença de prisão perpétua na prisão de Yuma, mas logo é libertado por uma gangue liderada pela sociopata Trudy Smith (Regina King) e o cavalheiro atirador Cherokee Bill (Lakeith Stanfield). Enquanto isso, a gangue de Nat roubou um carregamento de ouro que originalmente pertencia a Rufus, que precisa do dinheiro para administrar a cidade de Redwood City, que Rufus parece imaginar (ou pelo menos vender) como uma espécie de utopia negra independente, embora sob seu próprio controle brutal e ditatorial. Nat se junta a Bass Reeves (Delroy Lindo), o homem da lei que originalmente capturou Rufus, bem como sua própria gangue, que inclui Stagecoach Mary (Zazie Beetz), uma operadora de saloon e cantora que já foi amante de Nat, e Jim Beckwourth (RJ Cyler), um jovem atirador ansioso para provar sua velocidade superior com uma pistola.
O diretor do filme (Jeymes Samuel) provavelmente espera que, ao colocar todos esses personagens juntos em um filme de ação livre, ele possa inspirar outras pessoas a procurá-los e aprender mais sobre os personagens da vida real. Mas ele também claramente quer fazer um faroeste radiante e não vai deixar que detalhes históricos o impeçam.
Além disso, ele também não vai deixar sua própria narrativa impedi-lo. Vingança & Castigo é repleto de cenas deliciosas e desvios de personagens que mal se encaixam porque Samuel parece determinado a enfiar todas as ideias que puder no filme, um problema comum e quase sempre perdoável em filmes de estreia. Considere: nunca vemos o rosto de Rufus naquela matança inicial, como se a revelação de sua identidade devesse ser algum tipo de surpresa mais tarde. E, no entanto, tudo é uma conclusão precipitada no momento em que ele é libertado do cativeiro e finalmente vemos o rosto assombrado de Idris Elba. Portanto, é difícil evitar a sensação de que a única razão pela qual o rosto do personagem é mantido escondido na cena de abertura se deve ao fato de que é isso que se faz em filmes de faroeste.
Da mesma forma, a cena de Rufus sendo libertado é um caso longo, elaborado e tortuoso, envolvendo sua gangue emboscando um trem e, em seguida, abrindo caminho até o pelotão de soldados que protegiam Rufus, apenas para os bandidos revelarem que já tinham um contrato perdão assinado para o prisioneiro. (Eles matam os soldados de qualquer maneira). Estranhamente, já nos disseram na cena imediatamente anterior a tudo isso que Rufus está prestes a ser libertado – o que drena toda a emboscada do trem da maior parte de seu significado narrativo, se não de sua inventividade ou humor.
Esse paradoxo praticamente governa todo o filme. Vingança & Castigo é um filme extremamente divertido cena por cena, repleto de sequências que não servem a muitos propósitos narrativos (e, em alguns casos, na verdade prejudicam sequências anteriores), mas parecem projetadas para nos surpreender.
O ecletismo do filme também se reflete na trilha sonora, que mistura canções de reggae e hip-hop ao lado dos mais típicos coros distantes ao estilo de Morricone e explosões orquestrais, todas co-escritas pelo próprio Samuel, um talentoso cantor e compositor. A diversidade musical adiciona qualidade ao filme, alcançando uma estética geral marcada não pela unidade, mas pela imprevisibilidade; nunca sabemos o que Samuel vai atirar em nós a seguir. A imagem pode não ser totalmente coerente, mas possui uma energia infecciosa própria.
Enfim, Vingança & Castigo é uma bagunça, mas uma bagunça divertida.
Onde assistir Vingança & Castigo?
A saber, o filme Vingança & Castigo está disponível para assistir na Netflix desde quarta-feira, 3 de novembro de 2021.
Assista o trailer de Vingança & Castigo
Ficha Técnica
Título original do filme: The Harder They Fall
Direção: Jeymes Samuel
Roteiro: Jeymes Samuel & Boaz Yakin
País: EUA
Duração: 130 minutos
Gênero: Drama & Faroeste
Ano de produção: 2021
Classificação indicativa: 16 anos
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