Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, O
Kirby: “Eu sempre pensei que seriamos amigos para sempre.”
Kevin: “É, nosso para sempre foi mais curto do que pensávamos.”
Nos filmes sobre adolescentes, sejam aqueles que apostam mais na comédia ou aqueles que usam o drama como gênero central, os temas parecem sempre orbitar entre quatros possibilidades: o romance, algo sempre tão complicado quando se é jovem; os problemas familiares; o sentimento de estar perdido conforme a vida adulta se aproxima para não ir mais embora; e aquela sensação de não se sentir confortável consigo mesmo. E é natural que esses sejam os temas por que qualquer um de nós vivencia-os nessa fase da vida tão conturbada. Mas e se ao contrário de boa parte dos finais desses filmes, quando tudo parece se resolver para os jovens protagonistas – ou ao menos se encaminhar para um resolução -, esses dilemas se tornarem ainda mais assustadores com o passar do tempo?
O grupo de amigos que protagoniza O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas já não é mais integrante da faixa dos 16, 17 anos. Eles já entraram nos primeiros anos de sua segunda década de existência, mas quando surgem sorrindo e de braços dados, ainda vestidos de toga ao fim de sua formatura na faculdade, a imagem ao invés de representar uma mudança em seus rumos, logo se torna uma lembrança amargurada de que eles ainda não se encontraram. Tudo se mantém igual. A luta para resolver os conflitos no seio familiar. A luta para se aceitar apesar dos pesares. A luta para encontrar um rumo agora que a vida adulta o exige. A luta para encontrar um amor que valha a pena. E nem sempre essas lutas são fáceis. Às vezes é só você enfileirando uma série de golpes que parecem nunca acertar enquanto a vida lhe nocauteia a todo instante.
E daí que você é a linda filha de um cara cheio de grana, você ainda pode acabar sendo rejeitada pelo sujeito, cuidando de uma madrasta em coma que você nunca suportou e cheirando coca ao fim do dia. Você é o assessor de um político influente, admirado por todos ao seu redor, mas sua namorada ainda assim pode não querer casar com você, e você desconta suas frustrações traindo-a com a primeira saia que aparece. Sua família é rica e atenciosa com você, uma garota doce, mas o cara que você ama é um babaca que só lhe magoa. Você é fera no saxofone, mas parece não ser capaz de nada mais além de ferir os sentimentos de quem está próximo de você, incluindo sua ex-esposa e filha. Ou você é um sujeito gente boa, romântico inveterado, mas que em segredo quer a namorada do amigo. Pode também namorar um cara incrível, mas não querer casar com ele por que é um passo longe demais pra quem ainda não encontrou a si mesma. Ou você é um cara esforçado pra caramba, mas que emprega todo esse esforço em uma mulher mais velha que parece nem te notar.
Por que você pode não ser Jules (Demi Moore), Alex (Judd Nelson), Wendy (Mare Winningham), Billy (Rob Lowe), Kevin (Andrew McCarthy), Leslie (Ally Sheedy), Kirbo (Emilio Estevez), respectivamente, mas você vai se identificar com alguns dos dilemas deles, pode ter certeza. E se não se identificar com os dilemas, ao menos vai se identificar com o grupo de amigos que sai pra se divertir naquele local já conhecido por todos e por isso mesmo sempre frequentado. Aquele grupo de amigos que entre afagos e brigas mais duras do que gostariam sabem que sempre vão estar lá um pelo outro. Ou ao menos enquanto durar esse pra sempre, que todos esperam não ser mais curto do que pensavam, como certo personagem diz perto do fim. E se você não se identificar com nada disso (porra, sério mesmo?!), ainda tem um elenco bacana demais, com parte da nata do cinema juvenil dos anos 80 (três dos nomes, Nelson, Sheedy e Estevez são de O Clube dos Cinco, precisa mais? [E como desejei que Molly Ringwald, do filme de Hughes, interpretasse Wendy no lugar de Winningham]), diálogos bem escritos – toda a separação de dois personagens é uma pérola - e uma trilha afiada, que vai do pop ao jazz com naturalidade.
Sim, o filme possui sua cota de problemas, como algumas passagens que soa abruptas demais, por exemplo, mas isso é pouco pra diminuir um filme que poderia perfeitamente ser encaixado em uma linha do tempo entre Clube dos Cinco (e é curioso notar como O Primeiro Ano e Clube foram lançados no mesmo ano) e a série televisiva FRIENDS, nos mostrando que seja qual for a época da vida, os dilemas permanecem lá, quase os mesmos. E que o que importa não é resolvê-los, mas chegar ao final sabendo lidar com eles e conseguindo sorrir apesar de tudo. Talvez esse seja “o sentido da vida” tão buscado pelos personagens aqui.
Caraaaaaaa, que texto lindo. Que filme lindo.
Filme lindo mesmo, Chico, boa recomendação sua, diga-se. Ah, valeu pelo elogio :))
Eu lhe disse, tenho créditos demais com você. HAHAHAHA se tivesse Hughes e Molly envolvidos, teria sido tão foda (ou até mais) que Clube dos Cinco.
Hahaha tem crédito mesmo, pô. Cara, se tivesse os dois seria uma coisa perfeita demais :D