Control - Review

Tudo sob controle no departamento

Você tem alguma história marcante de um primeiro dia de trabalho? Aposto que nenhuma será melhor que essa, olha só: após ouvir vozes dentro da cabeça, Jesse Faden vai ao Departamento Federal de Controle (ou Federal Bureau of Control, em inglês) para assumir o cargo de diretora. Acontece que o antigo diretor, Zachariah Trench, está morto no escritório que agora é dela -- um aparente suicídio.

Para piorar ainda mais a situação, o prédio todo está contaminado por um espectro que toma posse das pessoas e as transforma em insaciáveis assassinas. Mas tudo bem, sem pânico, porque Jesse tem uma arma especial, um espírito para guiá-la e poderes combinados de Jean Grey e Eleven -- ela até sangra o nariz quando força muito o poder, bem como a heroína de Stranger Things.

Tudo é muito esquisito em Control, novo game da Remedy Entertainment, estúdio responsável por Max Payne 1, Max Payne 2, Alan Wake e Quantum Break. Publicado pela 505 games, o jogo está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC (via Epic Games Store). Se ficou confuso já no começo, fica o alerta: a estranheza só aumenta conforme você joga.

O enredo e a ambientação

Estrelado por Courtney Hope no papel de Jesse, o elenco conta ainda com James McCaffrey como Trench e Matthew Porretta, que vive o Doutor Casper Darling -- todos já trabalharam com a Remedy anteriormente, seja em Max Payne, Alan Wake ou Quantum Break. Inclusive, a atuação é vista até mesmo em live-action, além do trabalho de captação de imagem -- isso acontece em cutscenes ou em projeções de vídeo dentro do game. A direção é de Mikael Kasurinen, com roteiro de Sam Lake (o rosto clássico de Max no primeiro Max Payne), que também atua como diretor criativo. Em termos práticos, ele é grande responsável por toda a bizarrice de Control.

Outros personagens secundários importantes incluem a chefe de segurança Marshall, o segurança Simon Arish, a chefe de pesquisa Emily Pope (que mal perde por esperar para examinar Jesse) e o enigmático faxineiro Ahti, finlandês de sotaque carregado que está na empresa há anos e conhece a tudo e todos.

Jesse Faden é a nova diretora do Departamento Federal de Controle, mas ela não está lá por acaso. Nossa heroína, cujas vestimentas lembram levemente a Viúva Negra de Scarlett Johansson e os poderes remetem ao mais poderoso mutante dos X-Men (leia-se: Fênix Negra), possui uma motivação pessoal por trás disso tudo. Seu irmão, Dylan, está desaparecido há 17 anos, e ela suspeita que os novos colegas de trabalho tenham respostas. Nosso principal inimigo, ao menos na maior parte do tempo, é uma entidade intitulada "Ruído", que se apodera de humanos e faz deles criaturas sedentas por te matar.

Curte uma teoria da conspiração? Olha o prato cheio aí, bem na mesa: toda nossa jornada se passa na FBC, agência secreta do governo dos Estados Unidos que é responsável por investigar, estudar e abafar casos sobrenaturais que violam as leis da realidade. Apesar de se passar em um único ambiente, não se engane: há vários setores no prédio para explorar com a ajuda de deslocamentos rápidos, e se perder não é difícil. Fica a dica: siga as indicações das placas e olhe o tempo todo para o mapa, que causará uma sensação de dejà vu entre os fãs de Resident Evil.

A história não é linear. É possível alternar missões principais com dois tipos de missões secundárias: temos aquelas em que eliminamos grupos contaminados pelo Ruído e outras em que ajudamos a resolver problemas de funcionários do edifício -- estas, normalmente nos trazem alguma recompensa em troca, como pontos de habilidade para melhorar os poderes. Em uma dessas missões secundárias, vale ressaltar, está a participação especial de Hideo Kojima -- entenda melhor o cameo do criador de Death Stranding e Metal Gear Solid.

Revelar muito sobre a narrativa de Control é um sacrilégio, pois o jogo nada mais é do que um grande filme dividido em oito missões principais com o adicional de mais duas, que mais parecem longas (e excelentes) cenas pós-créditos -- enquanto um final é totalmente anti-climático e frustrante, o outro compensa e surpreende. Triste? Feliz? Sem juízos de valor por aqui, a fim de evitar spoilers. Recomendo muito que você descubra por si só.

Jogabilidade e recursos Deus ex-machina

Jesse Faden facilmente passaria na entrevista de emprego de qualquer supergrupo da Marvel ou DC Comics. Ouso dizer que o Professor Xavier a receberia de portas abertas na Mansão X. Além da Arma de Serviço, um Objeto de Poder capaz de ganhar outras formas e alternar entre uma pistola comum, uma submetralhadora e uma espécie de sniper, a heroína de Control ganha diversos poderes ao longo do game, todos graças aos demais Objetos de Poder. Dentre as habilidades, estão telecinesia, escudo de rochas, o bom e velho dash e levitação. Todos são adquiridos aos poucos, em breves tutoriais que na hora associei a quando Desmond se aventurava pelos fragmentos de Animus em Assassin's Creed: Revelations.

​Os poderes podem ser melhorados conforme o jogador preferir. Eu optei por priorizar a saúde e a telecinesia -- poucas coisas na vida são tão satisfatórias quanto parar um míssil vindo em sua direção e jogá-lo de volta a quem atirou. Nem o Magneto de Michael Fassbender conseguiria executar o movimento com tanto estilo. O escudo pouco aprimorado só foi fazer falta lá pro final, quando a "galera do Ruído" estava em um nível mais avançado (números em cima deles indicam o tamanho do pepino que você irá enfrentar). Na falta de escudo, pernas pra que te quero! Corri como o Ewan McGregor no começo de Trainspotting e segui o conselho do refrão de "Down Under", do Men at Work: "You better run, you better take cover" -- "Melhor correr, melhor se proteger".

Ninguém gosta de morrer nos jogos, e posso chover no molhado a seguir, mas vale a dica ainda assim. Evite morrer. Sério. O que mais me incomodou em Control é justamente como funciona o checkpoint (ou a falta dele). A vida não recarrega sozinha e o único jeito de recuperá-la é coletando itens deixados pelo oponente quando o eliminamos. Se você morrer, voltará para trás mais do que gostaria e terá de passar por inimigos que suou para derrotar há 20 minutos, e isso é simplesmente muito frustrante. Alguns dirão que o desafio proposto é um incentivo, mas eu, particularmente, me irritei mais do que gostaria de admitir.

Voltando ao que é bom... enfrentar o pessoal possuído de cima, levitando e jogando materiais ou atirando, é fantástico. Uma pena que esse poder chegou aos 40 minutos do segundo tempo. No entanto, a decisão é compreensível. Jesse é quase uma Deusa ex-machina! Capaz de derrotar quantidades exorbitantes de uma vez, não tenho dúvidas de que estamos diante de uma das personagens mais fortes dos games, quiçá da cultura pop. Se cuida, Goku.

Um deleite visual

Control usa a Northlight Engine (a mesma de Quantum Break), e exige uma potência alta para performar melhor -- jogadores de PlayStation 4 e Xbox One relataram problemas no desempenho. Por outro lado, o game é um dos que suportam o RTX ray tracing da Nvidia. Graças à Avell, que cedeu gentilmente o notebook G1550 RTX com processador Intel Core I7 da 9ª geração, tive o prazer de desfrutá-lo em uma GeForce RTX 2060 -- recomendo fortemente a todos que tiverem a oportunidade. Se o jogo já é bonito em condições normais, com esse "up", ganhamos ainda mais nitidez e brilho, ressaltando os reflexos, sombras e luzes. A Nvidia também nos enviou uma placa de vídeo GeForce 2080 Super para testarmos no PC da redação, e o resultado foi incrível.

Sem entregar muitos detalhes, queria ainda destacar um trecho específico de Control que se passa em um labirinto. É uma das melhores experiências que alguém pode ter na vida, sem exageros. Tudo gira, Jesse se equilibra no ar e acaba com dezenas de Ruídos ao som de um acelerado rock que diz: "Tome o Controle". Sabe a cena do corredor do hotel em A Origem, de Christopher Nolan? Faça um mexidão dela com o primeiro Matrix e com o Hotel Overlook, de O Iluminado, feche os olhos e imagine a cena. É o tipo de situação em que vibramos e mandamos imediatamente um áudio no WhatsApp ao melhor amigo tentando descrever o que nossos olhos acabaram de ver. Eu disse "sem exageros", viu?

Quem deve jogar este game?

A história de Control é, sim, pretensiosa, e exige certo nível de atenção do jogador. Não à toa, são espalhados itens colecionáveis como fichas técnicas, e projeções, áudios em fita, programas de rádio (já sinto saudades do Corujão da América) e programas de televisão que não podem ser descritos com outra palavra se não bizarros, que servem de complemento à narrativa principal. "Esse jogo é estranho" será um pensamentos constante na sua jogatina, mas não a ponto de querer largá-la, e sim de ir até o final e descobrir se todo o nonsense faz sentido. E faz, veja só. A distinção entre o real e o imaginário acaba ficando em segundo plano perante uma jogabilidade intuitiva e um visual de cair o queixo.

Em uma das idas ao misterioso hotel que serve de passagem entre dois planos, uma projeção do Doutor Darling o mostra dançando e cantando com acessórios dignos de bandas new-wave oitentistas em clipes espalhafatosos, causando uma única reação da protagonista Jesse, a qual compartilho: "Isso é tão... doido". Antes, a diretora do Departamento Federal de Controle definiu perfeitamente o que senti durante minha estadia na agência sobrenatural: "Tudo aqui é tão estranho, mas parece... certo. Tipo como o mundo devia ser. Estou num prédio infinito que leva a diferentes dimensões e eu nunca quero sair. Mesmo com todo o terror, estou feliz. Parece são. Ou o tipo certo de insano". Controlando a maluquez misturada à lucidez, você vai ficar no FBC com certeza, maluco(a) beleza.

Prós

  • Protagonista badass
  • História nonsense e criativa
  • Game é um deleite visual
  • Variedade de poderes e inimigos
  • A fase do labirinto

Contras

  • O checkpoint (ou a falta dele)
  • Versões para PS4 e XOne comprometidas

O Veredicto

Fica nítido que a Remedy pegou elementos de terror de Alan Wake, o shooter de Max Payne e o sistema de combate de Quantum Break para entregar um título que é tudo isso, mas acima de tudo, é um sci-fi dos mais doidos. Control impressiona pela narrativa original e absurda, por seu combate frenético e pelo visual, perfeitamente detalhado. Encontrar respostas e permanecer são em meio a um mundo virado de ponta-cabeça não é fácil, mas mais difícil do que isso é parar de jogar o game mais surreal de 2019.

Neste Artigo

Control

Remedy | 27 de Agosto de 2019
  • Plataforma / Tópico
  • PS4
  • XboxOne
  • PC
  • NintendoSwitch
  • XboxSeries
  • PS5

Review: Control

9
Incrível
A história nonsense, o combate frenético e AQUELA fase do labirinto fazem deste o game mais surreal de 2019.
Control
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