O ex-deputado federal David Miranda morreu na manhã desta terça-feira, aos 37 anos, no Rio de Janeiro. Ele deixa o marido, o jornalista americano Glenn Greenwald, e três filhos – João, Jonathas e Marcelo.
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Miranda estava internado desde agosto do ano passado na Clínica São Vicente, na Zona Sul do Rio, quando foi tratar uma infecção gastrointestinal. No entanto, o ex-deputado acabou sofrendo várias outras infecções sucessivas, em um quadro de septicemia.
A morte de Miranda foi confirmada nas redes sociais por Greenwald, que ainda lembrou que o marido completaria 38 anos amanhã, mas não resistiu a uma batalha de nove meses na UTI.
“Ele morreu em paz, cercado por nossos filhos, pela família e por amigos”, escreveu Greenwald.
Conheça a trajetória de David Miranda
David Michel dos Santos Miranda nasceu em 10 de maio de 1985, na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Prestes a completar seis anos, David perdeu a mãe. O ex-deputado nunca conheceu o pai.
O menino foi criado por Eliane, uma vizinha da família, que resolveu acolher David apesar de já ter quatro filhos. Na infância, ela foi a responsável por estimular que o futuro deputado buscasse nos estudos uma saída para enfrentar as dificuldades e evitar seguir o caminho da criminalidade.
David começou a trabalhar com apenas 9 anos, chegando a atuar em diversas áreas, como como caixa de casa lotérica, office-boy, e operador de telemarketing.
Aos 20 anos, David conheceu Glenn Greenwald na Praia de Ipanema, em uma região bastante frequentado por LGBTs. Os dois se casaram poucos meses depois de se conhecerem em 2005 e se mudaram para os Estados Unidos.
David se formou em jornalismo e trabalhou ao lado de Greenwald nas revelações feitas por Edward Snowden sobre os programas secretos da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos para espionar líderes políticos em todo o mundo. Em 2013, ele chegou a ser preso pelo governo do Reino Unido pelo trabalho.
A carreira política teve início em 2016, quando David foi eleito o primeiro vereador gay da história da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O jornalista ainda conseguiu um segundo mandato como vereador, período em que priorizou a apresentação de projetos em defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+.
Em 2019, David assumiu uma vaga de deputado federal no lugar do colega Jean Wyllys, que decidiu deixar o país após receber diversas ameaças de morte. No mesmo ano, ele foi indicado pela revista “Time” como um dos líderes da próxima geração, ao lado de nomes como o da ativista ambiental Greta Thunberg.
Em 2022, David trocou o Psol, seu antigo partido, e se filiou ao PDT, passando a apoiar Ciro Gomes à presidência da República. Em setembro do mesmo ano, a Justiça Eleitoral acolheu o pedido da família de David e retirou sua candidatura à reeleição como deputado devido aos problemas de saúde que ele já enfrentava.
Nas redes sociais, Greenwald destacou a história de vida de superação do marido. “Qualquer pessoa que o conheça atestaria que não há ninguém com tamanha força e tão cheio de vida”, escreveu.
David Miranda x Bolsonaro
Como vereador no Rio de Janeiro e deputado federal, David travou vários embates com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos. Um dos mais lembrados ocorreu logo quando o jornalista assumiu a vaga de Jean Wyllys na Câmara.
Na ocasião, após o anúncio de Wyllys que deixaria o país, Bolsonaro foi ao Twitter e escreveu “Grande dia”, uma mensagem que foi interpretada como uma provocação ao adversário político. David, então, respondeu ao ex-presidente: “Nos vemos em Brasília”.
Ainda na Câmara Municipal do Rio, David chegou a denunciar o vereador Carlos Bolsonaro à Comissão de Ética por falta de decoro.
Na ocasião, o político pediu a cassação de Carlos por uma foto postada pelo filho do ex-presidente, simulando uma situação de tortura para ironizar a campanha #EleNão, de oposição à candidatura de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.