Lota de Macedo Soares: quem foi e suas contribuições para a arquitetura | Arquitetura | Casa e Jardim

Por Mariana Alves

Um dos maiores marcos paisagísticos das décadas de 1950 e 1960 no Rio de Janeiro, o Aterro do Flamengo foi idealizado pela arquiteta autodidata Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, popularmente conhecida como Lota de Macedo Soares. Filha dos brasileiros José Eduardo de Macedo Soares e Adélia de Carvalho Costallat, Lota nasceu em Paris no ano de 1910 e veio para o Brasil acompanhada de sua família em 1912.

Lota foi criada e passou a desenvolver suas habilidades artísticas no Rio de Janeiro – talento que já era notado nela desde muito nova. Entusiasta da arte modernista da década de 1930, a jovem iniciou o curso de pintura na Universidade do Distrito Federal, tendo Cândido Portinari como professor.

A rede de contatos criada durante as aulas somada com a boa condição econômica da família de Lota permitiu que ela fosse para Nova York em 1940, onde residiu por alguns anos e se dedicou aos estudos em cursos no Museu de Arte Contemporânea. Foi também nos Estados Unidos que a então estudante conheceu a poetisa Elizabeth Bishop, com quem viveria um romance duradouro e intenso, embora discreto na época.

Apesar de nunca ter frequentado a universidade e formalizado sua especialização com um diploma, Carlota foi reconhecida como arquiteta autodidata e paisagista emérita. Por isso, em 1960, o governador do estado da Guanabara na época, Carlos Lacerda, convidou Lota para participar de seu governo, sendo parte do Departamento de Parques da Secretaria Geral de Viação e Obras e da Superintendência de Urbanização e Saneamento. Mais especificamente, ele queria Lota à frente de um grande projeto: a construção do Parque do Flamengo.

O parque se estende do aeroporto Santos Dumont até a Praia do Flamengo — Foto: Reprodução / WikiCommons
O parque se estende do aeroporto Santos Dumont até a Praia do Flamengo — Foto: Reprodução / WikiCommons

O Parque do Flamengo

Foi com essa contribuição paisagística que a profissional se consolidou como uma das mais relevantes na arquitetura brasileira. A ideia inicial para a área que se estende do Aeroporto Santos Dumont até o início da Praia do Flamengo era a construção de quatro diferentes avenidas com apartamentos à beira-mar – proposta de José de Oliveira Reis. O diretor de urbanização da época não deixava essa ideia e, por isso, foi demitido pelo governador Carlos Lacerda.

Foi então que um grupo de trabalho foi formado com o comando de Lota, para colocar em prática a ideia de transformar a área de aterros sucessivos em uma urbanizada. Essa equipe era formada por renomados arquitetos e paisagistas, como Affonso Reidy, que colaborou com a arquiteta na concepção do projeto do Parque do Flamengo; Jorge Machado Moreira, responsável pelo projeto arquitetônico; Berta Leitchic na engenharia; Ethel Bauzer Medeiros na área de recreação; e Carlos Werneck de Carvalho, Sérgio Bernardes e Hélio Mamede no desenvolvimento de projetos.

A proposta do parque ia de encontro com grandes interesses imobiliários do Rio de Janeiro e as desavenças também aconteceram no grupo de trabalho. Maria Carlota pretendia criar um espaço amplo, sem esculturas, bancos ou playgrounds. O objetivo era que a visão do horizonte fosse possível de todos os locais do parque, para todos os visitantes, sem nenhuma obstrução aos pedestres.

Entretanto, existiam desavenças sobre o projeto dentro do próprio grupo, e a situação acabou se intensificando com a campanha eleitoral de 1965 para o governo na Guanabara, que colocava em risco o cargo de Carlos Lacerda e, consequentemente, o apoio que ele oferecia à Lota. Em muitos momentos, a profissional foi publicamente acusada de ser autoritária e prepotente por seu colega paisagista Roberto Burle Max.

O parque junta natureza e cidade, e é amplamente frequentado pelos cariocas — Foto: Reprodução / WikiCommons
O parque junta natureza e cidade, e é amplamente frequentado pelos cariocas — Foto: Reprodução / WikiCommons

Com a derrota dos candidatos apoiados por Carlos Lacerda, os sucessores do governador passam a pressionar Lota, que abandona o projeto após cerca de cinco anos de dedicação. Antes disso, a Fundação Parque do Flamengo havia sido criada para manter as propostas de Lota, mas não foi o suficiente para que a arquiteta continuasse no projeto. Entretanto, em 1965 ela conseguiu que o Parque fosse tombado como Patrimônio Histórico e Arquitetônico, evitando que fosse loteado e usado para outras construções.

O Aterro do Flamengo é ainda hoje um dos lugares mais frequentados pelos cariocas. Ele possui 1.300.000 m² de área e abriga mais de 190 espécies da fauna brasileira. Hoje, o local permanece sendo a maior área de lazer ao ar livre no Rio de Janeiro, considerado um dos maiores aterros urbanos do mundo. Lota conseguiu cumprir com a sua proposta e entregou para os moradores da cidade um local que integrou a natureza e a área urbana.

Casa Samambaia e final da vida

A Casa Samambaia foi mais um dos ousados projetos idealizados por Lota de Macedo Soares, projetado pelo arquiteto Sérgio Bernardes. A jovem herdou a propriedade em Samambaia, bairro de Petrópolis, após a morte de sua mãe, e em 1951 construiu ali a residência onde morou por anos com sua esposa Elizabeth Bishop.

O projeto de Sérgio era a frente do tempo da modernidade arquitetônica da época, com a casa construída no alto de um terreno e próximo a densa vegetação local, como desejou Lota. A casa foi palco para a realização de diversos trabalhos da arquiteta e também de sua amada, e foi ali que viveram por dez anos, até 1961.

Em 1965, com a sua saída do projeto do Parque do Flamengo e turbulências no relacionamento com Elizabeth, Lota teve uma depressão profunda. Quando procurou visitar a amada na cidade de Nova York em 1967, Lota foi encontrada por Elizabeth desacordada, com um vidro de antidepressivos na mão e, após alguns dias de coma, faleceu.

A Casa Samambaia foi um projeto muito moderno para a época que foi construída — Foto: Reprodução / Acervo Pesquisa Casas Brasileiras
A Casa Samambaia foi um projeto muito moderno para a época que foi construída — Foto: Reprodução / Acervo Pesquisa Casas Brasileiras
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