Quem são os vencedores do Nobel da Paz - e como eles confrontam Putin
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Quem são os vencedores do Nobel da Paz - e como eles confrontam Putin

Vencedores do Nobel da Paz 2022: Ales Bialiatski, de Belarus, a organização russa de direitos humanos Memorial e a organização ucraniana de direitos humanos Centro para Liberdades Civis - Divulgação/The Nobel Prize
Vencedores do Nobel da Paz 2022: Ales Bialiatski, de Belarus, a organização russa de direitos humanos Memorial e a organização ucraniana de direitos humanos Centro para Liberdades Civis Imagem: Divulgação/The Nobel Prize

Do UOL*, em São Paulo

07/10/2022 09h30

O Prêmio Nobel da Paz de 2022 foi concedido para representantes de direitos humanos da Ucrânia, Rússia e Belarus — um aceno claro do comitê de que o mundo observa de perto os desdobramentos da guerra na Ucrânia e os equilíbrios de força na região.

Foram escolhidos o defensor dos direitos humanos Ales Bialiatski, de Belarus, a organização russa de direitos humanos Memorial e a organização ucraniana de direitos humanos Centro para Liberdades Civis. Os trabalhos das organizações e de Ales Bialiatski — que também cofundou uma ONG de direitos humanos em seu país — têm sido alvo de prisões políticas, fechamentos e perseguições.

Para Ken Roth, um dos principais defensores de direitos humanos no mundo e chefe da Human Rights Watch, há uma mensagem direta a Vladimir Putin, presidente da Rússia, que também faz aniversário nesta sexta-feira:

"No dia dos 70 anos de Putin, o Nobel é dado a um grupo de direitos humanos que ele fechou, a um grupo de direitos humanos ucraniano que está documentando crimes de guerra e um ativista de direitos humanos que seu aliado Lukashenko botou na prisão", disse, segundo a coluna Jamil Chade, do UOL.

ONG russa Memorial foi fechada pelo governo Putin no fim de 2021. Representante russa na premiação, o trabalho da organização Memorial começou em 1987 como uma forma de registrar e recuperar os crimes contra os direitos humanos cometidos em toda a União Soviética — como o Gulag, sistema de prisão em campos de concentração que cresceu na era de Josef Stalin.

Desde a dissolução da URSS, a organização vinha atuando em países que a integravam, monitorando conflitos étnicos na Chechênia e em demais países do Cáucaso, como Geórgia, Armênia e Azerbaijão, além da escalada da perseguição política na própria Rússia.

Em dezembro de 2021, a atividade da Memorial foi interrompida abruptamente: uma ordem do procurador-geral da Rússia fechou a sede da organização, em Moscou, após acusá-la de ter "agentes internacionais" infiltrados para disseminar informações falsas e extremismo.

Foto da fachada da organização Memorial, em Moscou, no dia do fechamento da ONG; cartazes demonstravam apoio - EVGENIA NOVOZHENINA/REUTERS - EVGENIA NOVOZHENINA/REUTERS
Foto da fachada da organização Memorial, em Moscou, no dia do fechamento da ONG; cartazes demonstravam apoio
Imagem: EVGENIA NOVOZHENINA/REUTERS

A ONG recorreu, mas o fechamento foi referendado pela Suprema Corte russa em 28 de fevereiro de 2022, quatro dias após a invasão da Ucrânia.

Com o anúncio de que havia recebido o Prêmio Nobel, a Memorial denunciou um novo julgamento que enfrenta hoje.

"Ao mesmo tempo em que o mundo inteiro nos parabeniza pelo Prêmio Nobel, acontece um julgamento no tribunal de Tverskoi (em Moscou) para confiscar as instalações da Memorial", denunciou o centro de direitos humanos desta organização.

A Memorial disse que ganhar o prêmio foi um reconhecimento de seu trabalho de direitos humanos e de colegas que continuam a sofrer "ataques e represálias indescritíveis" na Rússia.

Ales Bialiatski é uma das vozes mais reconhecidas pelos direitos humanos em Belarus, mas foi preso por "evasão fiscal". Fundador da organização Viasna (Primavera) em 1996, Ales colocava-se crítico a controversas emendas constitucionais que deram ao presidente de Belarus poderes ditatoriais.

Desde então, o ativista já havia sido preso diversas vezes. A última ocorreu em julho de 2021 após uma série de acusações decorrentes dos grandes protestos que inundaram Belarus em 2020. A acusação de evasão fiscal é considerada fraudulenta pelos ativistas.

Hoje, Belarus é comandado por Aleksandr Lukashenko, um dos principais aliados de Putin e acusado de repressão e de fraudar eleições. Nos últimos anos, o regime local prendeu opositores e candidatos que poderiam ameaçar o poder, sempre com o apoio do Kremlin. Quando a guerra contra a Ucrânia começou, o território de Belarus foi usado por Moscou como base para uma parte da invasão.

"Ele foi preso de 2011 a 2014. Após grandes manifestações contra o regime em 2020, ele foi novamente preso. Ele ainda está detido sem julgamento. Apesar das tremendas dificuldades pessoais, o Sr. Bialiatski não cedeu um centímetro em sua luta pelos direitos humanos e pela democracia em Belarus", diz o texto do comitê de Olso, que pediu por sua libertação.

2.nov.2011 - Imagem de 2011 mostra o defensor de direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski preso em um corte em Minsk. Bialiatski  é um dos vencedores do Nobel da Paz em 2022 - Viktor Drachev/AFP - Viktor Drachev/AFP
2.nov.2011 - Imagem de 2011 mostra o defensor de direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski preso em um corte em Minsk. Bialiatski é um dos vencedores do Nobel da Paz em 2022
Imagem: Viktor Drachev/AFP

O prêmio também foi um reconhecimento para todo o povo bielorrusso por enfrentar Lukashenko, disse o porta-voz da oposição Franak Viacorka. Ele disse à Reuters que Byalyatski foi preso em condições "desumanas" e espera que o prêmio leve à sua libertação.

"É um grande sinal de reconhecimento para o povo bielorrusso, porque o povo bielorrusso merece por sua bravura em combater a tirania de Lukashenko... eles merecem todos os prêmios do mundo", disse Viacorka, chefe de equipe da exilada bielorrussa líder da oposição Sviatlana Tsikhanouskaya, que é amiga íntima de Byalyatski.

Centro para as Liberdades Civis na Ucrânia criou mapa para monitorar desaparecimentos políticos. A organização, criada em Kiev em 2007 com a intenção de criar uma rede de proteção a ativistas entre os países da antiga União Soviética, tem trabalhado ativamente para mapear crimes de guerra na Ucrânia — incluindo o desaparecimento forçado de ucranianos críticos ao Kremlin.

"Após a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, o Centro de Liberdades Civis engajou-se em esforços para identificar e documentar os crimes de guerra russos contra a população civil ucraniana. Em colaboração com parceiros internacionais, o Centro está desempenhando um papel pioneiro com o objetivo de responsabilizar os culpados por seus crimes", destacou o comitê de Oslo.

Nas redes sociais, a organização disse estar "orgulhosa" de receber a premiação, mas a diretora-executiva Oleksandra Matviichuk cobrou as entidades internacionais de agirem mais enfaticamente para punir Putin e aliados.

"A ONU e os Estados participantes devem conduzir a reforma internacional da paz e da segurança para criar garantias para todos os países e seus cidadãos, independentemente da sua participação ou não em blocos militares. A Rússia deveria ser excluída do Conselho de Segurança da ONU por violações sistemáticas da carta da ONU", escreveu Oleksandra no Facebook.

*Com informações de Jamil Chade, colunista do UOL, da AFP e da Reuters