A discreta princesa Anne ganha influência e mais trabalho em uma família real reduzida
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Por Mark Landler, do New York Times — Londres

Um dia depois de caminhar atrás do caixão de sua mãe, a rainha Elizabeth II, em Londres, a princesa Anne voou para Glasgow, na Escócia, na quinta-feira, para se reunir com autoridades da cidade, receber condolências dos moradores da cidade e inspecionar as coroas de flores deixadas em homenagem à soberana, que morreu na semana passada.

São funções do tipo que Anne, agora com 72 anos, cumpriu, sem reclamar, por décadas. Única filha de Elizabeth, nascida logo depois do hoje rei Charles III, Anne é famosa por ser uma das pessoas mais trabalhadoras da família real, muitas vezes registrando mais de 400 eventos públicos por ano.

Devido às leis de primogenitura, ela é a 16ª na linha de sucessão ao trono. Mas isso subestima sua influência na família real, onde é uma conselheira de confiança de Charles, e sua popularidade com o público, onde seus índices de aprovação são mais altos do que qualquer um dos membros da realeza, exceto o príncipe William e sua mulher, a princesa Kate.

— Anne cresceu sabendo que a monarquia só poderia sobreviver se pudesse justificar sua existência — disse Edward Owens, um historiador que escreveu extensivamente sobre a família real. — Ela sempre entendeu que a família só pode desfrutar dos privilégios da vida real se trabalhar duro.

Com a ascensão de Charles ao trono, dizem os especialistas, o papel de Anne provavelmente se tornará ainda mais central. O novo rei vai contar com sua irmã, que é conhecida como princesa real, para manter sua agenda lotada de deveres públicos em uma família enxuta — que não pode contar mais com o filho mais novo do rei, Harry, que abdicou dos deveres e de parte dos privilégios reais, nem com o irmão do meio de Charles, Andrew, afastado por causa de escândalos.

Anne também deve aconselhar Charles em assuntos familiares delicados, incluindo como lidar com o príncipe Andrew, que está em uma espécie de exílio desde a divulgação de seus laços com Jeffrey Epstein, um predador sexual condenado.

A morte de sua mãe dá a Anne um novo status como uma figura feminina sênior em Windsor, mesmo que a mulher de Charles, Camilla, a rainha consorte, a supere de acordo com os protocolos, e a princesa Charlotte, filha de 7 anos do príncipe William, tenha primazia na linha de sucessão.

Sua história é menos dramática do que a de Charles, sem falar da ascensão e queda de Andrew. Mas é um percurso notável de uma mulher que passou de uma juventude privilegiada, na qual adquiriu fama de arrogante e de língua afiada, a uma formidável carreira em obras de caridade, principalmente com a Save the Children, da qual ela foi presidente de 2010 a 2017.

Ao longo do caminho, Anne competiu nas Olimpíadas de Montreal em 1976 na categoria de hipismo; viveu um primeiro casamento fracassado com Mark Phillips; estabeleceu-se em um segundo relacionamento estável, com o escudeiro real Timothy Laurence; e sobreviveu a uma tentativa de sequestro em 1974, dizendo ao atirador que a mandou sair de seu carro para tentar trocá-la por um resgate: “Não é nem um pouco provável!”

Elizabeth II e a princesa Anne, em foto dos anos 50 — Foto: Cartier
Elizabeth II e a princesa Anne, em foto dos anos 50 — Foto: Cartier

Até o papel de Anne nos dias que cercaram a morte da rainha reforçou sua reputação de trabalhadora. Ela esteve presente nas últimas horas de sua mãe no Castelo de Balmoral, na Escócia, e depois acompanhou o caixão em uma viagem de seis horas a Edimburgo. Anne estava logo atrás do carro fúnebre com Laurence, um vice-almirante da Marinha Real que ela conheceu quando ele estava servindo no iate real Britannia.

Na procissão solene do caixão da rainha do Palácio de Buckingham a Westminster, na quarta-feira, Anne caminhou na primeira fila, à esquerda do rei. Ela usava um uniforme cerimonial da Marinha Real com o posto de almirante, com 10 medalhas, uma estrela e uma faixa da Ordem da Jarreteira.

Andrew, por sua vez, estava à sua esquerda em um terno escuro, que refletia seu banimento das funções oficiais após um caso de abuso sexual movido contra ele nos Estados Unidos por Virginia Giuffre. Na fila de trás, o príncipe Harry também usava um terno escuro, que indicava que ele também havia sido rebaixado, depois que abriu mão das obrigações e status de realeza, quando ele e sua mulher, Meghan, se mudaram para o sul da Califórnia, em 2020.

Sobrecarga

A saída de Andrew e Harry como membros da realeza oficial aumentou o fardo para aqueles que permanecem em atividade, principalmente Anne, já que centenas de obrigações por ano devem ser divididas entre um número menor de membros. O peso ficou ainda maior com a morte do marido da rainha, o príncipe Philip, em 2021. Philip, o duque de Edimburgo, era o patrono de dezenas de instituições de caridade, funções que o rei Charles III terá que transferir para outros membros da realeza.

Além da carga de trabalho, dizem os especialistas reais, Anne tem sido uma presença de bom senso na família real. Além de um breve período de turbulência, quando seu casamento com Phillips naufragou em 1989, ela forneceu pouco material para os tabloides de Londres. Ela optou por não dar a seus dois filhos, Peter Phillips e Zara Tindall, títulos reais.

— Provavelmente foi mais fácil para eles, e acho que a maioria das pessoas argumentaria que há desvantagens em ter títulos — disse Anne em entrevista à Vanity Fair, em 2020. — Provavelmente foi a coisa certa a se fazer.

Como seus pais, Anne tem laços particularmente estreitos com a Escócia e provavelmente servirá como emissária não oficial da família real para os escoceses. Na quinta-feira, a princesa real disse a uma multidão afetuosa em Glasgow que as coroas de flores para sua mãe eram “realmente e verdadeiramente fora deste mundo”. Ela aceitou buquês, ajoelhou-se para conversar com as crianças e consolou simpatizantes chorosos.

Apesar de todas as responsabilidades de Anne, uma lei obsoleta sobre primogenitura real impõe limites ao seu papel. Por ser mulher, ela não tem, por exemplo, o título de conselheira de Estado, designação que dá aos membros da família real o direito de substituir o rei em certos deveres e os torna membros do Conselho Privado.

— É absolutamente lamentável, mas é da natureza da política de gênero na família real que as mulheres não sejam levadas a sério por muito tempo — disse o historiador Owens.

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