Morreu a atriz Maria João Abreu (1964-2021) - Expresso

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Morreu a atriz Maria João Abreu (1964-2021)

Morreu a atriz Maria João Abreu (1964-2021)

Começou tudo aos 19 anos no musical "Annie". A última participação no teatro deu-se em 2019, na peça “Sonho de uma noite de verão”, no Tivoli. Participou em mais de 60 programas na televisão, a janela mágica em que deu vida à personagem Lucinda, de "Médico de Família", que continua a ser recordada com carinho. Amigos e colegas lembram Maria João Abreu, a atriz morreu esta quinta-feira aos 57 anos

A atriz Maria João Abreu, que sofreu um aneurisma cerebral a 30 de abril, morreu esta quinta-feira, avança a SIC. A artista, de 57 anos, estava internada no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Maria João Abreu foi submetida a intervenções cirúrgicas e esteve em coma induzido.

A televisão foi o meio em que mais trabalhou e que lhe deu maior visibilidade, tendo participado em mais de 60 programas, entre telefilmes, séries e telenovelas.

A atriz foi casada durante vários anos com José Raposo, com quem fundou a produtora Toca dos Raposo em 1998. Nesse mesmo ano nasce uma das personagens mais icónicas: Lucinda, uma empregada doméstica com sotaque nortenho, na série televisiva “Médico de Família”, série que teve três temporadas e 118 episódios. Esteve no ar quase três anos, contando no elenco com atores como Fernando Luís, Henrique Mendes, Ricardo Carriço, Rita Blanco e São José Lapa.

O arranque da sua carreira como atriz profissional remonta, no entanto, a 1983, quando aos 19 anos se estreou no Teatro Maria Matos, no musical “Annie”, de Thomas Meehan, dirigido por Armando Cortez. A este sucederam-se vários outros espetáculos de revista no Parque Mayer, até participar, na Casa da Comédia, em “O Último dos Marialvas”, de Neil Simon, peça estreada em 1991, que lhe daria visibilidade e reconhecimento como atriz de comédia.

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No cinema estreou-se em 1999 com o filme “António um rapaz de Lisboa”, de Jorge Silva Melo, seguindo-se depois participações em obras como “Amo-te Teresa”, de Ricardo Espírito Santo e Cristina Boavida, “Telefona-me”, de Frederico Corado, e “A Falha”, de João Mário Grilo. Mais recentemente, participou em filmes como “Call Girl”, de António-Pedro Vasconcelos, “Florbela” de Vicente Alves do Ó, “A Mãe é que Sabe”, de Nuno Rocha, e “Submissão”, de Leonardo António.

A última participação no teatro aconteceu em 2019, quando protagonizou “Sonho de uma noite de verão”, no Tivoli, contracenando com José Raposo, de quem estava já divorciada, e com Miguel Raposo, um dos dois filhos do casal. Era também com o ex-marido que contracenava na série “Patrões fora”, em exibição na SIC. Maria João Abreu desempenhava também o papel da padeira Sãozinha, uma das personagens mais carismáticas da telenovela A Serra, também exibida pela SIC, e em cujas gravações a atriz se sentiu mal antes de ser hospitalizada.

Após 23 anos de casamento com José Raposo (teve dois filhos, Miguel e Ricardo Raposo), o casal separou-se. A atriz casou-se em 2012 com o músico João Soares.

"A minha João partiu": as reações

João Soares, o marido da atriz, escreveu nas redes sociais a seguinte mensagem: "A minha João partiu. Infelizmente, todo o meu amor por ela, todo o amor da família e todo o amor dos amigos não foi suficiente para impedir que esta viagem se iniciasse. Algo ou alguém lá em cima, com muita força... com muita, muita, muita mais força levou-a para junto de si. Acredito que tenha sido porque ela é precisa, é necessária, faz falta lá, ainda mais do que faz falta aqui... e porque não tomaram em conta o que me faz falta a mim", pode ler-se.

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E conclui: "Para onde vai, vai fazer aquilo que sempre fez: cuidar! Agora pode fazê-lo sempre. A todos. O meu Anjo ganhou asas. A minha João partiu. Até já, meu amor. Cuidarei dos nossos. Estaremos juntos quando assim acontecer. Espera-me.
Teu. Sempre teu".

Daniel Oliveira, diretor de programas da SIC, esteve hoje no Primeiro Jornal da SIC e definiu Maria João Abreu como "uma artista completa", afirmando que esta deixa um "legado de talento e boa energia". E acrescentou: "Tinha a capacidade de contagiar os outros à sua volta com uma energia muito positiva, em qualquer dos trabalhos que tivesse".

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O cineasta Antonio-Pedro Vasconcelos falou sobre a atriz, esta tarde, num jornal da SIC: "Vou recordá-la para sempre. Ela fez um filme comigo, portanto posso sempre que quiser ver o filme e lembrar-me dela. Infelizmente não tive oportunidade de fazer mais filmes com ela. É uma notícia terrível, qualquer pessoa que morre é uma injustiça, mas no caso dela é maior ainda porque tinha muitos anos para dar".

E continuou: "É verdade que estávamos, nos últimos dias, preparados para o pior, mas é sempre um choque terrível. Tive oportunidade de trabalhar diretamente com ela no filme 'Call Girl' e foi uma experiência absolutamente fantástica. Era uma atriz que podia fazer tudo. A meu ver, tem a ver com uma coisa que sempre defendi e que sempre comprovei nos meus filmes: a revista é a maior escola de atores que há. Um ator que faz revista e comédia pode fazer tudo".

Também em declarações à SIC, o ator Carlos Avilez lembrou Maria João Abreu: "Era uma grande colega, uma mulher preocupada com as pessoas, era adorável. É uma perda incrível, uma coisa absolutamente absurda", começou por dizer. E acrescentou: "Quero dizer que morreu uma grande atriz, era uma mulher maravilhosa. Era muito querida dos atores, os colegas gostavam muito dela. Merece o nosso maior respeito. Fiquei muito impressionado. Morreu uma mulher extraordinária".

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A atriz São José Lapa, no vídeo em cima, participou igualmente neste movimento de memória coletiva sobre uma mulher que "era uma menina queridíssima, sempre bem disposta, com boa onda para os mais velhos". E acrescentou: "Trabalhei com ela no 'Médico de Família'. Acho que nunca mais nos encontrámos. É tristíssimo, é tristíssimo. Um abraço aos filhos, um abraço ao [José] Raposo".

Em declarações à Rádio Renascença, Ruy de Carvalho desfez-se em elogios a Maria João Abreu: "É com profunda tristeza que soube agora a notícia. Perde-se mais uma grande atriz, uma grande mulher e uma grandessíssima colega”. É uma notícia que se traduz numa “grande perda para o teatro e para o espetáculo em Portugal”, garante. E reforçou: "Contracenei com ela e adorava contracenar com ela, porque era uma grande profissional. É com muita tristeza que me despeço”.

Fernanda Serrano, atriz e apresentador de televisão, escreveu o seguinte as redes sociais: "Há coisas que não se entendem. Esta é uma delas! Que continues a ser uma luz bonita como sempre foste. Nunca tive o privilégio de trabalharmos juntas... assim não aconteceu! Paz no teu descanso".

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"A talentosa e multifacetada Maria João Abreu partiu", escreveu o ator Diogo Infante no Instagram. "Nada nos prepara para uma perda destas, súbita, injusta e precoce. A toda a família um forte abraço de coragem. À Maria João, o nosso eterno obrigado por tudo o que nos deu!"

Na mesma rede social, a apresentadora Teresa Guilherme deixou algumas palavras para a atriz: "Que tristeza a partida da Maria João Abreu. Uma atriz fantástica, uma mãe maravilhosa, uma grande mulher. Descansa em paz. Todos já sentimos muitas saudades tuas. Beijo grande para toda a família. Grande tristeza".

Felipe La Féria, encenador, recordou na SIC uma mulher "temperamental" e que queria sempre aprender e melhorar. "Ela tocava todos os géneros. Era uma comediante e, para além disso, uma atriz dramática. Tinha um enorme talento e era uma enorme profissional. Recordo-a com muita saudade. A Maria João estará sempre comigo, obrigado..."

E prosseguiu: "Era uma mulher temperamental, mas com um desejo sempre de ser cada vez melhor, de beber mais, de aperfeiçoar o seu trabalho. Admirava-a muito por isso. Não só no teatro como na televisão, ela pretendia sempre ser cada vez melhor. Teve uma carreira brilhante que deixa muita saudade a todos os colegas, a todos os que trabalharam com ela e sobretudo aos familiares".

Jessica Athayde, numa publicação igualmente no Instagram, foi mais sintética: Não há palavras... O meu amor todo para a família".

As palavras do Presidente Marcelo lembrando a atriz Maria João Abreu

O humor, a emoção e a empatia ligam-nos aos outros, até aos outros que não conhecemos, como é o caso dos atores e das atrizes.

Maria João Abreu, que nos deixou precocemente, escolheu essa abordagem, talvez por ser a abordagem que lhe era mais natural: a comédia, a projeção dos nossos afetos e dos nossos problemas, a proximidade humana.

A sua carreira como atriz de revista e como produtora, ao lado de José Raposo, bem como outras participações teatrais (com Filipe La Féria, João Lourenço e José Fonseca e Costa), mas sobretudo o seu intenso currículo em televisão (novelas, séries, programas de entretenimento e de comédia) tornaram-na uma figura que representava para muitos portugueses a familiaridade de quem está connosco porque se parece connosco.

À sua Família apresento, comovido, as minhas sentidas condolências.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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