Múmia de homem morto em pântano há 2,4 mil anos revela sua última refeição - Revista Galileu | Arqueologia
  • Redação Galileu
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O Homem de Tollund foi enforcado e depositado na lama há 2,4 mil anos (Foto: Museu Silkeborg)

O Homem de Tollund foi enforcado e depositado na lama há 2,4 mil anos (Foto: Museu Silkeborg)

Descoberto em 1950, no centro-norte da Dinamarca, o Homem de Tollund é um dos achados arqueológicos mais impressionantes do mundo, devido ao seu incrível estado de preservação. O indivíduo foi enforcado e jogado em um pântano há 2,4 mil anos, na Idade do Ferro, mas, mesmo após tanto tempo, pesquisadores conseguiram identificar qual foi sua última refeição em vida.

Um novo estudo, publicado na quarta-feira (21), no jornal científico Antiquity, aponta que ele comeu, entre 12 a 24 horas antes de morrer, um mingau feito de grãos como cevada, linho e persicária. O alimento indica que o indivíduo não foi executado como criminoso, mas foi vítima de um sacrifício humano.






A princípio, cogitou-se até que o assassinato do homem fosse recente, mas os arqueólogos acreditam que o indivíduo da Idade de Ferro tenha sido estrangulado por volta do ano 350 a.C, segundo a National Geographic. Seu corpo mumificado estava disposto cuidadosamente e apresentava um laço de couro de animal trançado no pescoço.

Intestino do homem da Idade do Ferro, encontrado em pântano na Dinamarca  (Foto: Danish National Museum)

Intestino do homem da Idade do Ferro, encontrado em pântano na Dinamarca (Foto: Danish National Museum)

Porém, a principal pista de que o Homem de Tollund possa ter sido uma vítima são as sementes de persicária em seu mingau. A planta cresce entre plantações de cevada, mas era normalmente descartada na Idade do Ferro, como se fosse uma erva daninha. Com isso, é possível que os grãos tenham sido acrescentados ao prato excepcionalmente, com propósito ritualístico

“Foi apenas uma refeição normal? Ou o descarte de alimento era algo que você só incluía quando as pessoas faziam uma refeição de ritual?" questiona Nina Nielsen, arqueóloga líder do estudo, que trabalha no museu dinamarquês Silkeborg, à NCB News. “Nós não sabemos disso.”

 Homem de Tollund ficou em estado de preservação impressionante por ter sido descartado em uma região de pântano (Foto: Museu Silkeborg)

Homem de Tollund ficou em estado de preservação impressionante por ter sido descartado em uma região de pântano (Foto: Museu Silkeborg)

Para Miranda Aldhouse-Green, professora emérita de história, arqueologia e religião na Universidade de Cardiff, no Reino Unido, a presença de persicária reforça a possibilidade de que o homem foi punido no ritual por “receber algo nojento e horrível de comer” ou pode ser sinal de que “a sociedade estava em uma espiral descendente, onde a comida era escassa”.






A última análise dos intestinos do Homem de Tollund revelou ainda que seus últimos momentos não foram nada fáceis: o homem sofria de várias infecções parasitárias e apresentava tênias, provavelmente porque se alimentava regularmente de carne mal cozida e água contaminada.

É possível que ele e outras vítimas de sacrifício humano também tenham sido envergonhadas ao serem enterradas em pântanos, em vez de tumbas ou sepulturas, segundo Aldhouse-Green. Dezenas de corpos já foram encontrados mumificados no pântano em todo o norte da Europa, possivelmente devido à falta de oxigênio, baixas temperaturas e ambiente ácido.