Karl Lagerfeld, um dos maiores nomes da moda, morre aos 85 anos - Jornal O Globo
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Karl Lagerfeld, um dos maiores nomes da moda, morre aos 85 anos

Estilista alemão era o nome por trás da Fendi e da Chanel
Karl Lagerfeld, em outubro de 2017 Foto: Charles Platiau / REUTERS
Karl Lagerfeld, em outubro de 2017 Foto: Charles Platiau / REUTERS

Morreu nesta terça-feira, aos 85 anos, o estilista Karl Lagerfeld, em Paris, depois de algumas semanas doente - que o fizeram não participar, inclusive, do último desfile de alta-costura da Chanel, em janeiro. A causa exata da morte ainda não foi revelada.

À frente da direção-criativa da Chanel, uma das maison de alta-costura mais conhecidas no mundo, o alemão nascido em Hamburgo foi um dos maiores nomes da moda no século XX, em uma incansável carreira que, ao longo de seis décadas, acompanhou as mudanças tecnológicas e de comportamento da mulher ocidental. Um verdadeiro workaholic, Lagerfeld conciliava o cargo na Chanel com o comando da marca italiana Fendi e da sua grife homônima.

"Não há segredo na vida. O único segredo é trabalhar. Não beba. Não fume. Não use drogas. Tudo isso ajuda", disse ele, certa vez.

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Nascido  Karl-Otto Lagerfeldt em 10 de setembro de 1933, ele gostava de manter a sua origem em mistério. Inúmeras vezes, mentiu a sua idade e sustentou que seu pai era suíço. Em 2008, anunciou a comemoração de seus 70 anos quando, na verdade, era cinco anos mais velho. No mesmo ano, o jornal “Bild” confirmou a data de nascimento do estilista, ao publicar a sua certidão de batismo.

A carreira na moda começou aos 21 anos, em 1954, quando ele ganhou um concurso por seu desenho para um casaco de pele, escolhido entre 200 mil candidaturas. Na mesma competição, um de seus amigos e rivais, Yves Saint Laurent, abocanhou três outras categorias. O prêmio fez com que Lagerfeld garantisse uma vaga no ateliê de Pierre Balmain, de quem foi assistente por três anos, apesar, segundo o próprio, da sua insatisfação com o cargo subalterno. “Se você é um assistente infinitamente, não há esperança”, comentou ele em 2013, durante uma entrevista à atriz Jessica Chastain.

O primeiro cargo na direção foi na maison de Jean Patou. Sob o nome de Roland Karl, Lagerfeld permaneceu à frente da casa, que encerrou as atividades em 1981, por cinco anos. As criações para a Jean Patou não impressionaram os críticos, e a sua estreia chegou a receber vaias.

Sua ascensão começou nos anos 1960, à frente da recém-criada marca Tiziani que, apesar de baseada em Roma, pertencia a um texano. Na Tiziani, o estilista conquistou clientes como a atrizes Elizabeth Taylor e Gina Lollobrigida. Ao mesmo tempo, ele começou a colaborar com a italiana Fendi, onde ficou por mais de 50 anos, e com a francesa Chloé.

Em 1983, com o sucesso de sua moda na Chloé, o alemão foi chamado para dirigir a Chanel. Convite aceito, ele começou a olhar para os arquivos da maison, incorporando elementos clássicos da fundadora, Coco Chanel, até hoje, como o tweed e as correntes até hoje. O logo CC também foi uma de suas marcas e ajudou a Chanel a crescer ainda mais como marca de luxo desejada pelos cinco continentes.

Estilista alemão Karl Lagerfeld era o nome por trás da Fendi e da Chanel
Estilista alemão Karl Lagerfeld era o nome por trás da Fendi e da Chanel

"Graças a seu gênio criativo, sua generosidade e sua intuição excepcional, Karl Legaerfeld sempre esteve à frente do seu tempo, contribuindo amplamente para o sucesso da maison Chanel ao redor do mundo", disse, em comunicado, o CEO da Chanel, Alain Wertheimer. "Hoje, não perdi apenas um amigo, todos nós perdermos uma extraordinária mente criativa a quem dei carta branca para que reinventasse a marca no começo dos anos 1980".

Lagerfeld conseguiu fincar seu estilo não só na alta moda, como também em âmbitos mais populares, tanto que criou, em 2004, uma coleção com a rede de fast fashion H&M. Lagerfeld também chegou a colaborar com a Diesel e  criar uma marca de beleza.

Seu talento perpassava as fronteiras dos ateliês de moda. Notório fotógrafo, ele assinou diversas campanhas da Chanel e editoriais de moda e teve uma mostra na Pinacothèque de Paris. Chegou também a dirigir curtas para a maison. A veia de artista plástico o levou a criar até coleções de esculturas. Até um best-seller de dieta ele lançou, o "The Karl Lagerfeld Diet", em 2002, contando como perdeu 40 quilos, e uma Barbie em parceria com a Mattel, em 2014. A boneca custava US$ 200 e esgotou em poucas horas.

"Mais do que todos que eu conheço, ele representa a alma da moda", disse,  na edição de 2015 do British Fashion Awards, Anna Wintour, a todo-poderosa da "Vogue" americana.