'Air: A história por trás do logo' é mais uma bola dentro de Ben Affleck como diretor; g1 já viu | Cinema | G1

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Por Célio Silva, g1 — Rio de Janeiro

Cada vez mais, Ben Affleck se mostra muito mais interessante como diretor do que como ator. Quando menos se espera, o americano surge com um filme despretensioso que, graças a seu talento como cineasta, prova ser bastante satisfatório, capaz até de ganhar muitos prêmios.

Foi assim com "Argo", ganhador do Oscar de Melhor Filme em 2013 e, dez anos depois, tem tudo para ser com "Air: A história por trás do logo", com estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6).

Assista ao trailer do filme "Air: A história por trás do logo"

Assista ao trailer do filme "Air: A história por trás do logo"

Nas mãos de um diretor menos competente, a trama inspirada em fatos envolvendo a Nike e o lendário Michael Jordan poderia render um filme burocrático, no patamar de diversas produções que vão direto para a TV. Mas Affleck realiza uma verdadeira proeza ao entregar um longa empolgante, com ótimo ritmo e que dá muito gosto de ver.

De todos os filmes recentes ambientados na saudosa década de 1980, como "O urso do pó branco", "Air" certamente é o que melhor conta a sua história. O espectador acompanha a trajetória de Sonny Vaccaro (Matt Damon), que em 1984 era o responsável pelo departamento de vendas de calçados esportivos da fabricante. Como as coisas não iam bem para a empresa nesse setor, ele busca nomes que elevem a marca no mercado.

Sonny (Matt Damon) tenta convencer Deloris (Viola Davis) a fazer seu filho assinar um contrato em 'Air: A história Por Trás do Logo' — Foto: Divulgação

A resposta vem na forma de um jogador ainda pouco conhecido no mundo do basquete chamado Michael Jordan (Demian Young). Com a intuição de que Jordan vai estourar quando começar a jogar na NBA, ele apresenta um plano para que seja criada uma linha de calçados para o atleta, o que deixa o seu chefe, Phil Knight (Ben Affleck), meio desconfiado.

Mesmo assim, Vaccaro recebe sinal verde para o seu plano e decide convencer Jordan a assinar o contrato com a Nike. Para superar a concorrência, também de olho no jovem, o executivo decide negociar diretamente com a representante do jogador. No caso, sua mãe, Deloris Jordan (Viola Davis).

Em 'Air: A história por trás do logo', Ben Affleck dirige e interpreta o CEO da Nike, Phil Knight — Foto: Divulgação

História inspiradora

O que torna "Air: A história por trás do logo" cativante, além da boa direção de Affleck, é a maneira vibrante como o filme retrata as negociações entre Nike e Michael (cujo rosto nunca aparece, a não ser em imagens de arquivo).

A estratégia do executivo de usar a história pessoal do jogador para inspirar os fãs do esporte soa piegas, mas cativa o público.

O mérito é do roteiro do novato Alex Convery. Em seu primeiro projeto no cinema, Convery trabalha muito bem seus personagens, sem deixá-los caricatos. Até o chefão vivido por Affleck, com seu visual duvidoso, tem conflitos e questionamentos que o deixam mais tridimensional.

Rob (Jason Bateman) está preocupado com os negócios em 'Air: A verdade por trás do logo' — Foto: Divulgação

Mas o melhor exemplo é o colega de Vaccaro, Rob Strasser, interpretado por Jason Bateman ("Ozark"). Protagonista de uma das cenas mais tocantes do filme, ao revelar seu temor de uma ruptura familiar caso o negócio não dê certo, justifica sua existência além de mero parceiro do herói.

O filme ainda trabalha bem o fator nostálgico que a época evoca no público. Muitas pessoas vibraram com as partidas disputadas por Jordan no basquete e lembram dos produtos que estavam na moda.

Saber como funcionava a questão envolvendo as marcas (ainda que trate a presidente de uma delas de uma maneira pouco elogiosa) é algo curioso e interessante, não só para quem trabalha com publicidade.

Matthew Maher, Matt Damon e Jason Bateman numa cena de 'Air: A história por trás do logo' — Foto: Divulgação

Os donos da bola (e do tênis)

"Air: A história por trás do logo" tem algumas semelhanças com "A Rede Social" (2010), por tratar de questões envolvendo uma marca famosa. Mas enquanto o filme de David Fincher utiliza a criação do Facebook para traçar um perfil cínico e pouco simpático de seu criador, Mark Zuckerberg, o longa de Affleck trabalha mais com as emoções, e faz com que o público torça pelo sucesso de seus personagens e por sua criação, mesmo que muitos saibam como tudo terminou.

Isso também se deve às ótimas atuações de seu elenco. Damon faz com que seu Sonny Vaccaro seja uma pessoa cativante e bem astuta, mesmo com tantas dificuldades que surgem diante de seu nariz.

Já o diretor, embora não faça nada de muito diferente do que já mostrou antes como ator, também não faz feio. Chris Tucker, da série de filmes "A Hora do Rush", está um pouco abaixo de seus colegas, mas não chega a atrapalhar como outro dos executivos.

Viola Davis interpreta Deloris Jordan, mãe do jogador Michael Jordan em 'Air: A história por trás do logo' — Foto: Divulgação

Embora não apareça tanto, Davis marca presença como sempre. As cenas em que negocia o contrato do filho (em especial uma que acontece ao telefone) são muito boas, graças ao grande talento da atriz.

Curiosamente, ela contracena com seu marido na vida real, o ator e produtor Julius Tennon (que esteve com ela no Brasil quando divulgou "A Mulher Rei"). No filme, ele vive James Jordan, o pai do lendário jogador.

Com uma ótima trilha sonora, aliada a uma edição e fotografia muito eficientes, "Air" é uma boa viagem a um passado não muito distante que vai fazer muita gente sair do cinema com um sorriso no rosto. Uma grande jogada da dupla formada pelos astros Ben Affleck e Matt Damon, que volta a acertar.

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