Fafá de Belém ganha biografia, desfile em sua homenagem e documentário: 'Muito bom poder contar a minha história em vida’
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Ela era só uma menina de 18 anos quando, na visão do cronista Artur da Távola, sua aparição na TV fez “o Brasil explodir a tela” e cair na sala de sua casa. Uma menina de sorriso fácil, olhos muito vivos e corpo farto, típico do quem é deste país. Uma menina cheia de felicidade, vinda da Amazônia, que não queria ser cantora — tampouco “vedete”, como ela própria brinca —, mas acabou se tornando uma das vozes (e das imagens) mais reconhecíveis do Brasil. A caminho de completar 50 anos de carreira, em 2025, Fafá de Belém, hoje com 67 anos, aproveita para fazer um balanço — mas não descansa.

— Eu fiz uma carreira na qual eu me orgulho de todos os momentos. Os momentos populares, os momentos estranhos, os momentos malucos, os momentos de rock... Em tudo, era eu que estava ali — analisa Fafá, que, depois de passar por Belém com a “Sinfonia dos dois mundos”, escrita por Dom Hélder Câmara (uma obra, diz ela, “atonal e dissonante”), chega sexta-feira ao Vivo Rio com o show “Fafá, a filha do Brasil”. E depois volta para São Paulo, onde dia 11 será homenageada pela escola de samba Império de Casa Verde com o enredo “Fafá, a cabocla mística em rituais de floresta”.

— Casa Verde é o bairro mais preto de São Paulo. No ensaio, na hora que entra o “Emoriô”, as matrizes africanas todas gritam. Foi ideia da escola que tivesse essa música no meio do samba — conta a cantora, que em agosto recebeu o convite para participar da homenagem que seria prestada a ela. — O Leandro (Barboza, carnavalesco) e o Tiago (Freitas, enredista) fizeram uma pesquisa gigantesca não só sobre o Pará, mas sobre toda a cultura popular amazônica. A gente fez o primeiro ensaio de avenida e foi muito emocionante, é muito bom poder contar a minha história em vida.

Lançada por Fafá em seu primeiro compacto, em 1975, “Emoriô” (composição de Gilberto Gil e João Donato) era uma canção que estava perdida na história da própria cantora, responsável por gravações muito populares como as de “Nuvem de lágrimas”, “Vermelho”, “Meu disfarce”, “Bilhete” e “Foi assim”. Em 2020, um remix do DJ Zé Pedro e Ubuntu jogou luz sobre a música que, no ano passado, ganhou um remix do duo francês Trinix e explodiu no TikTok, ajudado por um vídeo feito pela neta da cantora (“achei engraçado aquele negócio pula-pra-frente-pula-pro-lado-pula-pro-outro”).

Olympia de Paris

O resultado é que hoje “Emoriô” é a música de Fafá com mais plays no Spotify — e a que a levou ser convidada pelo Trinix para se apresentar no próximo 24 de março no Olympia de Paris.

— (Quando lançamos) era a música favorita do Silvio Santos — recorda-se Fafá, que chegou a mandar uma mensagem para João Donato (que morreu em julho) para falar do sucesso com o Trinix. — Ele me chamava de panda, né? Falei: “Olha só, a pandinha aqui está nervosíssima pra gente arrebentar na Europa!” Mas ele já estava doente.

As comemorações do Fafá 50 anos, segundo a cantora, começaram em agosto, com a estreia do show “Sob medida — Nany canta Fafá”, da comediante trans Nany People —, o que reavivou sua longa ligação com o público LGBTQIAPN+ (em 1988, Fafá organizou no Scala, extinta casa de shows do Rio, um show de drag queens em protesto contra assassinatos de travestis na Lapa).

A programação de homenagens segue nos próximos meses com uma biografia descontraída, a ser escrita pelo amigo e DJ Zé Pedro; outra biografia “mais séria”; um documentário dirigido por Marcos Fernando (“são dez olhares sobre Fafá de Belém”, adianta); e o filme de ficção “Garota do Norte”, inspirado em sua trajetória. E, no fim de 2025, ela faz um show retrospectivo.

— Fafá de Belém não queria ser artista. Por isso, o é. É o que podemos chamar de predestinação — acredita Zé Pedro. — E vou além: jamais quis ser cantora, talvez sabedora de que a varinha mágica do carisma a levaria indiscutivelmente ao sucesso em qualquer área de atuação. E assim ela vive: sem amarras, apaixonada pela vida e popular. Não é pra qualquer um.

Na trilha das trilhas

Como artista, Fafá nasceu em 1975, na novela “Gabriela”, cantando “Filho da Bahia”. Ela estava em Salvador, onde tinha ido passar três semanas e acabou ficando três meses (“fui parar na casa de Caymmi, de Jorge Amado, saí no Bloco do Jacu, conheci todo mundo”), quando o produtor Roberto Santana ligou dizendo que ela tinha que ir para o Rio.

— A Maria Creuza tinha ficado doente, e precisavam de uma mulher para cantar uma música que já estava escolhida, do Walter Queiroz. Roberto me disse: “Vem embora pra gravar a música de Waltinho”, que aliás eu já cantava no meu show — conta ela, recordando-se de que competia com cantoras já estabelecidas e, batido o martelo pelo então diretor-geral da TV Globo, Boni, este teria dito: “Coloca lá na guia de rótulo: ‘A menina que ninguém sabe de onde vem nem quem é’!”. — Nunca mais parei.

A história de Fafá de Belém nas trilhas de novelas vai longe. Foram 65 faixas (“algumas repetidas, como ‘Que me venha esse homem’, que esteve em duas novelas simultâneas, uma no SBT outra na Band”, gaba-se). A mais recente foi em 2022, quando sua gravação de “Revelação” tocou em “Todas as flores” (“caí sentada, porque ela entrou numa cena fortíssima, do Fábio Assunção!”). É uma história que Fafá contou na primeira de suas 32 lives feitas na pandemia, e que a levou a montar o show “Fafá, a filha do Brasil”, convidando Gustavo Gasparani para assinar repertório e direção.

— Quando ela me chamou para fazer um show de temas de novelas, ignorantemente eu pensei: “Ih, deve ser um monte de baladas românticas!” Mas, quando vi, tinha cada autor, cada música... Tinha todos os ritmos, todos os gêneros da música popular brasileira, coisas espetaculares — conta Gustavo, que se fartou e deixou para o bis “o filé-mignon” dos baladões.

Contra a escatologia

Fafá não esquece das pedradas que recebeu quando começou a gravar canções como “Memórias”, de Leonardo Sullivan (“Um crítico falou o seguinte: ‘ela agora nos abandonou e se entregou ao brega’. Era como se tivessem me amarrado e chamado o atirador de facas, fiquei muito mal!”). Mas hoje se sente à vontade para fazer suas críticas ao que considera estar muito errado na música popular brasileira.

—Uma coisa é o posicionamento da mulher a favor do empoderamento. O que, na boa, não dá para ver é a mulher cantando de quatro, com o rabo jogado para plateia. Nunca fui careta, sou muito curiosa, mas para mim não dá. E mais ainda pessoas com talento cantando letras escatológicas. Um dia desses eu estava num lugar em que tocava um monte de batidão engraçado. E aí entra uma coisa que era “mete, mete, toma, toma, vem, cá, novinha, bota, bota, abre, abre...” Queísso! — indigna-se.

Admiradora de Ludmilla, Luísa Sonza (“só não gosto dos excessos dela, e escrevo para ela dizendo isso!”), Juliana Linhares, Duda Beat, João Gomes e Jão (ídolo de sua neta), Fafá acrescenta:

— Para mim, a consciência que se deve ter é a de que o que sai da tua boca entra em milhares de ouvidos. Vivemos num mundo machista, caricato, odioso. Você tem que saber que tem crianças de 6 anos que não estão prontas para cantar isso.

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