Veja quais armas o Ocidente tem fornecido à Ucrânia e como elas chegam até o destino | Ucrânia e Rússia | G1

Guerra na Ucrânia

Por Fernanda Berlinck, Sarah Resende, g1


A invasão da Ucrânia pela Rússia expôs ao mundo um confronto direto entre os dois países sem data para terminar. Mas, nas entrelinhas do conflito, desenha-se uma disputa que envolve, também, importantes potências do Ocidente, como os EUA, e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança que justamente tem papel sensível na disputa. Apesar de a Ucrânia não ser um membro do bloco, ela é um considerada um "país parceiro" — e essa aproximação desagrada à Rússia.

Forças do Ocidente têm fornecido armamentos à Ucrânia, mas sem o intuito, pelo menos por ora, de entrar em confronto direto com forças russas (entenda aqui por que os Estados Unidos não entram na guerra contra a Rússia).

A corrida também é contra o tempo, já que rotas de abastecimentos, que ainda estão abertas e ajudam a chegar até a Ucrânia, podem ser fechadas a qualquer momento.

Um membro do serviço ucraniano descarrega a ajuda militar da Lituânia, incluindo mísseis antiaéreos Stinger, entregue como parte do pacote de suporte de segurança para a Ucrânia, no Aeroporto Internacional Boryspil, nos arredores de Kiev, Ucrânia, em 13 de fevereiro de 2022 — Foto: REUTERS/ Valentyn Ogirenko

Estratégia de entrega e distribuição do armamento

Um dos principais desafios é desenvolver estratégias de como entregar as remessas de forma segura e sem se envolver diretamente. Logo no início do conflito, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou com "consequências jamais vistas" para quem interferir em suas intenções militares.

"Quando tem guerra, as armas são distribuídas de forma camuflada. Por exemplo, uma ambulância – o que torna o trabalho da ambulância perigoso. Há críticas de que russos estão atacando civis ou forcas da Cruz Vermelha Internacional. Pode ser que haja distribuição por vias protegidas, ou até os próprios médicos se recusem a transportar para não entrar no combate", analisa Vitelio Brustolin, professor do INEST, da Universidade Federal Fluminense, e pesquisador de Harvard.

A principal fronteira usada até agora é a da Polônia, país que faz parte da Otan e está recebendo a maior parte de refugiados da Ucrânia.

"A maior parte dos armamentos chega via Polônia. A Eslováquia não quis entrar diretamente nisso, e tem uma questão geográfica também que é a região montanhosa, que dificulta a entrega por terra. Seria muito arriscado a entrega por ar", afirma Brustolin.

Segundo o jornal "The New York Times", em menos de uma semana, EUA e Otan enviaram mais de 17 mil armas antitanque, incluindo mísseis Javelin, por Polônia e Romênia. O material bélico foi descarregado de aviões militares para poder chegar até Kiev e outras grandes cidades por terra.

"Até onde sabemos, as armas chegam via terrestre pela fronteira com a Polônia", comenta Brustolin. Outras vias, como a ferroviária, até podem ser usadas para transporte de armas, mas ainda não há informações sobre isso. "Os trens saem carregados de gente e voltam vazios. Seria possível colocar nos trens? Seria, mas isso é especulação."

Míssil antitanque Javelin

Membros do serviço das Forças Armadas da Ucrânia disparam um míssil antitanque Javelin durante exercícios em um campo de treinamento em um local desconhecido na Ucrânia. A imagem foi divulgada em 18 de fevereiro de 2022. — Foto: Serviço de Imprensa da Operação das Forças Conjuntas Ucranianas / Divulgação via REUTERS

Mesmo com pedidos por mais ajuda, a velocidade com que as armas chegam à Ucrânia impressiona: em 25 de fevereiro, o presidente dos EUA, Joe Biden, instruiu o Departamento de Estado do país a liberar até US$ 350 milhões em armamentos para o país invadido.

Em um memorando ao secretário de Estado, Antony Blinken, Biden ordenou que o dinheiro, alocado através da Lei de Assistência Estrangeira, fosse direcionado para a defesa da Ucrânia — o que aconteceu em cinco dias, segundo o "NYT". Para efeito de comparação, em agosto de 2021, os EUA anunciaram um pacote de armas de US$ 60 milhões, mas a transferência não foi concluída até novembro do mesmo ano.

A principal arma enviada pelos EUA é o míssil antitanque Javelin, que um soldado dispara apoiado no ombro. O míssil tem um metro de comprimento — é pequeno, mas tem capacidade para destruir um tanque. Cada míssil custa o equivalente a RS 400 mil.

O sistema portátil de mísseis Javelin é considerado a arma antitanque mais moderna do mundo. Ele pode atingir alvos – como veículos blindados ou bunkers — a mais de 2 quilômetros de distância. Os mísseis Javelin podem também destruir tanques pesados, atingindo a parte superior do blindado, que é geralmente a mais frágil.

"O ataque é por cima. E, como os blindados são reforçados na frente e nas laterais para se defender de outros blindados, então quando é usado, ele destrói o veículo", diz Brutolin.

O professor explica também que não existe uma precisão em números ainda, mas "há quem diga que a eficácia do Javelin está em 92%".

Míssil Stinger

A ajuda militar da Lituânia, incluindo mísseis antiaéreos Stinger, entregue como parte do pacote de apoio de segurança para a Ucrânia, é descarregada de um avião 17 Globemaster III no Aeroporto Internacional Boryspil, nos arredores de Kiev, Ucrânia, em 13 de fevereiro de 2022 — Foto: REUTERS/Valentyn Ogirenko

No fim de fevereiro, poucos dias após o início dos conflitos, a Holanda disse que forneceria 200 mísseis Stinger. Quem também informou que cederia míssil do mesmo tipo foi a Alemanha — a promessa inicial era de 500 unidades e, além da quantidade, a decisão tem um peso histórico, já que quebra uma tradição que o país mantinha desde o fim da Segunda Grande Guerra de não enviar armamentos para zonas de conflitos.

O míssil terra-ar Stinger é uma arma de origem americana, que se espalhou do Afeganistão por todo o Oriente Médio e Norte da África. Dados pelos americanos aos guerrilheiros afegãos que combatiam a invasão soviética nos anos 1980, os Stinger derrubaram os poderosos helicópteros de ataque do Exército Vermelho.

O Stinger pode ser transportado e operado por um homem só, que o dispara do ombro e sua principal vantagem é ser do tipo "atire e esqueça", já que ele busca o alvo sozinho, através de sensores infravermelhos, que detectam o calor do motor de aeronaves voando baixo e num raio de até oito quilômetros de distância.

Mísseis Grom e NLAW

Um novo membro das Forças de Defesa Territoriais treina para operar um lançador antitanque NLAW durante exercícios militares em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia, em Kiev, Ucrânia, em 9 de março de 2022. — Foto: REUTERS/Valentyn Ogirenko

Antes de a guerra começar, o Reino Unido fornecia mísseis NLAW, que vêm dos estoques britânicos. Eles funcionam de forma semelhante ao Javelin, mas com um alcance menor.

Já a Polônia enviava para os ucranianos uma arma guiada por calor, o Grom, que pode atingir aeronaves a uma distância de até 3 quilômetros.

Segundo Mykola Bielieskov, do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Kiev, organização que assessora o presidente ucraniano em questões de segurança, mísseis como o Grom e o Stinger dariam "trabalho extra" para tropas russas.

"Esses mísseis que podem ser lançados por apenas um soldado são muito úteis, porque tornam os ataques aéreos russos menos eficazes. Mesmo empregados em grande número, não se poderia abater todos os jatos e helicópteros russos, mas a Rússia pagaria um preço mais alto por um ataque."

Jatos MIG-29

[ARQUIVO] O piloto do MiG-29 da Força Aérea Polonesa Adrian Rojek se apresenta durante o Radom Air Show em um aeroporto em Radom, Polônia, em 23 de agosto de 2015. — Foto: REUTERS/Kacper Pempel/File Photo

A Polônia disse que está pronta para mobilizar todos os seus jatos MIG-29, um tipo de avião de combate, para a Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, e colocá-los à disposição dos EUA. O Ministério das Relações Exteriores da Polônia também pediu aos outros membros da Otan que possuem aviões desse tipo que façam o mesmo.

A Polônia está apoiando Kiev com armas defensivas, mas disse que não enviaria jatos para a Ucrânia, pois não é parte direta do conflito entre a Ucrânia e a Rússia.

"Qualquer decisão sobre a entrega de armas ofensivas deve ser tomada por toda a Otan e por unanimidade", disse o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki.

"É por isso que estamos prontos para entregar toda a nossa frota de caças a Ramstein, mas não estamos prontos para fazer qualquer movimento por conta própria porque, como eu disse, não fazemos parte desta guerra", acrescentou.

Outras ajudas

Um militar ucraniano segura uma metralhadora em uma trincheira em uma posição na linha de frente perto da vila de Travneve, na região de Donetsk, Ucrânia, em 21 de fevereiro de 2022. — Foto: REUTERS/Gleb Garanich

A Bélgica prometeu ceder 2.000 metralhadoras e 3.800 toneladas de combustível, além de enviar 300 soldados para a Romênia, um dos países que fazem fronteira com a Ucrânia, de acordo com o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander de Croo.

Já a França ainda não se posicionou sobre ceder armas ofensivas, mas decidiu enviar equipamentos militares defensivos à defesa ucraniana.

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