Jamaica Abaixo de Zero - Cinema com Rapadura

Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Jamaica Abaixo de Zero

Baseado em fatos reais, “Jamaica Abaixo de Zero” é um filme leve, divertido, mas com sérias lições de vida. Uma comédia que consegue se sobressair com méritos dentro de seu estilo, por todo um cuidado com o roteiro e uma direção eficiente. Risadas e emoção garantidas.

Jamaica, um país conhecido pelo clima extremamente quente, com um time de trenó no gelo. Uma idéia muito simples e até difícil de se imaginar uma comédia de qualidade a partir desse tema. Porém, o que tinha tudo para ser uma comédia pastelona e apelativa, conseguiu se superar através um roteiro muito bem amarrado, que consegue conquistar o espectador através de suas lições. Além, é claro, de proporcionar muitos risos com situações pouco convencionais.

Nas Olimpíadas, Irwin Flitzer (John Candy) desgraçou a si mesmo quando colocou pesos extras no seu time de trenó, fazendo com que ele tivesse de devolver sua medalha de ouro. Alguns anos depois, Derice Bannock (Leon), um jamaicano filho de um antigo amigo de Irwin, fracassa para se classificar como velocista para a prova de 100 metros nas Olimpíadas, por causa de um estúpido acidente. Mas quando Derice descobre que Flitzer também vive na Jamaica, ele decide ir para as Olimpíadas de qualquer jeito, não como um corredor mas liderando uma equipe de trenó. Após alguns problemas iniciais, é então formada a primeira equipe de trenó da Jamaica, que ruma para Calgary, Canadá, onde se realizam os Jogos de Inverno. Em uma temperatura bastante baixa, Derice, Sanka (Doug E. Doug), Junior (Rawle D. Lewis) e Yul (Malik Yoba) são zombados por todos, pois ninguém imagina que um time de trenó da Jamaica comandado por um treinador desacreditado seja sério. Mas uma equipe cheia de autoconfiança pode causar surpresas nos Jogos que estão por vir.

Imaginem um grupo vindo da Jamaica, país conhecido pelo seu clima extremamente quente, tentando a sorte em uma corrida de trenós, sem sequer nenhum deles ter visto neve alguma vez na vida. Tal situação com certeza geraria muitos momentos cômicos e é exatamente esse momentos que o filme consegue extrair. As dificuldades enfrentadas por eles, e até mesmo a inocência ao quererem enfrentar algo totalmente novo na vida deles, gera situação, digamos de passagem, hilárias – principalmente partindo do personagem Sanka -, muito bem desenvolvidas pelo roteiro simples, porém, preciso, de Lynn Siefert, Tommy Swerdlow e Michael Goldberg (geralmente quando muitas pessoas se metem no roteiro, não é um bom sinal), baseado em estória de Lynn Siefert e Michael Ritchie.

Até mesmo cenas de humor clichês são muito bem colocadas, pois são indispensáveis ao que o tema propõe, como o momento em que eles desembarcam do avião e têm contato com neve pela primeira vez. Não tem como não rir ao ver Sanka completamente agasalhado e resmungando. Também, o fato de eles utilizarem um trenó pra lá de acabado e vê-los treinando dentro de uma banheira (!) são motivos de diversão e, ao mesmo tempo, admiração por apresentar as dificuldades vividas pelos personagens para atingir o sonho. Claro, mostrar as trapalhadas do grupo quando ainda estão em fase de treino também faz parte, e não deixa de ser bastante divertido.

Os personagens, por mais que pareçam estereotipados, todos possuem uma profundidade. Derice, o líder, é imagem de todo jovem sonhador, que quer mostrar do que é capaz quando o mundo inteiro duvida dele. O cômico e, ao mesmo tempo, tocante, é que nenhum dos outros da equipe realmente se interessava de início pelo exótico esporte, mas apenas queriam fugir da realidade, dos problemas e viver algo diferente. Junior e Yul aparentam ser os ‘machões’, e Sanka, o palhaço, o típico personagem cômico que todo filme despretensioso exige, e está na empreitada mais pela amizade com Derice. Mesmo com os diferentes interesses, é tocante a união, a confiança mútua que os move a cumprir o objetivo. No final das contas, era a imagem deles e de uma nação em jogo. Já Irwin Flitzer, vivido pelo finado John Candy, é uma atração à parte. É impossível não olhar para a cara de gordinho simpático de Candy e não sentir uma ternura, porém, o passado do personagem e até algumas atitudes no presente fazem o expectador se manterem em dúvida sobre o seu caráter. Ele é uma peça chave para o desenvolvimento da trama, pois sem ele, o sonho da trapalhada turma nunca sairia do lugar, vendo em seu trabalho mais a possibilidade de se regenerar de seus erros, do que realmente a confiança em sua equipe.

É, caros amigos, “Jamaica Abaixo de Zero” é um filme divertidíssimo e, para quem não sabe, é baseado em fatos reais. É uma comédia com seriedade e ensinamentos empregáveis em nossa vida real. Um filme com cenas alucinantes e que nos mostra o verdadeiro espírito olímpico e esportivo. Por mais que sejam cômicas as situações vividas pelos jamaicanos, passando por muito preconceito por parte dos que não acreditavam na idéia quase que absurda de existir uma equipe de trenó no gelo da Jamaica, é simplesmente tocante ver a persistência desse grupo, que conseguiu silenciar o mundo todo por sua garra. Só sendo mesmo uma tábua para não se emocionar no clímax, quando chega o momento da tão aguardada apresentação da equipe. E vale lembrar, tudo é embalado por uma direção firme de Jon Turteltaub (“A Lenda do Tesouro Perdido”), que sabe balancear bem os climas amenos, divertidos, e as emocionantes seqüências envolvendo o trenó. Chega horas que fica impossível não se ver torcendo para o mérito dos protagonistas.

O famoso espírito olímpico e a vontade de escrever o nome de seu país na História do Esporte (por mais inusitado que seja o fato) refletem-se em um roteiro que se segura muito bem completado por uma trilha sonora envolvente e alegre. Uma lição de humildade, ideal de vida, determinação, garra e, acima de tudo, companheirismo, tudo embalado com muito humor. Um filme que merece ser visto por muitos desses esportistas que, muitas vezes, não sabem o que é o esporte praticado com paixão, honra e determinação, e visam apenas os $$. No final de contas, tudo termina em comédia mesmo, não acham?

Thiago Sampaio
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