OPEN ACCESS
LETRAS DE HOJE
Studies and debates in linguistics, literature and Portuguese language
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022
e-ISSN: 1984-7726 | ISSN-L: 0101-3335
http://dx.doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.42012
SEÇÃO: TEMÁTICA LIVRE
Henrique V: o rei vitorioso e a responsabilidade fiscal nas
peças históricas de Shakespeare
Henry V: the victorious king and the fiscal responsibility in Shakespeare’s historical
plays
Enrique V: el rey victorioso y la responsabilidad fiscal en las obras históricas de
Shakespeare
Luiz Ricardo
Cavalcante1
orcid.org/0000-0003-1894-7238
luiz.ricardo.teixeira.cavalcante@
gmail.com
André Eduardo da Silva
Fernandes2
orcid.org/0000-0001-6296-8656
andreedu@hushmail.com;
deundoarreda@gmail.com
Recebido em: 21 out. 2021.
Aprovado em: 31 maio 2022.
Publicado em: 30 set. 2022.
Resumo: Henrique V foi o rei da Inglaterra entre 1413 e 1422. Sucedeu seu pai
homônimo, que havia sido o primeiro monarca inglês da casa de Lancaster. Nas
peças históricas de William Shakespeare, retrata-se seu processo de formação
até sua coroação, nas partes 1 e 2 de Henrique IV, e sua atuação competente
e heroica (“o rei vitorioso”), em Henrique V. Foi sucedido por seu filho Henrique
VI, rei entre 1422 e 1461 e entre 1470 e 1471, cujo fracasso militar e político foi
objeto das peças de Shakespeare às quais empresta seu nome. Contudo, já no
início da parte 1 de Henrique VI, na cena do funeral do rei vitorioso, indica-se
que grande parte de suas conquistas havia sido revertida por “falta de ouro e
homens”. Argumenta-se, neste artigo, que a gestão de Henrique V, embora
retratada como vitoriosa, pode ser interpretada como irresponsável do ponto
de vista fiscal e geradora de um passivo que explica o fracasso das campanhas
militares inglesas após sua morte. Embora conectado com uma produção bibliográfica relativamente vasta sobre a relação entre a obra de Shakespeare e
a economia (TURNER, 1999; FRANCO, 2009; ARCHER, 2012), o trabalho busca
inovar ao discutir especificamente a economia do setor público e a gestão fiscal.
Palavras-chave: Shakespeare. Henrique V. Gestão. Responsabilidade fiscal.
Abstract: Henry V was king of England between 1413 and 1422. He succeeded
his homonymous father, who had been the first English monarch of the House
of Lancaster. In William Shakespeare’s historical plays, his formation process is
portrayed until his coronation, in parts 1 and 2 of Henry IV, and his competent and
heroic performance (“the victorious king”), in Henry V. He was succeeded by his
son Henry VI, king between 1422 and 1461 and between 1470 and 1471, whose
military and political failure was the subject of Shakespeare’s plays titled after
his name. However, at the very beginning of Henry VI part 1, in the scene of the
victorious king’s funeral, a messenger informs that a large part of his conquests
had been reversed by “want of men and money”. It is argued, in this article, that
Henry V’s rule, though portrayed as victorious, can be interpreted as irresponsible from a fiscal point of view, as it generated liabilities that explain the failure of
English military campaigns after his death. Although linked with a relatively vast
bibliographic production on the relationship between Shakespeare’s work and
economics (TURNER, 1999; FRANCO, 2009; ARCHER, 2012), the work seeks to
innovate by specifically discussing the public sector and fiscal management issues.
Keywords: Shakespeare. Henry V. Management. Fiscal responsibility.
Resumen: Enrique V fue rey de Inglaterra entre 1413 y 1422. Sucedió a su padre
Artigo está licenciado sob forma de uma licença
Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
1
2
homónimo, que había sido el primer monarca inglés de la casa de Lancaster.
Las obras históricas de William Shakespeare retratan su proceso de formación
hasta su coronación, en las partes 1 y 2 de Enrique IV, y su actuación competente
y heroica (“el rey victorioso”), en Enrique V. Fue sucedido por su hijo Enrique VI,
rey entre 1422 y 1461 y entre 1470 y 1471, cuyo fracaso militar y político fue el
Senado Federal, Brasília, DF, Brasil; Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Brasília, DF, Brasil.
Senado Federal, Brasília, DF, Brasil.
2/14
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022 | e-42012
tema de las obras de Shakespeare a las cuales presta
su nombre. Sin embargo, al comienzo de la parte 1 de
Enrique VI, en el escenario del funeral del rey victorioso,
se indica que gran parte de sus conquistas habían sido
revertidas por “falta de oro y hombres”. Se argumenta,
en este artículo, que la administración de Enrique V,
aunque retratada como victoriosa, puede ser interpretada como irresponsable desde el punto de vista
fiscal y generando un pasivo que explica el fracaso
de las campañas militares inglesas tras su muerte.
Aunque conectado con una producción bibliográfica
relativamente amplia sobre la relación entre la obra de
Shakespeare y la economía (TURNER, 1999; FRANCO,
2009; ARCHER, 2012), el trabajo busca innovar al discutir
específicamente la economía del sector público y la
gestión fiscal.
seus tios), passando por conflitos políticos que
Palabras clave: Shakespeare. Enrique V. Administra-
(HELIODORA, 2016f, p. 713).
ción. Responsabilidad fiscal.
atingem a própria Inglaterra, na parte 2 (quando
os conflitos políticos internos se intensificaram),
até a disputa aberta pelo trono, na parte 3. Em
resumo, a trilogia dedicada a Henrique VI retrata
a reversão das conquistas de seu pai vitorioso.
O esgarçamento do tecido político da Inglaterra
ao longo do reinado de Henrique VI é o ponto de
partida para a ascensão de Ricardo III, último rei
da casa de Lancaster e considerado o arquétipo
do “mau rei que é também um mau homem”
Analisadas em sua sequência histórica (que
não coincide com a sequência em que foram
Introdução
Henrique V nasceu em 1386 e foi o rei da
Inglaterra de 1413 até sua morte, em 1422, de
modo que toda sua vida transcorreu durante os
conflitos ocorridos entre 1337 e 1453 envolvendo
os Reinos da Inglaterra e da França, conhecidos como Guerra dos Cem Anos. Nas peças
históricas de William Shakespeare, é retratado
como competente e heroico, personificando “o
rei vitorioso”. Seu pai e predecessor, Henrique de
Bolingbroke, que mais tarde assumiria o título
de Henrique IV, foi o primeiro rei inglês da casa
de Lancaster e personifica, nas duas peças às
quais empresta seu nome, o rei ilegítimo que
se torna um bom governante. Nos termos de
Barbara Heliodora (2016a, p. 120), “Shakespeare
faz de Henrique IV um homem sempre preocupado em agir com correção, a fim de justificar
sua presença no trono”. Seu filho – rei legítimo,
pelo menos na linha sucessória imediata – seria
também o bom governante que levou a Inglaterra à espetacular vitória sobre os franceses na
batalha de Azincourt.2
O filho e herdeiro de Henrique V é retratado,
nas três peças de Shakespeare intituladas Henrique VI, como um rei incompetente, ainda que
como um homem piedoso. Sua incapacidade de
governar explicaria os sucessivos fracassos, desde a perda da França, na parte 1 (quando, durante
sua minoridade, o poder ainda era exercido por
escritas), as peças dedicadas a Henrique IV, a
Henrique V e a Henrique VI evidenciam uma
curva ascendente no início, uma inflexão após a
morte do rei vitorioso e uma curva descendente
que leva a uma crise política e ao reinado de
Ricardo III. A interpretação mais comum desses
movimentos os atribui a características pessoais
de cada rei (isto é, a suas vocações) e, no caso
específico de Henrique V, a sua formação multifacetada na juventude. Shakespeare, contudo,
tem sucessivas camadas de ambiguidade. Neste
artigo, propõe-se uma interpretação alternativa
para a trajetória dos três Henriques com base
na evolução da situação fiscal da Inglaterra. Argumenta-se, basicamente, que o sucesso de
Henrique V pode ser explicado pelas condições
favoráveis herdadas de seu pai, que buscou
reinar com rigor, e que o fracasso de Henrique
VI pode ser explicado pela herança recebida de
seu antecessor, que engendrou uma situação
fiscal insustentável e morreu antes de assistir aos
conflitos políticos dela decorrentes. Em outras
palavras, Henrique V seria um rei vitorioso porque teria herdado condições favoráveis de seu
pai e porque teria consumido mais recursos do
que poderia, deixando seu filho em uma posição
vulnerável, independentemente de sua vocação
para o governo.
É evidente que a racionalização da gestão, de
modo geral, e as medidas de responsabilidade
Adota-se, neste trabalho, a grafia “Azincourt”. Nas citações diretas, manteve-se a grafia eventualmente divergente usada por outros
autores (“Agincourt”).
2
Luiz Ricardo Cavalcante • André Eduardo da Silva Fernandes
Henrique V: o rei vitorioso e a responsabilidade fiscal nas peças históricas de Shakespeare
3/14
fiscal, em particular, não eram familiares a Shakes-
exceção de eventuais citações a episódios histó-
peare, até porque não existiam em sua época,
ricos centrais (como a batalha de Azincourt) que
pelo menos nos termos em que são analisadas
fazem parte da trama. O artigo está segmentado
hoje em dia. Desse modo, ainda que o conceito
em mais três seções. Na segunda seção, descre-
weberiano de dominação de caráter racional/
vem-se brevemente os arquétipos de Henrique
legal (em contraposição aos conceitos de do-
IV, de Henrique V e de Henrique VI. Na terceira
minação de caráter tradicional e de dominação
seção, desenvolve-se o argumento central ao
de caráter carismático) seja do início do século
se discutirem as heranças recebida e deixada
XX (WEBER, 2015), argumenta-se, neste trabalho,
por Henrique V. Finalmente, na quarta seção,
que esses elementos podem ser identificados
reúnem-se as considerações finais do artigo.
nas peças de Shakespeare que tratam dos três
Henriques. Especificamente quanto à gestão
fiscal, pode-se afirmar que a rainha Elizabeth I –
sob cujo reinado Shakespeare escreveu praticamente todas suas peças históricas, com exceção
de Henrique VIII – sempre esteve preocupada
com o financiamento do Estado, principalmente
das campanhas militares. O período posterior à
derrota da “Invencível Armada”, em 1588, criou
dificuldades adicionais que se estenderam pelos
últimos quinze anos de seu reinado: os conflitos
com a Espanha e a Irlanda se arrastaram, houve
aumentos de tributos e a economia foi atingida
por colheitas ruins e pelos custos das guerras.
Desse modo, embora não se falasse em “responsabilidade fiscal” na época de Shakespeare,
o tema não lhe era completamente estranho.
A argumentação desenvolvida neste trabalho
apoia-se nos arquétipos que se pode extrair
das peças de Shakespeare; não há, portanto, a
pretensão de analisar a trajetória efetivamente
seguida pelos reis (que muitas vezes diverge da
forma como são retratados nas peças). Quanto a
isso, a historiografia moderna tem deixado claro
que muitos personagens reais retratados por
Shakespeare não correspondem à visão que se
pode extrair das pesquisas mais recentes. Esse é
o caso, por exemplo, de Ricardo III. Ainda assim, o
trabalho de Shakespeare é de tal forma persuasivo que sua “versão” para diversos personagens
históricos é considerada verdadeira mesmo por
muitos ingleses. É sobre essa versão que se
apoiam os argumentos aqui apresentados, com
1 Os arquétipos de Henrique IV, de
Henrique V e de Henrique VI
Os dramas históricos de William Shakespeare
tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da literatura política inglesa. Sua primeira
tetralogia histórica, escrita ainda no início de sua
carreira, é formada pelas partes 1, 2 e 3 de Henrique VI e por Ricardo III. Vistas em seu conjunto,
essas peças tratam da luta pelo poder durante a
Guerra das Rosas, em que as casas de Lancaster
e de York disputavam o trono da Inglaterra. Mais
tarde, no período anterior à criação de suas tragédias, Shakespeare retoma a história anterior ao
reinado de Henrique VI com a tetralogia formada
por Ricardo II, pelas partes 1 e 2 de Henrique IV e
por Henrique V. Esse último conjunto contextualiza
a tragédia – no sentido derivado do termo – que
foram os governos de Henrique VI e de Ricardo III.
Essas duas tetralogias são consideradas seus
principais dramas históricos, embora Shakespeare tenha escrito também Rei João, no início da
década de 1590, e, já no reinado de Jaime I, no
final de sua carreira, Henrique VIII.3 Colocadas
em sua verdadeira ordem histórica, as duas tetralogias cobrem um ciclo completo que vai de
Ricardo II até Ricardo III. Porém, é nas chamadas
“sagas henriquinas” das tetralogias que se pode
desenvolver um ciclo histórico e político mais
claro: Henrique IV consolida o poder para a casa
de Lancaster, centraliza a riqueza e governa com
rigor; Henrique V personifica o rei-herói romantizado em seu carisma, em sua valentia e em suas
3
Henrique VIII pode ser considerada uma espécie de continuação da primeira tetralogia (após Ricardo III), concluindo a sequência dos
dramas históricos de Shakespeare. É razoável supor que, ao evitar escrever sobre eventos contemporâneos, Shakespeare pretendesse
contornar algum tipo de mal-estar com os detentores do poder.
4/14
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022 | e-42012
conquistas; e Henrique VI, retratado como um
Shakespeare criou personagens multifacetados
bom cristão, mas não como um bom governante,
que admitem – tal como se propõe neste trabalho
leva a casa de Lancaster à decadência. Desse
– associações com múltiplos arquétipos.
modo, as sagas henriquinas tratam, conforme
É com base nos atributos que Shakespeare
resume Barbara Heliodora, da luta pelo poder
lhes confere – e não necessariamente nos fatos
no período da Guerra das Rosas, da forma como
históricos, sobre os quais a percepção moderna
o poder afeta aqueles que o detêm e de como
é, em muitos aspectos, diversa daquela que pre-
isso se reflete na qualidade do governante (HE-
valecia na época em que as peças foram escritas
LIODORA, 2016a, p. 118).
– que se resumem, nesta seção, os arquétipos
Em seus dramas históricos, Shakespeare
dos reis que intitulam as sagas henriquinas.
demostra a capacidade de, com base em sua
Na literatura, os arquétipos podem ser de-
abordagem poética e literária da linguagem e da
finidos como símbolos ou imagens repetidas
teatralidade, formatar a história da Inglaterra de tal
que carregam o mesmo significado em diversas
sorte que, mesmo hoje em dia, seus personagens
épocas e culturas. Meletínski (1998, p. 20) assinala
mantêm um sentido de realidade que os leva a
que “o conceito de ‘arquétipos’ foi introduzido
substituir, no imaginário coletivo, os próprios fatos
na ciência contemporânea pelo fundador da
e características registrados historicamente. No
psicologia analítica K. G Jung”. Trata-se de um
caso de Ricardo III, por exemplo, Shakespeare
conceito complexo que envolve interações entre
acabou definindo-o como alguém feio, corcunda
psicologia, mito e literatura, análogo às “repre-
e perverso, e essa tornou-se a visão dominante
sentações coletivas” de Durkheim, às “ideias a
da maioria dos ingleses, independentemente
priori” de Kant e aos “modelos de comporta-
das evidências históricas. Henrique V, por sua
mento” dos behavioristas.4 Neste trabalho, os
vez, é transformado por Shakespeare em um rei
arquétipos correspondem a personagens típicos
herói na linha de construção mítica dos Tudor,
que parecem representar padrões humanos (ou,
que detinham o trono inglês na ocasião em que
no caso específico, de indivíduos que exercem
o drama foi escrito.
funções políticas e de liderança) universais e
É claro que os personagens refletem, em linhas
gerais a percepção e as narrativas históricas às
quais Shakespeare teve acesso. Nos termos de
Greenblat (2011, p. 170),
Shakespeare estava dramatizando coisas que
tirava das crônicas – ele normalmente garimpava nesses livros, em especial The union of
the two Noble and illustre Families of Lancaster
and York, de Edward Hall, e The Chronicles of
England, Scotland and Ireland, de Raphael
Holinshed, para obter material para suas peças
históricas.
que, portanto, podem ser comparáveis ao que
se observa em outros contextos.
Nas obras de Shakespeare, os personagens
têm múltiplos nuances e há diversas possíveis
abordagens daquilo que simbolizam do ponto
de vista humano ou político. Personagens complexos muitas vezes estão associados, inclusive,
a múltiplos arquétipos (basta considerar que
Hamlet pode ser o herói trágico, o jovem inocente
ou o príncipe em conflito, por exemplo). Nesse
trabalho, resgatam-se apenas os arquétipos
Publicadas pela primeira vez em 1577, as Crô-
mais comuns associados aos três Henriques.
nicas de Holinshed serviram de referência não
Esses arquétipos são razoavelmente consen-
somente para os dramas históricos, mas também
suais nas análises das obras de Shakespeare:
para as tragédias Macbeth e Rei Lear. Contudo,
estão presentes em artigos acadêmicos (RABKIN,
embora amparado em referências da época,
1977), em cursos sobre as obras de Shakespeare
como o de Peter Saccio (William Shakespeare:
4
Os arquétipos são também um conceito conexo aos “estereótipos”. Contudo, em oposição aos arquétipos, que têm um caráter universal, os estereótipos são “culture specific” (KIDD, 2016, p. 26). Desenvolvido por Lippmann (1922), esse conceito é utilizado para explicar
como as pessoas são influenciadas e atribuem significados a mensagens mediadas. Estereótipos seriam, desse modo, “mapas mentais”
que auxiliam na compreensão de grupos e de indivíduos (KIDD, 2016, p. 26).
Luiz Ricardo Cavalcante • André Eduardo da Silva Fernandes
Henrique V: o rei vitorioso e a responsabilidade fiscal nas peças históricas de Shakespeare
5/14
Comedies, Histories, and Tragedies), em sínteses
o título de Henrique V. Henrique IV é retratado
ilustradas (The Shakespeare Book) e nas intro-
como um bom rei, embora sua legitimidade seja
duções às traduções em português das obras
permanentemente questionada. Shakespeare o
de Shakespeare de Barbara Heliodora (2016a,
associa a “um homem sempre preocupado em
2016b, 2016c, 2016d, 2016e, 2016f). Há, contudo,
agir com correção, a fim de justificar sua presença
visões contramajoritárias, a mais disseminada das
no trono” (HELIODORA, 2016a, p. 120). Em paralelo,
quais é possivelmente aquela de Harold Bloom
as peças tratam das interações de seu filho Hal
(1998a), cujas análises de Shakespeare tendem
com Falstaff (que lhe permite um contato mais
a ser, a um só tempo, apologéticas e originais.
próximo com o povo), com Hotspur (que lhe
Eventuais visões desse tipo são também breve-
garante uma formação militar) e com o próprio
mente mencionadas nesta seção.
Henrique IV (que lhe proporciona uma formação
legal ou administrativa). Nesse sentido, as partes
1.1 Henrique IV
Henrique de Bolingbroke é um personagem
relevante da peça Ricardo II, que, considerando
o fluxo dos eventos históricos, precede o período de seu reinado. Shakespeare o retrata como
alguém envolvido em uma disputa com Thomas
Mowbray (que, assim como Henrique de Bolingbroke, detém o título de duque). Atuando como
árbitro, Ricardo II sentencia os dois querelantes
ao exílio e, mais adiante, confisca os bens que
seriam herdados por Bolingbroke. Ao violar direitos preestabelecidos e, em última análise, ao
colocar em xeque a hereditariedade, Ricardo II
perde o apoio da nobreza, que, sob a liderança
do próprio Henrique de Bolingbroke, o depõe.
De modo geral, assume-se que Henrique, ao
ascender ao trono como o primeiro rei da casa de
Lancaster, o fazia em resposta ao comportamento inadequado de Ricardo II, e não por ambição
pessoal. Carente de legitimidade e incapaz de
impor unilateralmente suas escolhas, Henrique
IV é descrito por Barbara Heliodora como seco e
severo, “mas com dedicação inabalável à Inglaterra e ao bem estar de seu povo” (HELIODORA,
2016g, p. 955). Rabkin (1977, p. 281) contrapõe
Ricardo II a Henrique IV de forma clara: “the un-
1 e 2 de Henrique IV também amparam a visão
sobre a formação de um rei “completo”, isto é,
capaz de deter os vários requisitos necessários
para liderar a Inglaterra e, ao contrário de seu
pai, dispor da legitimidade decorrente de ter
herdado a coroa (e não se apropriado dela). Mais
uma vez, Rabkin (1977, p. 281) resume de forma
precisa: “Henry IV moves the question to a new
generation, asking in effect whether the qualities
split between Richard and Bullingbrook can be
united in Hal. And in the manner of a comedy,
it suggests optimistically that indeed they can”.
Assim, apesar de bem-sucedido na pacificação
do reino, Henrique IV está longe de ser o personagem que mais atrai a atenção nos dramas aos
quais empresta seu nome. O foco da maior parte
das análises recai sobre Falstaff e sua relação com
Hal, e não sobre o personagem-título. Harold
Bloom, por exemplo, dedica o longo capítulo que
escreveu sobre Henrique IV em seu Shakespeare:
the invention of the human, praticamente a Falstaff (BLOOM, 1998a, p. 271-318). Falstaff cresceu
de tal forma que passou a eclipsar os demais
personagens, embora mais adiante tenha sido
eliminado para que fosse possível construir a
figura do “rei-herói”.
resolved thematic issue at the end of Richard II is
the conflict of values embodied in the two kings
who are its protagonists: Bullingbrook’s´talent as
opposed to Richard’s legitimacy [...]”.
1.2 Henrique V
Henrique V reinou entre 1413 e 1422 e levou a
Inglaterra à espetacular vitória sobre os franceses
As partes 1 e 2 de Henrique IV tratam não
na batalha de Azincourt. A peça que leva seu
somente da consolidação do poder do rei que
nome aponta para duas interpretações conflitan-
lhes empresta o nome, mas também da forma-
tes. De um lado, uma celebração nacionalista; de
ção de seu filho Hal, que mais tarde assumiria
outro, uma visão trágica ou irônica dos horrores
6/14
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022 | e-42012
da guerra. Rabkin (1977) a associa a uma gravura
nome. Com efeito, quer se leia Henrique V como
em que, no mesmo desenho, se pode reconhecer
uma exaltação do espírito nacional, quer se leia
tanto um coelho quanto um pato. Assim, Henrique
como uma denúncia dos horrores da guerra, seu
V admitiria as duas interpretações simultâneas,
personagem principal é percebido como heroico
a depender do olhar que se lance sobre a peça.
e carismático. Embora implacável (por exemplo,
De todo modo, desde o início o rei revela uma
ao condenar Bardolph à morte), o rei é um ora-
espécie de obsessão pela “questão francesa”, que
dor persuasivo, um líder militar e um amante
o leva aos preparativos para as ações de guerra.
habilidoso (ao cortejar a princesa Catarina). Na
Em sua época, Henrique V era considerada uma
verdade, duas características de Henrique V são
peça nacionalista. Escrita aproximadamente uma
destacadas na obra: seu “amadurecimento”, que
década após a tentativa fracassada de invasão
o leva a rejeitar seu passado com Falstaff (já que
espanhola pela “Invencível Armada”, e ainda no
a figura de um rei-herói não se coaduna com a
período Elizabetano, foi a última peça das duas
apresentação de Henrique V nas partes 1 e 2 de
tetralogias shakespearianas, constituindo-se
Henrique IV) e sua capacidade de persuasão, es-
no ápice da tentativa de se construir a figura do
pecialmente quando ele, pouco antes da batalha
rei-herói.
de Azincourt, dirige-se a seus comandados em
A filmagem feita por Lawrence Olivier durante
a Segunda Guerra Mundial é a apropriação mais
explícita da obra como uma ode ao potencial
vencedor inglês em uma guerra. Produzido em
um contexto marcado pela oposição inglesa ao
nazismo, o filme de 1944 negligenciou algumas
um dos trechos mais memoráveis da obra de
Shakespeare:
De pai para filho irá nossa história;
E nunca mais Crispim Crispiniano,
Desde este dia até o fim dos tempos,
Há de passar sem nós sermos lembrados.
das ações mais vis de Henrique V (como condenar
Só nós, bando feliz, poucos irmãos,
à morte seu antigo companheiro de juventude)
Pois o que vai sangrar hoje comigo
para retratá-lo como uma figura heroica e um rei
É meu irmão, pois quem for mal nascido
justo (THE SHAKESPEARE..., 2015, p. 166). Mistificando seu papel de líder militar e negligenciando
sua responsabilidade moral, política ou financeira
sobre os impactos da guerra, a versão cinematográfica de Olivier sobre Henrique V claramente
Será fidalgo só por este dia.
E os fidalgos ingleses que hoje dormem
Vão maldizer não ter estado aqui
E ter vergonha quando ouvirem falar
O que lutou no dia de São Crispim
(SHAKESPEARE, 2016, p. 439).
reforça seu caráter nacionalista.
Uma outra forma de interpretar a peça pressu-
Harold Bloom, a propósito desse discurso,
põe que a obra seria uma espécie de denúncia
argumenta que “neither we nor he [the king]
dos horrores da guerra. A versão cinematográfica
believes a word he says” (BLOOM, 1998a, p. 320).
de Kenneth Branagh, lançada quase meio século
Contudo, tanto Lawrence Olivier como Kenneth
depois da de Lawrence Olivier, reflete uma outra
Branagh, apesar de suas diferentes visões sobre
percepção social sobre guerras e sobre naciona-
a peça, parecem indicar que o personagem es-
lismo, assumindo um caráter bem mais sombrio,
taria sendo efetivamente sincero ao exortar suas
particularmente marcado pelas ásperas cenas
tropas a lutar.6 Qualquer que seja a interpretação,
de guerra (THE SHAKESPEARE..., 2015, p. 168).5
porém, não se questiona a atuação competente
Contudo, a ambiguidade da peça não implica
e heroica de Henrique V, que personifica “o rei
a ambiguidade do personagem que lhe cede o
vitorioso”. Mesmo visões mais críticas sobre o rei
5
Corrobora a percepção de Branagh a dificuldade de se imaginar que alguém que poucos anos mais tarde escreveria Troilus e Créssida, uma crítica cínica e ácida do comportamento dos heróis na guerra, pudesse ter uma visão simplesmente ufanista em Henrique V.
6
Essas cenas estão disponíveis no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=x26GN6rQbZI e https://www.youtube.com/watch?v=y1BhnepZnoo. Acesso em: 8 jul. 2022. O trecho “we few, we happy few” foi, inclusive, ecoado por Winston Churchill em um discurso em
que destaca o quanto a Inglaterra devia aos poucos pilotos que atuaram na batalha da Grã-Bretanha em 1940.
Luiz Ricardo Cavalcante • André Eduardo da Silva Fernandes
Henrique V: o rei vitorioso e a responsabilidade fiscal nas peças históricas de Shakespeare
reconhecem essas características:
7/14
Hão de chorar com seus olhos de velhos,
Como hão os de viúvas e órfãos –
He was a hero, that is, he was ready to sacrifice his own life for the pleasure of destroying
thousands of other lives… How then do we like
him? We like him in the play. There he is a very
amiable monster, a very splendid pageant…
(HAZLITT apud BLOOM, 1998a, p. 320).7
Pais por filhos, viúvas por maridos,
Órfãos por morte precoce dos pais –
Pra lamentar a hora em que nasceste
(SHAKESPEARE, 2016, p. 827).
É o prenúncio do que viria a ser o reinado de
Ricardo III, retratado por Shakespeare como mau
1.3 Henrique VI
Nas peças que levam seu nome, Henrique
homem e mau rei, constituindo-se, talvez, em um
dos maiores vilões de sua vasta galeria.
VI é retratado, de modo geral, como um bom
homem (no sentido de um homem piedoso),
mas incapaz de reinar. O próprio personagem
declara não desejar a coroa: “nunca um súdito
já quis tanto ser rei quanto eu desejaria ser só
súdito” (SHAKESPEARE, 2016, p. 691). Trata-se de
um personagem que se mostra um rei inseguro,
pouco pragmático e muito influenciável, mais
interessado em assuntos de religião do que de
governo.
Vistas em seu conjunto, as partes 1, 2 e 3
do Henrique VI ilustram o fracasso militar do
personagem-título e “o desastre que foi para a
Inglaterra e, principalmente, para os ingleses, a
total incompetência do rei” (HELIODORA, 2016h,
p. 477). Na parte 1 – que começa na minoridade
de Henrique VI –, as conquistas de seu pai na
França são revertidas; na parte 2, o rei precisa
enfrentar rebeliões dentro da própria Inglaterra;
na parte 3, por fim, a coroa muda de mãos por
duas vezes até que o rei, apunhalado por aquele
viria a assumir o título de Ricardo III, morre. Seu
reinado tumultuado foi, na verdade, descontínuo:
Henrique VI deteve a coroa entre 1422 e 1461 e
no curto período entre 1470 e 1471, tendo sido
sucedido, em ambos os casos, por Eduardo IV,
mais tarde sucedido por Ricardo III.
O encerramento da linhagem dos três Henriques, contudo, é precedido pela profecia que o
último deles dirige àquele que encerra a dinastia
da casa de York (isto é, a Ricardo III):
Assim profetizo: muitos milhares,
Que ignoram hoje as razões do meu medo,
2 Henrique V: entre a herança recebida
e a herança deixada
Na seção precedente, evidenciaram-se os arquétipos tradicionalmente associados a Henrique
IV, V e VI nas peças históricas de Shakespeare.
Esses arquétipos sugerem que um bom rei cuja
legitimidade é questionada é sucedido por um
rei heroico, carismático e vitorioso. O desfecho
das sagas henriquinas, contudo, é trágico, porque
Henrique V é sucedido por alguém que, embora
caracterizado como um bom homem, se mostra
incapaz de reinar. Desse modo, os movimentos de ascensão e de queda são atribuídos a
características pessoais de cada um dos três
Henriques. Nesta seção, argumenta-se que as
vitórias obtidas por Henrique V se apoiaram na
gestão de seu pai e predecessor (Henrique IV) e
geraram um passivo que contribui para explicar
o fracasso de seu filho e sucessor (Henrique VI).
Novas percepções sobre Shakespeare e sua
obra são recorrentes, especialmente a partir do
século XX. A esse respeito, Saccio (1999) destaca
que diferentes gerações interpretaram Shakespeare de acordo com seus próprios interesses.
Por exemplo, perspectivas acadêmicas relevantes nas décadas de 1940 e 1950 o enxergavam
como “a conservative figure” que defendeu “the
Elizabethan world picture” (TILLYARD, 1959). Suas
peças mostrariam conflitos resultantes do rompimento de uma ordem rígida e hierarquizada do
mundo que somente seriam resolvidos quando as
coisas retornassem a sua ordem natural. Outros
“Foi um herói, isto é, estava disposto a sacrificar a própria vida pelo prazer de destruir milhares de outras vidas [...]. Como é possível,
então, simpatizarmos com ele? Ele nos é simpático na peça. Lá está ele, um monstro tão amável, um esplêndido espetáculo [...]” (HAZLITT apud BLOOM, 1998b, p. 403).
7
8/14
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022 | e-42012
autores o veem como um defensor de ideias
temas econômicos de sua época. Esses temas
progressistas ou radicais em favor das classes
envolvem a disseminação do crédito, a moeda
menos privilegiadas ou como um feminista, por
fiduciária, o crescimento das cidades, a formação
exemplo. Perspectivas marxistas das peças de
de um mercado de massa e a “revolução dos
Shakespeare, por sua vez, destacam trechos
preços” (FRANCO, 2009, p. 38).
que parecem simpatizar com as classes menos
Mas as conexões entre a obra de Shakespeare
favorecidas (HAWKES, 2015). A presença ubíqua
e o funcionamento do sistema econômico não se
de Shakespeare na cultura moderna leva Gar-
limitam ao período histórico em que suas peças
ber (2008, p. xiv) a citar a blague “I don’t mind if
foram escritas. Grav (2008, p. 159) assinala que
something’s Shakespearean, just as long as it’s
“the advent of new economic criticism has led to
not Shakespeare”.
a number of articles exploring specific aspects
As conexões de Shakespeare com a economia
of early modern commerce and economics in
são também multifacetadas. Em linhas gerais, os
Shakespeare’s plays”. Com efeito, diversos temas
trabalhos que tratam dessas conexões adotam
econômicos estão amplamente presentes nas
duas perspectivas complementares. Por um lado,
peças de Shakespeare, razão pela qual é possível
analisa-se sua biografia para buscar compreender
usá-las para interpretar fenômenos contemporâ-
de que modo o empresário bem-sucedido lidou,
neos. Turner (1999), em um livro intitulado Shakes-
em sua época, com receitas, despesas e investi-
peare’s Twenty-First-Century Economics, discute
mentos. De outro, busca-se interpretar sua obra
um amplo leque de temas (como crescimento
para buscar estabelecer conexões entre ela e o
econômico, crédito e moeda fiduciária, por exem-
funcionamento do sistema econômico.
plo) amparado na interpretação dos dramas de
Archer (2012, p. 165) lembra que Shakespeare
Shakespeare. Carvalho (2002), por sua vez, analisa
(do mesmo modo que a maioria das pessoas
o processo decisório em condições de incerteza
de sua classe social na época) teria entendido
sob uma perspectiva pós-keynesiana usando
o termo “economia” como “gestão doméstica”
Hamlet, Macbeth e Júlio César como referências.
(“household management”) ou “oeconomy” (an-
O próprio Hawkes (2015), mencionado anterior-
glicismo para “oikonomia” em grego). Ainda assim,
mente, conecta os dramas de Shakespeare com
sua trajetória de ascensão social indica uma
a teoria marxista. Mesmo autores que afirmam,
evidente preocupação com temas econômicos
a respeito de Shakespeare, que “money simply
e com a gestão de seus empreendimentos. Isso
doesn’t matter in the vast majority of his work”
leva Archer (2012, p. 170) a concluir que, sob a
analisam sua conexão com temas econômicos
perspectiva de sua época, Shakespeare teria sido
(GRAV, 2008). Esses exemplos deixam claro que
um bom praticante da “oeconomy”. Por essa razão,
as possibilidades de associação entre a obra de
os temas econômicos tratados por ele em sua
Shakespeare e a teoria econômica são amplas
obra refletem “the key economic developments
e multifacetadas.
through which England was passing during his
Neste trabalho, em particular, o foco recai so-
lifetime” (HAWKES, 2015, p. 91). Descrições su-
bre a economia do setor público; e as eventuais
márias retratam esses movimentos como a “con-
consequências da má gestão fiscal. No sentido
solidação do capitalismo moderno” (HORWICH,
aqui adotado, a gestão fiscal diz respeito, basi-
1977), o “retrato do capitalismo quando jovem”
camente, à arrecadação de recursos pelo setor
(FRANCO, 2009) ou a “transição do feudalismo
público (por meio, em geral, de tributos) e a sua
para o capitalismo na Inglaterra” (ARCHER, 2012,
destinação pelo governo.8 A gestão fiscal, por-
p. 170-171). Pode-se encontrar, portanto, evidentes
tanto, é ao mesmo tempo a arena dos embates
conexões entre as peças de Shakespeare e os
por recursos e o espelho dos conflitos distribu-
A expressão “gestão fiscal” aplica-se também a pessoas físicas e jurídicas visando a minimizar seus tributos. Neste trabalho, porém,
emprega-se a expressão na perspectiva do setor público.
8
Luiz Ricardo Cavalcante • André Eduardo da Silva Fernandes
Henrique V: o rei vitorioso e a responsabilidade fiscal nas peças históricas de Shakespeare
9/14
tivos da sociedade. Nas sociedades modernas, a
passivos para financiar suas campanhas militares,
gestão fiscal traduz-se na gestão do orçamento
independentemente dos arquétipos usualmente
público. Na Inglaterra dos séculos XIV e XV, por
associados a seu filho e sucessor. Rabkin (1977,
outro lado, as decisões eram essencialmente
p. 280) afirma, a respeito das partes 1, 2 e 3 de
tomadas pelos reis e pelos nobres em seu en-
Henrique VI, que “in each of the first three plays
torno. Porém, quando a alocação e a destinação
the audience had been confronted at the begin-
dos recursos divergiam do balanço de forças
ning with a set of problems that seemed solved
existente na sociedade, os governantes também
by the end of the preceding play but had erupted
tendiam a enfrentar problemas, ainda que, na-
in different forms as soon as the new play began”.
quelas circunstâncias, a concentração de poder
De maneira análoga, argumenta-se, aqui, que o
fosse evidentemente superior à que se observa
desequilíbrio fiscal é um problema que passa de
nas sociedades modernas.
uma tetralogia para a outra.
Embora conectada com uma produção biblio-
Embora o foco deste trabalho seja a visão
gráfica relativamente vasta sobre a relação entre
de Shakespeare sobre os eventos (e não os fa-
a obra de Shakespeare e a economia mencionada
tos históricos efetivamente observados), essa
no início desta seção, a abordagem aqui apre-
percepção é consistente com diversas análises
sentada busca inovar ao discutir especificamente
factuais. O Gráfico 1, construído com base em
a economia do setor público e a gestão fiscal.
estimativas publicadas pelo Bank of England
Parece haver elementos suficientes nos dramas
em uma base de dados intitulada “A millennium
históricos de Shakespeare para atribuir a crise
of macroeconomic data”, mostra a trajetória das
cujos primeiros sinais são percebidos logo após
receitas tributárias do governo no período entre
a morte de Henrique V a suas ações, que criaram
os reinados de Ricardo II e de Ricardo III.9
Gráfico 1 – Média móvel centralizada das receitas tributárias do governo da Inglaterra, 1377 – 1485
(número índice)
Fonte: Elaboração dos autores (2021).10
Trata-se, rigorosamente, da média móvel centralizada de nove anos das receitas tributárias do governo central. Os dados construídos
como número índice (isto é, não são absolutos) usando como referência o período 1451-1475 (definido como igual a 100).
10
Com base em dados disponíveis em: https://cutt.ly/3RxGVpY. Acesso em: 20 out. 2021.
9
10/14
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022 | e-42012
Conforme se pode observar, as receitas tri-
a se recuperar mais solidamente e, no reinado
butárias da Inglaterra exibem uma trajetória
de Elisabeth I, o avanço econômico permite que
descendente durante o reinado de Ricardo II e
comecem as incursões no exterior (por meio da
ascendente durante o reinado de Henrique IV e
pirataria e da conquista de novos territórios).
o início do reinado de Henrique V, atingindo um
Pode-se, assim, conjecturar que o atraso inglês
pico por volta de 1415 (isto é, no ano da batalha
em começar a aventura colonialista deveu-se à
de Azincourt). É neste momento que Henrique
falta de recursos decorrente do déficit público
V “prepared well for the first campaign in 1415,
resultante do período anterior, cuja gênese re-
mobilising an expeditionary army of some 10,000
monta a Henrique V.
men and amassing a war chest of £130,000”.
A percepção amparada nas análises históricas
(GRUMMITT, 2013, p. 10). O efeito econômico
claramente ecoa nas sagas henriquinas. Com
imediato da campanha bem-sucedida foi uma
efeito, logo no início de Henrique V, o rei já pre-
euforia que motivou a concessão de benefícios
cisa negociar para obter os recursos necessários
fiscais, inclusive no caso do subsídio vitalício para
para financiar suas campanhas militares sem
a lã (GRUMMITT, 2013, p. 11). Isso possivelmente
sacrificar o apoio da Igreja. A negociação permite
concorre para explicar a acentuada trajetória de
que o Arcebispo de Cantuária e o Bispo de Ely
queda das receitas tributárias observada logo
salvem do confisco as propriedades da Igreja e
após 1415. É com base em percepções desse
que o rei obtenha, pelo menos no curto prazo,
tipo que Churchill (2005), em seu História dos
recursos para financiar a campanha na França.
povos de língua inglesa, destaca que “o impo-
Os representantes da Igreja elogiam a devoção
nente império de Henrique V era oco e falso”.
de Henrique e o próprio rei tem o cuidado de
De fato, os desdobramentos fiscais e políticos
informar o quanto é cristão (BLOOM, 1998a, p.
da campanha parecem ter sido avassaladores,
321). A negociação é descrita por Gustavo Franco
conforme registra Barker (2009, p. 415):
(2009, p. 116) da seguinte forma:
Ao reacender a guerra com a França, Henrique
V comprometeu seu país em décadas de conflitos armados e pesados tributos a pagar por
isso; ele foi acusado de lançar sementes que
levariam a própria Inglaterra a ser despedaçada
pela discórdia civil na Guerra das Rosas.11
Desse modo, em oposição à euforia de 1415,
“by 1433 the royal finances were in a parlous state:
a debt of £160,000 standing against an annual
ordinary income of some £60,000” (GRUMMITT,
2013, p. 14). A tendência de queda das receitas
Por exemplo, no início de Henrique V, o arcebispo da Cantuária faz um relato circunstancial da lei aprovada pelo Parlamento a fim de
secularizar uma parte das propriedades da
Igreja. Ele especifica em detalhes o objetivo
econômico da lei, que era de fornecer ao Rei
os meios de fortalecer seu exército, encher
seu tesouro e proporcionar ajuda aos pobres
e outras finalidades sociais. Mas a Igreja ficaria
empobrecida com essa lei, e é para evitar isso
que ele procura interessar o monarca pela reinvindicação da Coroa da França. A maior parte
da peça diz respeito à campanha da França,
mas tudo isso veio da tentativa de resolver um
problema econômico.
tributárias mantém-se durante todo o primeiro
reinado de Henrique VI e mesmo os tímidos sinais
Esse trecho deixa claro que, embora a guer-
de recuperação subsequentes são irregulares e
ra fosse uma ação custosa, não havia recursos
incapazes de elevá-las a níveis sequer próximos
identificados a priori para financiá-la. Barker (2009.
daqueles que se observaram até o período entre
p. 309) assinala, com relação ao custeio das
o reinado de Ricardo II e o início do reinado de
campanhas de Henrique V, que “se às vezes era
Henrique V. De fato, só com Henrique VIII e o
difícil conseguir o pagamento de salários, havia
confisco dos bens da Igreja a Inglaterra começa
outras compensações disponíveis”. Com efeito,
Trata-se de uma percepção semelhante à de Sherborne (1977, p. 135), que destaca que “the heavy financial demands made by the
Hundred Years War on the English taxpayer and the English exchequer have long been familiar to historians”. Embora o foco de sua análise seja um período anterior ao reinado de Henrique V, essa percepção geral permanece válida e parece chegar a seu ponto mais grave
no caso da batalha de Azincourt.
11
Luiz Ricardo Cavalcante • André Eduardo da Silva Fernandes
Henrique V: o rei vitorioso e a responsabilidade fiscal nas peças históricas de Shakespeare
11/14
a falta de recursos e a gestão fiscal temerária
A intensificação dos conflitos políticos aponta,
dificultavam a liquidez para o pagamento de
na parte 2 de Henrique VI, para uma disputa aberta
salários. Assim, Henrique V teve que recorrer a
pelo trono. Nesse caso, cabe ao duque de Suf-
outros instrumentos resultantes de doação de
folk declarar que “desde que [Henrique VI] virou
terras, por exemplo. Desse modo, parece que a
rei – e outro não há – o bem tem ido por água
obsessão de Henrique V pela guerra o levava a
abaixo” (SHAKESPEARE, 2016, p. 607). O duque
negligenciar as consequências de suas decisões
de York, por sua vez, “fala abertamente em tomar
no médio e no longo prazo.
a coroa” (HELIODORA, 2016e, p. 589). É evidente
É evidente que, no curto prazo, as vitórias de
que os conflitos distributivos – que podem ser
Henrique V contribuíram para legitimar a posição
associados à crise fiscal do reino – concorrem
da casa de Lancaster no trono. Contudo, suas
para explicar a fragilidade de Henrique VI.
conquistas começam a ser revertidas já no início
Ao perceber a mudança do centro do poder,
da parte 1 de Henrique VI, na cena do funeral
Lord Clifford – que pertence ao partido do Rei
do rei vitorioso. Um mensageiro traz da França
Henrique VI e dos Lancasters – antecipa que o
“novidades tristes, de frustrações, perdas e ma-
povo também mudaria suas preferências: “o povo
tanças” e anuncia a perda de diversas cidades
é como a mosca de verão: pra onde ela voa? Só
(inclusive Paris e Rouen). Enquanto o corpo do
para o sol. Quem brilha agora, senão o inimigo?”
rei vitorioso ainda era velado, já se anunciava a
(SHAKESPEARE, 2016, p. 760). A crise abre então
reversão de grande parte de suas conquistas por
espaço para rebeliões e para discursos populis-
“falta de ouro e homens”. Um dos líderes ingle-
tas. O rebelde Jack Cade promete reformas: “na
ses na campanha da França, Lord Talbot, “com
Inglaterra, sete pãezinhos de meio penny serão
tropa que mal contava seis mil, por vinte e três
vendidos por um penny; [...] e vou fazer ser crime
mil soldados franceses foi totalmente cercado
beber cerveja aguada. E o reino será comum a
e atacado” (SHAKESPEARE, 2016, p. 485-487). É
todos [...]”. Jack Cade promete ainda que “[...] não
razoável presumir que essas derrotas tenham
haverá dinheiro; todos vão comer e beber às mi-
acontecido ainda no reinado de Henrique V, ou
nhas custas” (SHAKESPEARE, 2016, p. 674-675).
que pelo menos já fossem claramente previsíveis
Com o avanço da revolta que comanda, chega
antes de sua morte. Nos termos do Duque de
a declarar que os arquivos do reino deveriam
Exeter (tio-avô de Henrique VI):
ser queimados pois sua boca passaria a ser “o
E eu temo agora a fatal profecia
Que no tempo de Henrique que foi o Quinto,
Balbuciavam crianças de peito:
parlamento da Inglaterra” (SHAKESPEARE, 2016,
p. 685).
Em resumo, os elementos presentes nas sagas
Que Henrique Monmouth [Henrique V] tudo
ganharia,
henriquinas são claramente consistentes com a
Mas o de Windsor [Henrique VI] tudo perderia
(SHAKESPEARE, 2016, p. 531).
zada no trecho abaixo:
As derrotas sucessivas, por sua vez, engendraram uma crise política na Inglaterra. Naquele
momento, conforme destaca Grummitt (2015, p.
117), “the debate over fiscal responsibility was
one carried on at all levels of political society”.
Mais uma vez, Shakespeare recorre ao Duque de
análise histórica de Grummit (2013 p. 22) sinteti-
[…] while Henry V’s conquests in France undoubtedly strengthened Lancastrian kingship in
the short term they also committed England to
a lengthy and costly war with France. Henry’s
untimely death and the broad political consensus that ensured stability during his son’s long
minority partially hid these problems, but Henry
VI’s shortcomings would eventually exhaust
the crown’s credit, both in terms of money and
political support.
Exeter para manifestar essa percepção: “o conflito
nascido entre esses pares queima embaixo de
Por fim, é oportuno observar que, embora
cinza e falso amor e acaba um dia explodindo
vítima da irresponsabilidade fiscal de seu pai e
em chamas” (SHAKESPEARE, 2016, p. 531).
predecessor, Henrique VI – seja pelas condições
12/14
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022 | e-42012
adversas que enfrentou, seja por seu caráter
trabalho busca inovar ao discutir especificamente
vacilante – não se mostrou especialmente pre-
a economia do setor público e a gestão fiscal.
ocupado com o equilíbrio das contas públicas.
Uma curiosa evidência do caráter inovador do
12
argumento apresentado neste artigo advém da
Considerações finais
Ao longo deste trabalho, argumentou-se que
a gestão de Henrique V, embora retratada como
vitoriosa por Shakespeare em seu drama histórico homônimo, pode ser interpretada como
irresponsável do ponto de vista fiscal e geradora
de um passivo que explicaria o fracasso das
campanhas militares inglesas após sua morte. A
crise econômica, militar e política que marcou o
reinado de Henrique VI, portanto, pode ser creditada, pelo menos em parte, à gestão de seu
pai e predecessor.
A análise dos arquétipos tradicionalmente
associados aos três Henriques revelou que:
Henrique IV é retratado como um bom rei,
embora sua legitimidade seja permanentemente
questionada;
Henrique V é percebido como heroico e carismático, independentemente da visão que se
tenha sobre o drama histórico ao qual empresta
seu nome (exaltação do espírito nacional ou
denúncia dos horrores da guerra); e
Henrique VI é retratado como um bom homem
(no sentido de um homem piedoso), mas incapaz
de reinar.
Nesse sentido, o argumento central deste trabalho parece em grande medida original (ainda
que historicamente fundamentado), uma vez
que atribui parte do sucesso de Henrique V à
boa gestão de seu pai e parte do fracasso de
introdução de Barbara Heliodora a sua tradução
de Henrique V. No texto, listam-se 20 qualidades
encontradas na ação dramática de Henrique V
que o tornariam o governante ideal. Em nenhuma
delas se percebe a preocupação com a sustentabilidade econômica ou com os efeitos de longo
prazo de suas ações (HELIODORA, 2016, p. 359).
Novas visões sobre personagens complexos
são sempre possíveis. Nos termos de Hegel (apud
BATES, 2010, p. 2), “in a work of art, as in life, the
greater a man’s character the more interpretations
put on by different people”. Acresce que, em
diferentes contextos sociais e históricos, interpretações jamais cogitadas pelo artista passam
a ser possíveis. Em certa medida, essas distintas
interpretações refletem as angústias que cada
um consegue ver representadas em uma genuína obra de arte. No caso de Shakespeare, cuja
obra frequentemente admite múltiplas (e muitas
vezes contraditórias entre si) perspectivas, essa
proposição é seguramente válida.
É provável que a intepretação proposta neste
trabalho resulte justamente do contexto em que
foi produzido. Em um momento em que o Brasil dá
sinais preocupantes de crise fiscal persistente –
que pode comprometer, inclusive, o desempenho
de futuros governantes – é razoável que da leitura
das sagas henriquinas surja a preocupação com
as heranças que os governantes podem deixar
para seus sucessores.
seu filho a sua gestão fiscal irresponsável. Desse
modo, embora conectado com uma produção
bibliográfica relativamente vasta sobre a relação entre a obra de Shakespeare e a economia
(TURNER, 1999; FRANCO, 2009; ARCHER, 2012), o
Referências
ARCHER, Ian W. Economy. In: KINNEY, Arthur F. The
Oxford handbook of Shakespeare. New York: Oxford,
2012. p. 165-181.
“King Henry VI was excessively generous in making grants to supporters and for ‘good causes’. Right at the beginning of his rule,
in 1438, one of Henry’s council clerks (in modern language, a top civil servant) had complained that Henry had pardoned a collector of
customs, thereby losing the Crown £1,300. Exactly ten years later, in 1448, Henry VI expressly willed the huge yearly sum of £1,000 to
go towards the building costs of King’s College, Cambridge. He even earmarked part of his own Duchy of Lancaster income to pay the
£1,000. Needless to say, the money soon dried up. Such was Henry’s financial profligacy, that by 1450, his Government was reduced to
mortgaging its future income to meet its current debts. The proceedings of the February 1449 Parliament also record a grant of 2,500
marks (about £1,700) to the Duke of Somerset and £1,000 to the Duke of Suffolk. [‘The Parliament Rolls of Medieval England Volume XII’,
page 68] Both of these payments were to be paid from taxation revenue due to Henry VI’s Government in 1450”. HENRY’S Howlers: (1)
Economic Background to the Wars of the Roses (1437-1450). In: angevinman. [S. l.], 19 jan. 2013. Disponível em https://cutt.ly/Fg4jYSn.
Acesso em: 20 out. 2021.
12
Luiz Ricardo Cavalcante • André Eduardo da Silva Fernandes
Henrique V: o rei vitorioso e a responsabilidade fiscal nas peças históricas de Shakespeare
BARKER, Juliet. O Rei, A Campanha, A Batalha de Agincourt. Rio de Janeiro: Record, 2009.
BATES, Jennifer A. Hegel and Shakespeare on Moral
Imagination. New York: Sunypress (State University of
New York), 2010.
BLOOM, Harold. Shakespeare: the invention of the
human. New York: Riverhead Books, 1998a.
BLOOM, Harold. A invenção do humano. Rio de Janeiro:
Editora Objetiva, 1998b.
CARVALHO, Fernando J. Cardim de. Decision-making
under uncertainty as drama: Keynesian and Shacklean
themes in three of Shakespeare’s tragedies. Journal of
Post Keynesian Economics, [S. l.], v. 25, n. 2, p. 189-218,
2002.
CHURCHILL, Winston S. História dos povos de língua
inglesa. São Paulo: Ibrasa, 2005.
13/14
HELIODORA, Barbara. Introdução (Ricardo II). In:
SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças históricas (v. 3). Organização e tradução de Barbara Heliodora. 1. Ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016g, p. 954-955.
HELIODORA, Barbara. Introdução às três partes de Henrique VI. In: SHAKESPEARE, William. Teatro completo:
peças históricas. Organização e tradução de Barbara
Heliodora. 1. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016h. v. 3,
p. 476-477.
HENRY’S Howlers: (1) Economic Background to the
Wars of the Roses (1437-1450). In: angevinman. [S. l.],
19 jan. 2013. Disponível em https://cutt.ly/Fg4jYSn.
Acesso em: 20 out. 2021.
HORWICH, R. Shakespeare and the Economics of Time.
In: ANNUAL MEETING OF THE NATIONAL COUNCIL
OF TEACHERS OF ENGLISH, 1977, New York. Anais […].
New York, 1977.
FRANCO, Gustavo. Shakespeare e a economia. Rio de
Janeiro: Zahar, 2009.
KIDD, Mary Anna. Archetypes, stereotypes and media
representation in a multi-cultural Society. Procedia: Social and Behavioral Sciences, [S. l.], n. 236, p. 25-28, 2016.
GARBER, Marjorie. Shakespeare and modern culture.
New York: Pantheon Books, 2008.
MELETÍNSKI, Eleazar. M. Os arquétipos literários. São
Paulo: Ateliê Editorial, 1998.
GRAV, Peter F. Shakespeare and the Economic Imperative: “what’s aught but as ’tis valued?”. New York:
Routledge, 2008.
RABKIN, Norman. Rabits, ducks, and Henry V. Shakespeare quarterly, [S. l.], v. 28, n. 3, p. 279-296, 1977.
GREENBLAT, Stephen. Como Shakespeare se tornou
Shakespeare. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
SACCIO, Peter. William Shakespeare: comedies, histories,
and tragedies. Course guidebook (The Great Courses
on Tape). Springfield: The Teaching Company, 1999.
GRUMMIT, David. A short history of the wars of the Roses.
London: I. B. Tauris, 2013.
GRUMMIT, David. Henry VI. London: Routledge, 2015.
HAWKES, David. Shakespeare and economic theory.
London: Bloomsbury Arden Shakespeare, 2015.
HELIODORA, Barbara. Introdução (Henrique IV parte 1).
In: SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças históricas. Organização e tradução de Barbara Heliodora.
1. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016a. v. 3, p. 118-121.
HELIODORA, Barbara. Introdução (Henrique IV parte 2).
In: SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças históricas. Organização e tradução de Barbara Heliodora.
1. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016b. v. 3, p. 232-235.
HELIODORA, Barbara. Introdução (Henrique V). In:
SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças históricas. Organização e tradução de Barbara Heliodora.
1. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016c. v. 3, p. 358-361.
HELIODORA, Barbara. Introdução (Henrique VI parte
1). In: SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças
históricas. Organização e tradução de Barbara Heliodora. 1. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016d. v. 3, p. 480.
HELIODORA, Barbara. Introdução (Henrique VI parte 2).
In: SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças históricas. Organização e tradução de Barbara Heliodora.
1. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016e. v. 3, p. 588-589.
HELIODORA, Barbara. Introdução (Henrique VI parte
3). In: SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças
históricas. Organização e tradução de Barbara Heliodora. 1. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016f. v. 3, p. 712-713.
SHAKESPEARE, William. Teatro completo: peças históricas. Organização e tradução de Barbara Heliodora. 1.
ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2016. v. 3.
SHERBORNE, James W. The cost of English warfare
with France in the later fourteenth century. Bulletin of
the Institute of Historical Research, London, v. L, n. 122,
p. 135-150, 1977.
THE SHAKESPEARE Book. London: Penguin Randon
House, 2015.
TILLYARD, Eustace M. W. The Elizabethan World Picture….
[S. l.]: Vintage, 1959.
TURNER, Frederick. Shakespeare’s Twenty-First-Century
economics: the morality of love and money. New York:
Oxford University Press, 1999.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da
sociologia compreensiva. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2015.
Luiz Ricardo Cavalcante
Doutor em Administração pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA), em Salvador, BA, Brasil; mestre Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em
Salvador, BA. Consultor legislativo do Senado Federal,
em Brasília, DF, Brasil; professor do mestrado em Administração Pública do Instituto Brasileiro de Ensino,
Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Brasília, DF, Brasil.
14/14
Letras de hoje Porto Alegre, v. 57, n. 1, p. 1-14, jan.-dez. 2022 | e-42012
André Eduardo da Silva Fernandes
Mestre em Ciências Econômicas pela Universidade
de Brasília (UnB), em Brasília, DF, Brasil. Consultor
legislativo do Senado Federal, em Brasília, DF, Brasil.
Endereço para correspondência
Luiz Ricardo Cavalcante
SQN 116 Bl. B, apto. 401
70.773-020
Brasília, DF, Brasil
Os textos deste artigo foram revisados pela Poá
Comunicação e submetidos para validação do(s)
autor(es) antes da publicação.