Annie Ernaux: conheça as obras da vencedora do Nobel publicadas no Brasil - Revista Galileu | Livros
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Annie Ernaux: conheça as obras da vencedora do Nobel publicadas no Brasil (Foto: Wikimedia Commons)

Annie Ernaux: conheça as obras da vencedora do Nobel publicadas no Brasil (Foto: Wikimedia Commons)

A autora feminista francesa Annie Ernaux recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 2022, anunciou nesta quinta-feira (6) a Academia Real das Ciências da Suécia. A escritora relata em sua bibliografia suas memórias pessoais, questionando a estrutura de classes machista e patriarcal na França.






De acordo com o comitê do Nobel, Ernaux recebe a honraria por sua “coragem e acuidade clínica com que desvenda as raízes, os distanciamentos e as restrições coletivas da memória pessoal". O trabalho da autora é inspirado em sua origem rural, em uma família humilde do interior da França, em 1940, e surgiu cedo como um projeto que tentava ampliar a literatura para além da ficção.

Nisso, a francesa retratou as mudanças políticas e sociais dos últimos 80 anos. Em sua escrita clássica e distinta, com uma forma consistente e sob diferentes ângulos, ela “examina uma vida marcada por fortes disparidades de gênero, linguagem e classe”, segundo a academia sueca.

Nascida em 1940, na comuna francesa de Lillebonne, Ernaux estudou na Universidade de Rouen e foi professora do Centre National d’Enseignement par Correspondance por mais de 30 anos. Seus livros são considerados clássicos modernos na França. Todas as obras da escritora publicados no Brasil são da Editora Fósforo. Confira:

1. O Lugar (72 páginas | Livro físico: R$54,90; E-book: R$29,90)

 'O lugar', de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

'O lugar', de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

Esta obra lançou a autora à fama, estabelecendo as bases literárias que levariam Ernaux adiante por três décadas de consagração na crítica e no público. Ela produziu um retrato sobre a vida do próprio pai para esmiuçar relações familiares e de classe. Trata-se de uma mistura entre história pessoal e sociologia que, décadas mais tarde, inspiraria expoentes da autoficção mundial e grandes nomes da literatura francesa como Édouard Louis e Didier Eribon.






Ao retratar o pai dela, a francesa “empregou o desenvolvimento de uma estética contida e eticamente motivada, onde seu estilo foi forjado com firmeza e transparência”, segundo o comitê do Nobel. “Mesmo que ainda exista uma voz narrativa, ela é neutra e, na medida do possível, anônima”.

2.Os Anos (224 páginas | Livro físico: R$69,90; E-book: R$49,90)

'Os Anos', obra de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

'Os Anos', obra de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

Em mais uma autobiografia, a escritora usa ousadia e precisão estilística para utilizar a terceira pessoa da memória coletiva, que ocupa o lugar do eu, originando um novo gênero literário que funde recordações pessoais e História.

Apesar de Ernaux pertencer a uma geração que veio ao mundo tarde demais para se lembrar da guerra, ela traça seis décadas de acontecimentos, entre eles a Guerra da Argélia, a revolução dos costumes, o nascimento da sociedade de consumo, as principais eleições presidenciais francesas, a virada do milênio, o 11 de setembro e as inovações tecnológicas.

De acordo com a Academia Real das Ciências da Suécia, trata-se do projeto mais ambicioso da escritora. “Foi chamado de ‘a primeira autobiografia coletiva’ e o poeta alemão Durs Grünbein o elogiou como um ‘épico sociológico’ pioneiro do mundo ocidental contemporâneo”, segundo o comitê.

3. O Acontecimento (80 páginas | Livro físico: R$54,90; E-book: R$32,90)

'O acontecimento', obra de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

'O acontecimento', obra de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

Chamada de “uma obra-prima” pela academia sueca, este livro narra o próprio aborto clandestino feito pela autora em 1963, então uma estudante de 23 anos, que engravida do namorado que acabara de conhecer. Sem ser apoiada por ele ou pela família em uma época em que o procedimento era ilegal na França, a autora destrincha o acontecimento nesta narrativa quarenta anos depois, quando já é uma das principais escritoras do país.

“É uma narrativa em primeira pessoa, e a distância do eu histórico não é enfatizada como em muitas outras obras. De qualquer forma, o eu se torna um objeto através das restrições morais de uma sociedade repressiva e da atitude paternalista das pessoas com quem ela é confrontada”, descreve a organização do Nobel.

4. A Vergonha (88 páginas | Livro físico: R$54,90)

'A Vergonha', livro de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

'A Vergonha', livro de Annie Ernaux (Foto: Editora Fósforo)

Com uma linguagem cortante e desprovida de sentimentalismos, a escritora começa o livro com a frase: “Meu pai tentou matar minha mãe num domingo de junho, no começo da tarde.” Nesta obra, ela descreve um episódio de violência doméstica que testemunhou aos 12 anos de idade, identificando no incidente a gênese de um sentimento que guardaria para o resto da vida.

Esta obra parece ser a continuação do retrato do pai da escritora, em uma tentativa de explicar a raiva que ele sentia pela mãe dela no passado. “A literatura lhe dá um refúgio para escrever o que é impossível comunicar em contato direto com os outros”, afirma a academia sueca. “Para Ernaux, antes da estreia sexual, a vergonha acaba sendo o único traço duradouro da identidade pessoal”.

Ao vasculhar a si e o passado familiar, a escritora renova a linguagem do incômodo da inferioridade de classe e ainda comove com frases marcantes: “A vergonha se tornou, para mim, um modo de vida. No fim das contas, já nem percebia sua presença, ela estava em meu próprio corpo”, ela escreve.