Morte da rainha Elizabeth II: como a família real britânica é financiada? | Mundo | G1

Por BBC


Espera para ver caixão de rainha Elizabeth II chega a 14 horas e fila precisa ser fechada

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A família real britânica tem propriedades em todo o Reino Unido e emprega centenas de trabalhadores, de engenheiros a chefes de cozinha, passando pelos vários agentes responsáveis pela segurança de seus membros.

"A Firma", como começou a ser chamada a família durante o reinado de George VI, pai de Elizabeth II, também organiza regularmente pródigos eventos de recepção para embaixadores e líderes estrangeiros, e alguns de seus membros fazem frequentemente visitas e compromissos oficiais pelo país e pelo mundo.

Membros da família real fazem parte de cortejo fúnebre que leva corpo da rainha Elizabeth II até Westminster — Foto: Chris J Ratcliffe/Pool via REUTERS

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Com o fim de medidas rígidas de controle da Covid-19, as viagens da família real aumentaram. Durante o ano fiscal de 2021-22, os custos com viagens chegaram a US$ 5 milhões (cerca de R$ 26 milhões), segundo dados divulgados pela própria "Firma".

Somente a viagem do príncipe William e sua esposa Kate pelo Caribe no início do ano custou cerca de US$ 260 mil (R$ 1,3 milhão).

A viagem do agora rei Charles III a Barbados, onde participou de cerimônias que marcaram a transição para uma república, custou quase US$ 160 mil (R$ 841 mil).

A manutenção de todos os palácios reais também custa milhões de dólares por ano.

Por outro lado, a monarquia britânica gera renda para o país, principalmente no turismo, embora o valor exato disso seja muito difícil de estimar.

De onde vem, então, o dinheiro para financiar a família real?

Subsídio Soberano

O governo britânico fornece anualmente a seu monarca um pagamento financiado pelo contribuinte, o Sovereign Grant ("Subsídio Soberano"), que serve para cobrir os custos dos deveres oficiais da monarquia.

Durante o ano fiscal de 2021-2022, o Sovereign Grant foi fixado em 86,3 milhões de libras esterlinas (quase R$ 518 milhões). Os custos de segurança não estão incluídos.

Portão do Palácio de Buckingham, em Londres — Foto: Reuters

No entanto, a reforma no Palácio de Buckingham levou os gastos totais no último ano fiscal para cerca de US$ 118 milhões (R$ 620 milhões), um aumento de 17% em relação ao ano anterior. A diferença foi coberta com valores que sobraram do Sovereign Grant de anos anteriores.

A maior parte do Sovereign Grant é usada para cobrir os custos de manutenção dos palácios reais e o pagamento de funcionários. Ele também é usado para arcar com os compromissos oficiais da família real.

O jornalista da BBC Tom Edgington, repórter sênior da Unidade de Verificação de Dados da BBC, explica que após a morte da rainha Elizabeth 2ª, o sistema segue intacto.

Terrenos e imóveis

O pagamento do Subsídio Soberano é baseado nos rendimentos da Crown Estate, um conjunto de terrenos e propriedades imobiliárias no Reino Unido que pertencem ao monarca britânico e que têm um valor estimado em quase US$ 20 bilhões (R$ 105 bi).

A receita da Crown Estate vai para o Tesouro do Reino Unido, responsável pela execução das políticas fiscais e econômicas do governo.

O Tesouro então dá ao monarca normalmente 15% dos lucros da Crown Estate dos dois anos anteriores, enquanto o governo fica com o resto.

Em 2017, porém, foi estabelecido que a monarquia receberia um percentual maior, de 25% ao longo de 10 anos, para pagar a reforma de US$ 425 milhões do Palácio de Buckingham, a residência principal da realeza em Londres.

Dentro do portfólio da Crown Estate estão propriedades como a maior parte da Regent Street, uma das ruas comerciais mais importantes de Londres, bem como metade do luxuoso distrito de St. James, no centro de Londres, incluindo espaços comerciais e escritórios.

Há também o Hipódromo de Ascot, nos arredores de Londres, bem como milhares de acres de terras agrícolas em todo o país. Cerca de metade das propriedades no litoral da Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte são administradas pela corporação.

A carteira de imóveis e terrenos da Crown Estate não era propriedade privada da rainha, nem se tornou propriedade privada do rei Charles 3º, mas pertence ao monarca durante o reinado vigente. Isso significa que o rei não pode vender qualquer propriedade da Crown Estate nem embolsar lucros.

Britânicos fazem fila em Londres para ver o caixão da rainha Elizabeth II — Foto: LOIC VENANCE / AFP

Ducados reais

O Sovereign Grant não é a única fonte de renda da família real, que também ganha dinheiro de dois ducados reais.

O rei Charles III herdou da rainha o mais importante: o Ducado de Lancaster, uma propriedade privada que gera milhões em renda e que é transmitida de monarca a monarca.

O segundo ducado, o da Cornualha, pertence ao príncipe de Gales — título de herdeiro dos monarcas britânicos que Charles passou para seu filho William.

As propriedades rurais do Ducado de Lancaster consistem em mais de 18 mil hectares de terra na Inglaterra e no País de Gales, a maioria no norte dessas regiões. Mas há também um grande número de propriedades residenciais, comerciais e financeiras no centro de Londres.

Em março de 2022, o Ducado de Lancaster foi avaliado em 652,8 milhões de libras esterlinas (R$ 3,9 bilhões).

Por sua vez, o Ducado da Cornualha, estabelecido por Edward 3º em 1337 para dar independência ao seu filho e herdeiro do trono, possui terras localizadas principalmente no sudoeste da Inglaterra. Atualmente, essas propriedades são administradas por William.

Estima-se que esse ducado cobre 0,2% de todas as terras do Reino Unido.

Nenhum ducado é tributado e a forma como os lucros dessas propriedades são gastos não é divulgada, mas a rainha e Charles III costumavam pagar voluntariamente impostos sobre esses lucros.

Rei Charles III discursa ao Parlamento do Reino Unido, em Londres — Foto: Parlamento do Reino Unido/Roger Harris/Divulgação via REUTERS

Mais cifras

Além disso, a família real tem seus bens privados. A rainha era proprietária absoluta de Balmoral e Sandringham, duas propriedades herdadas do pai que geram renda.

Ela também possuía uma extensa coleção de arte e outros bens valiosos que foram herdados de monarcas anteriores.

É difícil estimar o patrimônio líquido da família real britânica, mas o jornal The Sunday Times incluiu a rainha Elizabeth 2ª em sua lista das pessoas mais ricas do Reino Unido, com um patrimônio de US$ 430 milhões (R$ 2,2 bi). A revista Forbes estimou a fortuna dela em US$ 500 milhões (R$ 2,6 bi).

Também é difícil calcular quanto a família real custa ao contribuinte porque o Sovereign Grant não é usado para pagar a segurança da família real, o que é normalmente feito pela Polícia Metropolitana.

David McClure, especialista na família real e autor de The Queen's True Worth ("O verdadeiro valor da rainha", em tradução livre), estimou que o custo governamental para proteger a família real passa de US$ 100 milhões por ano (R$ 525 milhões).

No entanto, outras organizações, como a Republic, que defende o republicanismo, estimam que o custo anual da monarquia, levando em conta os custos de segurança, seja de cerca de 345 milhões de libras esterlinas (R$ 2 bilhões) — muito maior do que o Sovereign Grant, financiado pelos contribuintes.

Mais ganhos do que gastos?

Mas outras organizações argumentam que a monarquia traz mais dinheiro para a economia britânica do que custa, graças a atividades como o turismo e o entretenimento que abastece o interesse na família real, como as séries The Crown e Victoria.

Todos os anos, dezenas de milhões de turistas internacionais visitam o Reino Unido e seus muitos monumentos históricos ligados à realeza britânica.

"Quando se trata de como a monarquia contribui para a economia britânica, é extremamente difícil mensurar e há muitas visões conflitantes", diz Tom Edgington, repórter da BBC.

A consultoria Brand Finance estimou em 2017 que a família real britânica gerou mais de US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões) para a economia britânica naquele ano.

"No entanto, algumas pessoas tratam esse número com ceticismo, argumentando que o Reino Unido continuaria a atrair milhões de turistas mesmo que não tivesse uma monarquia", pondera Edgington.

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