África do Sul: perfil da nação africana que venceu o apartheid

A África do Sul tem uma das maiores e mais desenvolvidas economias do continente africano - em Produto Interno Bruto, fica atrás apenas de Nigéria e Egito.

Até 1994, o país era governado por um governo composto pela minoria branca, que impunha uma separação entre raças com sua política chamada "apartheid", introduzida em 1948. O regime colocou a população negra, que representava cerca de 80% dos sul-africanos, em posição de inferioridade e sem os mesmos direitos civis ou políticos.

O movimento contrário ao regime racista nasceu pouco depois, na década de 1960, e ao longo dos anos viu o surgimento de novas lideranças negras Nelson Mandela, Steve Biko, Walter Sisulu e Albertina Sisulu.

Mandela foi detido em 1962 e condenado à prisão perpétua em 1964, acusado de preparar ações violentas contra o regime.

Nos anos 1980, aumentou a pressão da comunidade internacional contra o regime do apartheid, levando a um bloqueio econômico e cultural e ao isolamento do regime em Pretória.

A pressão levou a negociações pela libertação de Nelson Mandela, que finalmente ganhou a liberdade em fevereiro de 1990, após 27 anos.

Mandela e o então presidente sul-africano, Frederik de Klerk, compartilharam o prêmio Nobel da Paz em 1993.

Em abril de 1994, eleições gerais históricas, com a participação de negros e brancos, deram a vitória ao Congresso Nacional Africano (CNA), principal partido ligado à maioria negra e liderado por Mandela. Com o resultado, Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente de uma África do Sul democrática, e uma nova bandeira foi adotada pelo país.

Mulheres dançam em trajes tradicionais

Crédito, RAJESH JANTILAL/Getty Images

Legenda da foto, Dança e música são importantes elementos da cultura da África do Sul, país marcado pelas injustiças do apartheid

A liderança eleita democraticamente incentivou a reconciliação e passou a atacar desequilíbrios sociais, mas a economia enfrentou dificuldades.

Mandela governou por apenas um mandato, sendo sucedido por um de seus vices, Thabo Mbeki, também do CNA.

Apesar dos avanços políticos, o país continuou enfrentando muitos desafios sociais e foi um dos mais afetados pela epidemia de HIV/Aids a partir dos anos 1990. Em 2006, a África do Sul recebeu a Copa do Mundo da Fifa, evento que funcionou como forma de mostrar ao mundo os avanços obtidos pelo país.

FATOS

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República da África do Sul

Capitais: Pretória (Executivo), Cidade do Cabo (Legislativo) e Bloemfontein (Judiciário)

  • População58 milhões

  • Área1,22 milhão de quilômetros quadrados

  • Principal línguaInglês

  • Principal religiãoCristianismo

  • Expectativa de vida60 anos (homem), 67 anos (mulher)

  • MoedaRand

Fonte: ONU, Banco Mundial

LÍDERES

Presidente: Cyril Ramaphosa

Cyril Ramaphosa

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O presidente Cyril Ramaphosa fez carreira no setor privado antes de voltar à política sul-africana
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Cyril Ramaphosa foi eleito presidente sul-africano pelo Parlamento em fevereiro de 2018, depois que seu antecessor, Jacob Zuma, renunciou devido a acusações de corrupção.

Um empresário de sucesso, mas às vezes polêmico, Ramaphosa foi escolhido como líder do partido do governo, o Congresso Nacional Africano (CNA), alguns meses depois. Ele herdou uma economia em dificuldades, um partido dividido e o problema da corrupção enraizada.

Diferentemente de muitos outras figuras partidárias de destaque de sua geração, Ramaphosa não foi levado ao exílio por se opor ao apartheid. Ele lutou contra as injustiças do governo da minoria branca a partir da África do Sul, particularmente por meio da defesa dos direitos de mineiros negros como líder do Sindicato Nacional de Trabalhadores de Minas (NUM).

Ele esteve bastante envolvido nas negociações pelo fim do apartheid e teve um papel importante na redação da Constituição sul-africana escrita com o fim do regime segregacionista.

Depois de não ter conseguido ser vice do então presidente Nelson Mandela, Ramaphosa retirou-se da vida política, passando a se concentrar em negócios.

Ele retornou como vice-presidente em 2014, antes de finalmente assumir o mais alto cargo com a saída de Zuma, que fora atingido por vários escândalos.

Ele passou em seu primeiro teste quando o CNA venceu as eleições parlamentares de 2019, embora sua fatia de 58% dos votos tenha sido sua menor desde o fim do apartheid.

MÍDIA

A África do Sul é o principal mercado do continente no setor de mídia, e suas empresas de TV e rádio e sua imprensa refletem a diversidade de sua população.

Canais de TV do Estado e privados transmitem para todo o território nacional, e centenas de milhares de espectadores assinam emissoras por satélite e cabo.

A empresa MultiChoice, baseada na África do Sul, comercializa TV paga por satélite em dezenas de países africanos.

Jornal sul-africano

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O setor de mídia da África do Sul é o mais importante do continente africano

RELAÇÕES COM O BRASIL

O Brasil iniciou relações diplomáticas com a então União da África do Sul, cujo chefe de Estado era o monarca britânico, na década de 1920. Essa relação foi formalizada no final dos anos 1940, na época em que o país instituiu o regime de segregação racial conhecido como apartheid.

A natureza do regime impediu uma aproximação maior entre os países, mas os interesses comerciais garantiam uma boa relação, embora discreta.

A partir de 1985, ano da chegada do civil José Sarney à Presidência brasileira, o Brasil passou a condenar abertamente o regime racista sul-africano, participando do boicote internacional contra a África do Sul.

O fim do apartheid e a eleição de Nelson Mandela como presidente, nos anos 1990, aproximou os dois países.

Em 2010, a África do Sul integrou-se ao grupo Bric, antes composto por Brasil, Rússia, Índia e China, países emergentes de grande relevância política e econômica - o agrupamento passou a ser chamado de Brics, com o acréscimo do S de South Africa (África do Sul em inglês). O país africano é o principal parceiro comercial do Brasil no continente.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história da África do Sul.

Século 4 - Migrantes vindos do norte chegam e se unem aos povos locais San e Khoikhoi.

1480 - O navegador português Bartolomeu Dias é o primeiro europeu a cruzar o Cabo da Boa Esperança, circundando o continente africano.

1497 - Outro navegador português, Vasco da Gama, desembarca na Costa Natal, leste da atual África do Sul.

1795 - Após a chegada dos holandeses, forças britânicas tomam a Colônia do Cabo da Holanda.

Mandela deixa a prisão, em 1990

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Nelson Mandela foi libertado em 1990, após 27 anos preso, e anos depois foi eleito presidente do país

1816-26 - Shaka Zulu funda e expande o Império Zulu, criando uma formidável força de combate.

1879 - Os britânicos derrotam os zulus na Costa Natal.

1910 - Formação da União da África do Sul pelas ex-colônias britânicas de Cabo e Natal e as repúblicas Boer de Transvaal e Estado Livre de Orange.

1912 - O Congresso Nacional Nativo é fundado, mais tarde rebatizado como Congresso Nacional Africano (CNA)

1948 - A política do apartheid (separação) é adotada quando o Partido Nacional assume o poder.

1960 - Setenta manifestantes negros são mortos em Sharpeville. O CNA é banido.

1962 - Nelson Mandela é preso e condenado a cinco anos de prisão. Dois anos depois, é condenado em novo julgamento, dessa vez à prisão perpétua.

1976 - Mais de 600 pessoas são mortas em confrontos entre manifestantes negros e forças de segurança durante um levante que começou em Soweto. A resistência contra o governo branco aumenta ao longo dos anos.

1990 - Em fevereiro, Nelson Mandela é libertado, após 27 anos na prisão.

1991-94 - O fim negociado do apartheid leva às primeiras eleições sem segregação racial e à formação de um governo de união nacional, sob a liderança de Nelson Mandela.

Maio de 2009 - O Parlamento elege Jacob Zuma para o cargo de presidente. Ele renuncia em 2018, após ser acusado de corrupção.