‘Ascensão e Queda’: documentário sobre John Galliano se propõe a fazer a audiência refletir | Cultura | Vogue

Citar o nome de John Galliano é quase pedir para que uma discussão mais acalorada comece em uma roda de amigos. O estilista e ex-diretor criativo da Dior foi excluído e silenciado do mundo da moda em 2011, após ser acusado e condenado por comentários antissemitas – filmados e publicados na época. Obviamente perdeu o cargo, o prestígio, o espaço. Toda essa história, e o que aconteceu depois disso, inclusive o retorno às passarelas pela Maison Margiela, está presente no documentário Ascensão e Queda, que estreia hoje (28/3) em cinemas selecionados no Brasil e, no final de abril, na MUBI.

Dirigido pelo vencedor do Oscar Kevin Macdonald (Whitney, Marley), o filme faz um panorama desde a época em que Galliano era um estudante de moda na prestigiada Central Saint Martins, em Londres, até a sua explosão criativa nas marcas mais relevantes da indústria. "É uma história completa contada por ele, pelas pessoas que trabalharam com ele e pelos amigos mais próximos. É um documentário que não esquiva do conteúdo obscuro da vida de John, mas, ao mesmo tempo, mostra a sua genialidade", conta o diretor à Vogue.

O "elefante na sala" abre o filme, já indicando que o assunto será, sim, tratado, mas antes de chegar lá, tem todo um contexto interessante de mergulhar, para quem gosta de moda ou não. "Todo mundo sabe sobre Galliano, mas não necessariamente é um especialista nele ou em moda. As pessoas ainda ficam um pouco nervosas com esse tópico, então pensei em colocá-lo logo no início para deixar claro que vamos voltar para aquele assunto em algum momento. Poderiam pensar que seria apenas um documentário fofo, sobre uma pessoa criativa. Não, vamos discutir isso na íntegra."

Imagem de arquivo de Galliano feita por Barry Mardsen — Foto: Barry Marsden / Divulgação
Imagem de arquivo de Galliano feita por Barry Mardsen — Foto: Barry Marsden / Divulgação

Leigo a respeito do contexto e das particularidades da carreira de John Galliano, o diretor estava mais interessado em como contar histórias intrigantes de uma maneira mais interessante, sem tirar conclusões ou fazer juízo de valor. "Eu não sabia nada sobre esse universo, não conhecia ninguém, não tinha conexões. John me ajudou com os contatos, consegui através de agências, jornalistas etc. Mesmo assim, percebi que precisava da ajuda de quem entendesse a respeito, foi quando procurei a Condé Nast e a Anna Wintour para me auxiliar", conta.

Anna Wintour — Foto: Divulgação
Anna Wintour — Foto: Divulgação

A chief content officer da empresa de comunicação, responsável pela Vogue (e outros grandes títulos), foi uma grande apoiadora deste projeto, inclusive aparece como fonte durante o documentário. Ela conectou Kevin com os diretores da Dior e da LVMH para colaborarem também. "Tive sorte de fazer esse documentário em uma época que era do interesse de muitos estar em um filme honesto. E vale ressaltar que ninguém teve palavra final nos cortes, nas escolhas de entrevistas, nem mesmo ele [John]. Este é meu filme, meu projeto, minha visão. John nunca me disse não, nunca tentou interferir em nada – e eu o admirei por isso."

Documentários como Ascensão e Queda são feitos postumamente, o que diferencia a relação que temos com os personagens das histórias contadas e também com as fontes que participam do projeto. Aqui, ter John também contando e respondendo aos acontecimentos deixa o filme inesperado. "Entrevistei pessoas que trabalharam com John ao longo de sua carreira e que não disseram nada porque tinham medo de serem verdadeiros demais. Acho que o mundo da moda, muitas vezes, nega a verdade. Moda é fantasia, beleza. Ninguém quer reconhecer o lado feio das coisas porque isso é um pouco deprimente", afirma o diretor.

"Contudo, me surpreendeu a quantidade de celebridades, Kate Moss, Naomi Campbell, Charlize Theron etc, que queriam fazer parte disso, mesmo podendo ser algo difícil para elas. Todas o veem como um amigo, é uma relação de lealdade. E penso que é um tópico complexo, não? Porque se você estivesse com problemas, gostaria que seus amigos fossem leais a você. Ao mesmo tempo, eles precisam reconhecer que você fez algo errado."

Naomi — Foto: Divulgação
Naomi — Foto: Divulgação

Longe de querer redimir John Galliano, Kevin Macdonald faz um convite para a audiência debater as inúmeras questões apresentadas – os dilemas com o álcool, a pressão frenética da indústria por resultados e vendas, o cansaço das mentes criativas, os surtos mimados endossados pelas marcas, além, claro, dos comentários antissemitas dele – de forma crítica, não leviana. "O filme não pretende ser uma redenção para ele. Quero que o público tenha a chance de debater e decidir por si só. Ele fez algo horrível, realmente ofensivo. E isso pode ser uma coisa imperdoável para alguém, mas para outro alguém pode ser possível perdoá-lo. Meu interesse com o documentário é explorar as áreas cinzentas do que aconteceu", afirma.

Impossível não pensar na cultura do cancelamento, essa que imediatamente resume determinados assuntos a um único tópico e elimina qualquer tipo de contra argumento. "É interessante perceber que o cancelamento começou na era do smartphone, na qual podemos gravar facilmente qualquer pessoa fazendo qualquer coisa e ter evidências nas redes sociais do que aconteceu. E há algo de importante nisso dentro do contexto daqueles poderosos que abusaram dos que estavam ao seu redor; e o cancelamento nivelou o campo de jogo, permitiu às pessoas antes vistas como menores a revidarem comportamentos ultrajantes. Contudo, como qualquer outra coisa, existe o lado bom e o lado ruim. O ser humano tende a ser excessivamente moralista e simplificar algumas situações que são muito mais complexas. Nenhum de nós quer ser julgado por um vídeo de 10 segundos."

Galliano na porta de entrada de sua casa — Foto: Divulgação
Galliano na porta de entrada de sua casa — Foto: Divulgação

O diretor cita o rabino que aparece no filme, e que se disponibilizou para conversar com Galliano ao longo desses últimos anos sobre o antissemitismo: "Qual o sentido da religião se não podemos acreditar que as pessoas podem mudar?". "Achei tão interessante isso, e você não precisa ser religioso para entender que as pessoas podem mudar, que elas não são apenas uma coisa para sempre. Podem cometer erros, mas também podem aprender com eles e não repeti-los. Acredito nisso."

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