Cássia Eller | Enciclopédia Itaú Cultural

Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Música

Cássia Eller

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.08.2020
10.12.1962 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
29.12.2001 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Cássia Rejane Eller (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1962 – idem, 2001). Cantora, compositora e instrumentista. É considerada um ícone do rock brasileiro da década de 1990. Com extensa capacidade interpretativa, também se destaca em outros estilos musicais, como o samba, o blues, o cancioneiro da vanguarda paulista e a canção francesa.

Texto

Abrir módulo

Cássia Rejane Eller (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1962 – idem, 2001). Cantora, compositora e instrumentista. É considerada um ícone do rock brasileiro da década de 1990. Com extensa capacidade interpretativa, também se destaca em outros estilos musicais, como o samba, o blues, o cancioneiro da vanguarda paulista e a canção francesa.

Aos 14 anos começa a tocar violão sob influência dos Beatles. A família muda-se para Brasília, e lá, com 18 anos, Cássia experimenta diversos estilos que formam seu ecletismo vocal e performático. Integra as bandas Artimanha, Trio Elétrico Massa Real e o Malas e Bagagens como cantora, compositora e instrumentista. Paralelamente, no teatro musical, faz parte da trupe do cantor Oswaldo Montenegro (1956) no espetáculo Veja Você, Brasília (1982), e compõe o coro da primeira montagem brasileira da ópera do compositor americano George Gershwin (1898-1937), Porgy and Bess, no Teatro Nacional, em 1984. 

Cássia desenvolve uma personalidade teatral que serve tanto ao humor quanto ao drama. No palco, a intenção interpretativa da atriz e cantora “enxergava o ridículo da vida mas não o denunciava de forma explícita”1. Em 1985, torna-se sucesso de crítica e público em Brasília ao protagonizar, ao lado do ator Marcelo Saback (1962), o musical Gigolôs, com direção de Alexandre Ribondi (1952). Influenciada pelas cantoras americana Nina Simone (1933-2003) e francesa Edith Piaf (1915-1963), destaca-se no espetáculo com sua interpretação de “Ne me quitte pas”, parte do repertório das duas cantoras, composta pelo belga Jacques Brel (1929-1978).

Os anos em Brasília, entre apresentações informais em bares e na cena do teatro musical, definem as possibilidades de seu repertório futuro e de seu estilo interpretativo, mais afeito ao palco do que ao estúdio. De voz naturalmente rascante, meio-soprano, Cássia não se atém ao estereótipo vocal de rock and roll ao estilo da cantora americana Janis Joplin (1943-1970). Graças à inteligência cênica, desenvolve capacidades interpretativas mais viscerais, ligadas à intenção lírica das canções, o que resulta em um canto ao mesmo tempo resiliente e profundo.

Em 1987, muda-se para São Paulo, onde encontra o produtor musical Wanderson Clayton Eller (1959), seu tio. Com ele, Cássia grava uma fita demo que inclui, além de suas interpretações de Brel e Beatles, canções de compositores de São Paulo e sua versão de “Por Enquanto”, do cantor Renato Russo (1960-1996). Mayrton Bahia (1956), produtor musical da Legião Urbana e diretor artístico da gravadora Polygram, escuta a fita e firma um contrato de três discos com a cantora, que se muda definitivamente para o Rio de Janeiro. 

Seu primeiro disco apresenta um equilíbrio eclético entre estilos, mediado por Cássia e Wanderson, produtor do álbum. Conta com a participação de músicos de origens musicais díspares, como o baixista Jorge Helder (1955), ligado ao jazz e à MPB, e o guitarrista e futuro produtor Tom Capone (1966-2004), representante do rock brasiliense.

Em 1992, Cássia lança O Marginal, disco também produzido por Wanderson, que traz composições de Arrigo Barnabé (1951), Luiz Melodia (1951-2017) e Itamar Assumpção (1949-2003), além de duas canções do americano Jimi Hendrix (1942-1970). Com apelo menos popular que o trabalho anterior, torna-se o disco menos vendido da carreira da cantora. Em 1994, o terceiro disco de sua carreira – homônimo, assim como o primeiro – alcança o topo das paradas de sucessos radiofônicas com a canção “Malandragem”, parceria dos compositores Cazuza (1958-1990) e Roberto Frejat (1962). Cássia Eller, com repertório mais pop, torna-se um sucesso comercial com mais de 150 mil cópias vendidas. Produzido por Guto Graça Mello (1948), o álbum é muito bem avaliado pela crítica.

A partir de então, a cantora é reconhecida como uma das principais intérpretes do Brasil. De acordo com o cantor Caetano Veloso (1942), com o canto e a presença de Cássia Eller é possível remontar a uma linhagem que começa em Aracy de Almeida (1914-1988), passa por Carmen Costa (1920-2007), Maysa (1936-1977), Dolores Duran (1930-1959) e Almira Castilho (1924-2011). Segundo Caetano, “não é por acaso que seu rock’n’roll se refere ao flamenco, à canção francesa mais visceral e ao blues”2.

Com o sucesso de “Malandragem”, Cássia retorna ao estúdio para gravar Veneno Antimonotonia, álbum dedicado ao repertório de Cazuza e produzido por Waly Salomão (1943-2003). As apresentações, também dirigidas por Waly, rendem o disco Veneno Vivo (1998).

Em Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo (1999), Cássia estabelece uma virada em sua carreira. Com o cantor Nando Reis (1963) como seu novo produtor, ela reavalia sua trajetória: “Fui ouvir meus outros CDs e vi que estava gritando o tempo todo. Agora vejo que consigo fazer de forma diferente”3. Com um repertório de canções inéditas do próprio Nando, de Caetano Veloso, Gilberto Gil (1942) e Luiz Melodia, Cássia busca novas formas de interpretação, ao mesmo tempo que explora sua extensão vocal e faz uso de um canto mais contido. O Acústico MTV, último álbum lançado em vida pela cantora, coroa a carreira musical de Cássia em sua breve e intensa turnê de mais de cem shows ao longo de seis meses.

Se por um lado Cássia Eller permanece vinculada à linguagem performática do rock, sua trajetória contesta reiteradamente esse estereótipo. O repertório extenso e heterogêneo registrado em sua discografia é fruto da inteligência musical da cantora, aliada a uma ideia de construção de uma obra que, em retrospecto, é das mais relevantes da música popular brasileira do final do século XX.

Notas

1. MONTENEGRO, Oswaldo. Depoimento em Cássia Eller. Direção: Paulo Henrique Fontenelle. [S.l.]: Migdal Filmes, 2015. 

2. Box de discos de Cássia Eller tem texto de Caetano Veloso. O Globo, 4 jun. 2015. https://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/post/box-de-discos-de-cassia-eller-tem-texto-de-caetano-veloso-ela-e-verdade-pura.html.

3. ESSINGER, Sílvio. "Nova Cássia Eller". Jornal do Brasil. 17 jul. 1999. Caderno B. p. 1.

Fontes de pesquisa 6

Abrir módulo
  • CÁSSIA Eller. [Documentário]. Direção: Paulo Henrique Fontenelle. [S.l.]: Migdal Filmes, 2015.
  • ESSINGER, Sílvio. Nova Cássia Eller. Jornal do Brasil, [s.l.], 17 jul. 1999. Caderno B, p. 1.
  • FRANÇA, Jamari. Desagrava à genial Cássia Eller. Jornal do Brasil, [s.l.], 15 ago. 1992. Caderno B, p. 6.
  • FRANÇA, Jamari. O disco que ela mereceria. Jornal do Brasil, [s.l.], 28 jun .1994. Caderno B, p. 7.
  • GUIMARÃES, Cleo. Box de discos de Cássia Eller tem texto de Caetano Veloso. O Globo, [s.l.], 4 jun. 2015. Gente boa. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/post/box-de-discos-de-cassia-eller-tem-texto-de-caetano-veloso-ela-e-verdade-pura.html.
  • MONTENEGRO, Oswaldo. Depoimento em Cássia Eller. [Documentário]. Direção: Paulo Henrique Fontenelle. [S.l.]: Migdal Filmes, 2015.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: