Sabotage, artista morto há 20 anos, ainda ecoa como um norte do rap compromissado | Blog do Mauro Ferreira | G1

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Por Mauro Ferreira

Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'. Faz um guia para todas as tribos

ANÁLISE – Tanto se falou e ainda se fala cotidianamente a respeito de Mauro Mateus dos Santos (3 de abril de 1973 – 24 de janeiro de 2003), o Sabotage, que hoje – dia em que se completam exatos 20 anos da morte do rapper paulistano – parece um dia qualquer. Porque o rap compromissado de Sabotage ainda reverbera todo dia como um norte nas mentes dos manos que vieram depois, como um lembrete constante de que rapper não é viagem.

Na esfera terrena, a viagem do cantor, compositor e ator foi curta. Sabotage foi assassinado a menos de três meses de completar 30 anos. Deixou um álbum referencial, Rap é compromisso (2000), e teve o som atualizado pelos produtores Daniel Ganjaman, Rica Amabis e Tejo Damasceno no disco póstumo Sabotage (2016), formatado a partir de gravações da voz do artista em músicas então inéditas registradas entre 2001 e 2003.

Parece pouco, mas é muito pela força perene do que ficou nos discos. Sabotage foi voz sobressalente que se fez ouvir a partir das quebradas da periferia da cidade São Paulo (SP), mais precisamente da Favela do Canão, onde nasceu e se criou.

Munido do rap, o Maestro do Canão – codinome que batizou documentário sobre o artista filmado sob direção de Ivan 13F e lançado em 2025 – alvejou o racismo, a miséria e a injustiça social que o povo preto e pobre enfrenta na luta diária pela sobrevivência.

O rapper versou sobre o que sofreu na pele preta. Sabotage experimentou toda a sorte de dissabores na vida dura vida. Criado sem pai pela mãe, empregada doméstica, Mauro dos Santos se envolveu com o crime e foi parar na prisão sob a acusação de furto. Sobreviveu no inferno e nunca deixou que lhe aprisionassem a mente.

Com a liberdade de pensamento, ganhou voz ativa através do rap. Revelado no grupo RZO (Rapaziada da Zona Oeste), Sabotage usou o rap como arma para denunciar todo o sistema opressor que ceifam vidas negras como a dele pela violência, inclusive a policial.

Sabotage morreu, mas ainda vive pela obra que lhe serviu de testamento por denunciar tudo o que há de podre a assombrar o pobre no país da fome.

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