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Duques de Windsor: Luxo, segredos de Estado e as ligações a Ricardo Espírito Santo

A paixão que levou Eduardo VIII a abdicar do trono para casar com Wallis Simpson é uma das melhores histórias da casa real britânica. Mas, segundo uma nova biografia do tio-avô de Isabel II, agora lançada em Portugal, o que estava em causa era muito mais sombrio do que um casamento considerado pouco adequado para um monarca.

Eduardo VIII com a sua mulher Wallis Simpson, duquesa de Windsor, nos anos 40.
Eduardo VIII com a sua mulher Wallis Simpson, duquesa de Windsor, nos anos 40. Foto: Getty Images
16 de fevereiro de 2023 Maria João Martins

A notícia encheu as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo: a 11 de dezembro de 1936, depois de menos de um ano de reinado, Eduardo VIII, rei de Inglaterra e Imperador da Índia, abdicou do trono e de tais títulos para poder casar com a mulher que escolhera para companheira da sua vida. Anunciou-o com gravidade aos microfones da BBC, numa declaração breve e sem preâmbulos, que ficaria para a História: "Considero que não sou capaz de carregar o pesado fardo da responsabilidade e cumprir as minhas funções de rei como gostaria de fazer sem a ajuda e o apoio da mulher que amo… Neste momento, demito-me totalmente dos assuntos públicos e entrego o meu dever." No trono, sentar-se-ia doravante o segundo filho do rei Jorge V e da rainha Mary, irmão mais novo de Eduardo, o rei Jorge VI, pai de Isabel II.

Os Windsor no castelo de La Croë, França, 2 de janeiro de 1939.
Os Windsor no castelo de La Croë, França, 2 de janeiro de 1939. Foto: D.R

No entanto, aquilo que, durante décadas, pareceu um ato de despojamento em prol do amor pode ocultar um lado bem mais sombrio dos seus protagonistas. Pelo menos é o que defende o biógrafo britânico Andrew Lownie no livro, lançado em Portugal pela Casa das Letras, O Rei Traidor - O Escandaloso Exílio dos Duques de Windsor. É que, para o autor, esta paixão do rei, nascida quando ele ainda era príncipe de Gales, por uma cidadã norte-americana casada pela segunda vez, e com uma passagem tão misteriosa como turbulenta pelo Extremo Oriente, não era coisa que a sua família, mas também o Governo, considerassem adequada. No entanto, Eduardo VIII mostrar-se-ia irredutível.

Nascido em 1894, quando a bisavó, a rainha Vitória, ainda reinava, Eduardo foi um príncipe popular e bem parecido, que gostava de se misturar com as multidões. Mas era sobretudo um hedonista, que usou e abusou do privilégio de viver em plena juventude os loucos anos 20, colecionando namoradas, sobretudo casadas, o que deixava os pais à beira da apoplexia. Uma delas, Thelma Furness, apresentá-lo-ia à sua amiga, Wallis, em 1934. O resto foi o que se sabe.

'O Rei Traidor - O Escandaloso Exílio dos Duques de Windsor', de Andrew Lownie (Casa das Letras).
'O Rei Traidor - O Escandaloso Exílio dos Duques de Windsor', de Andrew Lownie (Casa das Letras). Foto: D.R

Como escreve Andrew Lownie, em breve, os serviços secretos ingleses inspecionavam a vida passada e presente da eleita de Eduardo. Descobrem-lhe supostos amantes, que ela ajudaria a manter com dinheiro que lhe era dado pelo príncipe, mas sobretudo inquietam-se com as suas simpatias políticas, dando-a como próxima dos nazis, em particular do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Hitler, Joachim von Ribbentrop. Estas relações continuariam a ser um foco de tensão após a abdicação e o casamento dos Windsor (em junho de 1937), sobretudo após o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, a 1 de setembro de 1939, com a Inglaterra e a Alemanha em campos opostos. As simpatias nazis do casal tornam-se uma dor de cabeça para Londres, mais do que justificadas quando, no verão de 1940, os dois chegam a Portugal e ficam hospedados, em Cascais, na casa do banqueiro Ricardo Espírito Santo, cujas ligações ao governo de Hitler eram bem conhecidas dos serviços secretos britânicos. Mais tarde vir-se-ia a saber que, de facto, os alemães chegaram a elaborar um plano – a que deram o nome de Willi – para raptar o Duque, a partir da casa do banqueiro português, e usá-lo como objeto de chantagem sobre Jorge VI e Churchill. Mas os ingleses antecipar-se-iam, resolvendo o problema com o envio do antigo rei para as Bahamas, então uma colónia britânica, onde este exerceria as funções de Governador. O primeiro-ministro Churchill, citado por Lownie  justificava a nomeação: "As atividades do duque de Windsor no continente nos meses mais recentes têm estado a causar a Sua Majestade e a mim próprio um grave mal estar, pois as suas inclinações são bem conhecidas por serem pró-nazi e pode tornar-se um foco de intriga. Vemos como um verdadeiro perigo o facto de ele se movimentar livremente no continente." Embora considerando o cargo muito aquém da sua dignidade real, o duque aceita e ruma ao distante arquipélago. Aí permaneceria até ao final do conflito, em 1945, todo ele ressentimento e vaidade beliscada.

O encontro dos duques de Windsor com Adolf Hitler, 22 de outubro de 1937.
O encontro dos duques de Windsor com Adolf Hitler, 22 de outubro de 1937. Foto: D.R

Sem qualquer simpatia pelo seu biografado e pela mulher, Andrew Lownie realça a falta de interesses culturais ou sociais dos Windsor, para além do luxo, do bridge e do golfe. Aliás, representa-os, nas últimas décadas de vida, como autómatos a pairar num vazio bem mobilado. Como nesta passagem, em que cita o diário de Cecil Beaton: "Ela está quase à beira da loucura para tentar encontrar formas de o entreter. Ele não tem qualquer interesse e não tem intelecto (...) Nunca abre um livro e, de muitas maneiras, a sua memória foi-se. Os banhos a vapor e o brandy tornaram-no muito fraco. Os anos como príncipe passaram num instante."

Neste vazio, o casal aborrece-se e mantém relacionamentos extraconjugais. No caso do Duque, os rumores associam-no a outras mulheres (ao que tudo indica será o pai biológico do ator Tim Sealy) mas também a homens como Walter Chrysler Jr. Quanto a Wallis, são vários os amantes que lhe são atribuídos, em particular Jimmy Donahue, o jovem herdeiro da cadeia de supermercados Woolworth. 

Os duques de Windsor num jantar organizado em sua honra na Casa Branca por Richard Nixon, 4 de abril de 1970.
Os duques de Windsor num jantar organizado em sua honra na Casa Branca por Richard Nixon, 4 de abril de 1970. Foto: D.R

No meio de tudo isto, o biógrafo concede que o que unia os Windsor era, de facto, amor. E que durou até ao final, que chegou a 28 de maio de 1972, quando ele morreu, aos 78 anos. No funeral em Inglaterra, isolada entre os membros da família real, aquela mulher que, outrora irradiava força, parecia um pequeno pássaro apanhado por uma tempestade. "O príncipe Carlos relembra como ela ficou em pé, sozinha, uma figura preta, frágil, pequena, a olhar para o caixão e finalmente a fazer uma breve vénia... Enquanto lá estávamos, ela continuou a dizer: ‘Ele desistiu de tanto por tão pouco - apontando para si própria com um sorriso estranho.’ Wallis, duquesa de Windsor, morreria em 1986, na sua casa do Bois de Boulogne, em Paris. Num gesto final de aceitação, a rainha Isabel II autorizou que fosse sepultada ao lado do marido, entre os reis de Inglaterra, com a inscrição Wallis, duquesa de Windsor.   

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