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Por Memória Globo

George Maragaia/Memória Globo

Ator, diretor e dramaturgo, Miguel Falabella é conhecido por seus personagens cômicos, tanto no teatro, quanto na televisão. Esteve na Globo de 1982 a 2020, onde exerceu diversos papéis na frente e fora das câmeras. O ranzinza Caco Antibes conquistou o público desde o primeiro episódio do humorístico 'Sai de Baixo' (1996), arrancando risadas da plateia ao longo das seis temporadas do programa. O humor politicamente incorreto do “louro nórdico, alto, de olhos azuis” era uma verdadeira antítese do Falabella visto nas tardes de segunda à sexta, durante os anos em que permaneceu na bancada do 'Vídeo Show' (de 1987 a 2001). Falabella tem se dedicado também a criar histórias para a televisão. Sua primeira novela, 'Salsa e Merengue' (1996), em coautoria com Maria Carmem Barbosa, assim como 'A Lua Me Disse' (2005), demonstrou o potencial do humor ácido que permeou o roteiro de suas obras seguintes: 'Toma Lá Dá Cá' (2007) e 'Pé Na Cova' (2013).

Para ser ator, a pessoa precisa dominar a palavra. A etimologia da palavra ajuda a interpretar. Conhecer a estrutura da língua é fundamental.

Para Miguel Falabella, o humor e a inspiração para boas histórias nascem do encontro com desconhecidos nas ruas. “Eles me falam suas histórias, porque geralmente não são ouvidos. Escuto coisas inacreditáveis, maravilhosas.”

Miguel Falabella — Foto: Acervo/Memória Globo

Início da carreira

Miguel Falabella de Souza Aguiar nasceu em 10 de outubro de 1956, no bairro de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, filho de um arquiteto e de uma professora universitária de francês e literatura francesa. A família mudou-se para a Ilha do Governador, onde ele viveu até os 17 anos de idade. Começou a fazer teatro na adolescência, primeiro no colégio onde estudava e depois no tradicional Teatro Tablado – escola para atores de Maria Clara Machado. Sua estreia no palco foi aos 18 anos, com a peça 'O Dragão', de Eugene Schwarz. Nessa época, Falabella cursava Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A experiência universitária lhe serviu para aprimorar sua ligação com a língua portuguesa, elemento que considera essencial para dar profundidade na arte de representar, que seguiria mais adiante. “Para ser ator, a pessoa precisa dominar a palavra. A etimologia da palavra ajuda a interpretar. Conhecer a estrutura da língua é fundamental”, opina.

No final de 1976, Miguel Falabella conheceu a atriz Maria Padilha, com quem organizou um grupo de teatro, do qual também fizeram parte os atores Daniel Dantas, Rosane Gofman, Fábio Junqueira, Zezé Polessa e Paulo Reis. A estreia da turma foi na peça 'O Despertar da Primavera', de Frank Wedekind, em 1979, seu primeiro trabalho como ator profissional. O sucesso deu projeção à nova geração de atores. Em seguida, Falabella viajou à França, onde fez cursos avulsos até voltar ao Brasil para integrar o elenco do filme 'O Sonho Não Acabou', de Sérgio Rezende, e reunir-se novamente com seu grupo teatral na peça 'A Tempestade', de Shakespeare. Nesse mesmo período, Falabella voltou à escola onde estudou, o Colégio Andrews, mas como professor de teatro, função que desempenhou de 1978 a 1985. Entre seus alunos, vários seguiram a carreira de ator, como Luciana Braga, Felipe Martins, Eduardo Galvão e Tereza Seiblitz.

Estreia na televisão

Na televisão, Miguel Falabella estreou vivendo o galã romântico do 'Caso Verdade Jan e Jim', exibido na Globo em setembro de 1982 e escrito por Eloí Calage, com direção de Walter Campos, Milton Gonçalves e Reynaldo Boury. No mês seguinte, fez sua primeira novela, como o personagem Romeu em 'Sol de Verão', de Manoel Carlos. A trama foi afetada por cortes da censura e pela morte do ator Jardel Filho, que vivia um dos papéis principais. Seu trabalho seguinte na Globo foi outro 'Caso Verdade', 'Choque de Gerações', de Marília Garcia e Marilu Saldanha.

Em 1984, Falabella atuou em 'Amor com Amor se Paga', de Ivani Ribeiro, como o personagem Renato. Ainda naquele ano, trabalhou em 'Livre para Voar'. Na novela de Walther Negrão, viveu o personagem Sérgio. Mas foi com o malandro Miro, criado por Janete Clair, que o ator começou a ter maior projeção na televisão, ao participar da segunda versão de 'Selva de Pedra', escrita por Regina Braga e Elói Araújo em 1986. Em 1987, o ator experimentou a direção, dirigindo com Cecil Thiré e Lucas Bueno a novela 'Sassaricando', de Silvio de Abreu.

Vídeo Show

Em agosto de 1987, passou a apresentar o 'Vídeo Show', no qual ficou por 14 anos, até dezembro de 2001. Além de fazer a abertura das matérias, ele comandava entrevistas, recebia convidados e respondia às cartas dos telespectadores. “'O Vídeo Show' foi muito determinante na minha carreira, porque me deu intimidade com o público. Eu não era personagem, eu era o Falabella, conversava com as pessoas, me deu uma marca muito pessoal com o público. Eu achava que eu devia dizer coisas bonitas: tudo o que eu lia e gostava, eu dividia com o público, como as frases no final do programa, eram uma filosofia. Muito interessante”, comenta.

Ao longo dos anos como apresentador do programa, Falabella continuou atuando na TV. Em 'Mico Preto' (1990), de Marcílio Moraes, Leonor Bassères e Euclydes Marinho, fez três personagens ao mesmo tempo: o homossexual José Luís; seu irmão gêmeo Arnaldo, machão e ladrão internacional; e Guimarães, na verdade Arnaldo disfarçado.

Em 1992, interpretou o papel principal da minissérie 'As Noivas de Copacabana', escrita por Dias Gomes, Ferreira Gullar e Marcílio Moraes: o psicopata Donato Menezes, conceituado restaurador de obras de arte que seduzia e matava mulheres vestidas de noiva. “Não gosto de mocinho, gente boazinha, insuportável. Gosto dos vilões. E fiz esse vilão maravilhoso nas 'Noivas de Copacabana', do Dias Gomes, ele era um estrangulador”, comenta.

'As Noivas de Copacabana': Donato faz mais uma vítima, 1992.

'As Noivas de Copacabana': Donato faz mais uma vítima, 1992.

Dois anos depois, Falabella participou do elenco de 'A Viagem', de Ivani Ribeiro, cujo tema central era a vida após a morte. Em seguida, viveu um dos papéis principais de 'Cara & Coroa', o vilão Mauro, na novela de Antonio Calmon. Só voltaria a atuar em novelas em 2003, como o protagonista de 'Agora é que São Elas', de Ricardo Linhares, fazendo par com Marisa Orth e Vera Fischer.

Cala a boca, Magda!

Em 1996, Miguel Falabella foi chamado para integrar o elenco de um novo formato de humor, que misturaria teatro com televisão, sendo gravado em um teatro, permitindo falhas ao vivo e improviso em cena. A estreia de 'Sai de Baixo' foi um sucesso. Um dos destaques foi o personagem vivido por Miguel Falabella, o mau-caráter Caco Antibes, que, como ficou claro já no primeiro episódio perdia o amigo, mas não a piada. Caco ganhou mais espaço na trama devido ao talento de Miguel Falabella que, em parceria com Marisa Orth, criou um casal que vivia aos trancos e barrancos, sendo sustentado pelo Tio Vavá (Luis Gustavo). As expressões mais famosas de Caco Antibes surgiram no improviso e caíram na boca do povo, como “Cala a boca, Magda”; “canguru perneta”; e “Eu tenho horror a pobre”.

EXCLUSIVO: Webdoc de 'Sai de Baixo' (1996)

EXCLUSIVO: Webdoc de 'Sai de Baixo' (1996)

'Sai de Baixo' ficou no ar até dezembro de 2001. Anos depois, em 2013, ganhou uma temporada especial, produzida pelo canal Viva, em parceria com a Globo. “O figurino era uma loucura, o Caco era um homem que não tem um tostão, que mora no Arouche e que é um oligofrênico, veste Prada, é um sociopata. Ele odiava pobre, odiava todo mundo, na verdade, e o público amava isso. Com um mês, o programa já estava consolidado”, lembra.

O autor

Ainda em 1996, ele estreou como autor de novelas com 'Salsa e Merengue', escrita com Maria Carmem Barbosa para o horário das 19h. Os dois começaram a escrever juntos quando ela supervisionava os textos do seriado 'Delegacia de Mulheres' (1990). Nasceu ali uma grande parceria, que inclui trabalhos em teatro e ainda rendeu, na Globo, a novela 'A Lua me Disse' (2005), uma comédia de costumes com elementos do folhetim tradicional, e o humorístico 'Toma Lá, Dá Cá', que estreou como um especial de fim de ano em 2005 e entrou na grade semanal da Globo em 2007, com Falabella no elenco. Na série, ele interpretava o corretor imobiliário Mário Jorge, casado com Celinha (Adriana Esteves) e ex-marido de Rita (Marisa Orth).

Antes disso, o ator já escrevera esquetes para o humorístico 'TV Pirata' (1988), com Vicente Pereira e Patricya Travassos. Para Falabella, organização é primordial para o sucesso de um autor. “Se você se organiza, dá certo. O autor de novela tem que se reinventar cotidianamente, porque a novela tem uma tendência a criar barriga com uma facilidade brutal, se não estrutura, não sabe pra onde ir, você vai ficar a deriva. É desesperador, porque tem a angústia da página em branco, o ator precisa receber o texto. É preciso ter comando.”

Em outubro de 2008, estreou a novela 'Negócio da China', uma comédia romântica urbana, protagonizada por Grazi Massafera e Fábio Assunção. Em 2011, escreveu a novela 'Aquele Beijo', comédia romântica protagonizada por Giovanna Antonelli, Victor Pecoraro, Ricardo Pereira e Grazi Massafera. Dois anos mais tarde, Falabella tirou do papel o seriado 'Pé Na Cova', no qual interpretou o patriarca Ruço, que toca um negócio mórbido ao lado da esposa Darlene (Marília Pêra): a Funerária Unidos do Irajá, conhecida como F.U.I. Com um texto divertido e excêntrico, recheado de personagens nada convencionais, a trama se passa em Irajá e mistura o mundo dos vivos e dos mortos. A série foi marcada por ter sido o último trabalho de Marília Pêra, que faleceu em 2015.

Em 2014, Miguel Falabella dirigiu e atuou no seriado 'Sexo e as Nêga', que retratava a vida de quatro amigas do bairro de Cordovil, Zona Norte do Rio de Janeiro. A volta ao 'Vídeo Show' se deu em abril de 2015, quando o ator voltou a fazer o encerramento do programa.

Teatro

A trajetória de sucesso de Falabella no teatro remonta ao ano de 1988, quando entrou em cartaz a peça 'Sereias da Zona Sul', escrita por ele com Vicente Pereira, e na qual contracenava com Guilherme Karam. Os dois atores dividiram o prêmio Mambembe de melhor ator. Falabella já havia trabalhado com Karam em Miguel Falabella e Guilherme Karam, Finalmente Juntos e Finalmente ao Vivo, que também já fizera muito sucesso. Um dos expoentes do besteirol, como autor e intérprete, Falabella fez uma série de peças, como: 'Louro, Alto, Solteiro, Procura'; 'Falabella Solta os Bichos'; 'Querido Mundo'; 'A Pequena Mártir de Cristo Rei'; e 'O Submarino'. Sua estreia na direção teatral foi na premiada peça 'Emily' (1994), que lhe valeu o prêmios Molière de melhor direção e Mambembe de revelação em direção.

Entre outros trabalhos que dirigiu estão 'Tupã, a Vingança', de Mauro Rasi, 'Lucia McCartney', adaptação de Geraldo Carneiro do texto de Rubem Fonseca e o infantil 'O Rouxinol do Imperador', adaptado por Flávio Marinho. A lista de trabalhos é interminável. Falabella também atuou em 'Batalha de Arroz num Ringue para Dois' e 'O Beijo da Mulher Aranha', e escreveu e dirigiu 'A Partilha' (Prêmio Molière de melhor autor), 'No Coração do Brasil', 'Como Encher um Biquíni Selvagem', 'Os Monólogos da Vagina' (adaptação do original de Eve Ensler) e 'South American Way' – musical sobre a vida de Carmen Miranda -, 'Capitanias Hereditárias' e 'Todo Mundo Sabe o que Todo Mundo Sabe' (as três com Maria Carmem Barbosa).

Em 2001, 'A Partilha' foi transformada em filme, com produção da Globo Filmes e direção de Daniel Filho, repetindo o sucesso da peça. O longa-metragem levou prêmio de melhor roteiro (Miguel Falabella, Daniel Filho, João Emanuel Carneiro e Mark Haskell Smith) no Festival de Cinema Brasileiro de Miami. Em 1992, 'A Partilha' estreou em Buenos Aires, numa versão intitulada 'Nosotras que nos Queremos Tanto', permanecendo quase três anos em cartaz. Realizou turnê por várias províncias argentinas e ganhou o prêmio 'Estrela do Mar', um dos mais importantes do país. Já foi montada em 12 países. Outras peças suas também foram encenadas no exterior, entre elas 'O Submarino', apresentada em Portugal.

Na década de 1990, Miguel Falabella assinou no jornal O Globo a coluna semanal 'Um Coração Urbano', publicada inicialmente aos domingos na editoria Grande Rio, e depois às quintas-feiras, no Segundo Caderno. Tempos depois, também teve uma coluna no jornal O Dia. O ator publicou um livro com suas crônicas, 'Pequenas Alegrias', pela editora Objetiva.

Falabella inaugurou em 1997 uma casa de espetáculos, o Teatro Miguel Falabella, no Norte Shopping, na zona norte do Rio. Em 2004, lançou pela Lacerda Editores o livro 'Querido Mundo e Outras Peças', com sete peças escritas por ele e Maria Carmem Barbosa. Falabella também é bastante atuante no carnaval carioca. Não só já desfilou por diferentes escolas de samba, como foi carnavalesco e diretor da Império da Tijuca, tendo assinado os enredos da escola de 1993 a 1996. Em 1995, com o enredo 'Sassarico na Colombo', a escola foi vice-campeã do grupo de acesso A, indo para o grupo especial. Em 2003, foi convidado pelo prefeito César Maia para assumir o cargo de gestor da rede municipal de teatros, então responsável por 16 espaços – dez teatros e seis lonas culturais -, a maior rede pública do país. Ocupou o cargo até 2007. No mesmo ano, estreou o musical 'Os Produtores', adaptado, dirigido e estrelado por ele, com Vladimir Brichta e Juliana Paes no elenco.

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