Biotech brasileira cria processo mais eficaz na produção de medicamento à base de maconha - Época Negócios | Startup
  • Daniela Frabasile
Atualizado em
Planta de maconha - uruguai - erva - maconha - uso recreativo - uso medicinal (Foto: Raúl Martínez/EFE)

Medicamento pode baratear tratamento contra epilepsia (Foto: Raúl Martínez/EFE)

Falar em uso terapêutico da maconha não é lá uma grande novidade. Mas ainda há poucos medicamentos aprovados feitos à base de cannabis - o mais comum é simplesmente usar o extrato de canabidiol. Nesta semana, uma biotech brasileira deu um passo importante para entrar no seleto grupo de companhias com um fármaco derivado da planta. A Entourage Phytolab publicou os resultados da fase 1 de seu medicamento para epilepsia à base de CBD. Agora, a expectativa é lançar o fármaco já em 2021. Após mais de US$ 7 milhões investidos, além dos resultados positivos desta etapa, a companhia revelou também ter conseguido desenvolver um método mais eficaz para produzir o medicamento. Comparada à geração atual de medicamentos, ela aumenta em até duas vezes a concentração de CBD que chega ao sangue.

Segundo Caio Santos Abreu, CEO da Entourage, o ganho de eficiência pode contribuir para a redução dos custos do medicamento aos pacientes. “Os extratos vendidos são muito caros. Ficam entre US$ 60 a US$ 80 por grama, e um paciente pode consumir entre 3g a 9g por mês, a depender da doença e da gravidade”, diz ele. “Com esse custo, o tratamento de doenças mais graves fica praticamente impossível para a maior parte da população brasileira”. 

Na fase 1, o medicamento foi aplicado em pessoas saudáveis, para avaliar sua segurança e os efeitos no corpo humano. A fase 2 será com pacientes e deve averiguar a eficácia do remédio contra crises de epilepsia, e as doses recomendadas. Após uma possível aprovação do medicamento, a empresa espera realizar novos estudos clínicos da mesma droga para outros tratamentos, como de ansiedade e síndrome do pânico.

Segundo Abreu, ainda é cedo para estipular o preço, mas a expectativa é ter um tratamento com custo abaixo de R$ 1 mil por mês – cerca de um terço na comparação com medicamentos similares já disponíveis no mercado. “Ainda é um valor bastante elevado, mas nosso esforço não para aqui”.

O que encarece o produto, segundo o CEO, é a própria matéria prima: a cannabis. Por isso, o ganho de eficiência na produção contribui tanto para a redução do preço final. “Quando falamos em eficiência na absorção do produto, se o paciente antes precisava de 6g, vai precisar de entre 3g a 4g”, afirma.

Há outro ganho importante para os pacientes. Com o processo criado pela Entourage, a absorção do canabidiol pelos pacientes também fica mais uniforme. “Hoje, por causa dessa diferença de absorção entre os pacientes, demora para que o médico consiga ajustar a dose para cada um. Quanto você tem um produto que todos absorvem da mesma maneira, é mais fácil chegar à dose correta”.

Com uma possível aprovação do medicamento pela Anvisa, Caio não espera grandes dificuldades na aceitação do fármaco pelos médicos. "Fundamos a empresa com o pensamendo de que se a gente tem tantos medicamentos disponíveis à base de ópio, por que não à base de cannabis?", questiona. "Fizemos uma pesquisa qualitativa com médicos. Eles não têm preconceito com matéria prima, desde que você forneça os dados clínicos necessários. Hoje, poucos médicos prescrevem tratamentos com o canabidiol por causa da falta de dados".

Além da maior eficiência, a Entourage também aposta em uma redução do custo da cannabis com o passar do tempo. Para Abreu, a legalização do plantio tem aumentado a oferta da planta. “A cannabis é uma matéria-prima agrícola, não há nenhuma ciência de foguete por trás da produção. O desafio é a regulação. Nos países onde a produção e comercialização foram reguladas, há um crescimento importante na área plantada, o que reduz o preço”, diz. Segundo ele, no Canadá, em cinco anos de legalização, o grama da flor de cannabis passou de US$ 12 para US$ 5. No Oregon (EUA), onde a regulação é mais antiga, 28g da planta custam US$ 5.

“Não faz sentido ser uma matéria-prima tão cara. Acreditamos que a adaptação, tanto dos reguladores quanto dos empresários, é lenta, mas o processo de commoditização inevitavelmente acontecerá”, diz.

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