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Arte. O que isso tem a ver com pixo?

Muito presente na cena urbana, o pixo é o ato de escrever ou marcar sobre muros, fachadas, asfaltos ou monumentos fazendo o uso do spray, stencil ou rolo de tinta.

Um movimento transgressor e não uniforme, o pixo pode ser compreendido como insulto à ordem estética visual da cidade enquanto um ato de vandalismo ou pode ser interpretado como pura e simplesmente arte.

No entanto, existe um terceiro ponto de vista, que pode estar mais próximo da visão de quem pixa, no qual o pixo pode ser compreendido enquanto parte do processo artístico de marcar a cidade e deixá-la absorver, pela temporalidade, a efêmera duração de uma pixação. Talvez essa terceira via, seja a mais próxima da técnica do pixo.

Qual o começo disso tudo?

Enquanto uma expressão, a pixação adentra na cena urbana no fim dos anos 60 e no início dos anos 70, pelo Tozinho (Antenor de Lara Campos Filho), precursor da ação de escrever em muros e fachadas, sejam elas públicas ou privadas, a frase “Cão Fila KM 26”.

A ideia do autor era promover seu negócio de vendas de cachorros da raça Fila. Com Tozinho, a expressão não era política ou disruptiva. No entanto, a fratura que esse tipo de inscrição realizava na paisagem era instantânea e, talvez, seja nisso que esteja sustentando um dos pilares da arte de pixar.

Em uma entrevista para a Revista Elástica, o pixador Cripta Djan diz que as ruas e os muros têm um papel fundamental na técnica de pixo e para a arte urbana como um todo. É nas ruas da metrópole que o processo de reivindicação acontece.

Ele diz: “Estamos reivindicando um lugar que foi tomado pelo poder privado para que só uma minoria pudesse intervir […]”. Você pode conferir toda a reflexão da entrevista, no site da Revista Elástica.

Qual a relação entre pixo e arte?

Na 28ª Bienal de São Paulo (2008), permeada pelo termo “Em Vivo Contato”, ocorreu algo inusitado no ambiente artístico: uma proposta de intervenção que trouxe aos espectadores do evento questionar o próprio tema: que contato vivo é este que seleciona o que é possível de ser exposto? E os muros, da cidade que estão em constantes transformações, eles não coexistem com o contato vivo?

A intervenção ocorreu no segundo andar do pavilhão, mantido vazio pela organização do evento, dando, inclusive, apelido à edição daquele ano de “Bienal do vazio”. Este ato real tornou-se história a ser contada em “Urubus”, filme do diretor Cláudio Borelli, exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema.

No filme e no trailer de ‘Urubus’, é possível acompanhar um breve diálogo, no qual um dos organizadores do grupo de pixadores que fez a intervenção na Bienal tem com uma estudante de arte. Ele questiona “[…] [arte], que isso tem a ver com pixo?“.

E é este o ponto fulcral da discussão.

Seria a História da Arte uma História das transgressões?

O pixo, socialmente e culturalmente, não tem seu espaço no mundo das artes convencionais. Ora, o pixo ocorre nas ruas da metrópole, é com razão que o seu espaço não é o mesmo que o da arte, mas, mesmo nas ruas, a técnica de pixo disputa espaço e atenção com intervenções publicitárias e grafiteiras.

Os motivos contrários em considerar o pixo enquanto arte podem se apresentar óbvios, mas, um ponto interessante é que definir o pixo como arte ultrapassa a noção de arte e desloca o seu significado para o campo do possível. O que é ótimo, né? É quase como se houvesse uma recusa em querer institucionalizar o pixo, e ao mesmo tempo, é também querer evidenciar que arte que se faz para além do conhecido.

Duchamp, em sua famosa ‘Fonte’ (mais conhecida como ‘Urinol’), questiona o espaço reservado para a apreciação da arte e, principalmente, o significado de arte. Não queremos usar Marcel Duchamp para dar significado ao ato de pixar, muito pelo contrário, essa técnica é independente da proposta de Duchamp.

Queremos aqui deixar evidente que mesmo no mundo da arte e em sua história, o questionamento dos limites e possibilidades da expressão artística ultrapassa a própria ideia de Arte.

O que podemos levar desta discussão mais do que conclusão, são questionamentos que permitem e possibilitam repensar o fato artístico e o objeto arte, propriamente dito.

Parte da diversidade artística é examinar e encontrar aquilo que destoa do tradicional e o que se estabelece diante disso é que, para que o Urinol de Duchamp seja arte, ele teve que ser recusado, ou seja, tudo que se apresenta como tradicional ou clássico na arte, nem sempre esteve neste grupo tão seleto e dinâmico.

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Publicado por:

Carrie Mae Weems: Arte com a proposta de desestruturar a estrutura.

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