Mileva Maric Einstein: sua participação na Física foi esquecida? - Revista Galileu | Ciência
  • Marília Marasciulo
Atualizado em
Mileva Maric e Albert Einstein (Foto: Domínio público)

Mileva Maric e Albert Einstein (Foto: Domínio público)


Que a Teoria da Relatividade é mérito de Einstein, ninguém duvida nem discute. Mas, recentemente, estudiosos mundo afora têm levantado uma dúvida: de qual Einstein estamos falando? Albert Einstein ou Mileva Maric Einstein?

É que o estudo mais cuidadoso das cartas trocadas entre ele e sua primeira esposa dão indícios de que ela pode ter contribuído muito mais para as teorias do famoso cientista do que se acredita. Há versões inclusive romantizadas da história que atribuem toda a inspiração da Teoria da Relatividade ao luto vivido por Maric após a perda da primeira filha do casal, como contado em Senhora Einstein: A história de amor por trás da Teoria da Relatividade, de Marie Benedict (Única Editora).

Maric nasceu em 1875, na Sérvia, em uma família abastada. Encorajada pelo pai, ela se mudou para Zurique, na Suíça, para estudar Matemática e Física no Instituto Politécnico de Zurique. Ela era a única mulher na classe de seis alunos e a quinta a ingressar no curso, o que mostra que devia ser incrivelmente talentosa para superar as restrições ao ingresso de mulheres.

Um dos colegas de classe de Maric era ninguém menos que Einstein. Ao contrário do que muita gente pode pensar, porém, ele era um aluno bastante medíocre, com reputação de preguiçoso. Ela, por sua vez, tinha fama de boa aluna e o ajudava a resolver os desafios de classe. Não demorou para a relação virar amor. Em 1903, sete anos depois de começarem o romance e terem tido uma filha (que pode ter morrido ou sido doada para adoção, não se sabe ao certo), eles se casaram.

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Dois anos depois, ele publicou a primeira versão da célebre teoria. Nela, o nome de Maric aparece como coautora, algo que desaparece nas versões seguintes. Com base nisso e na correspondência trocada pelo casal, na qual Einstein se refere à teoria como “nossa teoria”, historiadores levantam dúvidas sobre o papel de Maric nas criações.

Mileva Maric (Foto: Domínio público)

Mileva Maric (Foto: Domínio público)

Questionamentos à parte, Maric merece reconhecimento por diversas razões. A principal delas é que ela foi uma das primeiras físicas do mundo a enfrentar um sistema tradicionalmente machista para poder estudar. Mas, como é quase praxe na história das mulheres que tentam se dedicar à ciência, ela foi afastada dos estudos pelo casamento e o nascimento de outros filhos.

Em 1918, Einstein escreveu para Maric oferecendo o dinheiro de um prêmio Nobel que acreditava ser candidato a receber (e de fato recebeu em 1921), como parte do divórcio dos dois. Quando o prêmio veio, ele deu a ela somente metade do dinheiro, o que levanta mais dúvidas: por que ele daria a ela o dinheiro do prêmio e não uma pensão, como seria o esperado? Seria alguma espécie de compensação pela participação dela no trabalho?

Fato é que enquanto Einstein seguiu podendo se dedicar integralmente à pesquisa, Maric precisou abdicar da carreira pela família e passou seus últimos anos cuidando dos filhos, um deles diagnosticado com esquizofrenia. Ela morreu no dia 4 de agosto de 1948, aos 72 anos, esquecida pela história. Se contribuiu mesmo para os trabalho de Einstein, talvez já nem importe tanto. Mas passou da hora de ao menos reconhecê-la por sua contribuição para a participação das mulheres na ciência.

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