Kat Graham: “Quais histórias não estão sendo contadas? São essas que me interessam” - Vogue | moda
  • Laís Franklin (@laisfranklin)
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Kat Graham usa vestido Redemption na CJ Mares (R$ 33.300) e bracelete Completed Works (Foto: Mariana Maltoni)

Kat Graham usa vestido Redemption na CJ Mares (R$ 33.300) e bracelete Completed Works (Foto: Mariana Maltoni)

"A sociedade gosta de nos colocar em caixas, só que não cabemos nelas. Mulheres estão o tempo todo se reinventando. Em que mundo faz sentido sermos apenas uma coisa?”, dispara a artista multitalentosa Kat Graham, que faz sua estreia na capa da Vogue Brasil encarnando várias facetas fashionistas.

“Passei a maior parte da minha vida achando que teria que ser outra pessoa para poder ocupar esse espaço. Nunca pensei que pudesse estar na capa da Vogue sendo eu mesma”, assume ela, que levantou o set com sua alegria e risada constantes entre um clique e outro da fotógrafa Mariana Maltoni e fez um único pedido no camarim: jantar uma porção de tacos do Taco Bell.

Kat atua em várias frentes: é embaixadora da L’Oréal e divide com seus mais de 5 milhões de fãs no Instagram seu lifestyle que envolve, além de fotografar campanhas para marcas de luxo como a Dior, cantar, dançar - ela também é bailarina -, produzir e atuar. Só este ano, estrelou quatro filmes. Destaque para Cut Throat City, que estreou em outubro nos cinemas e trata do racismo estrutural em comunidades marginalizadas de New Orleans depois do furacão Katrina, e a comédia romântica Missão Presente de Natal, que mal entrou para o catálogo da Netflix e já figura no Top 10 dos filmes mais vistos pelo serviço no Brasil.

Kat ficou mundialmente conhecida ao interpretar a poderosa bruxa Bonnie Bennett em The Vampire Diaries (TVD), série baseada em um livro homônimo da década de 90, mas que pegou carona no sucesso da saga Crepúsculo e virou best-seller duas décadas depois. “Estava completamente dura quando consegui esse papel e não achei que ia permanecer tanto tempo nele, já que, a certa altura, começaram a matar todos os vampiros e eu era a única negra do elenco principal”, diz ela.

Marina Ruy Barbosa e Kat Graham na Vogue de dezembro (Foto: Foto: Mariana Maltoni. Edição de moda de Pedro Sales. Beleza: Will Vieira. Set Design: João Arpi. Direção Executiva: DUE Produções (Karin Bormac e Thati Cayres). Tratamento de imagem: Studio Bruno Rezende)

Marina Ruy Barbosa e Kat Graham na Vogue de dezembro (Foto: Foto: Mariana Maltoni. Edição de moda de Pedro Sales. Beleza: Will Vieira. Set Design: João Arpi. Direção Executiva: DUE Produções (Karin Bormac e Thati Cayres). Tratamento de imagem: Studio Bruno Rezende)


Para quem não acompanhou a série sobrenatural, Kat interpretava a melhor amiga da protagonista Elena Gilbert (Nina Dobrev) e se tornou uma das mais importantes e queridas da trama. A produção do canal pago americano CW foi hit de audiência e teve oito temporadas de 2009 a 2016. “Existem pessoas que se tornam ‘as grandes estrelas’ de alguma série e depois não fazem mais nada. Mas, para mim, essa nunca foi uma possibilidade. Posso dizer que, em termos financeiros, The Vampire Diaries mudou a minha vida”, explica ela que, até hoje, troca e-mails e costuma conversar com seus seguidores fiéis via Zoom semanalmente.

Marina Ruy Barbosa e Kat Graham na Vogue de dezembro (Foto: Foto: Mariana Maltoni. Edição de moda de Pedro Sales. Beleza: Will Vieira. Set Design: João Arpi. Direção Executiva: DUE Produções (Karin Bormac e Thati Cayres). Tratamento de imagem: Studio Bruno Rezende)

Marina Ruy Barbosa e Kat Graham na Vogue de dezembro (Foto: Foto: Mariana Maltoni. Edição de moda de Pedro Sales. Beleza: Will Vieira e Silvio Giorgio. Set Design: João Arpi. Direção Executiva: DUE Produções (Karin Bormac e Thati Cayres). Tratamento de imagem: Studio Bruno Rezende)

Filha de uma mãe branca judia e de um pai afro-americano, Katerina Alexandre Hartford Graham nasceu em Genebra, na Suíça, e, logo que se mudou para os Estados Unidos, sentiu na pele o peso de ser imigrante. “Sou uma grande mistura. Tenho origem liberiana, africana, russa, polonesa e do Oriente Médio, mas nasci negra. Não convivi com ninguém que se parecesse comigo por muito tempo”, conta ela, que teve uma infância humilde. “Eu era aquela que não levava os amigos em casa porque vivia em um bairro ruim. Dormi no chão durante um tempo da minha vida. Sempre fui a outsider”, relembra.

Onde encontrava refúgio? Nas artes, claro. Bailarina clássica, aprendeu a usar sapatilha de ponta aos 11 anos. Depois, incorporou jazz e sapateado ao seu repertório.“Durante um tempo, achei que seria pobre para sempre e desisti da ideia de ter dinheiro ou de ser famosa. Só queria dançar, atuar e tocar as pessoas. E estava ok com isso: eu sabia que conseguiria sobreviver, porque passei a maior parte da minha vida nessa condição”, analisa. “O tempo todo me diziam que eu não era boa, negra ou magra o suficiente para conquistar certo papel. Mas descobri o meu próprio potencial e o agarrei com todas as forças.”

Antes de focar na carreira como atriz, Kat fez comerciais e participou de séries do Disney Channel dançando e cantando. “Fiz turnês com Missy Elliott e Pharrell por muitos anos”, relembra ela, que esteve em mais de 20 videoclipes, como “Somebody To Love”, feat de Justin Bieber com Usher. A primeira vez que ouviu sua voz no rádio foi cantando o refrão chiclete de “I Got it From My Momma”, feat com ninguém menos do que will.i.am, em 2009. Em 2012, lançou seu próprio hit “Put Your Graffiti on Me”, que acumula mais de 12 milhões de views no YouTube e esteve no Top da Billboard Dance Chart na época. De pegada disco e soul, seu último álbum, Love Music Funk Magic, é repleto de clipes coreografados do começo ao fim.

Se tem algo que Kat não esconde é sua paixão pelo Brasil. “Sempre me senti celebrada, protegida e amada aí. Assim que pisei pela primeira vez no Rio, em um meet and greet do TVD, já senti uma conexão ancestral imediata”, revela. Consciente de seu papel político na indústria, para Kat, a fama não faz sentido se não puder abrir caminho para outras mulheres negras. Desde TVD, ela esteve em dezenas de filmes e séries – todas com uma pitada de representatividade.

E como não via desenhos com heroínas negras na infância, não pensou duas vezes em aceitar o papel da primeira Tartaruga Ninja negra no cartoon Rise of the Teenage Mutant Ninja Turtles, da Nickelodeon. Mais tarde, atuou ao lado de Morgan Freeman e John Travolta e arrancou elogios no filme The Poison Rose (2019). “Logo que TVD acabou, escolhi não fazer mais as coisas por dinheiro e ampliar as vozes de quem não tem espaço na mídia”, conta. “Quais histórias não estão sendo contadas? São essas que me interessam”, pontua ela, decidida a ser parte da mudança em Hollywood dentro e fora das telas, roteirizando e produzindo seus próprios filmes. Inclusive é dela o curta-metragem para o movimento #BlackLivesMatter, At Risk Youth, que lhe rendeu uma indicação ao Emmy.

Por dentro da Vogue de dezembro — estrelada por Marina Ruy Barbosa e Kat Graham (Foto: Mariana Maltoni)

Por dentro da Vogue de dezembro — estrelada por Marina Ruy Barbosa e Kat Graham (Foto: Mariana Maltoni)

Mas seu ativismo não se limita à indústria do audiovisual. A art ista também luta pelo direito de minorias e causa dos refugiados na ONU, participando ativamente do comitê da GLAAD, uma associação de defesa LGBTQIA+. “Venho de uma família de refugiados, então é algo que mexe bastante comigo. Meus avós tiveram que lutar para sobreviver. É importante lembrar que este ano, mesmo com a Covid- 19, as guerras e conflitos de disputa de terra não pararam. Precisamos encarar isso como um problema global”, defende.

Vegana convicta, Kat também pretende assinar seu próprio livro de receitas com dicas plant based no ano que vem. Mas não para por aí – ela também está com o próximo álbum pronto e mais dois roteiros fresquinhos. “Escrevo sobre o que sinto falta de ver nas telas”, resume ela, que lançou recentemente sua própria produtora, a Frequency Films. “A próxima Frida Kahlo, Lupita Nyong’o ou o ícone que mudará a sociedade pode nunca florescer por conta do julgamento externo ou por ela não acreditar em si. É para elas que eu faço o meu trabalho.”

Marina Ruy Barbosa e Kat Graham na Vogue de dezembro (Foto:  (Foto: Mariana Maltoni. Edição de moda de Pedro Sales. Beleza: Will Vieira e Silvio Giorgio. Set Design: João Arpi. Direção Executiva: DUE Produções (Karin Bormac e Thati Cayres). Tratamento de imagem: Studio Bruno Rezende; Entrevista: Lais Franklin)

Marina Ruy Barbosa e Kat Graham na Vogue de dezembro (Foto: Mariana Maltoni. Edição de moda de Pedro Sales. Beleza: Will Vieira e Silvio Giorgio. Set Design: João Arpi. Direção Executiva: DUE Produções (Karin Bormac e Thati Cayres). Tratamento de imagem: Studio Bruno Rezende; Entrevista: Lais Franklin)

Beleza: Will Vieira (Pri gonsalez Artists)
Produção executiva: DUE Produções (Karin Bormac e Thati Cayres)
Produção de moda: Gio Grassi, Vini Coni, Rogério Martinez e Fred Rocha
Set Design: João Arpi
Assistentes de fotografia: Pedro Bodick, Gabriel yoneya e Victor Rocha
Assistente de beleza: Lita Filiê
Tratamento de imagem: Studio Bruno Rezende
Agradecimentos: Hotel Unique