Autor da biografia de Susana Vieira levou 10 anos para escrever o livro

Nesta conversa com o gshow, Mauro fala sobre como foi o processo de escrita de uma vida e uma carreira cheia de emoções, viradas e nem sempre finais felizes. Nada que diz respeito aos momentos mais importante de Sônia Maria Vieira Gonçalves, nome de batismo da atriz, e de Susana Vieira, a diva que todos conhecem na TV, teatro ou cinema ficam de fora. O livro é o relato sincero deste grande mergulho de Sônia, Susana e Mauro na história da vida dela.

Você me falou que foram 10 anos para escrever este livro. Como foram estes 10 anos? Você chegou a pensar em desistir? Se dedicou a outros projetos também?

Foram dez anos onde fomos adensando o nosso relacionamento, onde eu fui conhecendo cada vez mais o processo criativo de Susana Vieira e sua relação com a vida cotidiana, com os familiares, amigos, com a sociedade.

Em momento algum pensei em desistir! Aliás, isso nunca me passou pela cabeça. Outros projetos, sim. Até porque foram dez anos... Durante esse período eu estava na Globo, desenvolvendo diversos projetos, com inúmeros trabalhos, viajando muito também (fui mais de uma vez para a Coreia do Sul e China!). Além disso, a minha vida acadêmica, congressos pelo Brasil e no estrangeiro, apresentações na Academia Brasileira de Letras... E tudo isso, claro, só foi aprimorando o nosso trabalho.

Quem é a Susana Vieira para você agora, depois da autobiografia?

Susana Vieira - depois de eu ter organizado, escrito e realizado a sua autobiografia - é o mar. Ela é a síntese do conto "As Águas do Mundo", de Clarice Lispector.

Você passou por alguma dificuldade no processo de escrita?

Não diria dificuldade, porque o prazer foi sempre tão intenso que afastava qualquer vestígio de dificuldade. Eu diria o que foi mais trabalhoso: organizar o mar para fazer com que ele coubesse dentro do livro proposto pela Globo Livros.

Qual o momento mais delicado para você na escrita do livro?

A relação de Susana, ou melhor, de Sônia Maria, seu nome de batismo, com a mãe e o pai.

Você sempre foi fã da Susana? Como é sua relação pessoal com ela?

Mais do que fã, um absoluto admirador! Uma admiração que foi crescendo desde que a vi pela primeira vez em Pigmalião 70, na Globo, em 1970. Do mesmo modo, uma relação de grande amizade que só foi aumentando com o tempo.

Você chegou a escrever algo que achou melhor tirar depois por medo da repercussão?

Não, pois toda a nossa jornada foi muito bem pensada, trabalhada, de maneira a registrar e transmitir a essência da mulher, da atriz, da estrela, da diva Susana Vieira (os adjetivos são absolutamente meus, pois é como eu a vejo e observo a sua carreira).

Você precisou se afastar do Mauro fã para escrever o livro? Como foi o processo de escrita?

Não, porque eu tenho absoluto amor por esse trabalho. A mistura da razão com a emoção, com o coração, é o melhor da vida, o melhor do processo literário. Então eu pude mergulhar na história e na construção de uma atriz, que se tornou estrela e diva. Aliás, um assunto que eu já conversava com meus mestres Sábato Magaldi, Renata Pallottini, Helena Silveira e Ismael Fernandes em São Paulo. Artur da Távola e Barbara Heliodora aqui no Rio. Então, muitas vezes, eu transformava o nosso encontro em laboratório de emoções, de arte, de psicologia e misturávamos os três tempos tal e qual "Vestido de Noiva", o clássico texto teatral de Nelson Rodrigues que Susana encenou na Globo em 1979: o presente, o passado e o que seria a alucinação de sua personagem Alaíde, transformávamos em reflexões sobre a vida e o melhor por vir.

Como foram feitas as escritas? Vocês tinham encontros regulares? Como era este processo?

Os encontros não eram muito regulares porque nossa vida sempre foi muito movimentada. Susana gravando novela, com teatro, etc.... Eu com os inúmeros afazeres na Globo e atividades acadêmicas. Além disso, minha residência fixa é em São Paulo. E Susana mora aqui no Rio. Entretanto, os encontros eram intensos e, nos períodos de Rio de Janeiro, constantes.

Você é um dos maiores especialistas em dramaturgia. O que Susana Vieira representa para você?

E o que ela representa para a dramaturgia em sua opinião?

Susana Vieira representa um dos pilares fundamentais para a modernização da teledramaturgia, para a industrialização e internacionalização do gênero telenovela. E, mais do que isso, representa um mito contemporâneo, pois está entre os maiores símbolos da representação social.

Você lembra da primeira vez que viu Susana Vieira? Lembra do que sentiu?

Sim. E é exatamente o que eu descrevo no livro. Tudo começou pelo timbre de voz e a expressão marcante. Foi em Pigmalião 70, grande sucesso da Globo de 1970.

Como começou a relação de vocês? No livro, mesmo com seu distanciamento, a gente percebe uma intimidade

Tive com Susana apenas um ou dois encontros na Globo, no Jardim Botânico e depois em evento nos Estúdios Globo. Em 2006 fui procurá-la para um trabalho que desenvolvia para a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo sobre a TV Paulista (que depois virou Globo - SP). Além disso, um trabalho sobre personagens - mulheres empreendedoras na telenovela (um projeto ligado à USP). E eu sabia que Susana era um exemplo absoluto e da melhor qualidade também nesse quesito: personagens empreendedoras, à frente de seu tempo, exemplo para as mulheres e para a sociedade em geral. Conversa vai, conversa vem, entre um café e outro, disse a Susana que era importante, fundamental para a indústria do entretenimento e para a sociedade que ela escrevesse a sua biografia. Ao que ela respondeu: "Só se for com você". Daí para frente, você já sabe...

Perguntinha sacana: qual a melhor personagem da Susana para você?

Pergunta maravilhosa! São inúmeras personagens de destaque. Mas eu fico com a Marina Steen (A Sucessora), a Cândida (Escalada), Nice (Anjo Mau) e Veridiana (Os Gigantes).

No livro, achei interessante que várias vezes a dicotomia entre Susana e Sônia é presente. Você consegue separar a Susana da Sonia?

Totalmente! Aliás, conforme eu conto no livro, começou aí também o meu fascínio por Susana Vieira quando eu soube pela minha avó paterna que Susana Vieira era irmã de Suzana Gonçalves (à época, 1972, um ícone para juventude por conta da novela O Primeiro Amor).

Também achei muito interessante suas intervenções, principalmente citando métodos de atuação e relacionando isso com atuações de Susana e até mesmo com a vida dela. É possível separar a atriz Susana da pessoa Susana/Sônia?

Exato! Durante meu curso, faculdade de Comunicação na FAAP; depois curso de teatro no Teatro - Escola Macunaíma; mestrado e doutorado na USP... Enfim, conforme já relatei aqui, sempre me debrucei atentamente sobre a carreira de Susana Vieira sob diversos aspectos: histórico, artístico, psicológico (estudei Psicologia da Mídia na faculdade), social (fui um aluno muito dedicado em Sociologia). E dentro desse quadro estão os métodos de atuação (também fiz parte do grupo de teatro da Cultura Inglesa e estudávamos as correntes interpretativas) e, portanto, fácil separar a atriz Susana da pessoa Sônia - o que mais me fascina!

Qual a passagem mais deliciosa do livro?

Os relatos de Susana sobre as suas personagens! E num aspecto mais amplo, a sua visão de mundo.

O que você diria para os futuros leitores deste livro incrível?

-Sei que cada um tem a sua história, o seu destino, o seu "fado"... Mas que privilégio termos a possibilidade de adentrarmos na história de vida e arte de um dos maiores símbolos do universo artístico do Brasil e, por extensão, do mundo. Digo também para os leitores que extraiam da jornada da leitura deste livro que "cada um pode e deve ser dono do seu destino". Certamente entre dores e prazeres, reside aí a melhor maneira de atravessarmos com saúde a jornada da vida.

Alguma coisa mais que você queria deixar aqui?

E a minha absoluta gratidão à Susana Vieira por ter permitido e me dado a possibilidade de mergulhar no mar, nas aguas do seu mundo e conhecer Sônia Maria, a vida que deu base à estrela Susana Vieira!