Saiba a história dos dois reis que jamais foram coroados no Reino Unido | CNN Brasil
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    Saiba a história dos dois reis que jamais foram coroados no Reino Unido

    Ao longo da história, duas personalidades foram reis, mas não por tempo suficiente para receber a coroa

    Vista frontal do Palácio de Buckingham, em Londres, Reino Unido
    Vista frontal do Palácio de Buckingham, em Londres, Reino Unido 11/01/2020REUTERS/Henry Nicholls

    Felipe Pereiracolaboração para a CNN

    A história da monarquia do Reino Unido é cheia de detalhes peculiares e de fatos históricos que chamam a atenção. A própria coroação de rei Charles III, por exemplo, é marcada pela história que ele viveu com Lady Di e Camilla Parker Bowles.

    Mas, voltando na história, existem casos de membros da família real que sequer foram coroados na história britânica. É o caso de Eduardo V e Eduardo VIII. Os dois foram reis, mas não por tempo suficiente para receber a coroa.

    Eduardo V, nascido na Abadia de Westminster no dia 2 de novembro de 1470, foi o primeiro a não ser coroado. Filho de Eduardo IV e Isabel Woodville, que havia procurado refúgio na abadia para se proteger da Dinastia de Lencastre, que haviam deposto o então rei e colocado Henrique VI de volta ao trono, durante o período conhecido como Guerra das Rosas.

    O pai morreu de repente em 1843. Eduardo V, então com apenas 12 anos, foi o sucessor. Junto do irmão mais novo, Ricardo de Shrewsbury, Duque de Iorque, foi entregue à guarda do tio Ricardo, Duque de Gloucester, que também assumiu a regência.

    Menos de três meses depois, Ricardo fez aprovar no parlamento uma resolução que declarava os filhos de Eduardo IV (ao todo 10, sendo que sete estavam vivos naquela época) ilegítimos e, portanto, não poderiam assumir o trono de forma oficial. Para isso, foi usado o Titulus Regius (‘título real’, em latim), um ato previsto no Parlamento britânico.

    Eduardo V / Domínio público

    A decisão tinha como argumentos provas da relação extraconjugal de Eduardo IV com Leonor Talbot, acusando também Isabel e a mãe de fazer bruxaria para conseguir casá-la com o rei. Uma vez que os demais irmãos de Eduardo IV já haviam morrido, e os filhos de Jorge, Duque de Clarence, estavam barrados de ascender ao trono pela traição do pai, Ricardo se tornou rei da Inglaterra, com o nome de Ricardo III.

    Logo depois de se declarar rei, Ricardo III mandou encarcerar Eduardo e o irmão na Torre de Londres, nunca mais tendo sido vistos em público. O que aconteceu a partir daí é um dos mistérios da história do Reino Unido. O mais provável é terem sido assassinados. Nunca se confirmou também que os dois esqueletos encontrados na torre, quase 200 anos depois, durante o reinado de Carlos II, e sepultados na Abadia de Westminster, fossem dos dois irmãos.

    Cerca de 400 anos depois, um rei abdicou ao trono

    Eduardo VIII, que tinha uma vida considerada boêmia demais até para a própria monarquia, tornou-se rei após a morte do pai, Jorge V, no início de 1936. Só que o reinado não durou muito.

    Impaciente com os protocolos da corte e aparentemente indiferente para com as convenções constitucionais estabelecidas, Eduardo VIII preocupava os políticos. Já no dia seguinte à nomeação, quebrou o protocolo ao assistir à proclamação da sua própria ascensão de uma janela, junto a Wallis Simpson.

    Ela era uma socialite norte-americana divorciada do primeiro marido e em processo de separação do segundo, quando conheceu Eduardo VIII.

    Eduardo VIII e a esposa durante férias na Iugoslávia, em 1936 / Domínio público

    Com poucos meses de reinado, ele causou uma crise constitucional ao propor casamento. Os primeiros-ministros do Reino Unido e dos domínios (incluindo a Índia, na época) eram contrários ao matrimônio, argumentando que a população nunca aceitaria uma mulher divorciada com dois ex-maridos vivos como rainha.

    Vendo que, se o casamento seguisse adiante, o status de politicamente neutro poderia ruir, Eduardo VIII preferiu abdicar ao trono, já que também não queria se separar de Wallis. Ele chegou a propor um matrimônio em que ela não se tornasse rainha. Foram apenas 326 dias de reinado, antes do período oficial de coroação.

    Em 10 de dezembro de 1936, em Fort Belvedere, Eduardo assinou o “Instrumento de Abdicação”. Na noite de 11 de dezembro, Eduardo, agora novamente príncipe, fez um pronunciamento à nação e ao império, explicando a decisão de abdicar. Durante a transmissão, disse uma frase que ficou marcada no Reino Unido. “Eu achei impossível carregar o pesado fardo da responsabilidade e cumprir meus deveres como rei, como eu gostaria de fazer, sem a ajuda e o apoio da mulher que eu amo”, afirmou.

    Eduardo e Wallis seguiram com o plano. Tanto que o processo de divórcio, especialmente quando o processo de divórcio dos Simpsons foi trazido para o Reino Unido. Os planos eram de que o matrimônio não fosse na Abadia de Westminster, mas sim em Banqueting House, em Whitehall.

    Como a igreja britânica se recusou a fazer o casamento, os dois celebraram a união em uma cerimônia privada em 3 de junho de 1937, no Château de Candé, próximo a Tours, na França, onde tinha ido morar com a futura esposa.

    Com uma posição aparentemente pró-nazista, Eduardo e Willis foram obrigados a se mudar para as Bahamas, onde ele foi governador por vários anos. Depois, retornou à França.

    Em 28 de maio de 1972, o duque morreu em Paris, menos de um mês antes do aniversário de 78 anos. O corpo retornou ao Reino Unido e foi velado na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor. O funeral foi realizado na capela em 5 de junho, com a presença da rainha, da família real e da Duquesa de Windsor, que hospedou-se no Palácio de Buckingham.

    Eduardo foi enterrado no Cemitério Real, atrás do mausoléu real da rainha Vitória e do príncipe Alberto, em Frogmore. Com demência senil, a duquesa Willis morreu 14 anos depois, sendo enterrada ao lado do marido como “Wallis, Duquesa de Windsor”.