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Teologia Sistemática a-4 3a edição

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Isso p o rq u e o m ito é a associação de sím bolos q u e e x p rim e m o que nos toca incon diciona lm e n te . Um m ito que é e n te n d id o com o m ito , sem ser re je ita d o ou s u b stitu íd o , pode ser cham ado d e " m ito q u e b ra d o ". Em c o n fo rm i­ d a d e com a sua essência, o c ris tia n is m o precisa re je ita r to d o m ito n ã o -q u e b ra d o ; pois isso está baseado no p rim e iro m a n d a m e n to , no re conh ecim e nto de Deus com o Deus e na re jeição de to d o tip o de id o la tria . Todos os elem entos m ito ló g ic o s presentes na B íb lia , na d o u trin a e na litu rg ia precisam ser reco n h e cid o s com o tais. M as eles d e v e ria m ser m antidos em sua fo rm a s im b ó lic a , e não ser s u b s titu í­ dos p o r fó rm u la s científicas. Pois não há s u b stitu to s para s ím b o lo s e m itos, eles são a lin g u a g e m da fé.

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A crítica radical ao m ito é um a reação ao fa to de q u e a cons­ ciência m ítica p rim itiv a resiste o b s tin a d a m e n te a toda te n ta tiv a de e n te n d e r o m ito com o m ito . Ela te m e to d o ato de d e m ito lo g iz a ç ã o e acha que um "m ito q u e b ra d o " p e rd e a sua v e rd a d e e a sua capa­ cid a de de persuasão. Q uem v iv e num m u n d o m ítico in a b a la d o , sente-se seguro e abrigado. Ele se o p õ e fa n a tic a m e n te a toda te n ta tiv a d e "q u e b ra do m ito ", p o rq u e essa cham a a atenção para o ca rá te r s im b ó lico e cria um e le m e n to d e insegurança. Essa resistência é fa v o re c id a po r sistemas a u to ritá rio s , sejam eles d o tip o re lig io s o ou p o lític o . Pois está em seu interesse e m b a la r em segurança as pessoas q u e se encontram sob a sua d o m in a ç ã o , d a n d o assim aos d o m in a ­ do res o p o d e r inconteste. A o p o sição à d e m itiz a ç ã o se m ostra num ríg id o agarram ento à letra. Os sím b o lo s e m ito s são e n te n d id o s lite ­ ra lm e n te . Seu m aterial, e m p re s ta d o da natureza e da h is tó ria , é in te rp re ta d o pelo que apresenta e x te rio rm e n te . A essência d c sím ­ b o lo , que indica além d e si para a lg o q u e se e ncontra fo ra d e le , não é reconhecido. Entende-se en tã o a criação com o um ato m á g ico no "Era uma v e z . . da fá b u la ; a q u e d a de A d ã o é localizada no espaço e a trib u íd a a um hom em d e te rm in a d o ; o nascim ento v irg in a l d o Messias recebe uma inte rp re ta çã o b io ló g ic a ; ressurreição e ascensão se apresentam como eventos físicos, e o re to rn o de C risto é e n te n d id o com o uma catástrofe que a tin g irá a Terra ou o cosmo. A condição para sem elhante crença lite ra lística é a suposição de que Dsus tem um a localização no te m po e no espaço e in flu e n c ia o curso das coisas bem com o é p o r ele in flu e n c ia d o com o to d o o u tro ente no m u n d o . Essa com preensão literal da B íblia d e sp o ja Deus d e sua in co n dicio n a lid a d e e, fa la n d o em term os re lig io s o s , ta m b é m de sua m ajestade. Ela o rebaixa ao nível do fin ito e c o n d icio n a d o . Em tu d o isso não estam os d ia n te de uma crítica ra cio n a l, mas sim in tra -re lig io s a . Uma fé que e n te n d e seus sím bolos lite ra lm e n te é id o la tria . Ela cham a de in co n dicio n a l à quilo que é m enos q u e in c o n d ic io n a l. A fé , e n tre ta n to ,

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q u e está consciente d o caráter s im b ó lic o de seus sím bolos dá a Deus a h onra q u e lhe cabe. Tem os de d is tin g u ir a g ora duas faces na disto rçã o lite ra l da c o m pre ensão dos símbolos.- a o rig in a l e a d e fe n siva . Na fase o rig in a l o m ítico e o lite ra l não são d ife re n c ia d o s um d o o u tro . Nos p rim ó r­ d io s da h istó ria nem as pessoas nem os g ru p o s conseguem d is tin ­ g u ir as criações im a g in a tiv a s d e sím b o lo s, de fatos q u e podem ser d e m o n stra d o s pela observação e a e xp e riê n c ia . Essa fase tem a sua razão de ser até o in sta n te em q u e o e sp írito in v e s tig a d o r do hom em supera o cré d ito lite ra l aos m ito s. Q u a n d o chega esse m o­ m e n to , abrem -se duas p o s s ib ilid a d e s . Uma consiste em s u b stitu ir o m ito in c ó lu m e p e lo m ito q u e b ra d o . Esse é o ca m in h o o b je tiva m e n te c o rre to , se bem que ele não é v iá v e l para m uitos, p o rq u e eles p re ­ fe re m re p rim ir seu q u e s tio n a m e n to d o q u e to m a r sobre si a incer­ teza q u e surge da qu e b ra d o m ito . A ssim eles são arrastados à se gunda fase da com preensão lite ra l dos mitos. In tim a m e n te eles sabem da razão do q u e s tio n a m e n to , mas o re p rim e m p o r m edo da in segurança. G eralm ente essa repressão se dá com a u x ílio de uma a u to rid a d e sagrada, com o p o r e x e m p lo a ig re ja ou a B íblia, às quais se d e v e ob ediê ncia in c o n d ic io n a l. Tam bém essa fase é ju s tificá v e l, q u a n d o a consciêncie crítica é p o u co d e s e n v o lv id a e pod e ser fa c il­ m e nte tra n q ü iliz a d a . No e n ta n to é im p e rd o á v e l, q u a n d o nesse es­ tá g io um e sp írito m a du ro é p a rtid o em seu âm ago p o r m étodos p o lític o s e psicológicos e p re c ip ita d o num a p ro fu n d a cisão consigo m esm o. O in im ig o da te o lo g ia crítica não é, p o r isso, a com preensão lite ra l in g ê n u a dos sím bolos, mas sim a quela que é fe ita consciente­ m e n te, com uma agressiva supressão d o pensam ento in d e pe n d e n te . Os sím bolos da fé não p o d e m ser su bstituídos p o r outros sím­ b olos, artísticos p o r e xe m p lo , e eles ta m b é m não podem ser anulados p ela crítica científica . Como a ciência e a arte, eles estão firm e m e n te e n raiza dos na essência do e s p írito h u m a n o . Em seu caráter sim b ó lico é q u e está a sua verdad e e o seu p o d e r. N ada que seja in fe rio r a sím b o lo s e m itos pode e xp re ssa r a q u ilo que nos toca in c o n d ic io n a l­ m ente. Por ú ltim o precisa-se p e rg u n ta r se m itos são capazes de re p re ­ sentar to d o tip o de p re ocupação in co n d icio n a l. A lg u n s teólogos cristãos são da o p in iã o de q u e a p a la v ra " m ito " som ente d e ve ria ser usada com relação à natureza, isto é, q u a n d o se trata da descrição d e processos da natureza q u e se re p e te m ritm ica m e n te (p o r e xe m ­ p lo , as estações do ano) e são in te rp re ta d o s em se n tid o re lig io so . Os m esm os te ó lo g o s não aceitam q u e se cham e de m ito a evolução do m u n d o , a q ual a fé cristã bem com o a judaica vê com o um processo h is tó ric o q u e tem um começo, um ce n tro e um fim . S em elhante co n ­

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cepção lim ita ria consid era ve lm e n te a uhl.zaçao d o te rm ° m ito . O m ito não p o d e ria mais então ser co m p re e n d id o com o a e * P r® ^a lin q ü ística da nossa preocupação in c o n d ic io n a l, mas apenas um id io m a a n tiq u a d o dessa lín g u a . Mas a histó ria dem onstra que não existem apenas m itos da natureza, mas tam bem mrtos h.stoncos Se na Pérsia antiga o m u n d o é vis to com o o cam po de bata ha de dois poderes d iv in o s , nós tem os d ia n te d e nos um m ito da h isto r a_ Q u a n d o o Deus da criação e lege um po vo e o leva através da h istoria em direção a um a lvo que transcende a toda a h isto ria , entao sso é um m ito da história. Q u a n d o o C risto, um ser transcendente, d iy .n o , aparece na p le n itu d e d o te m p o , v iv e , m o rre e ressuscita, isso e no­ va m e n te um m ito da história. O cristia n ism o e a critica a tod a a reT qiões que estão presas a m itos da natureza. M a s_co m o toda o utra re lig iã o , o cristianism o fa la a lín g u a d o m ito , senao c» cristia­ n ism o não seria expressão d a q u ilo que nos toca in co n dicio n a lm e n te . IV. 1.

TIPOS DE FÉ

Os Elem entos da Fé e sua D inâm ica

Fé com o estar possuído p o r a q u ilo que nos toca in co n d icio n a l­ m e n te existe sob m uitas fo rm a s, e isso va le ta n to para o ato de " e r com o para o conteúdo da fé . Todo g ru p o re lig io s o e cu ltu ra l e ãté certo p o n to to d o in d iv íd u o tem uma e xp e rie n cia de fe especial com co n te ú d o de fé p ró p rio . O estado su b je tiv o d o crente se trans­ fo rm a e provoca transform ações dos sím bolos da fe e vice-versa. Para se p o d e r co m p re e nd e r as m ú ltip la s fo rm a s de expressão da te , d e verem os d is tin g u ir em seguida alguns tip o s básicos e descrever a sua m útua relação dinâm ica. Tipos religiosos em si sao estáticos. Mas isso não é a ú ltim a coisa que se p ode a f ir n w acerca dos tip o s de fé , um a vez que eles contém um e le m e n to d in â m ico na m edida em que eles re ivin d ica m v a lid a d e in co n dicio n a l para o_aspecto especial da fé que eles representam . Daí resultam tensões e^ lu as, ta n to e n tre os d ife ro n te s tip o s de fé d e n tro de uma com unhão re li­ giosa bem com o entre as grandes re lig iõ e s. Não se de ve esquecer que tipos sem pre são construçoes do p ensam ento e com o tais nunca se encontram em estado p u ro na rea lid ade. Em nenhum â m b ito da vida existem tipos^ puros. Todos os objetos reais pertencem a vários tip o s. Existem porem traços pre d o m in antes q u e d e te rm in a m um a coisa e a p e rm ite m class.fica-la sob um certo tip o . Esses traços precisam ser destacados, se a dm am ica da vida d e ve ser explicada. Isso tam bém vale para as form as fé e seus sím bolos.

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Fundam ental para a distinção dos tip o s de fé são os dois e le ­ m entos que estão presentes na e xp e riê n cia d o sagrado. Um e le m e n to é a presença d o sagrado aqui e agora. Ela santifica o lu g a r em q u e aparece e a rea lid a d e em que ela se m anifesta. Essa e xp e riê n cia to m a posse d o e s p írito h u m a n o com uma violência estrem ecedora e fascinante. Ela irro m p e na re a lid a d e costum eira e a im p e le e x ta tic a ­ m ente para além de si mesm a. Ela fu n d a m e n ta regras, pelas quais se pod e co m p re e nd e r o sagrado. O sagrado precisa estar presente e precisa ser e x p e rim e n ta d o com o estando presente, se é que e le d e ve ser e xp e rim e n ta d o . A o mesm o te m p o o sagrado é o juízo sobre tu d o que é. Ele e xig e santidade, no sen tido de justiça e am or, ta n to para o in d iv íd u o com o para um g ru p o . Ele representa a q u ilo q u e somos de acordo com o qu e pela p ró p ria essência somos e p o r isso tam bém d everíam os ser. Com o lei do nosso p ró p rio ser, ele está contra nós e a fa v o r de nós. O nd e q u e r que o sagrado seja e xp e rim e n ta d o , tam bém se e x­ p e rim e n ta o seu p o d e r de e x ig ir a q u ilo q u e deveríam os ser. Nós querem os cham ar o p rim e iro e le m e n to na e xp e riê n cia d o sagrado de "sa n tid a d e d o se r", o segundo, de "santidade d o d e v e r". Poder-se-ia cham ar a p rim e ira fo rm a d e fé , em term os breves, de tip o o n to ló g ico , a segunda de tip o ético. Em toda re lig iã o a d in â ­ m ica da fé está co n sid e ra ve lm e n te d e fjn id a p o r esses dois tip o s e p o r sua in te rd e p e n d ê n cia e seu anta g o n ism o . A m bos os tip o s de fé in flu e ncia m ta n to a mais íntim a v id a de fé pessoal com o ta m b é m as grandes re lig iõ e s históricas. Eles estão presentes em to d o ato de crer. Mas um dos dois sem pre prevalece, pois o hom em é fin ito e nunca capaz de possuir todos os elem entos da verdade. Por o u tro la d o o hom em não pode descansar no reconhecim ento de sua fin itu d e , p o rq u e a fé gira em to rn o do inco n dicio n a l e de suas fo rm a s d e expressão adequadas. Toda expressão inadequada da fé pod e le va r a que o hom em não a tin ja o in co n dicio n a l e seja então d e te rm in a d o em toda a sua existência p o r a lgo que perm anece aquém d o in co n ­ d ic io n a l. Por isso o hom em sem pre precisa te n ta r ro m per os lim ite s de sua fin itu d e e alcançar a q u ilo que nunca pode ser alcançado; o p ró p rio in co n d icio n a l. Dessa tensão surge o problem a da relação e n tre fé e to lerância . Uma tolerância que nada mais é d o que relativ is m o , uma a titu d e em q u e nada de incondicional se e x ig e , é n e gativa e sem peso; ela não escapa à sina de se tra n s fo rm a r em seu oposto, um d e sp o tism o in to le ra n te . A fé , no entanto, precisa c o n ju ga r ambas as coisas: a tolerância consciente da c o n d icio n a lid a d e de toda fé d e te rm in ad a , e a certeza fu n d a m e n ta d a no in c o n d ic io n a l. Em todos os tip o s de fé , porém especialm ente no p ro te sta n tism o , esse p ro b le m a é s ig n ific a tiv o . A grandeza e o p e rig o da fé protes-

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ta n te está na autocrítica e na coragem de aceitar ,1 prc‘>|>t! ■ n l-'t* • d a d e . Daí a dinâm ica da fé se m a n ife s ta r m ais fo rlo m c -n lc im | ■»*.). ta n tis m o d o que em q u a lq u e r o u tro lu g a r: a in a n u là v o l tnii-..iu ........ a in c o n d ic io n a lid a d e da e xig ê ncia da fé e a c o n d ic io n a ll< U In .1,. v id a concreta de fé . 2.

Os Tipos O n to ló g ic o s de Fé

O sagrado é e x p e rim e n ta d o com o e sta n d o presente. I lo a qui e agora, isto é, ele senos depara n u m _ o b je to , num a p f . ' ... num acontecim ento. A fé v ê num a porção concreta i .1 ir>n lid a d e o fu n d a m e n to ú ltim o de toda a re a lid a d e . N en h um ., p a rte da re a lid a d e está e x c lu íd a da p o s s ib ilid a d e de se to rn a i pm ta d o ra d o sagrado, e de fa to quase tu d o q u e é real fo i no cur:.o d., h is tó ria das re lig iõ e s cha m a d o uma v ez, em atos^ de fé , d

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O catolicism o caracterizou a si m esm o, m m r.t/.ín, .................. sistema que eng lob a elem entos cu ltu ra is i .* no N ovo Testam ento, o qual em si já e n g lo b a um a sério do t l|n »•» < representa uma conjugação de elem entos éticos e místico:.. Ü n *n m p io mais s ig n ific a tiv o para isso é a d o u trin a de Paulo .ic c n .i .1" Espírito Santo. Espírito nesse se n tid o é a presença do e sp írito d lv ln u no e sp írito hum ano, e Espírito Santo é o e s p írito d o am or, d.i jm lii.n e da verdade. Eu não hesitaria em e n x e rg a r nessa concepção tio e sp írito a resposta à p e rg u n ta p elo s e n tid o da dinâm ica e da hisló ria da fé. Mas sem elhante resposta não é um pon to em quo so pode fic a r parado. Ela sem pre precisa ser dada de uma nova rn.i neira, a p a rtir de novas exp e riê n cia s e sob condições m u ta n te . A penas se isso acontece, ela perm anece sendo uma resposta ro.il e inclui a p o ssib ilid a d e de realização. N em o catolicism o nem o fu n d a m e n ta lism o reconhecem essa e xig ê n cia . A m b o s pe rd e ram clO' m entos que fazem p a rte do conceito o rig in a l de fé , p o r causa da pred om in ância de um ou de o u tro lado. Esse é o p o n to em que entrou o protesto protestante na época da R eform a. E é o p o n to em que o protesto protestante precisa ser le v a n ta d o em todos os tem pos em nom e da in c o n dicio n a lid a d e do in co n dicio n a l. A crítica básica de todos os g ru p o s protestantes ao catolicism o se volta contra o fa to de que o sistema a u to ritá rio e xclu iu a auto­ crítica da igreja e que os elem entos sacram entais da fé sufocaram os elem entos p roféticos. Uma ve z que o sistema a u to ritá rio to rnou im possível uma reform a de base, restou apenas uma cisão to ta l. Essa, poré m , tam bém tro u x e consigo a perda daqueles elem entos contra os quais se d irig ira o p ro te sto p rotestante: o sacram entalism o e a a utorid ade da igreja nele baseados. Em conseqüência dessa perda, o protesta ntism o se to rn o u cad3 vez mais um representante u n ila te ra l do tip o m oral de fé. N ão se p e rd e u apenas a riqueza dos ritos trans­ m itid o s pela tradição, mas tam bém a com preensão do fa to de que o sagrado está presente em exp e riê n cia s sacram entais e místicas. A im portância do conceito p a u lin o de e sp írito , em que estão re u n i­ dos o tip o sacram ental e o ético, não fo i reconhecido nem pe lo catolicism o nem pelo pro te sta n tism o . A presente exposição tenta in dicar, na lin guag em d o nosso te m p o , aquela re a lid a d e que Paulo de signou com a palavra "e s p írito " com o sendo a u n id ad e d o e xtá ­ tico com o personal, do sacram ental com o m o ra l, do m ístico com o , acionai. A penas qu a n d o o cristia n ism o fo r capaz de reconquistar,

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com o experiência v iv id a , essa unidade- dos d ife re n te s tip o s de fé, p o d e rá ele m anter de pé a sua re iv in d ic a ç ã o de responder às g randes questões resultantes da d in â m ica da fé. V. 1.

A VERDADE D A FÉ

Fé e Razão

Nos capítulos precedentes nós m ostram os a d iv e rs id a d e dos sím bolos e tipos de fé . Isso p o d e ria ser in te rp re ta d o com o d esistir da reivindicação da v e rd a d e p o r p a rte da re lig iã o . Por isso precisamos p e rg u n ta r agora, se é v iá v e l falar-se de um a re ivin d ica çã o de v e r­ d ade por parte da fé, e em que sentido. A té agora era costum e colocar fé e razão uma ao lado da outra, e p e rg u n ta r se elas se e xclu e m m u tu a m e n te , ou se elas poderiam ser unidas numa especie de fé racional. Se a segunda hipótese fo r possível, com o se rela cio n a ria m a razão e a fé nessa fé racional? Se o sentido da fé fo r m al e n te n d id o nos m odos acima expostos então elas se excluem m u tu a m e n te . Se, no entanto, fé é estar pos­ suído incondicionalm ente , então fé e razão não são necessariamente opostos. Maò essa resposta não é s u ficie n te , um a vez que a v id a e sp iritu a l do hom em é uma u n id a d e que não p e rm ite um lado-a-lado isolado dos diversos elem entos. Todas as funções do e sp írito hum ano estão in tim a m ente ligadas, apesar d o seu ca rá te r d iverso. Isso tam bém vale para a relaçao e ntre fé e razão. Por isso não é su ficie n te a resposta de que estar possuído p o r a lgo q u e nos toca in co n d icio n a l­ m ente não contra diz a e stru tu ra racional d o espírito. É necessário especificar a relação entre a fé e a razão d o espírito hum ano. In icia l­ m ente,^ precisa-se p e rg u n ta r em q u e se n tid o é usada a palavra razão , qua n d o ela é contraposta à fé . Será no se n tid o d o p ro ce d i­ m e nto científico, do pensam ento rig id a m e n te lógico e d o cálculo tecmco? Ou será ela e n te n d id a , com o em quase todas as épocas de nossa cultura o cidenta l, com o a fo n te do s e n tid o , norm as e p rincípios? Na prim eira hipótese a razão é o in s tru m e n to para o conhecim ento e d o m ín io da realida de, ao passo que a fé indica o a lvo , a cujo ser­ viço está to d o cálculo e d o m ín io da re a lid a d e . O p rim e iro 'tip o de razão poderia ser cham ado d e razão técnica, uma vez que ela se ocupa com os meios, e não com o fim . Razão nesse se n tid o abarca a vida diária de cada um e d o m in a a c iviliza çã o técnica do nosso tem po. A segunda significa çã o de razão está relacionada com aquilo q ue faz do hom em um hom em e o d ife re n c ia d e to d o o u tro ser. Ela é a base de sua lín g u a , sua lib e rd a d e e sua capacidade criadora.

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Ela atua na procu ra pela verdade, na e xp e riê n cia da arte e na re.ilização da lei de conduta; ela faz possível uma v id a com o pev.oa e participação na com unhão. Se a fé estivesse em co n tra d içã o à razão, ela teria que leva r à desum anização do hom em . Esse p e rig o de fa to existe — tanto na esfera teórica com o no cam po p rá tico em todos os sistemas a u to ritá rios, e isso ta n to na área da re lig iã o com o na p o lítica. Uma fé que se encontra em contraposição à razão, não se destrói apenas a si mesma, mas ta m b é m a q u ilo q u e é p ro ­ p ria m e n te hum ano no hom em . Isso p o rq u e som ente um ser d o ta d o de razão pode ser possuído por a lgo in co n dicio n a l e d is tin g u ir p re o ­ cupações últim as das p ro visó ria s; ele p o d e assim ilar a e xigência da lei de conduta e p erceber a presença d o sagrado. Tudo isso, aliás, só co n fe re , qu ando não se pressupõe a p rim e ira sig n ifica çã o d o conceito de razão, razão no sentido da razão técnica, e sim a segunda significação, de razão com o e stru tu ra d o e s p írito e da re a lidade , dotad a de sentido. — Razão é uma condição necessária para a fé, e fé é o ato em que a razão irro m p e extaticam ente para além de si. Essa é a u n i­ dade e a d ife re n ça entre as duas. A razão hum ana é fin ita . Por Isso , todas as criações da cultura possuem esse caráter fin ito , ta n to aquelas em q u e o hom em conhece seu m u n d o , com o aquelas em que ele tra n sfo rm a seu m undo. Daí elas não p ertencerem à q u ilo que toca o hom em incon dicio n a lm e n te . Mas a razão não está presa à sua p ró p ria fin itu d e ; ela a reconhece, e através dessa mesma in­ tuição ela se eleva acima de sua fin itu d e . O hom em fa z a e xp e riê n cia de que ele fa z parte d o in fin ito , o qual p o r sua vez não é uma parte do hom em , nem se encontra em seu pod e r. O in fin ito precisa to m a r posse de le como a q u ilo que o toca in co n d icio n a lm e n te . Q u a n d o a razão é possuída pelo in co n dicio n a l, ela é elevada acima de si mesma; mas com isso ela não d e ixa de ser razão, razão fin ita . A experiência extática de uma preocupação ú ltim a não de stró i a e stru ­ tura da razão. Êxtaj[e_é razão rea_[izadaJ_fi_Djo__razão qu e b ra d a . Razão só chega a ser realizada qu a n d o ela é levada parã^lfrem ~3os~lim ites de sua fin itu d e e experim e n ta a presença do sagrado. Sem essa e xperiência ela se perde a si mesma. Ela é fin a lm e n te pre e n ch id a de conteúdos irracionais — m itica m e n te fa la n d o : dem oníacos — e p o r eles destruída. O cam inho se g u ido é o da razão plena de fé através da razão sem fé para a razão d e m o niacam ente d iv id id a . A segunda fase é apenas uma transição; pois nem na v id a do e sp írito nem na natureza existe vácuo. Razão é a pressuposição da fé, e fé p re e n ­ che a razão. Fé como estar possuído em ú ltim a instância é razão extática. Entre a natureza v e rd a d e ira da fé e a natureza ve rd a d e ira da razão não há contradição.

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Nesse p o n to a te o lo g ia fará algum as perguntas. Ela indagará, se a natureza da fé não está d isto rcid a sob as condições da existência hum ana. A lé m disso ela p e rg u n ta rá , se não se p e rd e tam bém a ve rd a d e ira natureza da razão na situação de alienação d o homem de si mesm o. F inalm ente ela p e rg u n ta rá se a u n id a d e de fé e razão e a natureza v e rd a d e ira de ambas não precisa ser restabelecida através da "re v e la ç ã o ", com o o diz a re lig iã o . E se esse fo r o caso, a razão, em seu estado obscurecido, não terá que se sujeitar à revelação? E não será essa sujeição sob os conteúdos da revelação o sen tido p ró p rio d o te rm o " fé " ? A resposta a essas p e rg u n ta s seria m atéria para toda um a te o lo g ia . A q u i só podem os tra ta r desse assunto em poucos traços fu n d a m e n ta is. In icia lm e n te precisa-se d ize r que o hom em é hom em tam bém no estado de alienação. Razão e fé não se pe rderam co m p le ta m en te , mas elas não p u d e ra m m anter a sua natureza o rig in a l, sendo in e v itá v e is os c o n flito s e n tre uma ra­ zão usada erro n e am e n te e uma fé d isto rcid a no s e n tid o da supersti­ ção. A ve rd a d e ira natureza da fé e a ve rd a d e ira natureza da razão transparecem apenas vag a m e n te na vid a real da fé e na utilização prática da razão sob as condições da alienação. D evido a isso, a lg u m a coisa precisa acon+ecer, que s jp e re ta n to a distorção da fé com o a da razão e restabeleça a ralação ver­ da d e ira e ntre ambas. A e xp e riê n cia em que isso se dá é chamada de "re ve la çã o ". O conceito de revelação já fo i tão abusado, que apenas se pode usá-lo com hesitação, sendo que algo sem elhante se dá com o conceito d e razão. Na lin g u a g e m p o p u la r, revelação s ig n i­ fica uma com unicação sobrenatural sobre Deus e sua atuação. Tais com unicações fo ra m tran sm itid a s, c o n fo rm e essa concepção, aos p ro ­ fe tas e apóstolos e aos autores da B íblia, d o A lco rã o e de outros escritos sagrados, no qu e o p ró p rio Espírito Santo conduzia a pena. A aceitação solícita dessas doutrinações sobrenaturais, p o r mais absurdas que sejam , é então chamada de fé. Cada p a la vra da p re ­ sente exposição co n tra d iz a essa distorção do conceito de revelação. Revelação é a exp eriê n cia em que uma preocupação ú ltim a m ove o e sp írito da pessoa, cria n d o assim uma com unhão em que essa preocupação se expressa em sím bolos de ação e de pensam ento. O n d e isso acontece, fé e razão são renovadas. Seus c o n flito s in te ­ riores e tensões recíprocas são superados, e reconciliação tom a o lu g a r da alienação. Esse é o sentido p ró p rio de revelação; em todos os casos, é isso que ela d e ve ria s ig n ific a r. Ela é um e v e n to em que a q u ilo que nos toca in co n dicio n a lm e n te se m anifesta, nisso fazendo estrem ecer e tra n s fo rm a n d o a situação dada na re lig iã o e cultura. Nessa experiência não há c o n flito e ntre fé e razão. Isso p o rq u e o hom em é to m a d o e tra n s fo rm a d o em todô a sua e stru tu ra de ser

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racional pela revelação d a q u ilo que o toca in c o n d ic io n a lm e n te . E m esm o assim: revelação é revelação ao hom em que sic e n c o n lia no estado de alienação. A tra v c s da revelação é q u e b ra d o o p o d e r da alienação, mas ele não é a n u la d o . A alienação pen e tra na nova e x p e ­ riência de revelação assim com o ela havia e n tra d o na a n tig a . Ela faz da fé uma id o la tria e c o n fu n d e os p o rta d o re s d o in co n dicio n a l com o p ró p rio in c o n d ic io n a l. Ela rouba o razão de seu p o d e r e xtá tico , de sua tendência d e se transcender a si mesma e de se v o lta r para o in co n d icio n a l. D e v id o a essa d u p la distorção,^ ela fa ls ific a ta m bém a relação e n tre fé e razão, tra n s fo rm a n d o a fé num a p re o ­ cupação p ro v is ó ria , que se in tro m e te nas preocupações p ro visó ria s da razão e eleva a razão, apesar de sua fin itu d e natural,, à va lid a d e in con diciona l. Daí surgem novos c o n flito s e n tre fé e razão, os quais e xig e m uma revelação nova e su p e rio r. A h istó ria da fé é urna luta constante com a distorção da fé , e o c o n flito e n tre razão e fé é um dos mais nítidos sintom as dessa distorção. As batalhas decisivas nessa luta são os grandes even to s d e revelação, e a batalha re a lm e n te v i­ toriosa seria um a revelação de va lid a d e ú ltim a , em que a d istorção e n tre fé e razão está em p rin c íp io superada. O cristia n ism o clama de si estar fu n d a m e n ta d o em sem elhante revelação. É essa uma re ivin dicação que precisa ser com p ro va da sem pre de n o vo no curso da história. 2.

A V e rd a d e da Fé e a V e rd a d e C ientífica

Entre a natureza da fé e a natureza da razão não existe con­ flito . Isso inclu i a a firm a tiv a d e que não há um c o n flito e n tre fé e conhecim ento no q ue d iz respeito à sua essência. M esm o assim sem pre já se con siderou o co n h e cim e n to aquela fu n ç ã o da razão hum ana que com m a io r fa c ilid a d e e ntra em c o n flito com a fé. Isso acontecia especialm ente q u a n d o se via a fé com o um a espécie in ­ fe rio r de saber, cuja v e rd a d e é, p o ré m , assegurada pela a u to rid a d e d iv in a . Nós re je itam os esse conceito fa lso de fé e com ele e lim i­ namos uma das mais fre q ü e n te s causas para os c o n flito s e n tre fé e saber. Precisamos, p o ré m , ir mais lo n g e , m ostra n d o a relação con­ creta da fé com as diversa s fo rm a s da razão c o g n itiv a , ou seja, com a fo rm a das ciências natu ra is, da h istó ria e da filo s o fia . A q u ilo que a fé denom ina de v e rd a d e é d ife re n te d a q u ilo que é v is to com o v e r­ dade pelas citadas fo rm a s da razão. A in d a assim todas elas tentam alcançar a v e rd a d e , isto é, ve rd a d e no se n tid o d o v e rd a d e ira m e n te real, como esse pode ser a ssim ilado p e lo e sp írito h u m a n o . Erros sur­ gem qua ndo o hom e m , em sua p rccu ra pe lo c o n h e cim e n to , não percebe o que é v e rd a d e ira m e n te real e considera real a q u ilo que apenas parece ser real, ou q u a n d o ele vê o que é v e rd a d e ira m e n te

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real, mas o e x p rim e de fo rm a in a d e q u a d a . M u ita s vezes é d ifíc il v e rific a r se não fo i p e rc e b id o o v e rd a d e ira m e n te real ou se a q u ilo q u e fo i reco nhe cido com o ve ro apenas fo i m al e x p rim id o , pois ambos os tip o s d e erro se con d icio n a m m u tu a m e n te . Em todos os casos, em cada ato c o n g n itiv o está presente v e rd a d e ou e rro , ou uma das m ú ltip la s transições e n tre v e rd a d e e e rro . Também na fé está a tu a n te a capacidade co g n itiv a d o hom em . Por isso precisam os p e r­ g u n ta r: Q u e sig n ifica "v e rd a d e " em relação à fé , quais são seus c rité rio s , e qu e relação existe e n tre a v e rd a d e da fé e as outras fo rm a s da v e rd a d e com seus c rité rio s tão d ife re n te s ? As ciências naturais descrevem e s tru tu ra s e relações do u n i­ verso fís ic o , na m e did a em que elas p o d e m ser ve rifica d a s e x p e ri­ m e n ta lm e n te e fo rm u la d a s m ate m a tica m e n te . A ve rd a d e de uma a fir­ mação cie n tífic a d e p e n d e de quão a d e q u a d a m e n te as leis e struturais são descritas e confirm a d as através de re p e tid a s experiências. Toda v e rd a d e cie n tífica é p ro v is ó ria e sujeita a constante ve rifica çã o , ta n to no qu e d iz respeito à sua com preensão da re a lid a d e com o no que ta n g e a sua fo rm u la çã o cie n tífica . Esse e le m e n to de insegurança não re d uz o g ra u de ve ra cid a d e de um a a firm a ç ã o cie n tífica e x p e rim e n ­ ta lm e n te exa m in a d a e p rovada. Mas ele im p e d e to d o d o g m a tis m o c ie n tífic o . Por isso é um p ro c e d im e n to q u e s tio n á v e l, q u a n d o te ó lo ­ gos, no in te n to de d e fe n d e r a v e rd a d e da fé contra a v e rd a d e da ciência, cham am a atenção para o caráter p ro v is ó rio de toda a firm a ­ ção c ie n tífic a e alegam com isso te r p ro v id o um re fú g io seguro para a v e rd a d e da fé. Isso p o rq u e , se am anhã o progresso c ie n tífic o res­ trin g ir. ain d a mais a área de co n h e cim e n to c ie n tífic o in se g uro , a fé terá qu e se recolh er ainda mais. Esse é um p ro c e d im e n to in d ig n o e in fru tífe ro , pois a ve rd a d e cie n tífica e a v e rd a d e da fé fazem parte dé dim en sõe s d ife re n te s . N em a ciência tem o d ire ito ou a capaci­ dade de se in tro m e te r nos interesses da fé , nem a fé tem o d ire ito ou a capacidade de in te rfe rir na ciência. Uma ve z c o m p re e n d id o isso, vêem -se nu m a luz bem d ife re n te os c o n flito s acima tratados e n tre fé e ciência. Na ve rd a d e não se trata d e um c o n flito entre fé e ciência, mas sim e ntre um a fé e uma ciência que esqueceram am bas, a q u e dim ensão pertencem . Q u a n d o os defensores da fé p ro curaram im p e d ir o su rg im e n to da a strono m ia m o derna, eles não levaram em conta que os sím bolos cristãos, apesar de re fle tire m a concepção da astronom ia aristotélicop to lo m a ica acerca d o m u n d o , dela não d e p e n d e m . A penas q u a n d o sím bolos com o "D eus no cé u ", "o hom em so b re a te rro " e "d e m ô n io s d e b a ix o da te rra " são vistos com o descrição de lugares povoados com deuses, hom ens e dem ônios, aí a a stro n o m ia m oderna precisa e n tra r em c o n flito com a fé cristã. Q u a n d o , p o r o utro lado, re p re ­

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sentantes da física m ode rn a q u e re m a trib u ir a re a lid a d e in te iro ao m o v im e n to m ecânico de m inúsculas m oléculas, n e g a n d o com iv .o a re a lid ade p ró p rio da v id a , então eles m a n ife s ta m a sua U \ ta n to su b jetiva com o o b je tiv a m e n te . S u b je tiv a m e n te a ciência o, c n t.io , para eles a q u ilo q u e os toca in c o n d ic io n a lm e n te e p e lo q u a l cies estão dispostos a sa crifica r tu d o , ta m b é m a v id a , se necessário for. O b je tiva m e n te eles criam um sím b o lo d e m o n ía co d o in c o n d ic io n a l, a saber, um u n iv e rs o em q u e tu d o , ta m b é m a sua p a ix ã o cie n tífica , é d e vo ra d o p o r um m ecanism o sem sen tid o , é com razão que a fé cristã re je ita esse sím bo lo d e fé. A ciência só pode e n tra r em c o n flito com a ciência, e a fé apenas com a fé . Uma ciência q u e perm anece ciência não p o d e c o n tra d iz e r a uma fé que perm anece fé . Isso ta m b é m c o n fe re no que ta n g e outros campos d e pesquisa cie n tífic a , p o r e x e m p lo , a b io lo g ia e a psicologia. A conhecida d is p u ta e n tre te o ria da e vo lu çã o e te o lo g ia .ião era um a d is p u ta e n tre ciência e fé , mas sim e n tre um a ciência, cuja fé n ã o -e xp rim id a rouba o hom em de sua h u m a n id a d e , e um a fé , cuja expressão te o ló g ica é cunhada p o r u m a com p re e nsã o lite ra l da B íblia e p o rta n to é d is to rc id a , é in e g á v e l que um a te o lo g ia que in terpreta a h istó ria bíblica da criação com o descrição fie l aos fatos de um e ve n to um a vez su ce d ido , fo rço sa m e n te terá de c o lid ir com a pesquisa c ie n tífica sistem ática. E um a te o ria da e vo lu çã o que e x ­ plica a descendência do h o m e m d e fo rm a s mais antigas da vid a de tal m aneira q u e é a n u lad a a d ife re n ç a ce n tra l e n tre hom em e anim al, é fé , e não ciência. Sob o m esm o p o n to d e vista precisam os co n sid e ra r os c o n flito s presentes e fu tu ro s entre fé e psico lo g ia c o n te m p o râ n e a . A p sico lo ­ gia m oderna e v ita , p o r e x e m p lo , o conceito de alm a, p o rq u e ele parece fu n d a m e n ta r uma re a lid a d e q u e não p o d e ser in ve stig a d a com m étodos científicos. Esse receio tem a sua razão de ser, j d o í s a psicologia não se d e ve ria s e rv ir de q u a lq u e r te rm o q u e não seja e labora do pela sua p ró p ria pesquisa c ie n tífic a . Ela tem a tarefa de descrever os processos psíquicos d o hom em da m a n e ira mais ade­ quada possível, e ela precisa estar sem pre p ro n ta a s u b s titu ir uma suposição p o r o u tra . Isso v a le para os te rm o s: Ego, super-ego, eu (Selbst), p e rso n a lid a d e , in consciente, consciente, bem com o para os termos tra d icio n a is: alm a, e sp írito , vo n ta d e , etc. A p sico lo g ia de pesquisa m etódica está tão sujeita à co n firm a ç ã o c ie n tífic a com o toda outra ciência. E tod os os seus term os e d e fin iç õ e s , m esm o os m e lh o r fu n da m e ntado s, são p ro v is ó rio s . Q uan do, p o ré m , a fé fa la da d im e n sã o do in c o n d ic io n a l, na qual o hom em v iv e e em q u e ele p o d e g a n h a r sua alm a ou botá-la a

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p e rd e r, ou quando a fé fa la do sentido ú ltim o da existência, então ela de m o d o algum co n tra d iz a rejeição c ie n tífic a d o conceito de alm a. N em uma p sicologia que re je ite o conceito de alma pode negar essa d im ensão, nem uma p sico lo g ia que conhece o conceito de alma p o d e co n firm á -la . A v e rd a d e sobre o d e s tin o e te rn o d o hom em se e ncontra num a outra dim e n sã o que a v e rd a d e d e conceitos psico­ lógicos. A p sicolog ia p ro fu n d a contem porânea em m u ito s casos e n trou em co ntra dição com afirm ações p ré-teológicas e te o ló g ica s da fé. N o e n ta n to não é d ifíc il d is tin g u ir, nas constatações da p sicologia p ro ­ fu n d a , e n tre a q uilo q u e é observação c ie n tific a m e n te fu n d a m e n ta d a ou hipótese científica, e a q u ilo que são m anifestações de fé do psicó­ lo g o , p o r e x e m p lo a sua visão d o hom em , de sua natureza e destinação. Os e le m e n to s naturalistas tra zid o s p o r Freud d o século X IX para o sé­ c u lo X X , seu p u rita n ism o co n v ic to no cam po do a m o r, seu pessim is­ m o q u a n to à cultura e sua a trib u içã o da re lig iã o a desejos racionali­ zados id e o lo g ica m e n te são afirm ações d e fé , e não resultados de pesquisa científica. N ão se p ode negar a um cientista que fa la da natureza do hom em e das condições de sua existê n cia, o d ire ito de pensar a p a rtir d e uma fé . Se, po ré m , acontecer q u e ele, como Freud e alguns de seus discíp u los, ataca as convicções de fé de ou tro s em nom e da p sico lo g ia cie n tífica , e n tã o ele está m istu ra n d o as dim ensões. Nesse caso os representantes d e um a fé d ife re n te têm razão em se o po r a esses ataques. Nem sem pre é fá c il, num a e x p o ­ sição psicológica, d is tin g u ir e n tre elem entos de fé e elem entos cien­ tífic o s, mas isso sem pre é possível e necessário. A d istin çã o entre v e rd a d e de fé e v e rd a d e cie n tífic a d everia a le rta r os teólogos contra a u tilização de descobertas científicas re­ centes no in tu ito de c o n firm a r com seu a u x ílio a v e rd a d e da fé. A física sub-atôm ica, através da teoria dos quantas e da relação de in d e te rm in a çã o colocou em questão hipóteses a n te rio re s sobre a e strita causalidade dos processos físicos. D iante disso autores re li­ giosos quiseram a p ro v e ita r esses novos co nhecim entos para c o n fir­ m ar suas idéias acerca de lib e rd a d e hum ana, capacidade d iv in a de criação e m ilagres. Esse p ro c e d im e n to não p o d e ser ju s tific a d o nem p e lo p o n to d e vista da física nem da re lig iã o . As te o ria s físicas não têm nen hum a relação d ire ta com o fe n ô m e n o da lib e rd a d e humana e a em issão de e nerg ia nos quantas não tem relação d ire ta com o s e n tid o re lig io s o da p ala vra m ila g re . Q u a n d o a te o lo g ia u tiliz a teo­ rias físicas dessa m a neira , ela está c o n fu n d in d o as dim ensões d o saber com a dim ensão da fé. A ve rd a d e da fé não pod e ser nem c o n firm a d a nem negada pelas mais recentes descobertas no cam po da física, b io lo g ia ou p sico lo g ia .

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3.

A V erdade da Fé e a V e rd a d e H istórica

V erdad e histórica e v e rd a d e cie n tífica p o r n a tu re /,i se cn contram em níveis d ife re n te s . A h istó ria relata e ve n to s únicos, e não processos que se repe tem , os quais podem ser v e rific a d o s a q u .il q u e r m om ento através de e xperiências. A única analogia e n tro a pesquisa histórica e um a e xp e riê n cia no cam po da física é o exam e e a com paração cuidadosa de docum entos. Q u a n d o docum entos in d e ­ pendentes um do o utro estão concordes e n tre si, entã o uma a firm a ­ ção histórica é considerada de m o n stra d a d e n tro dos lim ite s d o m é ­ to d o histórico. Mas a pesquisa histórica não apenas relata uma série de fatos. Ela tam bém pro cu ra c o m p re e n d e r esses fa to s no q u e d iz re speito a suas origens, suas relações e n tre si e seu sig n ific a d o . Pes­ quisa histórica descreve, e xp lica e c o m p re e nd e . E com preensão pressupõe "p a rticip a çã o ". Nisso se encontra a d ife re n ç a e n tre v e r­ dade histórica e verda de cie n tífic a . Na v e rd a d e histó rica o respectivo pesquisador está p a rtic ip a n d o e xiste n cia lm e n te , mas não na v e rd a d e cie n tífica . Já que tam bém a v e rd a d e da fé toca o hom em e x is te n ­ c ia lm e nte, tentou-se fa ze r da v e rd a d e histórica o fu n d a m e n to da v e rd a d e da fé. E in versa m e n te chegou-se a a firm a r q u e a fé p o d e ria g a ra n tir a ve rd ade de afirm ações históricas inseguras. A m bas as afirm ações são errôneas. O tra b a lh o h istó rico g e n u ín o _exige um m é to d o o b je tiv o e exato, precisam ente como a observação de p ro ­ cessos físicos e bio lógico s. V e rd a d e histórica é p rim e ira m e n te um a ve rd a d e baseada em fatos. Nisso ela se d ife re n c ia da ve rd a d e de um poem a épico e da v e rd a d e m ítica da lenda. E essa d ife re n ça e decisiva para a relação e n tre a v e rd a d e da fé e a v e rd a d e da h is tó ­ ria. A fé não pode c o n firm a r ou re je ita r uma v e rd a d e que está apoiada em fatos seguros, mas ela m u ito bem p o d e e precisa in ­ te rp re ta r os fatos à luz de sua p ró p ria e xp e riê n c ia . Com isso ela traz o aspecto histórico para d e n tro da d im e n sã o da fé . Mas ela não prescreve ao h is to ria d o r a q u ilo que ele d e ve achar, nem se baseia ela em algum re su lta d o de pesquisa histórica. Desde que a pesquisa histórica de sco b riu o caráter lite rá rio dos escritos bíblicos, esse p ro b le m a se to rn o u cada vez mais cons­ ciente no pensam ento p o p u la r e te o ló g ic o . M ostrou-se que o A n tig o e o N ovo Testam ento em seus trechos n a rra tivo s lig a m elem entos históricos, lendários e m ito ló g ic o s , e que em g ra n d e parte é im p o s­ sível separar esses elem entos com segurança s u fic ie n te . A pesquisa histórica e videncio u que os relatos bíblicos acerca d o Jesus h istórico têm em parte um baixo g ra u de p ro b a b ilid a d e . Investigações seme­ lhantes sobre a fid e lid a d e histórica dos escritos e tradições religiosas de re lig iõ e s não-cristãs alcançaram o mesm o re su lta d o . A ve rd a d e da fé não pode ser fe ita d e p e n d e n te da v e rd a d e h istórica dos re-

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latos e das lendas em q u e essa fé se e x p rim e . Trata-se de uma fatídica m á-com preensão d o se n tid o de fé , q u a n d o ela é igualada a um acre dita r das histórias bíblicas. Mas isso acontece em todos os níveis da exposição cie n tífica e p o p u la r. M uitas pessoas dizem de si e de outros que elas não têm fé cristã p o rq u e elas não acreditam que as histórias de m ila g re s d o M ovo Testam ento estejam fid e d ig ­ nam ente docum entadas. C ertam ente elas não o estão, e é necessário a p lica r todos os meios de um m étodo de pesquisa filo ló g ic o e his­ tó rico e xa to para d e te rm in a r o g ra u de p ro b a b ilid a d e ou im p ro ­ b a b ilid a d e de uma h istó ria b íblica. Tam bém a decisão, se a edição a tu alm ente em uso do A lc o rã o coincide com o te x to o rig in a l, não é uma questão de fé, se bem que to d o m aom etano crente in a b a la v e l­ m ente a ela se apega. A decisão, se g ra n d e parte d o Pentateuco contém sabedoria sacerdotal da época após o e x ílio b a bilónico ou se o liv ro de Gênesis encerra mais m itos e lendas do que história, não é uma questão de fé. A decisão em to rn o da questão, se a e x p e cta tiva da catástrofe cósmica fin a l com o ela é vista nos ú ltim os liv ro s d o A n tig o Testam ento e no N o vo Testam ento, tem sua o rig e m na re lig iã o persa, não é um assunto da fé . A decisão em to rn o de q u a n to m aterial le n d á rio e q u a n to de histó rico está co n tid o nas rações do nascim ento e ressurreição do C risto, não é uma questão de fé . A decisão em to rn o de que versão dos relatos sobre os p ri­ m ó rd io s da igreja tem o m a io r grau de p ro b a b ilid a d e não e um p o n to de fé. Todas essas p e rg u n ta s têm que ser decididas pela pesquisa histórica, cujas afirm ações sem pre só po d e m te r um g rau m a io r ou m enor de p ro b a b ilid a d e . Essassão p e rg u n ta s em to rn o da v e rd a d e histórica, e não questões de fé. A fé pode d ize r que a lei vétero-testam en tária tem v a lid a d e in co n dicio n a l para todos aqueles que p o r ela fo re m possuídos, in d e pe n d e n te m e n te de quantas dessas leis p oderiam ser a trib u íd a s a um personagem histórico, ou seja, Moisés. A fé pod e d iz e r que a re a lid a d e apresentada na im agem neotestam entária de Jesus com o o C risto encerra força te d e n fo ra para todos os que p o r ela são possuídos, independente^ m ente de quanto se possa a firm a r com segurança acerca da pessoa histórica de Jesus de N azaré. A fé pode g a ra n tir o seu p ró p rio fu n d a m e n to : Moisés com o o Legislador, Jesus como o Cristo, M aom é com o o Profeta e Buda com o o Ilu m in a d o . Mas a fé não pode a firm a r nada acerca das circunstâncias históricas que fiz e ra m possível com que esses hom ens se tornassem p o rtadores d o d iv in o para grandes porções da hum anidade. A fé encerra a certeza sobre o seu p ró p rio fu n d a m e n to , p o r e xe m p lo , acerca de um e ve n to na história que tra n sfo rm o u a história bem com o o p ró p rio crente. Mas a fé não pode d ize r nada acerca da m aneira em que se deu esse evento. A

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fé , p o r isso, não pode ser abalada pela pesquisa cie n tífica , m esm o se os resultados da pesquisa põem em d ú v id a a tradição tra n s m i­ tid a em to rn o do e ve n to . Essa in d e pe n d ê n cia da ve rd a d e histórica é um a das conseqüências mais im p o rta n te s da nossa com preensão de fé com o estar possuído p o r a q u ilo q u e nos toca in c o n d ic io n a l­ m ente. Isso libe rta os crentes d e um peso que eles não podem mais s u p o rta r d ep ois que a sua consciência fo i a le rta d a pela e xig ê ncia de honestidade in te le ctu a l. Se essa h o n e stid a d e estivesse em con­ f lito irre m e d iá ve l com a assim chamada "o b e d iê n c ia de fé " , entã o Deus teria que ser visto com o d iv id id o em si m esm o. Ele te ria carac­ terísticas demoníacas. A fé então não seria um estar possuído em ú ltim a instância, e sim um c o n flito de preocupações fin ita s . 4.

A V e rdade da Fé e a V e rdade Filosófica

Nós vim os que nem a verdade cie n tífica nem a ve rd a d e h is tó ­ rica podem co n firm a r ou c o n tra p ro va r a v e rd a d e da fé. O m esm o ta m bém se dá inversam e n te : a ve rd a d e da fé não pode nem co n ­ firm a r nem negar a v e rd a d e científica ou a histórica. Levanta-se agora a questão, se tam b é m a ve rd a d e filo s ó fic a tem sem elhante relação com a verd ade da fé ou se aqui a situação é mais c o m p li­ cada. Esse realm ente é o caso, e essa d ific u ld a d e da relação e n tre a ve rd a d e da filo s o fia e a da fé tam bém com plica a relação da v e r­ dade cie ntífica e histórica com a ve rd a d e da fé em grau mais a lto d o q u e parecia na exposição precedente. Essa é a m otivação para as inúm eras dissertações sobre a relação e n tre fé e filo s o fia e para a o p in iã o corrente de que a filo s o fia seria o in im ig o e d e s tru id o r da fé. Teólogos já foram m uitas vezes acusados de h a ve r tra íd o a fé p o r se terem servido de conceitos filo s ó fic o s a fim de e x p lic a r a fé para uma com unidade religiosa. A d ific u ld a d e de toda discussão em to rn o da natureza da f ilo ­ sofia está em que a d e fin iç ã o de filo s o fia d e p e n d e da filo s o fia d a q u e le que está d e fin in d o . Isso é in e v itá v e l. Mas m esm o assim e x is te no cam po p ré -filo só fico uma am pla concordância a respeito da na­ tureza da filo s o fia , e num a exposição com o a presente nada nos resta senão u tilizarm os a concepção p ré -filo s ó fic a . Pode-se então e n te n d e r sob filo s o fia a te n ta tiva de re sp o n d e r às p e rguntas mais gerais acerca da natureza das coisas e sobre a existência hurnana. As pergu ntas mais gerais são aquelas q u e não se relacionam com um d e te rm in a d o cam po da re a lid a d e , com o natureza ou histó ria , mas com o ser com o tal, com o ele serve de base para todas as áreas d a q u ilo que é. A filo s o fia procura categorias gerais, d e n tro das quais se encontra e se e xp e rim e n ta a q u ilo que é.

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Se é pressuposta essa concepção acerca da natureza da filo s o ­ fia , podem os d e fin ir da se g u in te m aneira a relação e n tre verdade filo s ó fic a e verdade de fé : V e rd a d e filo s ó fic a é v e rd a d e no que tange o ser e suas estruturas; v e rd a d e de fé é ve rd a d e no q u e d iz respeito à q u ilo que nos toca in co n d icio n a lm e n te . A té aqui o rela­ cio nam e nto se assemelha com aquele e n tre v e rd a d e de fé e v e r­ d a d e cie n tífica . Uma d ife re n ç a d ig n a de nota consisle, porém , de que no inco ndicio nal p ro c u ra d o pela filo s o fia e na preocupação in co ndicion al em to rn o da q ual g ira a re lig iã o existe um ponto em q u e am bos se tocam . Na filo s o fia e na re lig iã o se procura e se tes­ tem unha a v e rd a d e ú ltim a ; na filo s o fia isso se dá em term os con­ ceituais, na re lig iã o em te rm o s sim bólicos. V e rd a d e filo s ó fic a se baseia em conceitos v e rd a d e iro s , que d ize m respeito à realidade ú ltim a , a v e rd a d e da fé consiste da verdade dos sím bolos para a q u ilo que nos toca in co n d icio n a lm e n te . A relação e n tre conceito e sím­ bo lo é o p ro b le m a com que nos tem os de ocupar. Nesse conte xto talve z se fará a p e rg u n ta : Por que é que a filo ­ sofia usa conceitos e a fé usa sím bolos, se am bos e x p rim e m o mesmo in co n d icio n a l? A resposta só pod e soar: Isso é necessariam ente assim, p o rq u e nos d ois casos a relação com o inco n dicio n a l não é a mesma. Em p rin c íp io , a filo s o fia pro cu ra uma descrição o b je tiv a das estru tu ­ ras básicas em que se apresenta o in co n dicio n a l. A relação da fé com o inco n d icio n a l é, em p rin c íp io , uma asserção existencial sobre a q u ilo que toca o crente in co n d icio n a lm e n te . A d ife re n ç a é ó b via e fu n d a m e n ta l. Mas, com o o d iz a expressão "e m p rin c íp io ", trata-se de uma d ife re n ça que não é m antida na p ra xis, seja da filo s o fia ou da fé. Isso tam b ém seria im p o ssíve l, p o rq u e o filó s o fo é um ser hum ano para o qual existe a lgum a coisa que ele consciente ou in ­ conscientem ente leva a sério in co n d icio n a lm e n te . E o crente é um ser hum ano que tem a capacidade bem com o a necessidade de e n ­ te n d e r em term os conceituais. Isso e n v o lv e em p ro fu n d a s conse­ qüências para a vida da filo s o fia no filó s o fo e para a v id a da fé no crente. Uma análise de sistemas filo s ó fic o s e de obras filo só fica s de todo tip o m ostra que a d ire çã o em que o filó s o fo p e rg u n ta e as respostas que ele p re fe re não d e p e n d e m apenas de re fle xõ e s lógicas, mas ta m bé m d a q u ilo que o toca in c o n dicio n a lm e n te . Os grandes filó s o fo s não possuíam apenas g ra n d e capacidade de re fle xã o , mas tam bém a m a ior paixão na apresentação d a q u ilo q u e os possuía in ­ c o n d icio nalm en te. Isso vale para os antigos filó s o fo s h in d u s e gregos bem com o para os m odernos, de Leibniz e Spinoza até Kant e Hegel. Tam bém a linha p o sitivista de Locke e H um e a1é o p o s iti­ vism o ló g ico de hoje em si não co nstitui exceção a essa regra.

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O cam po a que se re s trin g e m esses filó s o fo s , .1 le o n .i d o c n i i l v l m e n to e análise da lin g u a g e m filo s ó fic o -cie n tífica , não