Em pleno protesto em Columbia
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Eram algumas centenas de manifestantes pró-Palestina em um protesto contra a polícia a três quarteirões da entrada principal da Universidade Columbia. Minutos antes, uma operação policial tinha prendido dezenas de estudantes. Eles haviam tomado o simbólico Hamilton Hall, um prédio da universidade ocupado outras vezes no passado por alunos em manifestações contra a Guerra do Vietnã, racismo e investimentos da África do Sul do apartheid. Desta vez, a demanda era por um cessar-fogo na Faixa de Gaza, o fim da ocupação israelense da Cisjordânia e o desinvestimento em empresas associadas a ações militares de Israel.

Os estudantes de Columbia, uma das mais respeitadas universidades americanas, compunham a maioria dos manifestantes. Conheço bem o perfil por ter feito mestrado nessa universidade, além de frequentá-la há quase duas décadas. Isso ficava claro também pela idade deles, ao redor dos 20 anos. Havia brancos, asiáticos e negros. Muitos com máscara dos tempos da pandemia para cobrir o rosto diante do risco de suspensão, e o kafyeh, tradicional xale simbólico da causa palestina. No meio, também, algumas pessoas mais velhas que talvez tenham protestado contra a Guerra do Vietnã. Os gritos neste momento se concentravam na polícia de Nova York. Em outras horas, uma estudante puxava gritos de “Palestina livre”.

Somente em um momento, o cântico foi do “rio até o mar, a Palestina será livre”. Quase todos que estavam ali bradaram essa expressão, vista por muitos como antissemita. Afinal, uma Palestina livre do rio até o mar pode significar um Estado palestino do Rio Jordão até o Mar Mediterrâneo, o que poderia englobar o que hoje é Israel e implicaria no fim do Estado judeu. Vale ressaltar que, por outro lado, mesmo Benjamin Netanyahu diz ser defensor de um Estado israelense do rio até o mar, sem uma Palestina independente. Muitos membros do seu governo de extrema direita rejeitam a criação de um Estado palestino ou a concessão de cidadania aos palestinos da Cisjordânia e Gaza. Na prática, Israel controla todo o território e não concede cidadania aos palestinos dos territórios ocupados em 1967, com a exceção de Jerusalém Oriental.

Mas volto para a Columbia na madrugada de ontem. Próximo aos manifestantes pró-Palestina, havia dois israelenses jovens. Os manifestantes diziam para ignorar que o objetivo dela seria provocar uma reação deles. Uma manifestante mais velha, no entanto, identificou-se como judia pró-Palestina e decidiu debater com a israelense. Afirmou que condenava os EUA pela bomba de Hiroshima, pela Guerra do Vietnã e pelas guerras no Iraque e no Afeganistão. Segundo ela, mesmo sendo judia, também poderia criticar Israel pelas mortes de mais de 30 mil em Gaza. Acrescentou, ainda, ser contra um Estado etno-religioso judaico.

A jovem israelense respondeu que, de Nova York, era fácil falar, já que a americana não fora alvo de um atentado do Hamas com 1.200 mortos. Disse que os números de vítimas em Gaza citados pelo Hamas seriam exagerados. Por último, afirmou que seus antepassados foram expulsos do Iraque por serem judeus, e Israel era a terra dela. Ninguém teria o direito de questionar isso. A situação escalou. Outros intervieram para afastá-las. Mas ambas genuinamente pareciam ter convicção no diziam. O tema Israel-Palestina é o que mais polariza na geopolítica. Na Universidade da Califórnia em Los Angeles, dezenas manifestantes pró-Palestina e pró-Israel se envolveram em uma briga. Em Columbia, ao menos, não chegou a esse ponto.

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