Crítica. 'Violent Night' fica um pouco aquém para um filme que mistura Die Hard com um Pai Natal heróico e pancadaria sangrenta
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Crítica. ‘Violent Night’ fica um pouco aquém para um filme que mistura Die Hard com um Pai Natal heróico e pancadaria sangrenta

Este é o novo filme de ação de Tommy Wirkola que conta com a produção da Universal e da 87North Productions

Violent Night, ou Noite Violenta em português, é o novo filme de ação de Tommy Wirkola e conta com a produção da Universal e da 87North Productions, produtora de filmes como Bullet Train e Nobody, e levada a cabo por David Leitch (Deadpool 2, Bullet Train, Atomic Blonde) e Chad Stahelski (John Wick). O elenco conta com nomes como David Harbour, Beverly D’Angelo, John Leguizamo, Alex Hassell e Leah Brady, entre outros. O filme estreou no passado dia 1 de dezembro, o Espalha-Factos já viu e conta-te o que achou desta pancadaria natalícia.

Fazendo referência a uma das baladas de natal mais conhecidas, O Holy Night’Violent Night traz-nos uma consoada muito atribulada para a família Lightstone, que vê a sua mansão multimilionária ser invadida por um conjunto de ladrões que ambicionam roubar mais de 300 milhões de dólares guardados no “cofre mais seguro do país”. Por acaso, acabaria de descer pela chaminé, um Pai Natal que não está aqui para brincadeiras e que acaba por ver como missão, castigar todos os meninos maus que ousam estragar o Natal da pequena Trudy (Leah Brady), uma feroz crente da sua existência.

Se a história de um assalto natalício que acaba por ser travado por um herói improvável vos soa familiar, é porque esta história é de facto ultra familiar. Em vez do icónico John McClane de Die Hard, aqui temos o que aconteceria se o John Wick se apaixonasse pela pinga, ganhasse uns quilitos e estivesse bem adornado pela magia natalícia – que este Pai Natal bem reforça a explicitar que não sabe como é que funciona. Como o próprio nome indica e também por todo o contexto à volta do projeto, esta abordagem à véspera de natal é requintada de pancada e de todos os presentes adjacentes, como ossos partidos, cabeças fora do sítio, olhos arrancados, muito tiro e em geral muito sangue e violência.

Sabendo que este acaba por ser o sucessor de Bullet Train para a união da produtora 87North Productions com a Universal, e possuindo alguns nomes em comum na sua concessão, é de esperar boa porrada, um estilo cativante, piadas que nos façam pelo menos expelir um bocadinho de ar das narinas e no final acabarmos com uma simples e divertida experiência. O que até acaba por acontecer em Violent Night, mas infelizmente, para obtermos esses mesmos momentos, temos de passar por uma dose de aborrecimento que não vem nada a calhar. Não se pense que o filme é insonso e não nos consegue animar ao longo da sua duração, porque lá isso consegue, simplesmente o filme não o consegue fazer com a consistência desejada, especialmente quando temos uma personagem tão valiosa como um Pai Natal alcoólatra com punhos de ferros e uma fome insaciável de partir costelas.

São vários momentos forçados, piadas embaraçosamente falhadas e uma densidade que não se justifica para estas quase duas horas de filme que pareciam intermináveis a certo ponto. Houve falta de cadência na interpolação entre as cenas de ação e os momentos em que a trama se desenrolava, algo que não aconteceu nos dois maiores sucessos da produtora. As lutas que nos davam eram paupérrimas, sem efervescência e dinâmica, apesar de terem elementos minimamente satisfatórios, sabiam sempre a pouco, tanto por se sentirem esporádicas, como também por não serem propriamente criativas. Por isso não esperem a crueldade, potência e tensão das cenas de ação de Nobody ou de John Wick, em vez disso, esperem algo mais blockbuster-ish, como em Bullet Train, uma ação mais lavada e “artificial”.

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Felizmente, este ritmo vai melhorando ao longo do filme, atingindo o seu sweet spot no terceiro ato, que acaba por demonstrar que este filme podia ter sido um mimo se tivesse sido todo a este nível. Aqui acabamos por ter um ritmo mais envolvente, com mais consistência, pancada mais criativa e overall um tom mais aprazível e cativante, deixando tanto de lado as pausas em que acompanhávamos a família refém, e agarrando-se mais à missão do Pai Natal. Estes momentos em que víamos os Lightstone com armas apontadas à cabeça, supostamente serviriam para nos entreter, mas foram executados sem qualquer sentimento, sem perigo inerente e só com tentativas precárias de nos fazer rir – claro que não vale a pena reforçar que todas as personagens são extremamente unidimensionais.

David Harbour está muito bem mascarado deste velhote descrente e barbudo, acabando por ser das razões que levam a que Violent Night não seja um total fracasso, pois este consegue emanar com muito estilo este guerreiro intemporal, que quando tem a sua marreta em mãos, a “Destruidora de Crânios”, vira um autêntico Triple H no seu auge. Pelo caminho temos mortes bem engraçadas (especialmente para a malta que gosta entranhas e desmembramentos), uma versão mais sangrenta do Home Alone, em que a própria Trudy batalha com os “meninos maus” usando técnicas inspiradas no clássico de natal e ainda um bocadinho das lamechices típicas deste tipo de filmes – acabando o filme neste mesmo tom, porque no final do dia, este é um filme de Natal, que de uma forma ou de outra, até dá para ver com a família toda.

Violent Night demonstra estar constantemente perdido, pois não podemos dizer que seja um filme não consciente daquilo que é, mas a verdade é que ao mesmo tempo não conseguiu capitalizar nos seus pontos fortes, algo que aconteceu muito bem com Bullet Train e Nobody. No primeiro caso, apostou-se nas piadas constantes e num ritmo incessante, mais ao estilo do que poderia ter sido feito aqui. Em Nobody, a consistência foi ganha através do carisma da personagem principal e das cenas de ação hipnotizantes, algo que em parte se viu aqui, mas somente no terceiro ato e sem a mesma coesão.

Em suma, Violent Night é um bom esforço por parte de uma produtora que parece ter uma visão interessante do que se pode fazer com o género de comédias de ação. Para quem está à procura de pancadaria e queira entrar no espírito natalício, pode ir ver o Die Hard e deixar este filme de lado, mas se baixarem um bocado as expectativas, até podem passar um bom bocado com esta noite violenta – só não esperem um John Wick natalício. Apesar deste Pai Natal ser fácil de gostar – sendo o único, talvez ao lado da super genérica Trudy – e das cenas de ação serem decentes e até engraçadas, acabamos por nos perder no meio de tanta inconsistência, que acaba por fazer um filme que mistura Die Hard, Home Alone e pancadaria sangrenta, em algo muito menos divertido do que era suposto. Está longe de ser uma experiência horrível, mas é de facto um desperdício de potencial bastante frustrante. Ainda assim, seria uma pena que este Pai Natal de David Harbour ficasse apenas por este filme.

5.5