Maju Coutinho | Maju Coutinho | memoriaglobo

Por Memória Globo

Victor Pollak/Memória Globo

Já professora concursada, tendo cursado o magistério, Maju Coutinho decidiu estudar Jornalismo, para reencontrar uma vocação dos tempos de menina. O início da carreira se deu na TV Cultura. Com pouco mais de 20 anos, apresentava telejornais na emissora. Depois foi contratada pela TV Globo, como repórter de telejornais exibidos em São Paulo. Em seguida, passou a fazer a previsão do tempo, imprimindo uma marca pessoal que a levou ao ‘Jornal Nacional’. Em 2019, assumiu a apresentação do ‘Jornal Hoje’, em substituição a Sandra Annenberg, mesmo ano em que se tornou a primeira mulher negra a estar na bancada do ‘JN’, na folga dos titulares. Dois anos depois, foi convidada a apresentar o ‘Fantástico’. Aceitou o desafio e se mudou para o Rio de Janeiro, onde apresenta também o desfile das escolas de samba.

Depoimento de Maju Coutinho ao Memória Globo, 2023 — Foto: Victor Pollak/Memória Globo

Início da carreira

A paulistana Maria Julia dos Santos Coutinho Moura, bem mais conhecida em todo o país como Maju, nasceu em 10 de agosto de 1978. Filha dos professores Zilma Coutinho e João Raimundo Coutinho, logo tomou-se de amor pelos livros e pela possibilidade de ensinar. Tanto que completou o magistério e trabalhou como professora, antes de se reencontrar com um desejo que vinha da infância: o jornalismo. Bem menina, ela já usava um microfone doméstico para simular a apresentação de programas em casa, em frente ao espelho, e escrevia em um jornalzinho escolar.

Essa redescoberta da comunicação como carreira profissional se deu após um teste vocacional. Maju havia passado para um concurso da prefeitura de São Bernardo do Campo (SP) para dar aula a crianças da quarta série do ensino fundamental. Ela já estudava Pedagogia na Universidade de São Paulo, mas o teste vocacional a levou a acumular o ensino na USP e o trabalho de professora com o curso de Jornalismo, na Cásper Líbero. Maju conseguiu conciliar as atividades por um tempo, mas sofreu um acidente de carro, tamanho o cansaço, e percebeu que precisaria fazer uma escolha: “optei por abandonar o magistério, a escola pública onde eu dava aula, por abandonar a faculdade de pedagogia. (…) E terminei a faculdade de Jornalismo”.

TV Cultura

Na faculdade, na primeira matéria em que atuou como repórter de vídeo, entendeu que a área audiovisual era aquela que realmente lhe interessava. Conseguiu um estágio na TV Cultura, em 2002, no início não remunerado, e aos poucos foi ganhando espaço na emissora. “Quando faltava um repórter para fazer uma sonora, que é o jargão para uma entrevista com alguém, (…) ia a minha pessoinha, mas só minha mãozinha aparecia. (…) De mãozinha em mãozinha, eu fui fazendo reportagens, e quando eu tinha 20 e poucos anos (…) me colocaram para apresentar o ‘Jornal da Cultura’, que era tipo o ‘Jornal Nacional’ da TV Cultura, ao lado do Heródoto Barbeiro, que já era o William Bonner da Cultura”, conta Maju.

A jornalista apresentou também o ‘Cultura Meio-Dia’, em 2006, e, incentivada por colegas da TV, que viam nela potencial para novos voos, fez contato por e-mail com Denise Cunha Sobrinho, então chefe de reportagem da Globo em São Paulo, em busca de uma vaga. A estratégia para chamar atenção, em meio a tantas mensagens, foi anexar uma matéria da revista Raça que trazia jornalistas negras em destaque, na capa. Entre elas, estava Maju. Deu certo. Chamada para uma entrevista, começou em 2007, com um contrato temporário de um ano.

Início na Globo

A estreia de Maju na Globo foi no 'SPTV 2ª edição', com uma matéria sobre o ar seco em São Paulo. "Era uma reportagem que já fazia uma previsão do que eu seria, porque era sobre o tempo seco. Eu me lembro até hoje disso, foi a minha primeira reportagem para o 'SPTV 2ª Edição'. Lembro que eu fui para a Zona Sul da capital mostrar mães que usavam aquele artifício de deixar um baldinho com água para umidificar o ambiente", lembra Maju.

Estreia de Maju Coutinho na Globo, com reportagem sobre o ar seco em São Paulo. SPTV2,15/08/2007.

Estreia de Maju Coutinho na Globo, com reportagem sobre o ar seco em São Paulo. SPTV2,15/08/2007.

Na Globo, acordava pouco depois das 4h da manhã para estar na emissora às 5h. A primeira entrada ao vivo acontecia no ‘Bom Dia São Paulo’, depois eram gravados boletins para a programação da manhã e reportagens para a primeira edição do ‘SPTV’. Nesse período, em que passou pelo ‘Globo Rural’ e por quase todos os telejornais da manhã, começou a ser conhecida pelo apelido, que veio dos tempos de Ensino Médio, quando o jornalista Chico Pinheiro a chamou de “Maju Coutinho” numa entrada ao vivo no ‘Bom Dia Brasil’. Mais tarde, William Bonner faria o mesmo, no horário nobre e, a partir daí, o Brasil inteiro passou a chamá-la pelo apelido.

Previsão do tempo

O início do trabalho na previsão do tempo ocorreu quando a jornalista foi escolhida para cobrir uma colega que entraria em licença-maternidade. Até esse momento, Maju já havia participado de coberturas importantes, como o caso Isabella Nardoni (2008) e os desfiles carnavalescos, além de ter apresentado o quadro ‘Agenda Cultural’ na primeira edição do ‘SPTV’. A previsão do tempo seria uma oportunidade de lhe dar visibilidade em todo o país, em função das entradas no ‘JN’ de sábado. “A primeira coisa: ‘Preciso ter esse mapa do Brasil muito internalizado na minha cabeça’. Aí, comprei papel vegetal, voltei para meus idos de escola, e fiquei um final de semana, dois, desenhando o mapa do Brasil, decorando a ordem dos estados, para não titubear na hora do chromakey”, explica.

Aos poucos, Maju foi imprimindo a sua marca, levando mais informalidade à previsão, sem prejuízo da clareza e da qualidade da informação. No ‘Hora 1’, criado em 2014, Maju apresentou a previsão do tempo num momento em que a tecnologia já permitia mais interatividade, e era possível trocar telas ao vivo. Todo o trabalho de previsão do tempo é feito com o suporte de meteorologistas, que não apenas apontam que fenômenos climáticos devem ocorrer, mas também os explicam aos jornalistas.

Estreia de Maju Coutinho como apresentadora titular da previsão do tempo no Jornal Nacional - JN, 27/04/2015

Estreia de Maju Coutinho como apresentadora titular da previsão do tempo no Jornal Nacional - JN, 27/04/2015

Quando a Globo comemorava seus 50 anos, em 2015, Maju recebeu o convite de assumir a apresentação da previsão do tempo no ‘Jornal Nacional’. Construindo uma relação próxima com os apresentadores, em pouco tempo ela se tornaria conhecida pela capacidade de transmitir as informações com leveza, credibilidade e segurança. Belo Horizonte passou a ser chamada por ela de BH e Florianópolis virou Floripa, como mineiros e catarinenses preferem.

O mais interessante está naquele campo da mágica, do acaso que acontece: a conexão entre mim, Bonner e Renata. Nós três nos conectamos muito bem. Então, acho que essa química fez mais diferença do que o cenário, essa interação é que foi rica.

Se de um lado Maju ganhava reconhecimento, por outro enfrentava preconceitos. O protagonismo de uma mulher negra incomodou parte dos espectadores, que a xingavam em redes sociais e no site do ‘JN’. Isso gerou um movimento dentro do jornalismo da emissora que recebeu o nome de “Somos Todos Maju”. “Eu já tinha passado por outros episódios, desde que eu me entendo por gente, por mulher, por criança negra, ser xingada era uma coisa muito comum. (…) Não tinha vivido na escala de praça pública, que é quando você é exposta nessa praça pública da rede social, enfim”. Decidiu-se, então, que aqueles ataques seriam tratados no ar, e Maju teve a oportunidade de se posicionar. “Os cães ladram, e a caravana passa”, lembrou, usando o conhecido ditado.

O sucesso no ‘JN’ fez com que a jornalista recebesse um convite para escrever um almanaque, de nome ‘Entrando no Clima: Chuva, Chuviscada, Chuvarada e Outras Meteorologices’. O subtítulo consagrava expressões que Maju trouxe para as previsões, e o almanaque, produzido com a assessoria do meteorologista Mauro Neutzling, buscava explicar de fenômenos simples aos mais complexos, como a formação de um arco-íris e de zonas de baixa e alta pressão.

'Jornal Hoje'

Em 2017, um ano após o lançamento de ‘Entrando no Clima’, Maju passou a apresentar o ‘Jornal Hoje’. Primeiro na escala de sábado e, dois anos depois, como titular do telejornal, no lugar de Sandra Annenberg. No ‘JH’, participou de coberturas de muita importância, como a do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) em 2019. “Foi uma cobertura extensa. Eu fiquei umas cinco horas no ar, porque a gente começou cedinho”. Maju também lembra que o anúncio da morte de Maradona aconteceu quando o ‘JH’ estava no ar, em novembro de 2020: “Foi bem no horário do ‘Jornal Hoje’. Eu só me lembro do editor-executivo falando: ‘Maju, atenção, estamos confirmando, parece que o Maradona morreu, o jornal vai mudar totalmente’. Segui o baile, fazendo as outras coisas e, dali a uns cinco minutos: ‘Maradona morreu’. Vira toda a cobertura e chama Galvão Bueno para repercutir, e chama não-sei-quem lá para falar. E assim se faz um jornal no momento”.

Maju Coutinho apresenta o Jornal Hoje, 2019 — Foto: Frederico Rozário/Globo

Pandemia da Covid-19

No começo de 2020, Maju se viu diante de um grande desafio profissional: ancorar o ‘JH’ em meio à pandemia da Covid-19, com parte da equipe em home office. O cenário de caos sanitário mundial se inseria em um contexto nacional conturbado, quando o Brasil enfrentava um cenário de polarização política. “Sozinha nesse jornal, num país pegando fogo, num mundo em lockdown, com um vírus que a gente mal conhecia e não sabia o que fazer, com dificuldade para implantar vacinação. Considero a fase do ‘JH’ o momento mais desafiante, a maior prova de fogo”, avalia.

Além da adaptação aos protocolos de segurança, ao trabalho em home office de colegas e às entrevistas virtuais, Maju e todos os jornalistas tiveram de lidar com os próprios medos, as perdas próximas e com a morte de pessoas públicas que eram referência em suas áreas. Ela se sentiu especialmente impactada quando precisou dar a notícia do falecimento, por Covid, do cantor e compositor Moraes Moreira, autor da letra de ‘Pombo Correio’, tema do telejornal na década de 1970. Também lembrou da perda do colega Rodrigo Rodrigues, com quem também trabalhou na TV Cultura: “O saudoso Rodrigo Rodrigues, que trabalhou aqui também no Esporte da Globo, a gente perdeu, infelizmente, na pandemia, uma perda que me abalou muito”.

Nesse período de pandemia, de turbulência política, a cobertura da TV Globo foi essencial. É um momento da história para nós jornalistas e para o jornalismo em que a gente demonstra que o jornalismo, a informação verificada de qualidade, é item de primeira necessidade. Informação que salva vidas, que esclarece, que luta contra o fascismo, que luta pela democracia.

Ainda em 2019, no mesmo ano em que se tornava apresentadora titular do ‘JH’, Maju quebrava outra barreira no jornalismo: foi a primeira mulher negra a apresentar o ‘Jornal Nacional’. Ela teve a dimensão do que isso significava quando recebeu um áudio de amigas cantoras, também negras, que entoavam juntas ‘Maria, Maria’, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Estavam emocionadas pelo significado da presença de Maju na bancada do ‘JN’, como lugar de representatividade.

Na mesma época, a jornalista ainda encontrava tempo para gravar, junto com as colegas Natuza Nery, Julia Duailibi e Andréia Sadi, o podcast ‘Papo de Política’, espaço exclusivamente feminino para a análise dos bastidores dos poderes.

Apresentação do ‘Fantástico’

O convite para apresentar o ‘Fantástico’ aconteceu em 2021, quando Tadeu Schmidt assumiu o ‘Big Brother Brasil’, e a vaga ao lado de Poliana Abritta foi aberta. Não seria sua primeira vez à frente da atração. Maju havia substituído Poliana em outros momentos, mas agora ela passaria a ser apresentadora titular. Ao receber a ligação de Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo, aceitou na hora.

“O ‘Fantástico’ é um período também de mudança de vida. Você sai de São Paulo, onde você cresceu, criança, que é a sua cara, a sua casa, vem para uma cidade onde você só visitava e para o um programa novo que você adora. Foi uma fase de adaptação. E foi uma fase também de descobertas, de poder fazer mais entrevista, que é uma coisa que eu gosto”, conta Maju.

Maju Cutinho e Poliana Abritta apresentam o Fantástico, 21/11/2021 — Foto: João Cotta/Globo

Desde o primeiro instante, ficou claro que, entre as contribuições que a jornalista poderia trazer ao ‘Fantástico’, estava um olhar para as questões raciais. Ela fez reportagens com mulheres negras e sambistas, em uma roda de conversa e música; entrevistou personalidades como a atriz Viola Davis, as ativistas Angela Davis e Ayo Tometi e a escritora Chimamanda Adichie; e mostrou a importância do sistema de cotas, em uma reportagem que levou meses para ficar pronta e que tinha como intenção mostrar os resultados obtidos dez anos após a promulgação da lei. “Eu e a produtora Gabriela Rocha nos reunimos com pesquisadores (...) para entender que caminho seguir nessa reportagem. (...) Encontramos uma personagem, uma médica negra do mundo do samba, passista, que encerrou esse ciclo de maneira brilhante. Uma menina que veio de uma condição que, sem as cotas, provavelmente, não permitiria que ela alcançasse o que ela gostaria de alcançar. E ela conseguiu alcançar, não perdeu a sua raiz, que é a raiz do samba, que ela ama, e a gente mostrou isso. Ela podia ser uma sambista e uma doutora. (...) Foi uma matéria com muito impacto, porque também deu esclarecimentos importantes para a população, que não é uma cota só racial, é uma cota também para alunos que estão em escola pública, é uma cota também para pessoas com deficiência”, afirma.

Chimamanda Adichie fala sobre literatura, racismo e machismo em conversa com Maju Coutinho. 'Fantástico', 15/05/2022

Chimamanda Adichie fala sobre literatura, racismo e machismo em conversa com Maju Coutinho. 'Fantástico', 15/05/2022

Entre as matérias mais marcantes que apresentou desde então, Maju relembra o assassinato do imigrante congolês Moïse, no Rio de Janeiro, e a crise humanitária dos Yanomami, causada pelos mineradores, na Amazônia, ambas feitas pela jornalista Sônia Bridi. As homenagens à jornalista Gloria Maria, que morreu em fevereiro de 2023 e era referência profissional desde a sua infância, também ficaram na memória.

No Rio de Janeiro, além do trabalho à frente do ‘Fantástico’, Maju aceitou o desafio de apresentar os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial. Para isso, se prepara com antecedência, visitando os barracões para entender os enredos e traduzir a festa ao público em casa. Paulistana, ela brinca usando o trecho de uma música de Dona Ivone Lara: “Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho”.

Apresentadora de um dos programas jornalísticos mais longevos da TV brasileira, Maju se diz honrada em fazer parte da equipe do Show da Vida’: “O Fantástico é um mosaico, é um show da vida. Tem de tudo, tem de tragédia a curiosidade. (...) Eu acho que ele é muito vanguardista, porque ele bota na roda temas que às vezes estão na sociedade, mas ninguém deu nome ainda”.

Depoimento de Maju Coutinho ao Memória Globo, 2023 — Foto: Victor Pollak/Memória Globo

FONTE:

Depoimento de Maju Coutinho ao Memória Globo em 18/07/2023.
Mais do memoriaglobo
Tragédia vitimou 228 pessoas

Na noite de 31 de maio de 2009, um Airbus da Air France, que saíra do Rio de Janeiro com destino a Paris, desapareceu em pleno Oceano Atlântico.

Os 15 anos do acidente aéreo Air France - Foto: (Frame de vídeo / Globo)
Perfil da semana

O ator Nuno Leal Maia nasceu em Santos, São Paulo em 17 de outubro de 1947. O primeiro trabalho na Globo foi em 1976. Fez 20 novelas e 5 minisséries na emissora.

Nuno Leal Maia foi Gaspar Kundera em 'Top Model' - Foto: (Memória Globo)
Projeto Fragmentos

Fogo sobre Terra exibia os conflitos entre a modernidade urbana e a tradição rural.

Assista 'Fogo Sobre Terra' no Globoplay  - Foto: (Acervo/Globo)
Projeto Resgate

O colégio Múltipla Escolha, dirigido por Isa, passa a ser o centro principal da ação do seriado.

'Malhação Múltipla Escolha 1999' é a estreia da semana no Globoplay - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)
Homenagem

O Memória Globo faz uma homenagem ao autor, destacando seus trabalhos na televisão, que marcaram e marcam o imaginário nacional.

'Especial Dias Gomes' celebra a carreira do dramaturgo - Foto: (Editora Globo)
Sucesso de Walcyr Carrasco
'Alma Gêmea' estreia no 'Vale a Pena Ver de Novo' - Foto: (Memoria Globo)
Dia das Mães
O especial 'Coração de Mãe' recorda algumas mãezonas das telinhas - Foto: (Arte/Globo)