"Eu acho que não sairia de Rio Claro para outra cidade de jeito nenhum", resume a aposentada Neide Campos Ribeiro, de 80 anos.

No começo, eram poucas casas perto do Córrego da Servidão, um lugar que já foi canalizado. Rio Claro não passava de uma vila e foi a construção de um prédio, a Matriz de São João Batista, que mudou esse cenário.

"A história da matriz se confunde com a história da cidade. Uma coisa tem muita ligação com a outra porque, na época, a estruturação de um povoado dependia dos poderes da Igreja e do poder político", explicou a historiadora Hélia Gimenez Machado.

"A primeira capela curada é de 1827. Já existia o povoado, porém quando a população se cotizou e pediu que se transformasse em capela curada, isso implicava em uma provisão, um dinheiro, que foi para São Paulo e está registrado nos livros da cúria", afirmou.

O primeiro prédio da matriz, com torres menores e arquitetura barroca, foi demolido e uma nova igreja, com características neoclássicas e românicas, ocupa seu espaço.

A matriz guarda uma imagem especial de São João Batista. Trazida da Bahia em 1870, ela foi tombada pelo patrimônio histórico e ajuda a contar a história da cidade.

"Ela foi comprada por um fazendeiro e esse fazendeiro queria pôr na capela da fazenda dele, chegou até a pôr. Depois, um padre pediu para essa imagem vir para a capela curada e daí ela nunca mais saiu", contou o padre Antônio Potilho.

Não por acaso São João Batista se tornou padroeiro da cidade. "Ele é aquele que veio para poder preparar o caminho do Senhor, então ele preparou todo o caminho para anunciar o Salvador e depois ele se retira de cena", pontuou o sacerdote.

Cerca de 20 anos depois da construção da matriz, o progresso começou a chegar a Rio Claro pelos trilhos da ferrovia.

"A ferrovia foi muito importante porque ela levava o café produzido em toda a região até o Porto de Santos. Antes da ferrovia eram tropas de mula, então você imagina a diferença do transporte, isso no custo, na qualidade do produto, em tudo", comparou Hélia.

A primeira estação ferroviária da cidade, de 1876, e a segunda, de 1910, serviam de palco para negociações. "Os donos de casas comissárias do Porto de Santos chegavam a vir para negociar direto com os fazendeiros, então aqui virou um pólo de desenvolvimento muito grande, passou a ter restaurante aberto 24 horas, se chamava 'Chegadinho', começou a ter hotéis, teatro", relatou a historiadora.

Com o desenvolvimento econômico, a cidade passou a se destacar em outros aspectos. Foi a segunda do país a receber iluminação pública e virou referência cultural com a inauguração do Gabinete de Leitura.

Inaugurado em 1876 por um grupo da elite, o gabinete se tornou um local tão conhecido e respeitado que, em 1886, recebeu a visita de D. Pedro II. Aberto até hoje, o espaço conta com mais de 50 mil livros, incluindo exemplares raros, e promove doações.

"Além do serviço de empréstimo, a biblioteca tem um serviço a mais. Nós temos uma banca de doação que é para servir à comunidade, então todo mundo que quiser da cidade pode vir e, por semana, pegar três livros", disse a coordenadora do gabinete, Cristina Barbosa.

Destaque na cultura, a cidade também guarda belezas como a Florestal Estadual Edmundo Navarro de Andrade, local de pesquisa e visitação pública, e o Lago Azul.

Por tudo isso, ocupa um espaço especial no coração do aposentado Osmar Ribeiro. "Passei por muitas cidades do interior como ferroviário. Eu tinha atividades em muitas cidades e Rio Claro é uma cidade que merece toda a atenção".