'Nunca pensei em expor meu coração a tanta tristeza', diz pastor, após 400 cultos fúnebres – Portal do Marcos Santos - Portal do Marcos Santos

‘Nunca pensei em expor meu coração a tanta tristeza’, diz pastor, após 400 cultos fúnebres

400 cultos fúnebres

400 cultos fúnebres é o número de Francimar Pontes (na foto ao lado da esposa, Márcia, antres da pandemia), no cemitério NS Aparecida

O pastor Francimar Pontes Soares cumpre a determinação pessoal de celebrar cultos fúnebres às vítimas de Covid-19. Ele faz plantão diário, entre 9h e 16h, no Cemitério Nossa Senhora Aparecida (Tarumã). Perto de alcançar 400 cultos, o pastor desabafa: “Nunca pensei em expor o meu coração a tanta tristeza e tanto sofrimento, por tanto tempo”.

Considerado um dos melhores oradores, entre os pastores evangélicos, Francimar confessa a dificuldade em fazer sermões diferentes, a cada sepultamento. “Confesso que tenho recorrido ao viveiro (sermões antigos)”, relata. As famílias são diferentes, mas os funcionários e o padre são os mesmos.

Francimar escreveu um artigo inspirado sobre a experiência das últimas semanas, recorrendo às lições de professor de seminário, Isaltino Gomes Coelho Filho. Ele dizia que o pregador, quando repete sermão, está servindo “café requentado”.

O pastor, além do trabalho no seminário, prega online, diariamente, no Plantão de Oração. Aborda o tema, na série atual, “Milagres de Jesus: Em busca da fé, eu transformo vidas”. ” Na verdade, uso as mensagens do Plantão para aquecer o meu próprio coração e os corações dos meus irmãos”, enfatiza. Os cultos são transmitidos no perfil dele, no Facebook: https://www.facebook.com/francimar.soares.

Veja a íntegra do texto do pastor:

 

Tempo para preparar sermões

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. (2 Timóteo 2:15).

Aprendi com o saudoso Pastor e Professor Isaltino Gomes Coelho Filho, que um dos desafios do Ministério é conseguir tempo para preparar sermões. Ele usava uma frase engraçada para quem repete as mensagens. Dizia que o pregador estava oferecendo “café requentado”. Mas ensinou a importância de se guardar os emboços para emergências.

Isaltino era apaixonado por café e pela pregação. Mais da segunda que do primeiro. Em seu primeiro dia de aula em nossa sala, na inesquecível Faculdade Batista de Teologia do Amazonas, naquele momento de quebra gelo, nos fez um desafio: “Se eu chegar na sala e tiver um copo com café sobre a minha mesa, vou dar um ponto na média final”. Rimos, e nos programamos para ganhar mais um pontinho. O café sobre a mesa nos fez muito bem. Foi de bom proveito para todos.

Isaltino nos ensinou a programar as mensagens, pregando expositivamente em série. Às vezes num mesmo texto, outras vezes seguindo a ordem cronológica de um livro. Assim aprendi, assim faço até hoje. Ele era um mestre nisso também. Mas ensinou também, que algumas vezes precisamos recorrer ao viveiro e pegar alguns sermões que estão prontos. Creio que todo pregador já fez isso, principalmente quando prega noutra igreja.

 

400 cultos fúnebres

Confesso que nessas últimas semanas tenho recorrido bastante ao viveiro. Estou chegando à dolorosa marca de 400 sepultamentos, em que realizei cultos fúnebres diretamente. São várias mensagens por dia para famílias diferentes, mas para os mesmos funcionários. Além disso, tem o padre que fica ao meu lado. Não queria que pensasse que os pregadores são pobres de conhecimento bíblico. Mas, como pregador da Palavra, preciso pregar sermões diferentes para realizar o mesmo trabalho. Ela alimenta primeiro a minha alma, e abençoa os outros corações.

Quando chego em casa, preciso me despir emocionalmente do pregador do Cemitério, e me revestir do pregador do “Plantão de oração”. São sete mensagens por semana só no culto online. É o meu segundo desafio diário. Na verdade, uso as mensagens do Plantão para aquecer o meu próprio coração e os corações dos meus irmãos. Estou pregando a série “Milagres de Jesus: Em busca da fé, eu transformo vidas”. Tem sido uma experiência muito agradável e gratificante.

 

Perigo

Pregar várias vezes todos os dias não é fácil! Além do grande perigo, por estar próximo de funcionários, parentes e caixões que podem estar contaminados, tem a questão emocional. Essa é uma questão a parte. Nunca pensei em expor o meu coração a tanta tristeza e tanto sofrimento, por tanto tempo. Mas, “a alegria do Senhor é a nossa força”. Fico imaginando os profetas do Antigo Testamento, pregando no cativeiro. Tensão constante.

Isaltino ensinou que sermões se colhe “de vez”. Quero dar um conselho aos Pregadores: Preparem sermões. Se tiver tempo ou se puder conseguir tempo, prepare sermões de todos os objetivos (evangelístico, doutrinário, consagração, ético ou moral, alento ou pastoral) e de todas as estruturas (temático, textual livre e literal, e expositivo). Sermão nunca é demais! Deixe-os em stand by. Preparar sermões é como guardar munição para uma guerra. Você não deve ter uma pane seca no meio de uma batalha. Não sabemos o que nos espera no futuro, mas sabemos que a Palavra é o único remédio para consolar e curar as mazelas da alma humana. É a única Palavra que está firmada nos céus, que nem passará e nem voltará vazia.

Se você precisar pregar um sermão requentado, que seja o seu sermão, e não dos outros.

Francimar Pontes Soares”

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1 comentário

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  1. Rubem santos disse:

    Esse pastor aplica golpes aqui em santa Catarina na cidade de piçarras não deveria de estar nas ruas